|16| Uma Semana Depois

...Pov's Rosa Maria

...

...Oito dias depois...

...

Eu acordei ainda de madrugada, vi a claridade tomando forma pela minha janela, mas só levantei de minha cama quando Bruna veio me xingar pela milésima vez.

Eu tomei um banho rápido e me vesti, o moletom de Joseph estava comigo desde do dia que me deu carona e não ousei deixá-lo no canto, sendo que era a única lembrança que eu tinha e também nos primeiros dias fora a peça que me manteve calma e o cheiro nela. Eu não queria ir para lugar nenhum, mas entre ficar na escola ou em casa, a escola chegaria a ser um paraíso do que ouvir a voz de Bruna.

Ainda sim que acordei minha mãe não havia despertado e então só me direcionei ao outro lado da rua esperando o ônibus e assim que ele apareceu eu me sentei ao fundo escutando qualquer coisa que pudesse me fazer sair da minha realidade por um momento só.

— Hey, você é uma menina tão incrível Rosa. — Ada passava as mãos em minhas costas tentando me confortar — Vai conseguir empregos melhores que este querida.

Desde que eu havia chegado me enfiei na biblioteca, Margarida sabia que havia algo de errado comigo, mas foi apenas quando Ada chegou que desabei em lágrimas nos braços de minha amiga.

Quem soubesse o motivo plausível me chamaria de idiota sentimental, mas era muito mais que isso. Era a humilhação que aquela que me deu a vida me fez passar, era o fato de não ser reconhecida como filha dela e sim como uma puta, era... A questão de eu ter deixado as duas crianças abandonadas, de novo.

Obviamente se passou na minha cabeça o quão odiosa eu estou sendo para a Lavínia nesses dias por não ter consigo cumprir a promessa, para Louis eu não sei, não tive a chance de conhecê-lo direito.

— Rosa...

Não percebendo que nossos outros dois amigos havia chegado fui surpreendida pelo abraço de Maria. João se sentou a nossa frente e passou a mão pela nuca tentando procurar pelas palavras certas:

— É garota, isso acontece e não foi sua culpa.

— Obrigada João. — Tento sorrir e falho miseravelmente.

Deito minha cabeça na mesa vendo minhas amigas fazendo carinho e a única coisa que consigo pensar é em como estão as crianças.

Não demorou muito para bater o sinal o que fez o grupo separar e cada um ir para sua classe e oficialmente meu dia estava começando.

Eu não queria comer. Simplesmente não sentia fome alguma, entretanto ter um melhor amigo garoto que tem outros amigos garotos faz com que você seja obrigada a comer.

Motivo? João quase me pegou no colo com o Caio e Rodrigo e me arrastou para a cantina, tudo porque eu não queria comer. E minhas melhores amigas? Elas super apoiaram eles.

Os cincos ficaram comigo até não sobrar nenhum feijão no prato e depois eu e as meninas fomos escovar os dentes. Eu fui a primeira a terminar e a descer para o pátio enquanto os meninos compravam doces para nós.

Sentada próximo ao palco que tinha naquela escola me surpreendo quando a música que eu escutava foi interrompida por uma chamada de um número desconhecido por mim.

Confusa eu atendi e meu peito apertou quando ouvi o fungado do outro lado da minha, como se a pessoa que me ligou também chorasse.

— ROSA! — No mesmo instante quis chorar. — Por que você fez isso!? Você realmente ficou com o Taylor?

— Lavínia... Como conseguiu meu número? — Tento me manter firme.

— Eu bisbilhotei o celular do Taylor e peguei emprestado o celular do Eric para te ligar. — Ela respondeu. — Respondi sua pergunta, agora responda a minha! Você ficou com o Taylor?

— Me perdoa Lavínia, por não cuidar mais de você. — Peço enquanto sinto minhas lágrimas saírem por vontade própria.

— Eu não ligo. — Ela também chorava, agora mais alto. — Eu não ligo Rosa, volta para cá! Você foi a única babá que ficou por gostar da gente, nós somos esquisitos demais para qualquer um ficar, por favor Rosa não nos abandone.

Vi meus amigos vindo rapidamente até mim quando me viram chorando, então eu levantei e me escondo em uma cabine do banheiro.

— Lavínia, eu sinto muito, eu não posso. — Digo enquanto me entregava ao choro. — Me perdoa tá bom? Eu queria voltar, mas não posso.

— Por que?! ISSO É CULPA SUA! — Ela gritou e eu me encostei na parede da cabine. — VOCÊ TINHA PROMETIDO, VOCÊ PROMETEU E NÃO CUMPRIU! VOCÊ É UMA IDIOTA! É COMO AS OUTRAS! VOCÊ NOS ABANDONOU TAMBÉM!

— Lavínia, eu sinto muito. — Peço enquanto estou prestes a desligar a chamada.

— EU TE ODEIO ROSA! — E a ligação se encerra.

Enquanto choro no banheiro ouço as vozes de minhas amigas se aproximando, então antes de sair resolvo fazer uma ligação.

Aperto no contato "Holden Babaca" e este chama por alguns segundos, mas logo atende.

— Loira, morena ou ruiva, aqui quem fala é Taylor Holden ao seu dispor querida... — Ele demorou a notar que era eu — Pera, isso não se aplica a você coisinha.

— Você falou para a sua irmã que ficamos?! VOCÊ É DOENTE MENTAL OU O QUE?! — Grito revoltada.

— Opa, abaixa o tom coisinha.

— VAI SE FODER TAYLOR, SEU CORNO MANSO! NUNCA MAIS INVENTA QUALQUER COISA PARA A SUA IRMÃ, HOLDEN BABACA DO CARALHO! — Interrompi—o e antes que ele pudesse responder eu encerro a chamada e bloqueio seu contato, excluindo logo em seguida.

Assim que abri a cabine vi minhas duas amigas me esperando e os garotos na porta.

— Está tudo bem Rosa? — Respirei fundo e assenti.

Não estava, mas precisava ficar.

Ao longo do dia nenhum dos meus fantasmas apareceram, nem os bons, nem os maus e eu agradecia isso. Nenhuma das meninas perguntou sobre o moletom em meu corpo o qual não retirei por nenhum segundo, eu ainda conseguia sentir o cheiro de Joseph ali e isso de alguma forma inexplicável me acalmava.

Quando as aulas acabaram foi o maior alívio para mim e me despedi dos meus amigos enquanto entrava no ônibus escolar para voltar para casa. Tudo o que eu mais precisava agora era um bom banho e ficar nos braços da minha mãe novamente.

O trajeto foi mais rápido que o normal e quando menos percebi estava diante do portão de minha casa e notei o gol prata que estava parado na frente.

Merda.

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