CAPÍTULO 2 ( CARMEN MORIS)

Dei três passos para trás, impulsionei o corpo para frente e ergui a perna, chutando o saco pesado com toda a minha força. O objeto mal se moveu, mas as correntes que o prendiam chiaram.

— Mais alto. Eu sei que você consegue — gritou Marco, segurando o saco de pancadas firmemente. — Pense em um cara com dois metros de altura, Carmen, e você quer chutar o meio do rosto do idiota.

Soltei um grunhido e tentei outra vez. Acertei um ponto mais alto ao imaginar o rosto de um dos nossos inimigos e o quanto eles não teriam misericórdia se pudessem pôr as mãos em mim.

— Boa garota — murmurou, sorrindo amplamente.

Marco era meu melhor amigo e guarda pessoal desde que eu me conhecia por gente. Dez anos mais velho, foi criado na casa da minha família e era o homem em que meu pai mais confiava.

Minha mãe morreu quando eu nasci, então acabei sendo criada por Antonieta, a mãe de Marco, minha babá e governanta da casa. Assim, com todo o convívio, acabamos nos aproximando e nos tornando grandes amigos.

Diferentemente da maioria das garotas da máfia, eu não fui criada para ser uma filha. Minha criação se voltou para ser a herdeira da nossa casa. Quando ainda era criança, aprendi a atirar e a lutar para me defender. Não brinquei com bonecas, mas com facas e armas.

E esse era um segredo só meu e da minha família.

Ninguém sabia sobre este detalhe da minha vida. Meu pai fez questão de deixar essa parte da minha infância em absoluto segredo, escondendo isso até mesmo do nosso Capo.

Encarei os olhos verdes de Marco e sorri.

— O que ele quer fazer comigo? — perguntei, dando dois passos para trás e me preparando para o próximo golpe.

Marco era um homem alto e musculoso, assim como a maioria dos soldados da máfia. Ele era muito atraente, os cabelos castanhos eram ralos, as maçãs do rosto marcadas e o maxilar delineado. Os olhos verdes demonstravam vez ou outra certa psicopatia que me deixava assustada. A tatuagem da Camorra no pescoço vazava pela gola da camiseta preta de algodão que estava vestindo.

— Hum... — Comprimiu os lábios curtos, pensativo. — Ele quer fodê-la — avisou, encolhendo os ombros.

Arregalei os olhos e me preparei para atacar.

Marco usava a tática de imitar uma possível situação real, me fazendo revidar para me defender.

Ele era dois centímetros mais alto do que eu e bem mais forte. Minha meta era chutar o saco de pancadas com tamanha força que o obrigasse a soltar o objeto, e eu não poderia parar de tentar enquanto não conseguisse isso, mesmo que me levasse à exaustão.

Fechei os olhos e inspirei uma profunda lufada de ar. Meu coração batia com força e o suor escorria pelo meu pescoço, colando meus cabelos da nuca na pele.

Imaginei a suposta cena.

Ninguém era piedoso na máfia, não existia um cenário bonito em um possível ataque. Na melhor das hipóteses, eu seria morta; na pior, estuprada e torturada. E era isso que Marco queria que eu visse. Se fosse pega e não tivesse ninguém para me defender, como eu deveria proceder? Aceitar o meu destino ou lutar até o fim?

Lutaria porque fui treinada para isso, fui ensinada a matar sem piedade, assim como a torturar, caso fosse preciso. Não fui criada como uma princesa, fui criada como um soldado.

Abri os olhos e me impulsionei para a frente, acertando o saco de pancadas em cheio com o meu pé e tornozelo. A pancada foi tão forte que Marco largou o saco, deixando-o balançar no ar. Minha perna latejava, mas o meu rosto se curvava em um sorriso de satisfação.

Eu consegui.

Se fosse um inimigo, estaria morto e estirado no chão nesse momento, e eu ficaria livre para conseguir fugir.

Palmas soaram às minhas costas, um barulho oco e constante. Girei nos calcanhares e encontrei o meu pai se

aproximando lentamente. Seus olhos brilhavam em um orgulho genuíno da única filha.

— Papà. — Sorri, abrindo as luvas que cobriam as minhas mãos e as jogando no chão. — Não sabia que o senhor já havia retornado da reunião.

Ele colocou as mãos nos bolsos do terno cinza e balançou a cabeça. Percebi que havia algo de errado com ele, conseguia notar pela contração dos músculos das costas e pela mandíbula rígida. Eu não fazia ideia sobre o que era a reunião. Ele sempre deixava os assuntos sobre a máfia longe de mim por não gostar de me preocupar com eles, mas, fosse o que fosse, não o havia deixado feliz.

— Estou orgulhoso, amore mio. Foi um chute e tanto — parabenizo, apontando para o saco que balançava no ar com uma das mãos. — Você é única, Carmen, uma preciosidade, e tenho muito orgulho de ser o seu pai.

Não pude evitar de franzir a testa.

Meu pai era um homem incrível, eu tinha muita sorte por tê-lo. Eu via como as garotas da máfia agiam nos eventos.

Elas eram oprimidas pelos pais, subjugadas às suas vontades, educadas para serem boas esposas. Sempre submissas, sempre omissas.

Mas não eu.

Enrico Romano nunca se casou de novo e não teve mais filhos, então sobrou para mim a responsabilidade de governar a casa após a sua morte. E esse era o motivo da minha criação tão... atípica.

— O que há de errado? — questionei.

Os cabelos brancos estavam penteados para os lados, bagunçados por ele ter esfregado os dedos nas madeixas. Seus olhos escuros pareciam estar apreensivos e o rosto, que um dia havia pertencido a um homem muito atraente, estava marcado pela idade. Para os inimigos, um homem frio e calculista. Para mim, um pai amoroso e disposto a tudo para me proteger e agradar.

Ele suspirou.

— Papà... — murmurei, sentindo meu coração prestes a sair pela boca.

Os olhos dele voaram para um ponto atrás de mim, então retornaram para os meus.

— Não há melhor jeito de dar a notícia, Carmen, então vou direto ao ponto — falou e eu balancei a cabeça em câmera lenta, o corpo entorpecido pela notícia que parecia ser muito ruim. — Você foi prometida a Dominique Venturelli.

Abri e fechei a boca, sem saber o que falar. Nada do que ele havia dito parecia fazer sentido, como se ele estivesse alucinando. Ou era eu quem estava ouvindo tudo errado?

— Como é? — A voz de Marco soou atrás de mim.

Ele conseguiu verbalizar a pergunta que eu não consegui, pois a minha língua começou a ficar muito pesada e minha garganta, fechada.

Meu pai soltou o ar pelo nariz e balançou a cabeça, parecendo se sentir arrasado com isso.

— O conselho obrigou Gilliam a casar um dos irmãos, então o desgraçado decidiu que casaria Dominique com Carmen — Ele me olhou, franzindo os lábios em um esgar. — Eu sinto muito, amore mio. Tentei intervir, mas ele é o nosso Capo e estava decidido... Não pude fazer nada.

Fechei as mãos em punho ao lado do corpo.

Eu passei a porra da minha vida toda treinando, lutando e aprendendo a me defender para que não precisasse contar com ninguém após a morte de papai, e então Gilliam Venturelli simplesmente decidiria que eu deveria me casar com o irmão psicopata dele? Droga, maldita máfia! Malditos Venturelli!

Passei a mão em minha franja suada, puxando-a para trás, e me virei. Não consegui olhar para o meu pai. Embora soubesse como as coisas funcionavam e que ele não poderia ir contra a ordem de Gilliam, não sem ser morto no processo, eu não conseguia encará-lo no momento. Estava magoada demais.

A liberdade que eu tinha em casa estava sendo tirada de mim.

— Carmen, olhe para mim — pediu, mas eu não fiz menção alguma de me virar.

— Por favor, apenas me escute.

Olhei para Marco. Ele encarava o meu pai com ódio e nojo evidentes. Meu melhor amigo, meu soldado particular, o homem que me treinou para ser a melhor, estava dividindo a raiva comigo.

— Eles não te deixariam em paz. Eu a criei para ser autossuficiente, Carmen, mas, com o sobrenome e fortuna que carrega, seria obrigada uma hora ou outra a se casar com alguém da máfia.

Girei para ele em uma velocidade vertiginosa e apontei um dedo acusatório.

— Então resolveu me jogar aos lobos antes que isso pudesse acontecer, papà? Se tinha esses planos desde o começo, por que não me deixou ser como as outras garotas? — sibilei, as lágrimas acumuladas estavam embaçando a minha visão.

Ele negou com a cabeça.

— Você nunca poderia ser como as outras, querida. Sempre demonstrou ser uma guerreira ao invés de uma princesa. Eu tinha esperanças de que pudesse viver em paz, de que não precisasse se casar, e por isso te criei para que fosse autossuficiente. — Lançou um olhar para Marco. — Mas caso a obrigassem a um casamento, tinha planos de fazer um contrato falso com Marco. Assim, poderia continuar na sua liberdade, vivendo a vida de que tanto gosta.

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha direita. Levei as pontas dos dedos até o rosto para limpá-la. Eu chorava de raiva, tanta que precisava extrapolá-la de alguma forma.

— Por que não disse a eles que eu estava noiva, que eu estava prometida a outro? — sussurrei, entredentes.

Ele riu sem humor.

— E acha que Gilliam aceitaria? Ora, Carmen, você sabe como as coisas funcionam em nosso mundo. Dominique é irmão do Capo, braço direito dele. Se eu dissesse que estava prometida para um soldado, eles matariam Marco sem pensar duas vezes e nos obrigariam a honrar com o acordo. Seria uma desonra que me desfizesse de um enlace entre você e Dominique Venturelli por causa de um soldado.

Eu sabia, no fundo do meu coração, que ele falava a verdade, que se tivesse discordado de Gilliam Venturelli poderia estar morto neste momento, mas ter essa certeza não fazia a dor ser menor.

Precisava quebrar alguma coisa, atirar em algo e extravasar a raiva e frustração que eu sentia.

— Nosso sobrenome e fortuna é relevante demais, Carmen. Eles não te deixariam em paz depois da minha morte. Gilliam me obrigou em nome da máfia, eu não tive escolha.

Em nome da máfia.

Quando o Capo proferia tais palavras, não restava opção a não ser concordar com o ordenado.

Soltei um soluço baixo, odiando que estivesse demonstrando fraqueza na frente deles.

— E agora? — perguntei, minha voz não passou de um sussurro.

Ele caminhou em minha direção e segurou as minhas mãos, olhando no fundo dos meus olhos.

— Agora você colocará em prática tudo o que lhe foi ensinado, Carmen, mas jamais deve deixar que saibam disso. Esse será o seu maior segredo e principal trunfo. Deixe que achem que é como as outras, que foi criada para se submeter, que é uma filha da máfia. Esconda deles quem é de verdade e use isso para se proteger.

Ergui o maxilar.

— E Dominique?

— Ele será um bom marido, na medida do possível. Eu vejo como Gilliam é respeitoso com a esposa e, embora Dominique seja o louco da família, acredito que, nesse quesito, será como o irmão.

Trinquei a mandíbula.

— Até porque eu o matarei se fizer o contrário — expressei.

Não me importava que fosse o irmão do Capo, não me importava quem ele era. Eu o mataria sem pensar duas vezes se levantasse a mão para mim.

Eu via as mulheres da máfia nos eventos, as marcas escondidas por baixo das roupas ou de muita maquiagem. Elas sofriam agressões física e verbal, assim como eu sabia que os maridos frequentavam os prostíbulos e possuíam amantes fixas. Eu não considerava o que tinham como um casamento, pois era como um penar: triste, raso e sem sentido algum.

Não importava o que acontecesse, jamais aceitaria viver dessa forma. Detestava o fato de que seria obrigada a me casar em nome da máfia, mas, como filha, nascida e criada nesse meio, sabia que não tinha como fugir dessa responsabilidade. E se eu tentasse, colocaria a minha família em perigo. Meu pai perderia a honra e eu seria caçada e morta. Portanto, cumpriria com as minhas responsabilidades, mas mataria Dominique antes que pudesse levantar a mão para mim.

Meu pai riu.

— Eu sei que sim e é isso o que me deixa seguro, Carmen, pois eu criei você para ser a melhor de todas — disse, encostando a palma em minha bochecha.

— Sinto muito que tenha que fazer isso em nome da máfia e que não tenha escolha, mas saiba que estarei aqui para você e sempre para você.

— Nós podemos tentar outra forma, fugir... eu não sei — ponderou Marco.

— Não há nada que possa ser feito, foi decidido pelo próprio Capo. Foi ele quem escolheu a prometida de Dominique — contestou papai.

Marco deu um soco no saco de pancadas e esfregou as mãos nos cabelos.

— Porra, então vai ser isso? Carmen será obrigada a se casar com alguém que não ama?

— sibilou, andando de um lado para o outro.

Ergui a cabeça e pisquei, desfazendo-me das lágrimas que cobriam a minha visão.

Eu era uma Moris, uma garota atípica da máfia, e sobreviveria a isso. Passei a vida toda sendo treinada para ser forte, então não deixaria que um casamento por obrigação me abalasse.

— Eu vou fazer isso — anunciei.

— Sou uma filha da Camorra, meu Capo está solicitando os meus serviços e farei como o ordenado.

— Olhei para Marco.

— Espero que você me acompanhe nisso, como meu melhor amigo e guarda pessoal. Me sentirei mais segura se estiver comigo.

Marco não me respondeu. Ele simplesmente girou nos calcanhares e deixou o velho galpão para trás, batendo a porta com força ao sair. Dividia a mesma frustração com ele, mas sabia das minhas obrigações e, por mais que me sentisse contrariada, nada poderia fazer quanto a isso.

— Eu sinto tanto, querida. Se eu soubesse... teria interferido antes, assinado o contrato de casamento entre você e Marco — lamentou.

— Mas tinha esperanças de que pudesse ter uma escolha, de que tivesse a chance de escolher se queria ou não se casar.

Me joguei nos braços dele, ignorando a pequena camada de suor que cobria as minhas roupas.

— Sei que sim, papà. Nenhum de nós estava preparado para isso.

Ele afagou os meus cabelos molhados e descansou o queixo no topo da minha cabeça.

— Não se esqueça, Carmen Use o que sabe a seu favor.

A sombra de um sorriso curvou os meus lábios.

— Serei uma doce esposa, tudo o que eles esperam de mim. — Me afastei, dando três passos para trás. — Quero ir ao ginecologista. Não me importa se esperam de mim um herdeiro, não estou disposta a isso. É melhor que não saibam que eu estou me prevenindo de uma gestação indesejada.

— Providenciarei isso o quanto antes — avisou, puxando a manga do terno para verificar a hora no relógio de pulso. — Preciso saber se você quer se envolver com as coisas do casamento ou prefere que alguém organize por você?

Nunca pensei em como seria o meu casamento. Não tinha vontade alguma de me casar e nem mesmo havia, algum dia, me apaixonado por alguém. Eu amava a liberdade que tinha, o presente que me havia sido dado, o poder da escolha, por isso não pensava em me atrelar a ninguém. Estava feliz sozinha.

Cruzei os braços em frente ao corpo e suspirei.

— Quero me envolver em algumas coisas, mas não na maioria — avisei.

Meu pai não era idiota. Ele tinha me criado para ser uma guerreira, mas sabia como as coisas funcionavam, então intercalou aulas de etiqueta entre os meus treinos de defesa pessoal. Eu sabia como manejar uma arma assim como sabia quais os pontos mortais para tirar uma vida. Poderia atirar em alguém de olhos fechados e conseguiria acertar o alvo. Além de tudo isso, sabia como deveria me portar estando na frente dos outros.

Em casa, uma garota mortal, criada e ensinada para matar. Na rua, uma dama da sociedade, uma filha bem-educada da máfia.

Seria fácil disfarçar a minha verdadeira personalidade. Eu tinha uma vida dupla desde que me conhecia por gente. E, como braço direito do chefe, esperava que Dominique passasse mais tempo na rua do que em casa, assim ficaria sozinha e em paz.

— Avisarei a Gilliam. Ele está ansioso pelo acordo, Carmen. Tentarei postergar a data do casamento o máximo possível, mas não posso garantir isso.

Eu ainda sentia raiva. Assim que ficasse sozinha, sacaria uma das armas do baú, destruiria todos os alvos e só retornaria para

casa quando me sentisse vingada e exaurida.

Apertei as minhas mãos, estalando os dedos.

— Cumprirei o meu papel como membro da máfia, papà. Em algum momento, o casamento vai ocorrer. Gilliam ordenou, não há muito o que possamos fazer.

Ele acenou.

— Vamos dar um jantar de noivado, como é a tradição das nossas famílias, e assim poderá conhecer melhor o seu noivo — avisou, mudando a postura, tornando-se mais altivo. — Garanto a você que ele será um bom marido, querida. Fiz questão de deixar claro que não aceitaria menos que isso em nossa reunião.

Não me importava se fosse ou não um bom marido. Eu não aceitaria ser um saco de pancadas. Se Dominique fosse um homem agressivo, eu o mataria sem pensar duas vezes.

Ouvia os boatos sobre ele, sobre como era psicopático e sobre o quanto adorava matar, divertindo-se com o sangue dos inimigos. Ele era instável, o irmão que Gilliam não conseguia controlar, o idiota que tinha colocado a famiglia em guerra com a 'Ndrangheta. Os homens falavam dele, sussurravam seu nome com medo. Os traidores preferiam ser torturados por Gilliam, ou por qualquer outro, em vez de cair nas mãos de Dominique.

E o demônio sadomasoquista e vingador da máfia seria o meu marido.

Que grande felicidade!

Não me lembrava do rosto dele, pois não o via há muitos anos. E, nas ocasiões em que estivemos presentes... bom, não era como se ele fosse relevante para mim.

Infelizmente para ele, eu sabia ser tão psicopática quanto ou até mesmo pior. Eu sabia quem ele era de verdade e o que fazia, mas ele jamais descobriria sobre mim. Iria se casar pensando que levaria para casa uma noiva doce e ingênua, e não uma que poderia matá-lo em um piscar de olhos.

Meu pai comprimiu os lábios, parecendo estar sem jeito e um tanto receoso, e então colocou as mãos nos bolsos.

— Preciso te fazer uma pergunta pessoal, Carmen, e necessito que seja sincera comigo, pois é muito importante.

Ah, meu pai do céu! O que mais ele poderia querer de mim? — Diga, papà.

Ele ficou em silêncio por mais alguns segundos, postergando o momento.

— O casamento é muito importante para as famiglias, foi o conselho que ordenou que ocorresse, e por isso estão pedindo que seja realizado um exame de castidade no dia da lua de mel. — Senti um rubor cobrir o meu rosto e arregalei os olhos. Pensei que a situação não poderia piorar, mas estava irrefutavelmente enganada. — Me diga que ainda é virgem, Pietra, por favor. — Limpou a garganta, desviando o olhar para os sapatos lustrados.

— Sim — confirmei, a voz não passou de um sussurro.

— Você e... hum... Marco... — ciciou, embaralhando as palavras.

O ar ficou preso em meus pulmões. Nunca pensei que poderia morrer de vergonha, mas estava diante do acontecimento mais improvável da minha vida. Eu teria um infarto, ou uma síncope nervosa, a qualquer momento se meu pai continuasse a perguntar sobre a minha vida sexual inexistente.

Antonieta tinha me preparado para isso. Quando a minha menstruação desceu pela primeira vez, tive uma aula duradoura sobre sexo, bebês e anatomia feminina e masculina. Foi um pouco

embaraçoso, mas nem se comparava a falar sobre o assunto com o meu pai.

— Pai, nós somos apenas amigos. Nunca aconteceu nada entre Marco e eu — avisei, revirando os olhos.

Eu era virgem, mas não idiota.

Quando estava na adolescência, arrumei um namoradinho na escola. Era um relacionamento proibido e altamente escondido, mas eu o beijei várias e várias vezes.

Meu pai estendeu as mãos, como se estivesse se desculpando.

— Tudo bem, eu acredito em você — expressou, afastando- se lentamente para correr do assunto, como eu queria fazer.

— O conselho está colocando muita pressão em cima disso. Eu precisava garantir.

Bufei.

— Não há nada com o que precise se preocupar, exceto com a garganta de Dominique. Posso matá-lo na noite de lua de mel.

— Sorri, removendo uma faca do coldre da cintura.

A minha tentativa de quebrar o clima constrangedor deu certo. A expressão do rosto do meu pai se suavizou e ele me acompanhou no sorriso.

— Que Deus tenha piedade daquele homem — brincou. — Sim, porque eu com certeza não terei. — Pisquei.

Girei de lado e lancei a faca em um dos alvos, acertando o centro vermelho em cheio. Imaginei que era a cabeça do meu futuro marido e isso serviu como inspiração para o meu próximo treino.

Sempre soube quais eram as minhas atribuições por ser filha da máfia. Eu só não esperava que elas fossem chegar para mim depois de toda a proteção do meu pai e de tudo o que ele fez para me manter longe de olhares, escusa de possíveis propostas de casamento.

Acontece que, nesse mundo, eu até poderia tentar fugir da máfia, mas ela sempre iria atrás de mim, sempre estaria comigo

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Comments

Adelaide Bandeira

Adelaide Bandeira

ela considera o marco como amigo,mas ele é apaixonado por ela

2024-04-30

1

Kelly Sartorio

Kelly Sartorio

esse casamento será fogo puro

2024-04-28

0

Zildete Lopes

Zildete Lopes

vai dá é certo os dois são psicopatas e vão se dá muito bem. seu livro está incrível.

2024-04-23

6

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 ( Dominique Venturelli )
2 CAPÍTULO 2 ( CARMEN MORIS)
3 CAPÍTULO 3 ( DOMINIQUE VENTURELLI )
4 CAPÍTULO 4 ( DOMINIQUE VENTURELLI)
5 CAPÍTULO 5 ( DOMINIQUE VENTURELLI )
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CAPÍTULO 74 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 75 (CARMEN MORIS)
76
CAPÍTULO 76 (CARMEN MORIS)
77
CAPÍTULO 77 (CARMEN MORIS)
78
CAPÍTULO 78 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 79 (CARMEN MORIS)
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CAPÍTULO 80 (CARMEN MORIS)
81
CAPÍTULO 81 (CARMEN MORIS)
82
CAPÍTULO 82 (CARMEN MORIS)
83
CAPÍTULO 83 (DOMINIQUE VENTURELLI)

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