Trinquei a mandíbula, tentando diminuir o latejar em minhas costelas, mas não adiantou. O local tatuado me causava desconforto, o que me forçou a ficar sentada de lado no banco, evitando pressioná-lo.
— O que você quer comer? — perguntou Dominique , cantarolando baixinho uma música que soava no rádio.
Eu não estava faminta, só queria ir para casa e colocar gelo sobre a tatuagem, e então me deitar e esperar o incômodo passar. Porém, nos casaríamos dentro de alguns dias e eu queria passar mais tempo com ele, conviver mais, conhecê-lo melhor.
— Tem uma cafeteria muito boa na Broadway. Se chama Prince Bakery e serve um café maravilhoso.
Eu costumava frequentar o lugar quando saía para comprar roupas. Com um ambiente um pouco rústico, era uma das minhas cafeterias favoritas.
— Então vamos nesse lugar — afirmou Dominique , virando na esquina.
Me segurei no painel do carro para manter o corpo de lado e evitar o roçar da minha tatuagem contra o couro do banco. Olhei pelo espelho retrovisor e notei que havia um veículo preto nos seguindo de perto. Os vidros eram escuros, evitando que eu pudesse enxergar quem estava lá dentro.
Franzi a testa e senti meu coração disparar com a adrenalina que percorreu as minhas veias.
— Você trouxe seus homens? — perguntei, sem tirar os olhos do veículo.
Até então, não parecia ser tão suspeito assim, mas, considerando quem erámos, até a sombra poderia ser duvidosa a se percorrer.
— Não, por quê? — redarguiu Dominique.
Contraí os olhos, a cabeça dando voltas em busca de uma solução imediata, ou de uma resposta esclarecedora.
— Vire à esquerda — orientei.
— Mas a Broadway é adiante.
Balancei a cabeça.
— Depois nós contornamos, apenas vire.
Sem mais perguntas, Dominique fez como eu havia orientado. O carro sumiu de vista, ficando para trás, e meu coração desacelerou, enquanto fui me sentindo um pouco calma.
— Vai me contar o motivo de ter me feito desviar do nosso percurso? — indagou.
O brilho dos faroletes contra o sol se acendeu na esquina no momento que o veículo virou para a rua em que estávamos. Toda a calma que eu senti se esvaiu como fumaça, a adrenalina pura injetada em meu sangue me preparou para atacar e me proteger, assim como eu havia sido ensinada durante toda a minha vida.
— Nós estamos sendo seguidos — avisei, mordendo o lábio com força.
Com o cenho enrugado, Dominique espiou pelo espelho, observando o mesmo veículo do qual eu estava desconfiada.
— Como sabe que não é alguém do seu pai?
Levantei os ombros em descaso.
— Ele não iria contra as suas ordens. Papà não enviaria alguém aqui apenas para irritá-lo.
Meu pai era impaciente, mas não insano. Ele sabia que paciência não era uma das virtudes de Dominique , e, além do mais, confiava em mim para saber como me proteger o suficiente, tanto do meu noivo quanto de algum inimigo.
Ele suspirou e puxou uma arma presa à cintura.
— O que você vai fazer? — perguntei, pressionando os dedos firmemente no painel.
— Vamos fazer um teste. Se for algum dos nossos, não vai retaliar.
— Nossa, que ideia magnífica — zombei, pendendo a cabeça para o lado.
— E se forem apenas pessoas inocentes?
Ele riu, e os olhos encontraram os meus através do reflexo do espelho retrovisor.
— Acho que a única inocente aqui é você, garotinha — murmurou, passando a língua ao redor dos lábios ressecados.
Ora, mas que patife!
Arqueei uma sobrancelha sugestiva.
— Então dê o seu pior, Dominique Venturelli — desafiei.
Como um completo lunático, Dominique abaixou o vidro e apontou a arma para fora do carro. Mirou o veículo que nos seguia e apertou o gatilho, atingindo um dos faroletes. O carro deu um solavanco para o lado direito antes de retornar para o centro da rua.
Soltei a respiração pelo nariz, agradecendo aos céus que não eram civis.
— Sem tiros e sem ninguém surtando. Acho que nós demos sort...
— As palavras dele morreram quando nossa traseira foi alvejada.
Nosso carro derrapou para o lado, os pneus mancharam o asfalto e eu precisei me acomodar no banco, ignorando o latejar da tatuagem quando meu corpo foi impulsionado com força e brusquidão.
— Filhos da puta! — bradou Dominique, puxando a mão para dentro e agarrando a direção com força. Ele soltou a arma no colo e fechou o vidro, a mandíbula se apertou tanto que fez o músculo saltar.
Mais tiros acertaram o nosso carro, forçando Dominique a manter os olhos fixos na avenida e não fraquejar o aperto na direção, ou sofreríamos um capotamento.
Dobrei os joelhos no banco e me virei para trás. Observei os homens que colocavam metade do corpo para fora das janelas com as armas apontadas para nós. As pessoas corriam e gritavam nas ruas, escondendo-se dentro dos prédios.
— O que nós vamos fazer? — perguntei em um sussurro.
— Eu vou arrancar a coluna vertebral de cada um desses malditos pela boca — gritou, socando a direção com força.
— Não acredito que eles estão acabando com o meu carro!
Bufei.
— E quanto a nós, seu imbecil? — refutei, e Dominique me encarou de olhos arregalados.
— Eles estão em maior número e altamente armados. Como vamos nos livrar disso?
Nova York era um território da Camorra, mas estávamos longe do bairro em que nossas casas ficavam sediadas e bem guardadas pelos soldados. Se continuassem atirando em nós, como estavam fazendo, a blindagem do carro não duraria até a metade do percurso.
Mais tiros nos acertaram, o tilintar do metal causou um estampido em meus ouvidos. Agarrei os lados do banco com tanta força que os nós dos meus dedos se embranqueceram
— Você sabe atirar? — perguntou Dominique, virando à esquina bruscamente, o que impediu os tiros de nos acertarem por uns segundos.
Meu Deus, o que eu deveria responder?
Forcei minha cabeça a balançar para os lados.
— Nunca toquei em uma arma — menti, sentindo vontade de rir.
Nós morreríamos, mas eu manteria o segredo comigo, guardado a sete chaves.
Dominique recolheu a arma do colo e a entregou para mim.
— Tem mais balas no porta-luvas. Carregue a arma, puxe o gatilho e atire neles, não importa onde, apenas atire. Enquanto isso, darei um jeito de nos tirar da mira deles.
Explicando, ele removeu o carregador parcialmente vazio. Recolhi os cartuchos do porta-luvas e recarreguei a pistola, fingindo ter dificuldade por suposto nervosismo e inexperiência.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Kelly Sartorio
agora o bicho vai pegar
2024-04-28
3
Lopes
Eu doida q ela surta se
2024-04-15
4
Elenilda Soares
mulher passada contigo mostra quem tú és pra a combinação perfeita pólvora e fósforo /Chuckle//Chuckle//Chuckle/
2024-04-11
0