Descontrole

Aquela semana foi marcada por acordar cedo e ir para a escola, sempre com a tornozeleira. Depois voltava, tomava banho, atendia os clientes e de noite eu usava a heroína. A cada noite eu aumentava um pouco a quantidade. Henrique tinha trazido mais, porém, estava ficando difícil dele me entregar.

...****************...

Renato e Solange conversavam na cozinha.

- Acha que ele está usando de novo?

- Sim. Ele está muito bem para alguém que deveria estar surtando pela abstinência.

- E como ele está conseguindo? Na escola ele não fala com ninguém. Só se algum deles traz para ele, mas isso seria improvável…

- Ou não. Vou conversar com o pai.

Nesse momento Alberto chegou.

- Qual o problema dessa vez?

- O Fábio.

- O que ele aprontou?

- Tenho quase certeza que ele está usando heroína. Só não sei como ele está conseguindo.

- Já vamos descobrir. Você tem alguma ideia?

- Achamos que pode ser um dos clientes.

- E por que fariam isso?

- Sei lá. Eu só suspeito. Porque na escola não é.

- E cadê ele agora?

- Está dormindo.

- Mande ele vir lavar o meu carro.

Renato se levantou e foi até o quarto do irmão. Fábio estava dormindo profundamente e acordou assustado.

- Oi. O pai mandou você ir lavar o carro dele.

- Agora?

- Já. Aproveita e leva o meu também. E nenhum arranhão.

...****************...

Eu odiava ter que lavar os carros, se ficasse uma manchinha eu apanhava. Se tivesse um arranhão por menor que fosse, eu apanhava. Enquanto eu me preparava para enfrentar mais uma tarefa ingrata, uma sensação de desespero se apoderava de mim. A simples ideia de encarar a ira do meu pai por qualquer pequeno erro era o suficiente para fazer meu coração acelerar e meu estômago revirar-se de ansiedade.

Deslizando para fora da cama, eu me vi enfrentando mais um dia de provação, mais uma oportunidade para errar e sofrer as consequências. O peso do meu castigo pairava sobre mim como uma nuvem escura, obscurecendo qualquer raio de esperança que pudesse ter restado em minha alma atormentada.

Enquanto eu me dirigia para o local onde os carros estavam estacionados, cada passo era uma lembrança dolorosa da minha condição, uma confirmação silenciosa de que eu era nada mais do que um prisioneiro no meu próprio lar. A tornozeleira eletrônica pesava em minha perna, lembrando-me constantemente da minha condição de prisioneiro, de condenado à vigilância implacável do meu pai.

Quando finalmente cheguei aos carros, uma sensação de desamparo se apoderou de mim. O trabalho era árduo e ingrato, exigindo uma atenção meticulosa e um cuidado extremo para evitar quaisquer erros que pudessem despertar a ira do meu pai.

Enquanto eu me inclinava sobre os carros, esfregando e polindo com uma determinação feroz, eu me via imerso em um estado de resignação, aceitando meu destino como um penitente condenado à eterna expiação. A esperança de uma vida melhor parecia cada vez mais distante, mais inatingível, enquanto eu me via enredado em um ciclo interminável de dor e sofrimento.

...****************...

Enquanto Fábio lavava os carros, seus pais e seu irmão vasculhavam a casa em busca de heroína. Porém, não encontraram nada. Entre uma esfregada e outra, Fábio discretamente cheirava um pouco da substância.

...****************...

Quando finalmente terminei de lavar os carros, meu pai veio verificar o resultado do meu trabalho. Seu olhar duro e implacável atravessou-me como uma lâmina afiada, enquanto eu lutava para manter minha expressão neutra.

- Está bom. Agora vá tomar banho e descansar. Aproveite a noite. A agenda está lotada para amanhã. - disse ele, com um tom de voz que não deixava margem para argumentações.

Com um aceno de cabeça, eu obedeci, afastando-me lentamente para me refugiar no meu quarto. Enquanto me deitava na cama, a exaustão física se misturava à agonia emocional, criando um turbilhão de sensações que me deixava completamente exaurido.

Enquanto a noite avançava silenciosamente lá fora, eu me via preso em um ciclo interminável de dor e sofrimento, sem esperança de encontrar uma luz no fim do túnel. E assim, eu me entreguei ao abismo escuro da minha própria existência, sem saber se algum dia encontraria uma maneira de escapar.

Na manhã seguinte, o mesmo ritual de sempre. A diferença foi que eu estava sem usar a tornozeleira. Meu pai tinha passado a noite no batalhão e o Renato estava atrasado para o serviço.

- Fábio, - chamou Renato antes de sair com o carro - se comporte.

Eu assenti e ele saiu. Esperei ele sumir de vista e pulei o muro dos fundos da escola e fui até a casa do Henrique.

- Fábio? Entre. E a tornozeleira?

- Eles não colocaram. Você tem alguma coisa?

- Tenho.

A casa do Henrique era modesta, mas aconchegante. Ele injetou em mim um pouco de heróina.

- Tem mais?

- Fábio, essa já é uma dose alta. Mais que isso, teu controle já era.

- Eu já não tenho mais controle. Por favor.

Eu estava ficando desesperado e violento.

- Fábio, para. - gritou Henrique, me dando um tapa na cara. - Desculpa, querido.

Eu me afastei dele.

- Fábio, desculpa. Vem cá.

Eu estava chateado demais para querer conversa, então saí. Quando abri a porta, dei de cara com o meu pai.

- Corre, Henrique. - só tive tempo de gritar, mas não foi o suficiente. Assim que gritei o meu pai atirou.

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Comments

Edinete Rodrigues

Edinete Rodrigues

o hitoria qui nao tem fim so uma coisa da alguns castigos aquele qui faz essa criança sofrer

2024-03-08

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Atualizado até capítulo 65

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