Prisioneiro

Meu castigo foi uma surra que me custou um dente. A dor era lancinante, pulsando em cada fibra do meu ser enquanto eu tentava me recuperar da surra brutal que me fora infligida. O gosto de sangue inundava minha boca, enquanto eu tentava engolir as lágrimas que ameaçavam brotar dos meus olhos. Um dente perdido, uma lembrança física do preço que eu estava pagando por cada erro, por cada deslize que me levava mais fundo na espiral do vício.

Enquanto me encolhia em agonia, o peso do castigo recaía sobre mim como um fardo insuportável, cada golpe ecoando como um lembrete cruel do meu próprio fracasso. A sensação de impotência me engolfava, enquanto eu me debatia entre a dor física e a angústia emocional que me consumia por dentro.

Mas o castigo não parou por aí. Eu teria que compensar minhas pobres vítimas. Ao menos uma parte delas, ou seja, aqueles asquerosos. Com nada além de um analgésico no estômago desde o castigo, tive que passar a tarde e parte da noite seguinte sendo abusado. E nem preciso falar que eles estavam bem bravos comigo.

Cada momento era uma tortura, cada toque uma violação da minha dignidade já abalada. As palavras cruéis ecoavam em meus ouvidos, misturando-se ao gemido da dor e à amargura do remorso. Eu estava preso em um ciclo implacável de violência e humilhação, sem esperança de escape.

Enquanto eu suportava aquele tormento, uma parte de mim se resignava ao inevitável, aceitando meu destino como um penitente condenado à eterna expiação. Mas mesmo no meio da escuridão, uma chama tênue de resistência ainda brilhava dentro de mim, uma centelha de determinação que se recusava a se apagar completamente. Eu sabia que, de alguma forma, eu teria que encontrar uma maneira de romper as correntes que me prendiam, de libertar-me desse ciclo de violência e destruição.

Quando pude ir dormir, estava exausto e destruído. Na manhã seguinte, minha mãe foi me acordar.

- Fábio, acorde. Fábio, vamos, você vai se atrasar.

- O quê? - perguntei sonolento, coçando os olhos.

- Escola, filho.

Eu devia estar dormindo ainda. aquilo não podia ser real. Da onde que eles iam me deixar sair e desde quando ela me chama de filho? Bom, ao menos fazia muito tempo que ela não me chamava assim.

- Vamos, Fábio. Ou você quer que teu pai venha te chamar?

É, talvez eu tivesse acordado e não estava afim de pagar para ver. Com a sensação de que tinha sido atropelado, imagino que seja assim a sensação, levantei, me lavei e fui tomar café. Nem sinal do meu pai, nem do Renato. Voltei para o quarto para colocar outra roupa e pegar a mochila. Estava tentando colocar o tênis, mas a dor no corpo estava dificultando, quando meu pai entrou. Ele trazia dois objetos em sua mão, um chicote e uma caixa. Senti o medo tomar conta de mim. Comecei tremer e nem conseguia amarrar o cadarço. Meu pai colocou o chicote do meu lado e se abaixou para me ajudar a amarrar o cadarço. Mas não era só isso. Ele abriu a caixa e tirou de dentro dela um objeto que demorei um pouco para identificar: era uma tornozeleira eletrônica que meu pai prendeu na minha perna.

- Vou precisar usar isso? - perguntou ele apontando para o chicote.

Balancei a cabeça em negativo.

- Vou permitir que vá para a escola, mas vou monitorar cada passo teu, literalmente. Não quero você falando com ninguém ou eu vou deduzir que essa pessoa é quem te forneceu heroína. E se você chegar usar mais uma vez, eu descubro quem é o traficante e mato ele bem devagar na tua frente. Você entendeu, Fábio?

O nó se formou em minha garganta, tornando difícil engolir as palavras que se aglomeravam ali. A sensação de terror se espalhou por mim enquanto meu pai pronunciava suas palavras ameaçadoras. Com a tornozeleira eletrônica presa à minha perna, eu estava agora sob um tipo de prisão domiciliar, vigiado a cada passo, cada movimento. O peso do monitoramento pairava sobre mim como uma sombra sinistra, lembrando-me constantemente da minha condição de prisioneiro no próprio lar.

- Sim, pai. Eu entendi. - minha voz saiu fraca, quase um sussurro, enquanto eu tentava conter o tremor que percorria meu corpo.

Meu pai apenas assentiu, seu olhar duro e implacável deixando claro que ele não estava brincando. Ele pegou o chicote e saiu do quarto, deixando-me sozinho com meus pensamentos tumultuados.

Agora, mais do que nunca, eu me sentia encurralado, uma presa em uma armadilha cruel da qual não havia escapatória. Cada respiração era uma luta, cada pensamento uma batalha contra a escuridão que ameaçava me consumir por completo. Eu sabia que não podia continuar assim, preso em um ciclo de dor e desespero, mas a perspectiva de uma vida diferente parecia cada vez mais distante, mais inatingível.

Cada passo que eu dava era uma lembrança constante da minha condição, uma marca indelével da minha queda na espiral do vício e da decadência. Eu me sentia enclausurado, aprisionado por correntes invisíveis que me impediam de escapar do labirinto de dor e desespero em que eu estava mergulhado.

Depois da aula, Renato foi me buscar na escola.

- Me mostre teus braços.

Fui remangar a manga da camiseta, mas Renato me deteve.

- Assim não. Tire ela.

Olhei para fora.

- Esqueceu que é vidro fumê? Pare de enrolar e tire a camiseta.

Tirei ela e ele inspecionou meus braços e tronco para ver se não tinha marca de agulha.

- Eu não usei nada, eu juro. - Arrisquei dizer e o resultado foi ganhar um tapa.

- Você só fala quando autorizado.

Quando íamos sair, o celular do meu irmão vibrou com uma mensagem.

- Parece que você tem cliente hoje.

Chegando em casa, Renato jogou todas as coisas da minha mochila no chão e me mandou ficar pelado. Eu não queria ficar sem roupas na frente da minha mãe.

- O que está esperando?

- É que...

- Vamos. Ou quer que eu tire?

Sem escolha, tirei a calça.

- Tudo.

Obedeci.

- vai pro banho.

Enquanto eu tomava banho, Renato entrou.

- Encosta na parede. Afasta as pernas. - dizia ele enquanto me tocava, segundo ele para me revistar. - Termine de tomar banho e venha almoçar.

- Estou sem fome.

- Termine de tomar banho e venha almoçar.

Renato saiu. Me deixando sozinho e com mais dor. Me sequei e coloquei a roupa que ele tinha levado para mim. Ao menos tinha tirado a tornozeleira. Fui almoçar. Depois do almoço, subi para o quarto para esperar o tal cliente.

Felizmente, o cliente era Henrique.

- Oi, bebê. Como você está? Foi difícil entrar com isso aqui. Deixe para usar depois que fizer mais atendimentos, para não chamar atenção. Consegue aguentar?

Assenti. Embora estivesse sedento. Ficamos conversando até dar o horário.

Para a minha sorte, nem acredito que fiquei feliz em ter que me deitar com aqueles nojentos. Assim que o Henrique foi embora, chegaram outros quatro, com intervalos de dez minutos entre um e outro. No cair da noite eu estava exausto, mas ao menos poderia usar minha preciosa hero em paz.

A sensação de alívio foi momentânea, quase fugaz, enquanto eu me entregava ao conforto fugidio que a heroína proporcionava. Cada dose era como um bálsamo para minha alma atormentada, um refúgio temporário da realidade cruel que me cercava. Enquanto o calor se espalhava por minhas veias, eu me sentia envolto por uma sensação de paz e tranquilidade, como se o mundo lá fora não importasse mais.

Mas essa ilusão de conforto logo desaparecia, substituída por uma sensação de vazio e desespero ainda maior do que antes. A cada dose, eu me afundava mais fundo na escuridão do vício, perdendo-me em um labirinto de dor e prazer distorcido. Cada batida do coração era um lembrete cruel da minha dependência, uma prova de que eu estava enredado em uma teia de destruição da qual não podia escapar.

E assim, no silêncio sufocante da noite, eu me via preso em um ciclo interminável de busca e desespero, cada dose de heroína uma tentativa desesperada de escapar da minha própria existência. Mas no final, não importava quanto eu tentasse fugir, a verdade permanecia inescapável: eu era prisioneiro do meu próprio vício, condenado a uma vida de sofrimento e angústia, enquanto a sombra da dependência se erguia sobre mim como um espectro implacável, pronto para me consumir por completo.

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Atualizado até capítulo 65

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