OBSESSÃO DO MAFIOSO

OBSESSÃO DO MAFIOSO

Capítulo 1 ( Dominique Venturelli )

Inclinei a cabeça para trás e exalei a fumaça densa pela boca, antes de dar uma segunda tragada no meu cigarro.

Observava com o olhar estreito a mesa composta pelo diretório da máfia. Onze homens de famílias influentes e importantes, que faziam parte do mais alto escalão. Eram doze, antes de Gilliam matar Mattia anos atrás. Eles eram velhos imbecis que pensavam que poderiam dar ordens, mas urinariam nas próprias calças se Gilliam os encarasse por mais que dois segundos.

Na maioria das reuniões, tratávamos de negócios e resolvíamos problemas pendentes, como o maldito do Balbino, o Capo da 'Ndrangheta, e suas recorrentes invasões em nosso território.

Mas não hoje.

Hoje estava sendo diferente. Os velhos asquerosos não estavam felizes com a administração de Gilliam e criaram coragem para falar disso pessoalmente, em vez de cochicharem pelas costas do meu irmão, como vinham fazendo.

— Estamos descontentes, Gilliam. Você se casou com uma mulher que não pertencia à máfia — argumentou Youssef.

— E, por causa da sua decisão, perdeu a chance de aumentar o seu poder de força, de arranjar aliados importantes. Como o líder de uma organização, é inadmissível que pense com a cabeça de baixo em vez de pensar com a cabeça de cima.

A adrenalina do que estava prestes a acontecer correu pelas minhas veias, me deixando animado com o êxtase que só uma matança me fazia sentir. Eu adorava me sujar com o sangue dos nossos inimigos. Era algo que me fazia bem, como se fosse uma necessidade.

Mas também adorava me sujar com sangue de idiotas como Youssef.

Gilliam se inclinou para frente e descansou o queixo no punho enquanto encarava cada um dos homens com uma frieza absoluta.

— E o que vocês me aconselhariam? Estou casado com Elisa há anos e não está em questão um divórcio, vocês estando contentes ou não.

— Ele deu de ombros e sorriu incisivamente.

— Meu filho irá se sentar nessa cadeira em alguns anos e, caso eu saiba que estão planejando algo contra o meu herdeiro ou a minha esposa, eliminarei cada um de vocês antes de acabar com as suas famílias e dizimarei a existência de vocês da face da Terra.

Eu poderia me sentir culpado pelo que estava acontecendo, mas culpa não fazia parte do meu repertório.

Vivíamos em paz e harmonia com as outras máfias, assim poderia se dizer, até eu matar Smith. Balbino, o Capo da ‘Ndrangheta, como um maldito, desencadeou o inferno na Terra, querendo vingança pelo assassinato do homem. Desde então, o desgraçado brincava connosco: explodia um dos nossos clubes, o que revidávamos, e sumia com uma de nossas cargas, portanto fazíamos a mesma coisa com algumas das dele.

Acontece que esse jogo de merda já vinha se desenrolando há anos, acumulando um prejuízo incalculável e uma dor de cabeça do caralho. Por isso, havia o descontentamento das famiglias com Gilliam. Acreditavam que se ele tivesse se casado com uma mulher de sangue importante, as coisas se acalmariam com Balbino.

Francesco bufou.

— Ninguém espera que você largue a sua esposa. Nós aceitamos que optou por se casar com uma mulher fora da máfia, assim como aceitamos o fato de que tem um herdeiro.

Aceitaram, mas não engoliram, ponderei.

Elisa não era amada pelas famiglias, no entanto era respeitada dentro do círculo social. A maioria das mulheres a odiavam e não podiam exprimir suas opiniões, pois foram criadas para ser a esposa perfeita, a garota que chamaria a atenção do Capo. Então Elisa apareceu, detonando todos esses planos. Foi invejada e odiada, mas, acima de tudo, respeitada. Se tinha uma coisa que ela sabia fazer, era colocar medo nas pessoas.

Gilliam soltou uma risada incrédula.

— É mesmo? Então qual é o motivo dessa reunião, Francesco?

— Nossas putas estão morrendo e nossos clubes estão sendo explodidos, Gilliam. Está na hora de revidar os ataques de Balbino, não podemos mais sair no prejuízo — declarou Youssef.

Os outros homens se manifestaram em murmúrios, concordando com o idiota.

— Estamos há meses em silêncio. Está na hora de mudar as coisas, mostrar para Balbino o nosso poder de força e então concluir de uma vez por todas esse impasse, amedrontando-o ou atacando- o

— concluiu Francesco.

Corri os olhos até Nery, expressando uma pergunta silenciosa através deles. Meu irmão caçula estava sentado do outro lado da mesa, de frente para mim, encarando todos ao redor, com a testa franzida, tão confuso quanto eu me sentia.

Stefano estava de pé às costas de Gilliam, observando a todos com um olhar clínico. Dificilmente alguém da sala atentaria contra a vida do Capo, mas estávamos no limite e não me surpreenderia caso o fizessem.

— Eu ainda não entendi qual é o ponto — murmurou Gilliam, perdendo a paciência e deixando isso bem claro para todos.

Os homens ficaram em silêncio e se entreolharam, como se estivessem decidindo quem seria o mais corajoso para expressar os planos que combinaram antes de entrarem na reunião.

Recolhi o copo de uísque de cima da mesa e tomei alguns goles, aguardando ansiosamente para ouvir o plano mirabolante que eles tiveram.

— O ponto é que, como você se casou com uma mulher de fora da máfia, queremos que case algum dos seus irmãos com alguma de nossas filhas. Assim, reforçaremos a nossa aliança — disse Federico.

Cuspi todo o líquido na mesa, recebendo um grunhido baixo e ameaçador de Nery ao atingi-lo no braço com o jato de bebida e saliva.

— Como é? — perguntei, arqueando as sobrancelhas.

— É uma desonra para nós que não tenhamos nenhuma de nossas filhas casada com algum Muccino. São moças decentes, de bom sangue e de famiglias importantes. Foram criadas e educadas para servir, serem boas esposas e ótimas provedoras de herdeiros — contextualizou Youssef.

Era óbvio que o desgraçado pensaria nisso, ele tinha uma filha que beirava à idade de se casar. Ângela deveria ter uns vinte anos. Era muito conveniente que Youssef tenha esperado todo esse tempo para oferecer tal acordo de paz dentro da máfia.

Gilliam tamborilou os dedos na mesa longa de mogno e franziu levemente o nariz.

— Quer que eu obrigue algum dos meus irmãos a se casar com Ângela? — questionou, cheio de sarcasmo.

Youssef fez um sinal de desdém com a mão.

— Não com Ângela, mas com alguma mulher de sua preferência, embora eu tenha, sim, predileções quanto a minha filha ser a escolhida — afirmou.

— A maioria de nós possui garotas com idade adequada para se casarem e, como eu disse, todas elas são moças decentes que foram educadas para servi-los. Além do mais, temos a certeza de que irão passar no teste de castidade.

— Deixa eu ver se entendi bem. Você vem até aqui cuspir essas merdas e quer nos obrigar a casar com alguma das suas filhas puritanas?

— Eu ri, balançando a cabeça.

— Quanta inconveniência, Youssef, mas vou adorar matá-lo. Será um enorme prazer.

Eu já estava sem paciência com esses velhos impertinentes. Gilliam tinha matado Mattia, então nada mais justo que eu também pudesse sujar as minhas mãos exterminando qualquer outro que fosse.

Youssef grunhiu.

Ele me odiava, era um fato, mas não era corajoso o suficiente para me desafiar. Afinal de contas, ser o maldito psicopata da máfia tinha as suas vantagens. Eu gostava de me vangloriar com o sangue dos inimigos, sujar as roupas e manchar a minha pele. E isso deixava as pessoas tão enojadas quanto amedrontadas.

— Não sou eu que estou impondo, mas todo o conselho de Caporegimes. Estamos infelizes com os atuais eventos e queremos agregar forças e unificar a máfia, reforçando as nossas alianças.

Quanta baboseira. Entramos na máfia jurados pelo sangue e só sairíamos dela mortos. Não havia outra maneira e nem outro caminho para homens como nós.

— Se bem me lembro, Youssef, a morte é o castigo para aqueles que traem a famiglia — comentou Nery, manifestando-se pela primeira vez desde que a reunião começou.

— Ninguém aqui falou em traição, Dominique

. Estamos falando em resgatar nossas alianças e enviar uma resposta para Balbino. Ele ganha forças e espaço em nosso território a cada dia que passa. Precisamos reagir — contestou Federico.

Gilliam suspirou e esfregou as pontas dos dedos nas têmporas.

— E acha que casando algum dos meus irmãos com alguma das filhas de vocês será a solução? — objetou.

Eles ficaram em silêncio, entreolhando-se e ponderando.

— Não completamente, mas já é uma resposta para Balbino — disse Francesco, por fim.

Nery arqueou uma sobrancelha para mim e correu os olhos a Gilliam, apontando silenciosamente para o nosso irmão. Girei a cabeça na direção dele e percebi que estava pensativo demais para alguém que deveria achar a ideia absurda.

Engoli em seco.

Isso não parecia ser nada bom.

— Já eu acho que nada será resolvido com um casamento. Existem outros meios — afirmei.

Federico riu.

— Diz isso porque foi você o culpado, o causador dos nossos problemas — acusou.

Mas que velho filho da puta. Ele queria me arrastar direto para a forca?

Olhei para Gilliam de novo e um tremor atravessou o meu corpo quando notei que seus olhos estavam fincados em mim. Isso parecia ser péssimo.

Gilliam era casado, portanto não poderia assumir outro compromisso e nem mesmo o faria. Nery tinha o caso amoroso dele com a garota de fora da máfia e, embora não assumisse, era apaixonado por ela. Não aceitaria se casar de forma alguma.

Três Venturelli. Dois estavam fora de discussão.

Resfoleguei e puxei o nó da gravata para baixo.

Restava apenas a mim para assumir o compromisso, o desgraçado psicopata que se ocupava torturando as pessoas. Eu gostava de se*o e adorava f*der mulheres, mas meu interesse por sangue era relativamente maior.

P*ta merda!

E se eu mentisse sobre ter me apaixonado por alguém? Gilliam poderia ser um desgraçado insano, mas ele ainda era o meu irmão e levaria os meus sentimentos em questão.

— Stefano? — indagou ele, tamborilando os dedos na mesa em um ritmo constante e irritante.

Stefano se inclinou sobre a cadeira de Gilliam, agarrando o topo do encosto, e comprimiu os lábios em um esgar.

Como o consigliere de Gilliam, ele teria o aval final sobre a situação, e o que fosse dito por ele seria considerado pelo meu irmão acima de tudo. Lancei um olhar para Stefano, suplicando em silêncio que não fizesse o que eu imaginava que faria, mas o maldito simplesmente me ignorou.

— Acho que seria uma boa solução. Balbino veria isso como um desafio e consideraria seus próximos passos antes de destilar ataques ao nosso território sem pensar.

Os homens ao redor da mesa soltaram murmúrios de concordância, reafirmando e exprimindo seus planos e pensamentos.

— E reforçaria as nossas alianças, pois teríamos um membro na família Venturelli, seguindo os padrões da máfia — reiterou Youssef.

Eu cortaria a língua do velho asqueroso e faria com que a engolisse enquanto bebesse o próprio sangue para ajudar na digestão. Uma refeição completa e adequada para o idiota que queria me ver casado de qualquer forma.

— Todos vocês possuem filhas com idade adequada para se casarem? — perguntou Gilliam, e eu arregalei tanto os olhos que pensei que sairiam de órbita.

Ele não poderia estar mesmo pensando nessa ideia absurda, não é?

— Quase todos nós. Podemos oferecer um jantar para que os seus irmãos conheçam as pretendentes e escolham uma para se casar — falou Francesco, o único dos malditos que não tinha uma filha para oferecer.

Ele e a falecida esposa conceberam apenas Stefano, antes que ela sucumbisse à morte. O desgraçado foi um pai terrível e só estava vivo ainda pelo peso que seu sobrenome carregava, caso contrário, já estaria morto há muito tempo pelas mãos do próprio filho.

— Meu irmão — corrigiu Gilliam. — Apenas um se casará com uma filha da máfia.

Eles se exasperaram, discordando da resposta do meu irmão, mas sem coragem o suficiente para contestá-lo.

— Bom... então qual deles entrará no acordo?

— indagou Youssef.

— Minha filha é uma jovem bonita, promissora e educada. Foi educada para servir ao marido, assim como é forte para conceber inúmeros herdeiros homens. E tenho certeza de que passará no teste de castidade.

Estendi o braço, puxei a garrafa de uísque e a virei em minha boca direto do gargalo. Eu sabia bem qual irmão seria oferecido ao acordo e, como um filho da máfia, não poderia nem mesmo contestar ou fugir dos meus compromissos.

— Nossas filhas possuem as mesmas qualidades, Youssef. Pare de se vangloriar tanto — sibilou Federico.

— E, além do mais, sabemos que Andrea é fisicamente mais atraente que Ângela.

Youssef riu.

— Foi por causa de toda essa beleza que ela dormiu com o guarda pessoal?

— zombou, erguendo os lábios em um sorriso incisivo.

Federico pulou da cadeira, pronto para sacar a arma e apontá-la para Youssef, mas foi mantido em seu lugar pelos homens ao seu lado.

— Como ousa ofender a honra da minha filha?

— grunhiu, cuspindo saliva.

Youssef jogou os braços para cima em sinal de rendição.

— Eu apenas expressei os boatos que estão sendo ouvidos, meu amigo, mas não se preocupe, caso o Venturelli escolha Andrea, ela passará pelo teste de castidade e teremos a nossa resposta.

Se eles continuassem a se vangloriar sobre qual das filhas era a mais pura, virgem e inocente, eu bateria com a cabeça na parede. Era obrigatória a virgindade para uma noiva da máfia, o teste de castidade servia para comprovar justamente isso. Na noite de lua de mel, o casal transaria em cima de lençóis brancos e, no dia seguinte, o marido deveria levar a prova até uma das reuniões do conselho, comprovando o laço do casamento e sua contemplação.

Francesco bufou.

— Conte-nos, Gilliam: qual dos seus irmãos irá se casar em compromisso com a famiglia?

Virei mais alguns goles da bebida âmbar. O uísque desceu queimando pelo meu esôfago.

Gilliam girou a cabeça em minha direção e ergueu os lábios em um sorriso.

— Dominique — afirmou.

Eu sabia que a desgraça cairia para cima de mim, mas, ainda assim, não consegui evitar cuspir todo o uísque em Nery, que puxou a cadeira para trás, fazendo-a ranger contra o piso, e resmungou cheio de ódio.

— Porra, caralho! Se controle! — crispou, limpando-se com a mão enquanto franzia o nariz em nojo.

— E por que diabos eu tenho que me casar? — refutei, ignorando Nery.

— Porque quem desencadeou esse inferno sobre nós foi você, então nada mais justo que se responsabilize por isso

— retrucou meu irmão.

Olhei para Stefano, suplicando em silêncio, mas ele acenou com a cabeça.

— Concordo com Gilliam. O casamento irritará Balbino

— Sorriu friamente

— E é isso o que nós queremos.

— Tem certeza? Acredito que Nery seja mais responsável para assumir tal compromisso... — balbuciou Youssef.

Uma centelha de felicidade pela situação preencheu o meu peito com a reação do desgraçado. Talvez eu até escolhesse a filha dele, apenas para atormentá-lo pelo resto dos seus dias.

— Não está em discussão. Queriam um casamento com um Venturelli, portanto Dominique Venturelli assumirá o compromisso.

Youssef engoliu com dificuldade conforme concordava.

Sim, eu escolheria a filha dele e faria dos seus últimos dias de vida um inferno.

— E com qual das filhas você pretende casá-lo? — perguntou Francesco, desinteressado.

Gilliam correu os olhos de um por um, enquanto eles prendiam a respiração, trancando o ar dentro dos pulmões inflados, e aguardavam a resposta absoluta do chefe.

Os idiotas tinham esperanças, queriam entrelaçar o sobrenome ao nosso, ampliar o império e reiterar sua importância no mundo do crime. Eles não estavam nem aí para as filhas que entregariam em um casamento forçado, pensavam somente no status que o compromisso traria.

Não estava feliz com esse arranjo, ou satisfeito com a escolha de Gilliam, mas tampouco me sentia completamente incomodado. Eu fodia as prostitutas dos clubes com recorrência e não sabia o que era estar apaixonado ou amar alguém. Nunca havia passado por essa experiência catastrófica.

O meu negócio era a máfia e meu prazer era matar nossos inimigos. Ter uma esposa em casa não mudaria a minha rotina ou a minha forma de pensar. Eu teria que ensiná-la a foder e protegê-la com a minha vida; jamais iria amá-la e nem prometeria isso, mas ela seria respeitada — dependendo da escolha de Gilliam, muito mais do que um dia já tivesse sido respeitada pelo pai.

Daria dinheiro, mordomias e uma vida confortável ao meu lado. Considerando a organização à qual pertencíamos, seria muito mais do que muitas mulheres do nosso mundo já tiveram na vida.

Os olhos de Gilliam se fixaram à sua frente e ele sorriu com frieza.

— Enrico Romano, qual é a idade da sua filha?

— murmurou. Engasguei-me com a própria saliva e me retesei na cadeira. Porra, Gilliam era um cretino sádico e estrategista!

Enrico Romano era de uma das famílias mais influentes da máfia, um de nossos Caporegimes. Era um velho calculista, analítico e muito inteligente, que tinha uma filha. Eu não saberia

dizer qual a idade da garota, já que ele fazia questão de mantê-la longe de qualquer assunto referente à máfia.

— Minha filha não entra no acordo. Eu não concordei com o casamento, portanto escolha a filha de algum desses patifes — sibilou ele, sem perder a compostura.

A esposa do homem havia morrido durante o parto da garota e, desde o ocorrido, Enrico se fechou em sua bolha. O que se sabia sobre ele, até então, era que amava a menina acima de qualquer coisa e fazia de tudo para protegê-la do mundo no qual vivíamos.

Ela não comparecia aos bailes ou aos compromissos, mas frequentava os eventos femininos. Estava sempre nos chás e festas beneficentes, e era conhecida das outras filhas da máfia, entretanto, fora isso, era uma completa desconhecida, cuja fisionomia eu nem me lembrava.

— Quem dirá se a sua filha entrará no acordo sou eu, Enrico, portanto responda a minha pergunta — ciciou Gilliam, entredentes.

De todos os homens presentes na mesa, Enrico era o único que não queria unir a filha com um dos Venturelli de forma alguma. Ele também era o mais confiável de todo o conselho. Gilliam fez a oferta que ninguém esperava: ao mesmo tempo que cedeu aos caprichos dos homens, encontrou uma solução para interromper os planos deles, seguindo uma linha de raciocínio que não imaginavam.

O músculo da mandíbula de Enrico se enrijeceu. Ele manteve o olhar estreito em Gilliam, faiscando ódio para todos os lados.

— Carmen está com vinte e quatro anos — anunciou.

— Não é necessário entrelaçar o acordo entre Dominique e Carmen quando temos tantas filhas para oferecer — contestou Youssef, atirando um olhar enviesado para Enrico.

— A garota não foi exatamente criada nas tradições da máfia, então não sabemos o tipo de esposa que poderá se tornar.

Enrico não cedeu à provocação do homem.

— Sinta-se satisfeito em oferecer a sua própria filha, pois a minha não está em questão.

Gilliam riu e prendeu a cabeça para o lado.

— Ainda assim, no entanto, quem escolherá a esposa será eu — retrucou.

— Pense bem, Gilliam. A moça representará um acordo importante entre as famílias... — ponderou Federico.

— E é justamente por este motivo que estou escolhendo a senhorita Moris como a noiva do meu irmão — anunciou Gilliam.

Enrico se levantou da cadeira e espalmou as mãos em cima da mesa de mogno.

— Por favor, Gilliam. Ela é a minha única filha, minha companheira. Não a leve de mim — suplicou, deixando transparecer a sua maior fraqueza diante de todos.

— Não a estou tirando de você, Enrico, pelo contrário. Estamos firmando um contrato importante para as famílias. Carmen é jovem e, como bem disse, a única herdeira da casa Moris.

Comprimi os lábios, pensativo.

Enrico Moris era um dos homens mais ricos da máfia e me casar com a única herdeira dele seria uma boa jogada. Gilliam era genial. Tentaram controlá-lo, mas ele foi bem mais esperto que todos. Infelizmente, para mim, não poderia me casar com a filha de Youssef e atormentá-lo pelo resto da vida, entretanto, seria muito mais fácil não ter contato com o homem. Eu poderia perder o controle a acabar matando o meu próprio sogro.

— Gilliam... — sussurrou Enrico. Meu irmão fez um aceno com a mão.

— Está decidido. Se é um casamento com um Venturelli que querem, então receberão um. Dominique irá se casar com Carmen Moris.

— Olhou para mim, o semblante sério impossibilitava qualquer discussão.

— Farão isso em nome da máfia — anunciou, selando a sua palavra de vez.

Não havia nada que eu pudesse fazer. Nasci da máfia e morreria por ela. Gilliam, meu Capo, acima da irmandade e qualquer parentesco, estava impondo sua vontade e autoridade sobre mim. Só me restava acatá-la.

Acenei com a cabeça.

— E quanto as outras opções? Poderia ao menos deixar seu irmão conhecer as garotas e escolher — objetou Federico.

Gilliam me lançou um olhar intransigente, um que dizia que estava ordenando e que eu deveria obedecê-lo. Mantive-me inerte, pois havia algo sobre o meu irmão que eles não sabiam, algo que somente eu, Nery e Stefano conseguíamos reconhecer. E eu via isso agora: ele tinha planos e, mesmo que envolvessem a mim, eu não deveria interceder.

Ele riu, desviando o olhar para os outros.

— Senhores, vamos ser sinceros. Acham mesmo que Dominique se importa em conhecer as filhas de vocês? Como todo o homem que se casou por obrigação nesta máfia, ele está fazendo apenas o necessário para proteger a famiglia.

Soltei uma exalação silenciosa.

— Não tenho interesse em conhecer a filha de vocês, muito menos em participar de um leilão — expressei.

— Se meu Capo acha que devo me casar com a senhorita Moris, assim eu farei.

O evento seria catastrófico, tanto para mim quanto para as moças. Elas seriam induzidas e moldadas para me agradar, nada seria verdadeiro, e eu conheceria apenas o que elas foram instruídas para me mostrar. Portanto, preferiria mil vezes me casar com uma desconhecida, alguém que não omitiria sua verdadeira face de mim para conseguir um anel no dedo e assim eu me esquivaria de receber alguma surpresa após o casamento.

Youssef bufou.

— Se esta é a sua decisão final, tudo bem.

— Correu os olhos até Stefano.

— Ainda teremos Nery para outro acordo no futuro.

Meu irmão caçula riu.

— Isso não vai acontecer, Youssef. Contente-se com o seu feito de hoje.

Se um dia Nery fosse se casar, seria com a garota de fora da máfia. Ele nunca aceitaria entrar em um acordo de casamento sem amor, mesmo que isso fosse contra tudo o que fomos ensinados, afinal a máfia sempre deveria vir em primeiro lugar, acima de tudo e todos. E Gilliam conhecia bem o nosso irmão caçula, assim como sabia que muito provavelmente teria que declará-lo como um traidor se não cumprisse as suas ordens e, por isso, nunca envolveria Nery em um desses acordos.

Enrico arrumou as lapelas do paletó e deu um passo para trás.

— Preciso notificar a minha filha sobre o acordo — disse, sem emoção alguma na voz.

— Ela cumprirá com o que lhe for imposto, como uma filha da máfia, mas não aceitarei que seja maltratada por ninguém, nem mesmo pelo irmão do Capo.

Espalmei a mão no peito e estalei a língua no céu da boca, sentindo-me imensamente ofendido.

— E alguma vez eu maltratei uma mulher, por acaso? — sibilei, com a mandíbula cerrada.

Enrico encolheu os ombros.

— Todos nós sabemos qual é a fama que carrega na máfia, Dominique . Não me culpe por querer proteger a minha única filha. Não estou casando-a com você de boa vontade, estou apenas seguindo as ordens do meu Capo.

— E somos gratos por isso, Enrico — intercedeu Gilliam.

— Carmen será respeitada, assim como Elisa é.

Somos homens, e não animais.

Enrico acenou e suspirou ao mesmo tempo.

— Conversarei com a minha filha e deixarei ao critério dela se quiser ou não participar da organização do casamento.

Youssef grunhiu.

— Deixar? Sua filha precisa se submeter às suas ordens, Enrico, assim como qualquer outra mulher da máfia. Pare de mimar a garota ou em breve Dominique terá que ensiná-la como se deve fazer quando o homem da casa dita ordens

— cuspiu, rindo e fazendo os outros rirem também.

Os músculos das costas de Enrico se enrijeceram sob o terno caro. Ele estava prestes a explodir e sacar a arma para atirar bem no meio da cara de Youssef. Carmen era uma zona proibida para qualquer homem, inclusive para mim, o noivo.

— Vá, Enrico. Fale com Carmen e logo começaremos os preparativos para o casamento. Caso ela não queira participar, pedirei para que Elisa o faça — avisou Gilliam.

Enrico girou nos calcanhares e saiu da sala, sem se dignar a responder o Capo.

Esperava que Carmen fosse bonita e uma companheira agradável. Dividiríamos o mesmo teto, algumas horas e filhos, o mínimo que se esperava de um casal obrigado a se casar seria uma boa convivência.

Puxei os cabelos para trás e ofeguei.

Porra, eu iria mesmo me casar! E ainda faria isso com uma garota que eu nem me lembrava da existência.

Se eu soubesse que matar Smith traria tantos problemas, teria deixado o homem vivo. Talvez sem um ou dois dedos, ou até mesmo sem uma mão. Ele não teria precisado das duas para viver.

Ergui os olhos para Nery e soltei um urro baixo ao ver os contornos de diversão em sua face.

— Só cale a porra da boca — murmurei.

Ele jogou os braços para cima.

— Eu nem disse nada.

Não era preciso verbalizar o que estava pensando, pois deixava isso claro em suas feições. Estava sendo castigado pelas minhas atitudes, por ter nos envolvido nessa merda toda.

Eu queria sangue.

Precisava sujar as minhas mãos para aplacar a raiva que eu sentia. Quando eu encontrasse o próximo homem da 'Ndrangheta em nosso território, desmembraria o maldito de formas inimagináveis até cessar a minha raiva e acalmar os meus demônios.

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Comments

Kelly Sartorio

Kelly Sartorio

começando a ler agora

2024-04-28

5

Margarida

Margarida

Coitadinho, mas ela vai ser bem tratada 🫠🥰🤗.

2024-04-19

1

Margarida

Margarida

Herdeiros homens 🙄. Este machismo deles mata-me. Mas bom, isto não é nada contra a autora, OBVIAMENTE.

2024-04-19

0

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Atualizado até capítulo 83

1
Capítulo 1 ( Dominique Venturelli )
2
CAPÍTULO 2 ( CARMEN MORIS)
3
CAPÍTULO 3 ( DOMINIQUE VENTURELLI )
4
CAPÍTULO 4 ( DOMINIQUE VENTURELLI)
5
CAPÍTULO 5 ( DOMINIQUE VENTURELLI )
6
CAPÍTULO 6 ( CARMEN MORIS )
7
CAPÍTULO 7 ( CARMEN MORIS )
8
CAPÍTULO 8 ( CARMEN MORIS )
9
CAPÍTULO 9 ( CARMEN MORIS )
10
CAPÍTULO 10 ( CARMEN MORIS)
11
CAPÍTULO 11 ( Carmen MORIS )
12
CAPÍTULO 12 ( Dominique VENTURELLI )
13
CAPÍTULO 13 ( CARMEN MORIS )
14
CAPÍTULO 14 ( CARMEN MORIS )
15
CAPÍTULO 15 ( CARMEN MORIS )
16
CAPÍTULO 16 ( CARMEN MORIS )
17
CAPÍTULO 17 ( DOMINIQUE VENTURELLI )
18
CAPÍTULO 18 ( DOMINIQUE VENTURELLI)
19
CAPÍTULO 19 ( CARMEN MORIS )
20
CAPÍTULO 20 ( CARMEN MORIS )
21
CAPÍTULO 21 ( DOMINIQUE VENTURELLI )
22
CAPÍTULO 22 ( CARMEN MORIS )
23
CAPÍTULO 23 ( CARMEN MORIS )
24
CAPÍTULO 24 ( CARMEN MORIS )
25
CAPÍTULO 25 ( CARMEN MORIS )
26
CAPÍTULO 26 ( CARMEN MORIS
27
CAPÍTULO 27 ( CARMEN MORIS )
28
CAPÍTULO 28 ( CARMEN MORIS )
29
CAPÍTULO 29 ( CARMEN MORIS )
30
CAPÍTULO 30 ( CARMEN MORIS )
31
CAPÍTULO 31 ( CARMEN MORIS )
32
CAPÍTULO 32 ( CARMEN MORIS )
33
CAPÍTULO 33 ( CARMEN MORIS )
34
CAPÍTULO 34 ( DOMINIQUE VENNTURELLI )
35
CAPÍTULO 35 ( CARMEN MORIS )
36
CAPÍTULO 36 ( CARMEN MORIS )
37
CAPÍTULO 37 (CARMEN MORIS)
38
CAPÍTULO 38 (CARMEN MORIS)
39
CAPÍTULO 39 (CARMEN MORIS)
40
CAPÍTULO 40 (DOMINIQUE VENTURELLI)
41
CAPÍTULO 41 (CARMEN MORIS)
42
CAPÍTULO 42 (CARMEN MORIS)
43
CAPÍTULO 43 (CARMEN MORIS)
44
CAPÍTULO 44 (CARMEN MORIS)
45
CAPÍTULO 45 (DOMINIQUE VENTURELLI)
46
CAPÍTULO 46 (DOMINIQUE VENTURELLI)
47
CAPÍTULO 47 (DOMINIQUE VENTURELLI)
48
CAPÍTULO 48 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 49 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 50 ( CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 51 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 52 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 53 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 54 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 55 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 56 ( CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 57 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 58 ( CARMEN MORIS )
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CAPÍTULO 59 ( CARMEN MORIS )
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CAPÍTULO 60 (CARMEN MORIS )
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CAPÍTULO 61 ( DOMINIQUE VENTURELLI)
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CAPÍTULO 62 (DOMINIQUE VENTURELLI)
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CAPÍTULO 64 (DOMINIQUE VENTURELLI)
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CAPÍTULO 64 (DOMINIQUE VENTURELLI)
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CAPÍTULO 65 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 66 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 67 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 68 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 69 (DOMINIQUE VENTURELLI)
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CAPÍTULO 70 (DOMINIQUE VENTURELLI)
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CAPÍTULO 71 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 72 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 73 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 74 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 75 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 76 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 77 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 78 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 79 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 80 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 81 (CARMEN MORIS)
82
CAPÍTULO 82 (CARMEN MORIS)
83
CAPÍTULO 83 (DOMINIQUE VENTURELLI)

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