Era uma Glock G43X de 9 milímetros, com carregador com capacidade para dez munições, sendo uma na câmara. Uma pistola moderna, bonita e potencialmente letal.
— Não ouse colocar nada além da sua mão para fora ou eles vão acertar você — avisou, virando em outra esquina.
— Respire, Carmen ... respire... — murmurou, tentando me acalmar.
Eu estava nervosa pela situação, mas não pelo que estava prestes a fazer. Era uma sorte que Dominique não pudesse perceber isso. Para ele, eu era apenas uma garotinha assustada que queria voltar correndo à casa do pai.
— Vai dar tudo certo, estou bem... — sussurrei, acenando com a cabeça.
Pulei para o banco de trás do carro e me preparei para atirar. O SUV estava nos seguindo de perto, acelerando para tentar acompanhar o ritmo de Dominique .
Viramos em outra esquina, saindo em uma estrada de chão batido e sem movimento algum. Percebi que era esse o intuito de Dominique desde o início: tirar o foco das ruas movimentadas e evitar que algum civil fosse eventualmente atingido pela guerra que se sucedia.
— Se prepare, Carmen— orientou.
Dominique virou o carro à direita na estrada, colocando a minha janela na mira do SUV. Era a minha única oportunidade de tentar acertar o condutor. Se o vidro fosse blindado, aguentaria dez tiros da pistola de 9 milímetros, antes que a última bala atingisse o cérebro do motorista.
Sem pensar duas vezes, abaixei o vidro e coloquei a mão para fora, mirando bem no rosto do homem. Com os outros vidros do carro abertos, tinha noção de onde ele estava pelo reflexo da luz.
— Porra, o que você está fazendo? Ficou maluca, garota? — gritou Dominique.
Um.
Dois.
Três. Quatro. Cinco tiros.
O vidro trincou, o local onde as balas atingiram se afundou, e eles começaram a atirar contra o nosso carro com toda a potência que possuíam.
Seis. Sete. Oito. Nove. Dez tiros.
O vidro estalou, enfraquecido, perdendo a potência de segurança que possuía. Depois de torná-lo frágil, não havia sobrado nada além de uma pequena lâmina de vidro, que me impedia de acertar quem eu tanto queria.
Apertei o gatilho, a munição da câmara sendo minha única chance. O último tiro disparou, crispando pelo ar, atingiu a pequena lâmina de vidro e o transformou em milhares de pedaços, antes de perfurar a garganta do motorista e espalhar sangue para todos os lados. O carro deles derrapou, perdendo o controle, e capotou.
Sorri aliviada e realizada por ter tido a minha primeira morte. Não havia um único resquício de culpa em mim. Eu me sentia... leve, e com vontade de fazer isso outras vezes.
— Meu Deus, mulher! Como é que você fez isso?
Espremi os olhos e respirei fundo, inalando toda a satisfação apenas para mim. Recolhi a mão, fechei a janela e colei as costas
no banco, com os olhos arregalados e os lábios entreabertos. — Eu... eu o matei? — Engoli em seco.
Dominique riu.
— Acho que você matou todos.
Levei as mãos à boca e enchi os olhos de lágrimas que nunca seriam derramadas, pois não eram verdadeiras.
— Meu Deus, eu sou um monstro — choraminguei, soluçando para parecer real.
— O que foi que eu fiz?
Ele freou bruscamente, parando o carro no meio da rua, e me encarou através do espelho.
— Como você fez aquilo? — indagou, com as sobrancelhas franzidas.
— Eu não sei... eu apenas fiquei atirando e atirando, assim como você havia dito para fazer.
— E acertou bem no motorista? — retrucou.
— Acho que foi sorte de principiante. — Fingi indiferença.
Não seria difícil acreditar. Talvez a precisão exata dos tiros complicasse um pouco a história que tentava encenar, mas, com o vidro em pedaços, ele jamais perceberia isso. Assustada, eu mirei e, sem querer, acertei.
Dominique me encarou, cada poro dele delatava desconfiança, os olhos eram profundos e expressivos, como se tentassem desvendar todas as minhas mentiras, remover cada uma das minhas camadas. Não deixei nada transparecer, mantive a máscara de jovem inocente e indefesa.
O celular dele tocou, vibrando em seu bolso, forçando-o a quebrar o contato visual.
— Venturelli— atendeu, ouvindo o que era dito do outro lado da linha.
— Mande homens para o local. Algum deles pode estar vivo dentro do veículo.
— Ele me olhou, conferindo, buscando qualquer indício de ferimento. — Diga para Enrico se acalmar, ela está bem e intacta.
— Mais silêncio.
— Eu consegui acertar um tiro no motorista, isso fez com que perdessem o controle — mentiu, sem desviar os olhos dos meus.
Ele estava tentando me proteger. Eu era uma garota traumatizada por ter sangue nas mãos, uma jovem filha da máfia que seria julgada e condenada pelas outras mulheres, se descobrissem o que eu fiz.
— Venham logo. O inferno está livre e mais deles podem surgir — disse Dominique antes de encerrar a ligação.
— O que você quis dizer com isso?
Suspirando, jogou o telefone no banco do carona.
— Eles estão invadindo o nosso território cada vez mais, Carmen , e hoje extrapolaram todos os limites. Balbino sabe do nosso casamento e está deixando óbvio o seu descontentamento com a união. Você não está mais em segurança, nem mesmo em casa — afirmou, comprimindo os lábios.
— E agora? — perguntei, dobrando os joelhos e descansando o meu queixo em cima deles, como se me sentisse amedrontada.
Que eles viessem, cada um desses malditos desgraçados. Eu mataria um por um, até que não restasse ninguém, até que o boato sobre a princesa intocada se espalhasse e nenhum outro covarde tivesse coragem de se aproximar de mim.
— Vamos nos casar o quanto antes. Não arriscarei a sua vida mais vezes — afirmou, convicto.
— Sinto muito se seu plano era planejar uma festa grandiosa, mas isso não será possível.
Eu não planejava nada, só tinha esperanças de que pudesse passar mais tempo na casa do meu pai e viver um pouco mais a minha vida real.
Antes que eu pudesse responder, ouvimos o ranger da porta do veículo capotado, Dominique espichou o pescoço para espiar por cima dos bancos. Os olhos dele mudaram em fração de segundos, de brandos para ameaçadores.
— Fique aqui — avisou, pegando a arma.
Retirou o carregador e colocou um novo cartucho antes de arrumá-la e desengatilhar.
— Não saia do carro por nada.
Óbvio que eu não cumpriria a promessa caso ele estivesse em perigo, então apenas acenei.
Ele desceu do carro e caminhou até o veículo capotado com a arma na mão. Ao se aproximar, agachou-se para analisar melhor a situação. Um homem se arrastou para fora. Dominique o observou por uns segundos antes de erguer a mão com a arma e disparar três tiros no meio da cabeça dele. Então deu a volta no carro e parou do outro lado.
A cada momento que eu convivia mais com ele, melhor compreendia o porquê o chamavam de insano. Ele se transformava em outra pessoa quando estava prestes a matar, mas não por se assustar. Era porque ele parecia adorar.
Observei atentamente cada um dos movimentos que exercia, olhando ao redor com suspeita de que alguém surgisse do nada e o ferisse, no entanto os homens, agora caídos, pareciam preferir a morte a enfrentar o Venturelli psicopata.
Inclinando-se em direção ao veículo, ele puxou um homem do banco do carona, arrastando-o para fora. O braço dele estava em uma posição atípica, bem estranha, e ele gritava, mas Dominique não pareceu se importar. Ele o jogou no meio da estrada e cuspiu em seu rosto antes de acertar um tiro em seu ombro direito. O homem se debateu, urrando de dor.
Eu não fiz nada, apenas fiquei sentada enquanto observava.
Tinha chegado muito perto de revelar o meu segredo, não me arriscaria outra vez. E, além de tudo, eu estava me divertindo muito com a cena.
Dominique não me assustava, ele me atraía.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 83
Comments
Jeanne Christine Bispo
Casal perfeito Tsunami e Terremoto🤭🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣.....Caus total onde eles passam ....Adorooooooo😍.
2024-04-24
12
Helga Coelho
Juntou-se a fome com a vontade de comer.😂😂😂😂
2024-05-13
0
Ana Marta Antonio Santos
eita que o caos foi instalado
2024-05-09
0