Episódio 11

Episódio 11

Emet, uma mulher de expressão cansada e um charuto entre os dedos, observava a paisagem pela janela enquanto mantinha o celular na mão. As linhas de preocupação estavam marcadas em seu rosto.

"Não venha para cá, eles vieram e pegaram tudo. Onde você está? Estou preocupada."

Dizia em voz baixa, mais para si mesma do que para o telefone. A vista panorâmica não aliviava sua inquietação.

Por mais que houvesse desavenças, ela não podia evitar a angústia de ser a mãe de Murat. A discussão recente havia girado novamente em torno de Sule.

Murat se recusava a aceitar a partida dela, ainda mantendo consigo os pertences da esposa.

O apito estridente do celular interrompeu seus pensamentos, e ela agarrou o dispositivo rapidamente. Era uma mensagem de seu filho.

"Estou a caminho de Ancara para resolver algumas coisas. Não se preocupe, estou bem. Se cuide."

Dizia a mensagem

Emet arregalou os olhos, incrédula. Por que ele estava indo para Ancara? A distância entre as cidades era considerável, levando no mínimo oito horas de viagem.

"Murat, meu filho, se cuide por aí. Fiquei sabendo que aí estão tendo muitas guerras contra a ICV. Te avisarei se eles vierem de novo. Mande mensagem assim que possível, tá?"

Digitou rapidamente, esperando ansiosamente por uma resposta. A relação entre mãe e filho tinha altos e baixos, mas o respeito sempre prevalecia.

"Sim, eu também soube. Vou me cuidar aqui, pode deixar."

Foi a breve resposta que encerrou a conversa.

Emet afastou o celular e se concentrou em preparar comida, enquanto uma preocupação constante a acompanhava. Ela sempre esteve inquieta com seu único filho, notando seus altos níveis de estresse e desequilíbrio emocional nos últimos anos em que viveram juntos.

No teor das mensagens enviadas por Murat, havia um tom de exaustão e cansaço, mesmo que não fosse expresso em palavras. Emet, imersa em suas preocupações e afazeres domésticos, não percebeu a partida repentina de seu filho.

A tensão no ambiente residencial, especialmente após a invasão, era palpável. Emet estava tão envolvida em suas próprias inquietações e afazeres que não notou a saída de Murat. A relação entre eles, tinha momentos de distância, e o estresse recente parecia ter afastado ainda mais mãe e filho.

A ausência de Murat, mesmo que temporária, aumentava a preocupação de Emet, que agora se via sozinha em casa, lidando com a incerteza do paradeiro de seu filho e os perigos iminentes que cercavam a cidade.

Emet se via mergulhada em um estado de alerta constante, tentando decifrar os sinais sutis que indicavam que algo estava errado com seu filho. As conversas esquivas, os momentos de silêncio e a ausência de comunicação emocional aumentavam sua preocupação, criando um ambiente de tensão e incerteza na casa.

Com a refeição preparada e os afazeres domésticos temporariamente em pausa, Emet decidiu pegar um livro guardado no sótão, um objeto antigo que remetia a tempos passados. Ele carregava as marcas do tempo, exibindo uma capa desgastada e páginas amareladas.

Ao abri-lo, uma onda de emoção percorreu seu ser. A caligrafia delicada e familiar era de Murat, com traços bonitos e suaves, lembranças vívidas do passado.

À medida que folheava as páginas, as descrições detalhadas dos acontecimentos que Murat presenciara nos Estados Unidos partiram o coração de Emet. Marcava-se ali, com precisão dolorosa, o registro da certidão de casamento, as alianças e os modelos das roupas que os noivos usaram. As páginas estavam assinadas, imortalizando aqueles momentos especiais.

Ao lado das páginas marcadas, as fotos desgastadas também estavam guardadas, resistindo bravamente ao passar do tempo. Apesar das bordas amareladas e desbotadas, as imagens ainda conservavam a essência dos momentos capturados.

Emet segurava as fotografias com ternura, deixando que os sentimentos a envolvessem ao ver as imagens de um tempo que parecia distante, mas que permanecia vivo naquele livro.

As fotografias mostravam Murat e Sule, radiantes de felicidade, sorrisos genuínos congelados no tempo. Eram momentos felizes, momentos de amor e cumplicidade, que mesmo desgastados pelo tempo, ainda irradiavam uma aura de alegria e afeto.

Essas anotações e essas fotos, que eram como um relicário de memórias para Murat, traziam à tona os sentimentos profundos que ele nutria por Sule e a dor da perda que ele ainda não conseguia superar.

À medida que Emet virava as páginas do livro, percebia manchas e bolhas marcando várias delas. Era evidente que algo acontecera com aquelas páginas específicas, como se estivessem sido danificadas por água ou outro líquido.

A preocupação de Emet com a segurança de Murat diante da possibilidade da ICV capturá-lo era constante. Ela tinha apenas o conhecimento do que seu filho lhe contara quando chegara para morar em sua casa. Naquele momento, no auge da pandemia, as condições nos Estados Unidos não eram favoráveis. O casal tinha acabado de reservar um apartamento na tentativa de construir uma vida tranquila e feliz.

Entretanto, quando Murat bateu à porta, Emet sentiu imediatamente que algo terrível havia acontecido. A história compartilhada por seu filho foi a única que ela havia aceitado ouvir, não querendo se aprofundar em mais detalhes do que aqueles que ele havia confidenciado na época.

A decisão de Murat voltar para casa, em um momento tão caótico, era um sinal claro para Emet de que algo sério havia acontecido. Mesmo que ela tivesse escolhido não investigar mais fundo, a sensação de que seu filho estava envolvido em algo perigoso continuava a assombrá-la.

Num momento de interrupção, Emet percebeu que a panela de pressão estava atingindo deu ápice. Rapidamente, guardou o livro e subiu as escadas para verificar a situação.

O som do vapor escapando da panela ecoava pela casa, e um aroma delicioso de comida começava a se espalhar pelo ambiente. Emet chegou à cozinha e desligou o fogo, liberando a pressão da panela com cuidado.

A visão dos policiais fazendo a ronda nos locais mencionados por Emet deixou-a com um misto de sentimentos. Por um lado, ela se sentia ocupada como informante para as autoridades, algo que não era sua intenção principal. No entanto, sua preocupação maior era a segurança de seu filho.

A entrada inesperada dos policiais a atormentou profundamente. Emet sentiu uma pressão interna para confessar tudo, contar todos os detalhes quebpidesse saber. No entanto, seu compromisso e lealdade com seu filho falaram mais alto.

Apesar do intenso conflito interno, ela permaneceu firme e silenciosa. O desejo de proteger Murat, sua preocupação e amor de mãe superaram qualquer impulso da cooperação imediata com as autoridades, mesmo que isso significa suportar o peso de guardar segredos.

O jantar de Emet foi abruptamente interrompido pelo som do telefone. Ela rapidamente verificou a chamada e viu que era Murat, mais uma vez.

"Alô, mãe? Estou ligando de uma locadora então tenho que ser rápido. Acabei de chegar aqui no ponto. Antes que pergunte, estou bem."

O suspiro aliviado de Emet não foi suficiente para dissipar a sensação estranha em seu peito.

"Está hospedado em algum lugar por aí? Quer que eu mande um dinheiro?"

Uma risada abafada ecoou pelo telefone.

"Não, tenho uns trocados comigo. Dá para comprar uns lanches e uma estadia aqui perto tem um hotel, pelo menos para 1 semana. Provavelmente, voltarei daqui 1 semana. Aproveite enquanto estou fora!"

O raro tom brincalhão de Murat foi seguido por uma risada contagiante, mas a expressão de Emet permaneceu séria.

"Não fale isso! Você sabe que com as coisas como estão por aqui, não posso colocar os pés para fora dessa casa"

Disse ela, o silêncio se instalando por uns segundos.

"Mãe, tenho que ir"

A voz de Murat, subitademente, tornou-se toda falhada, como se alfo estivesse errado.

"O que está acontecendo, Murat?

Emet tentou ouvir, mas a interferência na linha apenas aumentava. Gritos ecoavam no fundo, deixando-a preocupada.

Emet alertou sobre a periculosidade da cidade, mas por que Murat não ouviu?

"O que está acontecendo, Murat? Está me ouvindo? Murat?"

Ela perguntava, sua preocupação evidente.

"Falo com você depois, tchau!"

Uma voz apressadamente e ansiosa disse no telefone, desligando abruptamente sem explicar o motivo.

Uma sensação opressiva tomou conta do peito de Emet. Algo estava errado. Seu filho estava correndo um grande perigo.

Ela segurou o telefone por alguns segundos, tentando ligar de volta, mas a chamada caía sem resposta.

"Murat? Murat?"

Emet repetiu, sua voz refletindo o medo crescente.

Ela olhou para o aparelho, desligado do outro lado. A sensação de impotência a tomou enquanto encarava o telefone em sua mão, incapaz de fazer alguma coisa.

Emet permaneceu ali, imersa em seus pensamentos, tentando encontrar uma maneira de ajudar, mesmo sem ter ideia do que estava acontecendo do outro lado da linha. Seu desejo de proteger seu filho a impelia a agir, mas, naquele momento, não havia nada que pudesse fazer.

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