CAPÍTULO 18 ( DOMINIQUE VENTURELLI)

— Uma pena que não estará aqui para me ver matando Balbino — comentei, puxando a furadeira de volta.

Leone tremia da cabeça aos pés e a cor do seu rosto estava se esvaindo, o corpo se entregando aos traumas que havia sofrido. Sem cuidados, tinha poucos instantes de vida, mas, como eu era um homem muito benevolente, o mataria antes do tempo acabar.

Ele ergueu os lábios em um sorriso, sangue manchava os dentes brancos.

— Ou ele vai matar você... eu não teria tanta certeza.

Puxei o desgraçado pelo colarinho da camiseta e chutei o ombro com força, causando um estampido seco ao deslocá-lo, arrancando um grunhido de dor do rosto convencido.

— Diga o que você sabe — sibilei.

— Já sou um homem morto. Não vou falar nada.

— Sim, um homem morto..., mas eu posso delimitar o seu sofrimento, Leone. Sua vida está em minhas mãos, então sugiro que seja complacente comigo.

Nossos olhares colidiram. Ele estava em um conflito interno sobre ficar calado, sofrer e morrer com glória, ou denunciar os seus homens e descansar em paz.

— Última chance... — murmurei, induzindo-o a ceder e me dar o que eu queria.

Já havia interrogado homens o suficiente para entender como a mente deles funcionava. Alguns, como Leone, eram durões no começo, mas cediam à medida que sentiam dor. Uns falavam antes que eu pudesse começar e outros não falavam absolutamente nada. Sofriam, mas se mantinham calados.

Leone continuou quieto. Me afastei, caminhei até a mesa e puxei um alicate de unhas.

— Ótimo, assim eu me divertirei mais — gracejei.

— Não... — implorou, mas não forte o suficiente para me fazer parar.

Eu estava puto com tudo o que tinha acontecido. Meu momento com Carmen estava gostoso demais para ser interferido e ele a havia assustado, deixando-a tão apavorada ao ponto de surtar por ter precisado matar alguém. Sem contar que seria caótico se as outras mulheres descobrissem, se os boatos sobre Carmen ser uma assassina se espalhassem.

Agarrei a mão dele com força e pressionei o alicate na ponta. Estava tão irritado que não arranquei apenas a unha. Posicionando o alicate na ponta do dedo indicador, bem na articulação, fiz um esforço e a arranquei também. O osso estalou e o pedaço caiu no chão.

— AH — gritou, com desespero que fez cócegas em meus tímpanos.

— Seu desgraçado psicopata.

Segurei o dedo do meio dele, sorrindo friamente.

— Bom... é isso o que todos falam de mim. Tenho que fazer jus à minha fama de psicopata.

— Passei a língua nos dentes.

— E você tem sorte de não ser um viciado. Seu amiguinho Camilo teve que cheirar o pó dos próprios ossos.

O queixo dele caiu em espanto.

— O quê...?

— Isso mesmo. Eu cortei os dedos fora, incinerei, triturei e o fiz cheirar, como adorava fazer com cocaína. Por isso, seja bonzinho. Estou sendo muito benevolente com você.

Pressionei o alicate e a ponta do dedo do meio saltou, criando uma fratura exposta.

— Ainda temos oito dedos, Leone. Tem certeza de que o silêncio é a sua melhor alternativa?

Eu estava coberto de sangue. Sentia os pingos escorrerem pelas minhas bochechas e não pararia até esquartejar Leone por inteiro se ele não desse as respostas que eu queria.

— Há muitos de nossos homens em seu território.

Parei completamente, as palavras dele captaram minha total atenção.

— Como?

Ele abriu um sorriso vitorioso.

— E Judas, o traidor, também conhecia aquele lugar, porque Jesus ali estivera muitas vezes com seus discípulos — murmurou.

Levantei-me, afastei as pernas e pousei as mãos na cintura. — Quem é? — indaguei, furioso.

— Pode fazer o que quiser comigo, mas eu nunca falarei. Um traidor.

Um maldito traidor dentro da nossa famiglia.

Era óbvio, eu deveria ter percebido isso antes. Entraram na casa de Carmen com facilidade, estavam invadindo o nosso território como se não fôssemos nada. Alguém da nossa própria famiglia, alguém importante e próximo, estava passando as dicas, ajudando a ‘Ndrangheta a derrubar nossas barreiras e a avançar sobre nós.

— Eu vou arrancar as suas tripas e te enforcar com elas se não me disser o nome — rosnei.

— Faça o que quiser, Venturelli. Não contarei nenhum nome. Isso deixaria tudo fácil demais para você.

Era nítido que algo havia mudado. A ‘Ndrangheta passou os últimos meses fazendo ataques banais e irrisórios, nada que nos incomodasse completamente, como agora.

Porra, eu fui perseguido e alvejado na minha cidade!

Os malditos conseguiram um aliado, alguém que havia feito o juramento de sangue com a Camorra, alguém que eu adoraria matar.

— Prepare-se para o show de horrores — anunciei.

Ele não me daria nomes, mas isso não me faria descontar menos a frustração e raiva que eu sentia dele.

Leone soltou uma risada trêmula.

— Faça o que bem entender, já estou morrendo mesmo. Uma parte do meu corpo está em completa dormência.

A porta às minhas costas foi aberta e um tiro soou pelo ar, acertando em cheio o meio da testa de Leone, o que deu fim ao seu sofrimento. Girei nos calcanhares e encarei Nery com um esgar nos lábios.

— Eu não acredito que você fez isso! — acusei, sentindo a raiva fluir pelo meu sangue.

Gilliam estava logo atrás dele e analisava, com o cenho impassível, a pequena bagunça que eu havia feito.

— Ele não diria o nome, Dominique . Estamos perdendo tempo.

— Eu estava me divertindo, irmãozinho. Isso não é perda de tempo.

Nery era um imbecil condescendente. Todos os homens que capturávamos suplicavam por ele, pois sabiam que não sofreriam tanto. Gilliam também era sádico, mas não se sujava com o sangue dos inimigos e, diferente de mim, pensava antes de agir.

Ignorando-o, olhei para Gilliam.

— E agora? — perguntei, jogando o alicate em cima do corpo desfalecido de Leone.

— Vamos antecipar o seu casamento — afirmou Gilliam.

Arqueei uma sobrancelha.

— E depois?

Abrindo um sorriso cheio de promessas malignas, os olhos do meu irmão brilharam em escárnio.

— Depois nós vamos limpar a casa.

— “A Camorra na minha mão é como a hóstia consagrada nas mãos do sacerdote que morrer, sim, mas abandoná-la nunca” — murmurei ao proferir o juramento e estendi a mão para o aperto de Gilliam. Ele aceitou o cumprimento, selando o nosso pacto.

Em seguida, Nery fez o mesmo que eu. Antes de ser nosso irmão, Gilliam era nosso Capo e havia um traidor na máfia. Não importava quem fosse, deveria ser morto por quebrar o acordo de sangue.

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