— Sou uma filha de sangue da máfia, Marco. Não jurada, mas nascida dela. Nunca haverá solução para mim. Tenho que fazer o que me for ordenado, sem reclamar ou pestanejar.
Marco era filho de um soldado que, assim como o pai, havia ascendido na máfia através do juramento de sangue. Eram situações diferentes, mas que nos levavam a um mesmo destino: colocar a máfia acima de tudo e qualquer coisa.
Ficamos em silêncio, com nossos próprios tormentos, lamentando o rumo das nossas vidas.
— Vai à casa de Dominique comigo? — perguntei, por fim, em um sussurro.
Fez um sinal negativo, com os lábios comprimidos e o rosto transformado em uma carranca de desgosto.
— Seu pai precisa de mim aqui, mas não significa que não estarei sempre com você — anunciou.
— Quando eu estiver livre, estarei lá. Serei uma visita frequente. — Sorriu, sem emoção.
Já era melhor do que nada.
Ficaria sozinha na minha nova casa, sem Marco para me treinar ou conversar, sem Antonieta para me fazer companhia e sem papà para me proteger.
Uma respiração trêmula separou os meus lábios.
Descansei a cabeça sobre os joelhos dobrados, segurando as lágrimas que insistiam em molhar os meus olhos. Eu não era fraca e não sucumbiria a isso agora, não importava o quanto doesse deixar a minha vida para trás. Eu amava a forma como fui criada, não era relevante que ela não fosse condizente com a nossa realidade.
— E agora?
Quer fazer alguma coisa no seu tempo livre? — perguntou.
Um alerta vermelho piscou em minha mente e me fez erguer a cabeça em um movimento vertiginoso.
— Eu preciso ir em um lugar — avisei, levantando-me do chão em um só impulso.
— E tem que ser hoje. Você pode me levar?
Não teria permissão para sair de casa se não estivesse acompanhada de Marco, papà ou Dominique. E... bem, papai estava em reunião e Dominique estava fora de questão, então sobrava apenas para Marco o papel de me levar para trair um dos juramentos da máfia.
— O que você vai fazer? — perguntou ele.
Marco me conhecia bem o suficiente para entender que, fosse o que fosse, não seria nada bom.
— Apenas diga que vai me levar, ou eu irei sozinha. Quanto menos ele soubesse, melhor.
— Isso vai colocar a sua vida em perigo?
Ponderei por um segundo.
Bem... esperava-se filhos de um casal recém-formado pela máfia. Dentro de poucos meses, estariam especulando se eu estava grávida. Então, sim, era um risco.
— Não — menti, erguendo o maxilar.
Muito havia sido tirado de mim, não deixaria que mandassem até em meu útero. Eu não era uma vaca reprodutora, não cuspiria um herdeiro atrás do outro para aumentar o número dos membros da máfia. Teria filhos quando bem entendesse.
— Tem certeza? — insistiu.
O que Dominique poderia fazer?
Arrancar o meu útero com as próprias mãos?
Remover o chip do meu braço com uma faca?
Hum... ele poderia fazer muitas coisas, mas nenhuma delas me assustava tanto quanto engravidar do meu marido por obrigação,
sem nem mesmo conhecê-lo minimamente. Não importava qual fosse o risco, ele valia a pena.
— Sim, tenho certeza. — Mordi os lábios e meu rosto esquentou.
— Quero ir à médica para ter uma conversa de... hum... mulheres. Preciso saber algumas coisas.
Não era bem uma mentira, conversaria com ela sobre sexo e sanaria as minhas dúvidas. O ato não me assustava tanto, pessoas o faziam o tempo todo, mas eu queria ter mais conhecimento para enfrentá-lo totalmente preparada.
Marco arregalou os olhos ao perceber sobre o que eu falava e algo brilhou em seu rosto, mas a reação foi tão fugaz que não tive tempo de analisar sobre o que se tratava.
Era uma situação bem vergonhosa, mas ele não me levaria enquanto eu não falasse abertamente. Logo, perceberia o lugar para o qual o estava levando e precisava de uma desculpa bem plausível. Se os Venturelli descobrissem, não teriam como torturá-lo, ele estava sendo enganado tanto quanto eles.
— Tudo bem — confirmou, por fim, olhando para um ponto qualquer no chão que não fosse para mim.
— O carro estará pronto dentro de trinta minutos.
Joguei para ele um beijo no ar, agradecendo a parceria de sempre. Girei nos calcanhares e corri em direção à minha casa.
Ter bebês seria uma escolha minha, e, no momento, eu não os queria de forma alguma.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 83
Comments
Kelly Sartorio
isso nao vai prestar
2024-04-29
2
Dione Cabral
Carmem vai implantar um chip, pra não engravidar!
2024-04-13
3
Elenilda Soares
o tú vai fazer doida dos pãos
2024-04-11
0