— Você é meio... diferente — comentou.
Ofeguei, enrijecendo os ombros, mas não fiz um único movimento com o rosto enquanto o olhar dele analisava cada reação fugaz que eu expressava.
— Diferente como? — objetei, engolindo com dificuldade.
Eu já estava sendo tão óbvia logo no nosso segundo encontro?
— Não sei explicar — disse, somente.
Ele não se preocupou em bater na porta, apenas girou a maçaneta e a empurrou para trás com força, fazendo-a colidir contra a parede do lado com um estrondo.
— Logan, cheguei! — gritou.
Avançamos, mas paramos no meio de uma sala com um balcão de bar ao fundo e muitos estofados ao redor. Por dentro, era ainda pior do que a fachada. O cheiro de mofo impregnado nas paredes flutuou até o meu nariz e me fez desejar que a tatuagem fosse finalizada o quanto antes.
Uma porta foi aberta ao meu lado direito. Um homem baixinho e troncudo, cheio de tatuagens, atravessou por ela com um cigarro de maconha preso aos lábios.
— Hum... chegou e trouxe a noiva — comentou, encarando- me da cabeça aos pés com um brilho no olhar.
— Nossa, é um prazer conhecer você. — Sorriu.
Me mantive inerte, evitando sucumbir à iminente vontade de revirar os olhos.
Logan deu um passo à frente com a mão estendida. Eu não gostei da forma como ele avançou para perto de mim, como pareceu ser desrespeitoso. Se estivéssemos sozinhos, deslocaria o ombro dele com um só movimento, mas eu não fiz nada, apenas fiquei parada feito uma estátua ao lado de Dominique.
— Logan... — sibilou meu noivo.
Uma ameaça e não um aviso. Era fácil identificar quando um homem sentia que seu território estava sendo violado.
— Só quero parabenizar a noivinha — respondeu o tatuador, dando mais um passo em minha direção.
Em um piscar de olhos, ouvi o crispar de roupas de Dominique e então uma faca deslocou-se pelo ar, certeira, cortando um pouco da orelha de Logan, e cravou-se na porta ao fundo. Logan se encolheu.
— Ficou maluco, porra? — gritou, tocando a orelha, e levou os dedos ensanguentados até os olhos para confirmar o corte.
— Avisei, mas você não ouviu.
— Eu não ia fazer nada, só estava brincando — grunhiu ele.
Dominique foi até o tatuador e deu um tapa em seu ombro.
— Não chegue perto do que me pertence de novo. Da próxima vez, arrancarei a orelha inteira e o farei engoli-la como um segundo aviso — sinalizou.
— E já adianto que não teremos uma terceira vez.
Dominique conseguia ficar ainda mais sexy quando ameaçava alguém.
Aí estava a faceta que todos na máfia sussurravam pelos corredores: o irmão Venturelli psicopata e sem paciência alguma, o que matava as pessoas sem pensar duas vezes ou calcular as consequências. Dominique era explosivo e movido a impulsos que não conseguia controlar.
Mas nada disso parecia me assustar de forma alguma. Ele era interessante e não se importava com o que pensavam ou falavam dele. Era... diferente.
Girando nos calcanhares, encarou-me com afinco, procurando quaisquer traços de desconforto em mim e, sem encontrar nada, relaxou em seguida.
Eu não poderia fingir normalidade para sempre ou a todo momento, porém o comportamento de Dominique realmente não me incomodava.
Deveria? Sim! Mas não me perturbava.
— Vai tatuar minha noiva, agora!
— Ok — ciciou Logan, entrando na sala da qual havia saído.
Dominique me puxou pelo punho, direcionou-me a uma maca e, levantando os meus quadris, me deixou sentada sobre ela.
— Vai ser rápido e logo poderemos sair para comer alguma coisa. O que acha? — perguntou, ajeitando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
A sombra de um sorriso se espalhou pelo meu rosto. — Eu acho bom.
Puxei minha blusa para cima e Logan colou o papel em minha pele, repetindo o mesmo esboço e tamanho que usou na de Dominique anos atrás. Deitei-me de lado sobre a maca e encarei a parede descascada enquanto o esperava ajeitar as coisas para começar a me tatuar.
Meu noivo puxou um banco e se sentou ao meu lado.
— Vai doer um pouco. Se ficar muito desconfortável, podemos parar e retomar após um breve intervalo — disse Logan.
Balancei a cabeça.
— Eu consigo suportar. Só termine logo isso, por favor — sussurrei.
Ouvi o barulho da maquininha e, quando a agulha espetou a minha pele pela primeira vez, tranquei a respiração. A dor não era absurda, mas incomodava.
Os dedos de Dominique se entrelaçaram com os meus e nossos olhos se encontraram. A pele de sua mão era áspera, calejada, acostumada a segurar armas de todos os tipos. Sua palma cobria a minha e me dava uma sensação reconfortante enquanto as agulhas perfuravam e tingiam a minha pele.
Por alguns segundos, me perdi nos olhos castanhos, confusos e profundos.
Dominique exalava caos, mas, de alguma forma, eu sentia que o transtorno dele combinava com o meu.
Talvez o casamento não fosse ser tão ruim quanto eu pensava, mas ainda não sabia concluir esse pensamento. Só tinha certeza de duas coisas: ou seríamos perfeitos juntos, ou nos mataríamos dentro de poucos meses.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Kelly Sartorio
disso vc tem razão Carmen
2024-04-28
3
Neide Lima
2 Malucos Psicopatas 🤭😂😂😂😂
2024-04-23
4
Margarida
Louca que nem ele 😏🤭🤗.
2024-04-19
1