CAPÍTULO 8 ( CARMEN MORIS )

— Prazer em conhecê-la, Carmen— expressou, a voz rouca, grave e densa.

Mas parecia que havia algo errado com ele, como se não quisesse agir dessa maneira e se mantivesse impassível ainda assim, escondendo quaisquer sentimentos que pudesse ter por trás da máscara de mafioso frio e indiferente. Eu conseguia reconhecer isso, convivi tempo o suficiente com o meu pai para compreender suas nuances, tanto a que ele usava apenas comigo quanto a que mostrava para o resto do mundo.

— Digo o mesmo — falei somente, pigarreando para limpar a garganta embargada.

Bom... ao menos eu não seria obrigada a me casar com um homem velho, decrépito e feio. Dominique exalava poder, beleza e dominância por onde andava. E, se não fosse tão psicopata em casa como diziam que ele era na rua, nosso casamento poderia ser tranquilo.

Forcei meu corpo a desviar a atenção de Dominique , mas havia um magnetismo que me sugava para ele, como se eu precisasse apenas dele.

— Como vai, Carmen ?

— disse Nery.

Nery era tão... diferente dos irmãos. Ele possuía uma aura mais suave, não era como os mafiosos que eu estava acostumada a conviver. Ele era lindo, os cabelos e os olhos seguiam o mesmo padrão que o dos irmãos. Também era tão alto e musculoso quanto eles. Só que Nery era leve e se apresentava como um verdadeiro cavalheiro.

Será que ainda dava tempo de trocar de noivo?

Com Nery, eu tinha certeza de que o enlace daria certo, mas não possuía o mesmo sentimento quanto a Dominique.

Um exalava paz. O outro exalava o caos.

E eu já era suficientemente caótica. Não precisava de um par para me fazer companhia nisso.

— Bom, vamos descer para cumprimentar os convidados e, enquanto isso, Dominique e Carmen terão um tempo para conversar — disse papà, tocando em minha lombar com a palma da mão e me empurrando sutilmente em direção à porta.

— Sorte que estávamos tratando de negócios em meu escritório ou não teríamos chegado a tempo.

Agora fazia sentido o porquê eles vieram me acudir tão rápido. Não estava esperando nenhum deles, eu apenas queria causar uma cena dramática de donzela em perigo.

— Sim, e precisamos conversar sobre isso, Enrico. Eles conseguiram ir longe demais. Carmen está correndo grande perigo — disse Gilliam.

Meu pai me lançou um olhar que brilhava com orgulho disfarçado de preocupação fingida. Ele sabia que em nem um mísero segundo que fiquei sozinha com o intruso eu corri perigo.

— Por isso, faço questão de interrogar eu mesmo o intruso — avisou.

Senti os olhos de Dominique em mim, tão profundos e fervorosos que fez a minha pele esquentar e os cabelos da minha nuca se arrepiarem.

Ele me analisava, como se estivesse tentando decifrar o quanto da conversa me incomodava, o quanto eu sabia e o quanto conseguiria suportar ouvir sobre tortura.

Meu pai nunca escondeu de mim o que ele fazia na máfia, nem mesmo quando chegava em casa debulhado em sangue dos outros. Então não era nenhuma novidade, mas... será que todos os homens eram assim? Eu deveria mostrar que não me abalava ou precisaria fingir um tremendo horror?

Suspirei audivelmente.

Droga. Precisava fazer algumas perguntas na noite de hoje e nada melhor do que garotas ingênuas da minha idade para responder cada uma delas. E só então começaria a moldar a minha máscara, a que eu usaria sempre, em cada momento da minha vida, exceto quando estivesse sozinha ou com a minha família.