As pessoas perambulavam pela nossa sala de jantar, conversando e comemorando. A maioria dos olhos se voltavam para mim, cheios de questionamentos e dúvidas.
Eu era uma incógnita para eles. A filha que foi mantida em casa, longe de tanta atenção pela maior parte da vida, e agora estava prometida a um dos Venturelli.
As mulheres não me olhavam com curiosidade, mas com inveja. As mães me fulminavam, odiando que fosse eu nesta posição e não alguma das suas filhas, enquanto estas me encaravam da cabeça aos pés tentando encontrar algo sobre mim que fizesse uma fofoca se espalhar.
Mas eu não me importava com isso. Não queria nem mesmo estar nesta posição. Se eu tivesse escolha, jamais teria aceitado me casar com Dominique. Preferiria mil vezes o consolo e lazer da minha casa do que um casamento forçado, mesmo que fosse com um dos homens mais importantes da máfia.
Beberiquei um gole do espumante, as bolhas fizeram cócegas em minha garganta.
— Olá, Carmen.
— Uma voz feminina ressoou à minha direita.
Eu sabia quem ela era, seu nome ficou na boca das mulheres por meses seguidos, sendo criticada por qualquer coisa que fizesse.
Elisa Venturelli. A rainha da máfia.
Ela era uma mulher linda, com cabelos e olhos castanhos e rosto delicado. Caminhava com uma graciosidade própria, exalando o poder que sabia que tinha.
Ninguém era obrigado a gostar de Elisa, mas a respeitavam por medo. E, para ela, isso parecia ser suficiente.
— Olá — cumprimentei, meio retraída, sem saber ao certo o que eu deveria falar.
Nunca vi impedimento entre o casamento dela e de Gilliam, mas a maioria dos membros da máfia levou meses para aceitá-la como a nossa rainha. Eles achavam um absurdo que Gilliam tivesse se casado com uma mulher de fora e mais absurdo ainda que fosse uma policial.
— Sou Elisa... hum... Nós seremos cunhadas em breve — disse, mostrando desinteresse.
A sombra de um sorriso curvou os meus lábios para cima.
— Eu sei quem você é — anunciei.
— Não é como se alguém aqui não soubesse.
Ela olhou para os lados e franziu o nariz em indiferença.
— E compartilha da mesma opinião que a maioria? — perguntou.
Tapei a boca com a mão, escondendo uma gargalhada.
— Sabe que ninguém vai te falar a verdade, não é? — retruquei, balançando a cabeça.
— Pode perguntar o quanto quiser. Eles vão omitir a verdade na sua frente e falar sobre isso pelas suas costas.
Ela deu de ombros e tomou um gole do espumante.
— E eu não me importo nem um pouco, desde que mantenham as línguas dentro das bocas enquanto eu estiver por perto... Ou eu terei que cortá-las. — Piscou para mim.
Eu gostava dela. Não me importava com o que falavam, Elisa era uma mulher peculiar e incrível. Era isso que incomodava os outros e, se soubessem como eu havia sido criada, eu provavelmente enfrentaria os mesmos preconceitos que ela.
— Não — afirmei, evidenciando a verdade em meu tom de voz.
— Eu não compartilho da mesma opinião que eles.
Ela abriu um sorriso reluzente para mim.
— Vai ser bom ter uma mulher por perto. Viver no meio de todos esses homens se torna cansativo às vezes — comentou.
Seria uma boa ideia perguntar para ela como Dominique era em família? E se ela contasse ao meu noivo e ele se sentisse ofendido?
Esfreguei a ponta do dedo na taça suada, em conflito interno sobre o que eu deveria fazer.
— Pergunte, Carmen.
— Ela riu. Franzi as sobrancelhas, analisando-a, confusa.
— Não é novidade para ninguém a minha antiga profissão, então eu sei analisar o comportamento humano e sei identificar quando alguém está em conflito sobre falar algo ou não.
Confirmei com um aceno.
— Eu só queria saber como... hum... Dominique é em casa — expressei, abaixando a voz para que ninguém pudesse ouvir.
— Sei que ele é da sua família, então não precisa ser sincera comigo e nem mesmo responder a minha pergunta.
Elisa segurou o meu braço, apertando-o com leveza.
— Eu jamais deixaria que qualquer um deles maltratasse uma esposa, Carmen, e sempre serei sincera quanto a isso — avisou com honestidade.
— Dominique é ótimo, não tem o que o que se preocupar, mas, caso se sinta desconfortável em algum momento, saiba que estarei aqui para apoiá-la com o que precisar.
— Obrigada.
Ela balançou a cabeça.
— Não precisa agradecer, estou na máfia e faço parte dela, mas eu não nasci aqui e ainda acho bem estranho o costume de casamento por obrigação, pois é algo que não existia no meu mundo. Por isso, sinta-se livre para conversar comigo sobre isso. Posso não ter os melhores conselhos, mas sempre estarei disponível para ouvi-la. Nós seremos família e quero que essa situação se resolva da melhor maneira possível, embora eu não concorde com isso.
Franzi os lábios em um esgar.
— Não concorda com o casamento?
Elisa bufou e fez um gesto de desdém com as mãos.
— Óbvio que não, mas não me meto nos negócios da famiglia. Confio em meu marido e nas suas escolhas.
— Sorriu levemente.
— Espero que isso dê certo. Vocês são jovens, bonitos... e quem sabe? Podem se apaixonar um pelo outro.
Soltei uma exalação.
— Não espero amor, mas, sim, respeito. Ficarei satisfeita se tiver apenas isso — expressei, vasculhando a sala com os olhos em busca de Dominique, mas não o encontrei em lugar algum.
— No meu mundo, casamentos por obrigação são tão banais. A maioria dos casais se formou assim, por isso não me espanta tanto. Algumas mulheres possuem sorte, enquanto outras... não.
Elisa riu.
— Se é isso que procura, não se preocupe. Os Venturelli podem assustar, mas não passam de cãezinhos adestrados dentro de casa — revelou, piscando, e me arrancando uma risada sincera.
— Dominique é ótimo, vai ser um bom marido... e, bem, se não for, apenas ligue para mim que eu darei um jeito nele.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Jaqueliane Tomaz
Tô amando mais ver os personagens
2024-05-03
1
Kelly Sartorio
gostei de Elisa
2024-04-28
3
Andreia Pereira
arrasou!!
2024-04-20
3