Cooperação forçada

Chegando em casa, meu pai me arrastou até o quarto do meu irmão e me trancou lá.

- Vai ficar aqui, até garantirmos que não tem nada de droga lá. E não quero nada fora do lugar. Você vai ficar sentadinho aí, quietinho. Ou a surra que vai levar depois vai ser bem pior.

Enquanto a porta se fechava atrás de mim, eu me vi aprisionado no quarto do meu irmão, um espaço que agora se tornava minha cela pessoal. O silêncio era ensurdecedor, ecoando ao meu redor como uma acusação silenciosa da minha própria culpa e fracasso.

Cada minuto que passava ali parecia uma eternidade, enquanto eu lutava contra a sensação de claustrofobia que ameaçava me engolir vivo. O tempo se arrastava lentamente, marcado apenas pelo som distante dos passos do meu pai ecoando pelo corredor.

Eu me sentei na cama, minhas mãos algemadas pesando como chumbo em meu colo, enquanto eu lutava para conter as lágrimas que ameaçavam transbordar dos meus olhos. O medo me consumia, apertando meu peito com uma garra gelada enquanto eu me via encurralado em um beco sem saída.

Cada som, cada sombra, era uma ameaça em potencial, uma lembrança constante da minha condição de prisioneiro no meu próprio lar. Eu estava encurralado, sem esperança de escapar do destino sombrio que se desenrolava diante de mim.

Enquanto eu esperava, a ansiedade me consumia, devorando-me por dentro enquanto eu me perguntava o que o futuro reservava. Mas uma coisa era certa: eu não sairia daquele quarto o mesmo que entrei. A tragédia que se desdobrava ao meu redor estava prestes a deixar marcas indeléveis em minha alma, cicatrizes que jamais seriam apagadas.

Enquanto o tempo passava lentamente, eu me via mergulhado em um turbilhão de pensamentos e emoções conflitantes. A solidão do quarto do meu irmão era sufocante, cada respiração uma luta contra a sensação de desamparo que me envolvia.

Cada batida do meu coração parecia ecoar pelas paredes, um lembrete constante da minha fragilidade diante dos eventos que se desenrolavam ao meu redor. Eu me sentia enclausurado, aprisionado não apenas fisicamente, mas também pelas correntes invisíveis do medo e da incerteza que me envolviam.

Enquanto eu esperava, o peso da culpa se abatia sobre mim como uma avalanche, esmagando-me sob sua magnitude avassaladora. Cada pensamento me levava de volta à cena horrível que testemunhei, o som do tiro ecoando em meus ouvidos como um grito silencioso de desespero.

Eu sabia que não podia continuar assim, preso em um ciclo de autodestruição e desespero. Mas a perspectiva de um futuro diferente parecia cada vez mais distante, mais inatingível, enquanto eu me via enredado em uma teia de tragédia e dor.

Enquanto a noite avançava lentamente, uma sensação de resignação se apoderava de mim. Eu sabia que teria que enfrentar as consequências dos meus atos, que teria que encarar a ira do meu pai e a dor da perda que agora me consumia.

As horas se arrastaram como séculos naquele quarto sufocante. Finalmente, o som da porta se abrindo quebrou o silêncio opressivo, anunciando a chegada do meu pai. Seu olhar duro e implacável encontrou o meu, faíscas de ira brilhando em seus olhos enquanto ele se aproximava lentamente. Sem dizer nada, ele me puxou pelo braço e me levou até o meu quarto. Ele estava todo revirado. Roupas espalhadas, calçados jogados, tudo mexido, móveis afastados. Eles, literalmente, procuraram em cada centímetro.

- Onde deixamos de procurar, Fábio? - perguntou ele de forma autoritária. - Responda.

- Lugar nenhum, senhor. Não tem nada aqui, eu juro.

Renato se aproximou de mim.

- Mostre onde você escondia a heroína, Fábio. Pai, solte ele.

Era estranho ver meu irmão falando o que meu pai tinha que fazer e ele fazendo. Quando me vi livre das algemas, pensei em tentar fugir ou sei lá, me jogar da janela, mas parecia que Renato estava lendo meus pensamentos que logo segurou meu braço.

- Não seja idiota. Agora mostre onde escondia.

Sem escolha e pensando que talvez não fosse apanhar mais, cooperei. Fui em cada um dos meus esconderijos e mostrei para eles. Só o que encontraram foi duas seringas e dois pedaços de borracha que eu usava para punçar a veia melhor.

- Eram só esses lugares?

Assenti.

- Você tem meia hora para arrumar esse quarto. Quero ele impecável. Depois volto. - disse meu pai, saindo logo em seguida. Renato também saiu.

Com o coração ainda acelerado pela tensão do momento, eu me vi sozinho no quarto, encarando a tarefa árdua de arrumar o caos que se espalhava ao meu redor. Cada objeto fora de lugar era uma lembrança dolorosa do meu fracasso, um lembrete constante da tragédia que se desenrolara em minha vida.

Com um suspiro resignado, eu me lancei na tarefa de organizar o quarto, movendo-me com determinação enquanto lutava para manter as lágrimas à distância. Cada peça de roupa dobrada, cada objeto cuidadosamente colocado em seu devido lugar, era um ato de redenção, uma tentativa desesperada de recuperar um senso de ordem em meio ao caos que ameaçava me consumir.

Enquanto eu trabalhava, uma sensação de desamparo se apoderava de mim, envolvendo-me em um abraço gelado que me deixava tremendo de ansiedade. Eu sabia que meu pai voltaria em breve, e eu teria que enfrentar sua ira uma vez mais. Cada minuto que passava era uma tortura, cada segundo uma contagem regressiva para o próximo confronto com meu pai. Eu me via enredado em um ciclo interminável de culpa e remorso, lutando para encontrar uma maneira de escapar do abismo sombrio que se abria diante de mim.

Finalmente, quando o relógio marcava o fim da meia hora, eu dei um passo para trás e observei meu trabalho com um misto de orgulho e alívio. O quarto estava impecável, cada objeto no seu devido lugar, cada canto livre de poeira e desordem. Era um pequeno triunfo, mas para mim, era uma prova de que eu era capaz de mudar, de superar os obstáculos que se interpunham no meu caminho.

Com um suspiro de alívio, eu me permiti um breve momento de descanso, deixando-me afundar na cama enquanto o peso do dia se dissipava lentamente.

E então, ele voltou. Sua expressão era uma máscara de implacabilidade, seus olhos queimando com uma intensidade que me deixava gelado até os ossos. Com um gesto silencioso, ele inspecionou o quarto, cada canto e recanto sendo examinado com uma meticulosidade implacável.

Quando finalmente terminou, seu olhar encontrou o meu.

- Muito bem. Mas sabe que você ainda vai ser castigado.

Eu me preparei para a explosão de raiva que viria, para as palavras duras e os castigos severos que eu sabia que viriam em seguida.

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Edinete Rodrigues

Edinete Rodrigues

nao

2024-03-08

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