— Eu nem me casei ainda e a minha cunhada já está acabando com a minha boa fama? — A voz soou às minhas costas.
Fiquei rígida e imóvel, meus dedos tornaram-se pedras ao redor da taça que eu mantinha. Não conseguia nem mesmo piscar, como se meu corpo não soubesse como reagir diante da presença de Dominique.
— Estou avisando Carmen sobre como as coisas funcionam em casa — revidou Elisa , indiferente, como se não estivesse conversando com o homem que possuía a fama de maior psicopata da máfia.
— Nossa... obrigado por isso, cunhadinha — brincou ele.
Forcei o meu rosto a mostrar imparcialidade, fingindo indiferença à conversa mais esquisita e trivial que meus ouvidos já presenciaram, ainda mais se tratando de um Venturelli, a realeza imperturbável da Camorra. Nunca imaginei que eles poderiam agir de forma tão... comum.
— De nada. Quando precisar de mim para melhorar a sua fama, é só chamar — retorquiu ela.
Dominique revirou os olhos para a cunhada antes de se direcionar para mim.
— Carmen, será que podemos conversar? — questionou.
— Eu vou atrás do meu marido. Tenho certeza de que ele deve estar na companhia entediante de alguém e ansioso para me encontrar — disse Elisa.
Mordi as bochechas para evitar soltar uma risada.
Elisa era direta e sincera sobre a máfia. Ela não estava nem aí com o que pensavam ou falavam. Respeitava em seu limite, dando a eles o mesmo respeito que ofereciam a ela. Seus saltos golpearam o porcelanato, causando um som oco conforme se afastava de nós, caminhando pelo lugar com a altivez de uma rainha.
— Ela é incrível... — murmurei, pensando alto.
Senti a presença de Dominique ao meu lado. O corpo alto cobriu o meu e o cheiro da colônia amadeirada flutuou até meu nariz, fazendo-me inspirar fundo.
— Sim, ela é — confirmou, pigarreando e mudando de assunto. — Nós precisamos decidir algumas coisas sobre... o nosso casamento.
— Tudo bem.
Avancei pelo local com Dominique ao meu encalce. Senti os olhos da maioria sobre nós dois, analisando o futuro casal que a máfia formaria. Abri a porta que dava para o jardim dos fundos e a brisa noturna soprou nos meus cabelos, me fazendo estremecer.
O jardim estava todo iluminado, preparado para receber alguns convidados. Muitos homens ou mulheres gostavam de sair para fumar na rua, mas, no momento, não havia ninguém, apenas eu, Dominique e os guardas que espreitavam ao redor dos muros altos que cercavam a residência.
— Eles não estavam aqui antes — murmurei.
— Seu pai mandou formarem proteção ao redor da casa depois que teve o seu quarto invadido. Ninguém imaginou que ‘Ndrangheta pudesse chegar tão perto — revelou.
Fazia sentido. Embora papai confiasse em mim para me defender sozinha, ele não arriscaria a minha vida. Os homens costumavam fazer vigias, dividindo-se por turnos, e não ficavam à espreita como estavam.
Cruzei os braços e me virei para Dominique. Ele era alguns centímetros mais alto do que eu, o que me fazia ter que elevar o maxilar para poder encará-lo nos olhos.
— Vamos conversar sobre o nosso casamento? — perguntei.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça e arqueou as sobrancelhas, concordando com um aceno.
Deus, ele era mesmo bonito.
— Eu quero te levar para fazer a tatuagem, se estiver confortável com isso.
Comprimi os lábios, pensativa.
Eu nem me lembrava mais da tatuagem, o símbolo que selava na pele o acordo entre as famílias. Todos os membros, homens, que eram aceitos na máfia costumavam possuir uma tatuagem com o símbolo da Camorra. E, quando um acordo era feito entre as famiglias, a noiva tatuava o símbolo no mesmo local em que o noivo tinha.
— Onde fica a sua tatuagem? — indaguei, curiosa.
Um dos cantos dos lábios dele franziu em um sorriso irônico.
— Nas costelas... — murmurou. — Posso te mostrar se quiser.
Olhei para a camisa branca que se ajustava bem aos músculos e um rubor cobriu as minhas bochechas ao constatar que ele estava me testando.
Cerrei a mandíbula.
Cafajeste!
— Não, obrigada — sibilei.
Ele deu de ombros.
— De qualquer forma, vai ver uma hora ou outra.
Cerrei as mãos em punho e deixei meu rosto inexpressivo, fingindo desentendimento diante das provocações obscenas.
— Quando farei a tatuagem? — perguntei, ignorando-o.
— Posso te levar amanhã?
— Confirmei com um aceno. — Perfeito. Também quero te avisar que eu já escolhi qual será a nossa residência, acredito que não ficaria muito... confortável vivendo com a minha família.
Eu gostaria de ter Elisa por perto, mas partilhar uma casa significava ter que manter a máscara por mais tempo. Sozinha, ao menos, teria um tempo para ser eu mesma enquanto Dominique estivesse fora, e isso seria muito bom.
— Sim, eu prefiro dessa maneira — concordei.
Era completamente insano que eu estivesse planejando todo o meu futuro com um completo desconhecido, desde a casa em que
moraríamos, até a tatuagem que faríamos, juntos.
— Tem algum requisito que queira acrescentar em nosso acordo? — questionou, dando um passo e se aproximando de mim.
A presença dele era intoxicante, tinha o poder me deixar desconcertada e com os pensamentos confusos.
— Estamos nisso em nome da máfia, Carmen , mas quem disse que não pode ser um bom negócio para ambos?
Balancei a cabeça.
— Sim, eu quero que seja bom. — Pigarreei.
— Quero respeito, Dominique . Sempre recebi isso do meu pai e é o mínimo que eu espero em um casamento.
Esperar amor era algo irrelevante, só me faria quebrar a cara no fim das contas, afinal, isso era um negócio, seríamos sócios em uma vida, e no mínimo, deveria haver respeito.
— Eu prometo que irei respeitá-la — afirmou.
— E serei um bom marido, na medida do possível.
— Obrigada — proferi, compreendendo que eu já tinha muito mais do que teve a maioria das mulheres que foram obrigadas a se casar.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Kelly Sartorio
eles vão se apaixonar
2024-04-28
3
Neide Lima
principalmente que ainda não tá Finalizado 😕😔 mais e tão bom que vou continuar 🤭😂😂🌹🌹🌹🌹🌹
2024-04-23
1
Lopes
Acho q ansiedade do povo aqui é grande kkkkkkk
2024-04-15
3