Injustiça

Conforme os dias iam se passando, as crises se tornaram mais frequentes e mais intensas, cada uma mais devastadora do que a anterior. Eu me contorcia de dor no chão do meu quarto, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto eu lutava para controlar os espasmos que sacudiam meu corpo frágil.

Meu pai não hesitava em me punir por cada ato de desobediência, cada palavra de desafio. Os golpes da cinta caíam sobre minha pele como chicotadas, deixando marcas profundas e cicatrizes emocionais que nunca desapareceriam.

Eu me sentia como se estivesse preso em um pesadelo do qual não havia escapatória, uma espiral descendente de dor e desespero que ameaçava me engolir por inteiro. Eu queria desistir, queria render-me à escuridão que me rodeava, mas alguma chama fraca de esperança continuava a queimar dentro de mim, alimentando a minha determinação de sobreviver.

Os dias se arrastavam lentamente, cada momento uma luta desesperada pela minha própria sobrevivência. Eu mal conseguia distinguir entre a realidade e a fantasia, entre o sonho e o pesadelo. Eu estava perdido em um mar de dor e desespero, lutando para encontrar um raio de luz no abismo escuro que me cercava. Cada fibra do meu ser clamava por descanso, por paz, por uma trégua na batalha interminável que consumia minha alma.

Meu pai continuava a me punir sem piedade, cada surra uma punição pela minha própria existência. Eu me perguntava se ele conseguia ver a dor que ele causava, se ele sentia alguma pontada de remorso por destruir o próprio filho. Mas essas perguntas não tinham resposta, apenas o silêncio frio e implacável que preenchia o vazio entre nós. Embora, eu suspeitasse que a resposta seria que eles não se importavam.

Em meio aos surtos da falta de droga, lembrava de momentos de quando eu era criança em que fui punido mesmo sem ter culpa e me perguntava o que eu tinha feito de tão errado para que me odiassem tanto.

Uma memória traumática que ainda assombrava meus pensamentos era de quando eu era ainda mais novo, talvez com apenas cinco anos de idade. Lembro-me de ter quebrado um vaso de porcelana acidentalmente enquanto brincava na sala de estar.

Assim que meu pai descobriu o que aconteceu, seu rosto se contorceu de raiva e ele avançou na minha direção com uma expressão furiosa. Agarrou-me pelo braço com força, sua mão grande e áspera causando uma dor lancinante, e me arrastou até o quintal.

Lá, sem dizer uma palavra, ele me obrigou a ficar de joelhos no chão duro e frio, enquanto ele se aproximava segurando um galho grosso de árvore. O medo se apoderou de mim quando percebi o que estava prestes a acontecer.

Meu pai começou a me castigar, golpeando minhas pernas e costas com o galho sem piedade, sua voz ressoando com cada golpe. Cada chicotada era como um raio de dor que se espalhava pelo meu corpo frágil, deixando-me atordoado e incapaz de pensar em qualquer coisa além do sofrimento imediato.

Eu gritei de dor e supliquei por misericórdia, mas meu pai continuou a me castigar sem piedade, como se estivesse possuído por uma fúria implacável. Senti-me impotente e desamparado, incapaz de me defender ou de escapar do tormento que me consumia.

Aquela experiência deixou cicatrizes físicas e emocionais que nunca desapareceram, marcando-me para o resto da vida. Até hoje, o simples som de um galho quebrando sob o peso de uma mão enfurecida é o suficiente para desencadear uma enxurrada de lembranças dolorosas e sentimentos de impotência e terror.

Teve a vez que eu tinha derrubado acidentalmente um copo de água sobre a mesa durante o jantar. Meu pai, que já estava irritado por algum motivo que eu não entendia na época, explodiu em fúria diante do que considerava mais uma prova da minha incompetência.

Ele me agarrou pelo braço com uma força que me fez gritar de dor, arrastando-me até o quarto onde guardava a cinta que usava para me castigar. Eu tremia de medo enquanto ele me ameaçava com a cinta, gritando palavras de raiva e desdém que me cortavam como facas afiadas e sem piedade, ele desferiu golpes violentos contra mim.

Minha relação com o Renato não era lá essas coisas também desde sempre. Nossa diferença de idade era de oito anos. Talvez por isso ele se implicava tanto comigo e quase nunca estava disposto a brincar comigo e quando ia brincar, geralmente eu terminava apanhando. Como uma briga que tive com meu irmão Renato quando éramos crianças. Eu devia ter uns sete anos na época, e ele, com quinze, era o típico irmão mais velho autoritário e arrogante e além disso, adorava ver eu sendo castigado.

Lembro-me vividamente do dia em que a discussão começou por causa de um brinquedo que eu havia quebrado sem querer. Renato ficou furioso e começou a me acusar de ter feito de propósito, mesmo quando eu tentava explicar que foi um acidente. As palavras se transformaram em gritos, e logo estávamos nos empurrando e trocando tapas.

Nossos pais, que estavam na sala assistindo televisão, logo foram atraídos pelo barulho e correram para o quarto onde estávamos. O que aconteceu em seguida foi como uma facada no coração.

Meu pai, em vez de tentar acalmar a situação ou entender o que estava acontecendo, imediatamente tomou o partido de Renato. Ele me olhou com uma expressão de desdém e disse que eu era o culpado pela briga, que sempre causava problemas e não conseguia fazer nada certo.

Minha mãe apenas concordou com meu pai e me repreendeu por ter quebrado o brinquedo. Eu me senti completamente desamparado naquele momento, como se não tivesse o direito de me defender ou de ser ouvido.

Aquela cena ficou gravada na minha memória como um símbolo da injustiça que eu sempre senti em relação aos meus pais. Não importava o que eu fizesse, sempre parecia que estava errado aos olhos deles, sempre ficava em segundo plano em comparação com meu irmão mais velho. Com isso, eu aprendi desde cedo que a casa não era um lugar de segurança e proteção, mas sim um campo de batalha onde eu estava sempre em desvantagem.

E agora, enquanto eu me debatia com a dor da abstinência e as punições implacáveis do meu pai, essas memórias ressurgiam com uma intensidade avassaladora, alimentando o fogo do ressentimento que ardia dentro de mim.

Capítulos
1 E fim...
2 Uma escolha injusta
3 Aniversário infeliz
4 Mais um dia ou seria menos um dia?
5 Fuga
6 Indenização
7 Rotina
8 O relógio
9 Declaração
10 Moleque insolente
11 Quando a casa caiu
12 Prisioneiro
13 Descontrole
14 Minha maior culpa
15 Cooperação forçada
16 Sonho x Realidade
17 Na sombra da dor
18 Entre algemas e grades
19 Um dia após o outro
20 Injustiça
21 Desprezado por quem mais amo
22 Alucinação e Realidade
23 *Renato narrando
24 Teia de desespero e desesperança
25 Mudança de rotina
26 A vez que quase consegui
27 E o cativo regressa ao cativeiro...
28 Degradação
29 Infelizes anos...
30 Esperança
31 Esperança: ter ou não ter? Eis a questão...
32 Pessoa comprometida
33 Atrevimento
34 Brincadeiras indecentes
35 Carinho de mãe
36 Uma âncora
37 Uma canção
38 *Raul narrando
39 Tudo por um chocolate
40 Véspera
41 Maldito dia!
42 Assinatura
43 O disparo
44 Vazio
45 Inferno, amargo, inferno!
46 Determinação ferida
47 Dilema
48 Delírio
49 Cuidados
50 Sobreviver
51 Resultados
52 Possível recomeço
53 Proximidade
54 *Raul narrando
55 Intimidade
56 Refúgio e desamparo
57 Passeio
58 Jogos
59 Machas
60 Horizonte fugaz
61 Raiva, nojo, ódio e revolta
62 Luz tênue
63 Seja forte!
64 24 de janeiro de 2022
65 Lembrete
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
E fim...
2
Uma escolha injusta
3
Aniversário infeliz
4
Mais um dia ou seria menos um dia?
5
Fuga
6
Indenização
7
Rotina
8
O relógio
9
Declaração
10
Moleque insolente
11
Quando a casa caiu
12
Prisioneiro
13
Descontrole
14
Minha maior culpa
15
Cooperação forçada
16
Sonho x Realidade
17
Na sombra da dor
18
Entre algemas e grades
19
Um dia após o outro
20
Injustiça
21
Desprezado por quem mais amo
22
Alucinação e Realidade
23
*Renato narrando
24
Teia de desespero e desesperança
25
Mudança de rotina
26
A vez que quase consegui
27
E o cativo regressa ao cativeiro...
28
Degradação
29
Infelizes anos...
30
Esperança
31
Esperança: ter ou não ter? Eis a questão...
32
Pessoa comprometida
33
Atrevimento
34
Brincadeiras indecentes
35
Carinho de mãe
36
Uma âncora
37
Uma canção
38
*Raul narrando
39
Tudo por um chocolate
40
Véspera
41
Maldito dia!
42
Assinatura
43
O disparo
44
Vazio
45
Inferno, amargo, inferno!
46
Determinação ferida
47
Dilema
48
Delírio
49
Cuidados
50
Sobreviver
51
Resultados
52
Possível recomeço
53
Proximidade
54
*Raul narrando
55
Intimidade
56
Refúgio e desamparo
57
Passeio
58
Jogos
59
Machas
60
Horizonte fugaz
61
Raiva, nojo, ódio e revolta
62
Luz tênue
63
Seja forte!
64
24 de janeiro de 2022
65
Lembrete

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