|08| Surge Através dos Traumas um Dom: Médium, o Contato Com os Mortos

...Pov's Rosa Maria...

Minha tia morreu no acidente. Minha mãe guardou um rancor tão grande dela, dizendo o quão era culpada por tudo, mas ela estava morta e então despejava seu ódio em mim. Nossa relação nunca mais foi a mesma, após se recuperar vim morar com meus avós no interior e como se eu fosse fazer um mal ao meu próprio irmão ele foi levado para outro Estado, sendo cuidado pelo pai biológico no começo dessa merda eu liguei para ele, até seu pai receber ordens de não permitir contato entre mim e o meu irmãozinho.

Se minha mãe ainda estava ali, era para me lembrar o quão culpada eu era; me atormentar; dizer que desde o momento que ela engravidou de mim, eu vim diretamente para estragar sua vida. Voltar para os meus avós foi meu refúgio, sempre foram eles que cuidaram de mim, no final do ano passado meu avô faleceu e minha avó era o meu porto seguro.

Mãe. Essa palavra pertencia apenas a minha avó. Ela era minha única mãe.

Aquele que me salvará, assim como meu irmão, fora Maxwell e desde aquele dia eu encontrava ele por aí, poderia ser o acaso até ele mesmo confessar que estaria me seguindo até onde fosse, nunca explicou se era um tipo de vínculo. Mais e mais fantasmas foram surgindo diante de meus olhos e tudo indicava que naquela cidade apenas eu os via.

Uns eram inofensivos, outros era necessário Maxwell me acompanhar, apenas para mostrar que a médium; eu, não estava sozinha e por algum motivo eles respeitavam — ou tinha medo do meu amigo morto. Era isso que Maxwell se tornou ao longo de dois anos, um amigo. Nunca cheguei a questionar como ele morreu, apesar de saber que ele nunca me contaria.

Kayron chegou no verão seguinte. Ele e Max pareciam velhos amigos, lembro de quando ele chegou dizendo que viu umas gatinhas na praia da cidade vizinha, antes de vir para minha cidade e a chamou de estranha, cafona e careta. Foi apenas quando Maxwell olhou pra mim que ele me olhou e eu olhei de volta. Devo dizer que o fantasma quase caiu pra trás.

— Porra, faz séculos que eu não vejo uma médium. Credo. — Ele colocou a mão no peito parecendo assustado.

E olha que era eu vendo um fantasma, não ao contrário.

— Estranha, cafona e careta. — Repeti suas palavras e sorri erguendo uma sobrancelha — Eu não tenho o que discordar.

Ele gargalhou e a partir daquele momento começou a me seguir. Eu não tinha medo de outros fantasmas, além de acostumada e mesmo com figuras insuportáveis como Josué, eu possuía dois amigos.

Pelo menos isso.

Ao longo dos anos eu conseguia pensar em Marina. Pensar nela descansando no paraíso, em um lugar calmo e com flores; pensava nela sem chorar, foi algo complicado, mas eu precisava me acostumar.

Ainda penso que eu poderia ter tido uma chance. Se eu não estivesse perdida demais, alheia, eu poderia ter reunido forças e tê-la salvado.

— Não. — Despertada de meus pensamentos encarei Maxwell do meu lado esquerdo. — Se fizesse qualquer coisa, poderia estar morta igual ela e tudo o que eu fiz poderia ser em vão; tem que superar a morte dela, Rosa. Já faz dois anos.

— Maxwell. — Kayron do meu lado direito o repreendeu — Isso não é jeito de falar, não somente por que ela é uma dama, mas também porque é um ser humano com sentimentos. Você está errado e está sendo insensível ao dizer isso, não se supera uma morte assim. Não é como se dois anos depois fosse mudar, isso leva tempo, um tempo indeterminado.

— Ambos estão errados em determinadas questões. — Sussurro encarando cada um e depois meus pés — Saibam de uma coisa: não superamos mortes, apenas aprendemos a viver com elas. Com o peso da culpa de cada uma delas.

— Está ficando maluca é Rosa? — Olhei para frente vendo Ada de braços cruzados — Falando sozinha? Ou falando com os mortos? — A última pergunta veio em um tom piada.

Mas se ela soubesse...

Ada se acomodou a minha direita, sentada aonde estava Kayron que não fez menção de se levantar dali. Ele supôs que iria colocar mão na cintura de minha amiga, mas um olhar mortal meu o fez erguer a sobrancelha.

— Nem pense. — Murmurei em voz alta.

— O que? — Chacoalho a cabeça e encaro Ada que afasta o rosto — Rosa, você está me assustando. — Ela ri de nervoso.

Kayron e Maxwell trocam um olhar sugestivo por cima de meu ombro e ambos soltam uma risada logo em seguida.

— Amiga, o banco está muito duro? — Perguntei e os fantasmas aos meus lados gargalharam alto, até mesmo eu e minha amiga ficou me encarando de canto, achando-me completamente pirada.

Não julgo.

Nossa atenção foi voltada para um grupo de meninas que adentrou a escola sentando-se próximas ao pilar. Uma das garotas chorava desesperada, enquanto as outras tentavam a acalmar.

Logo minha atenção prendeu em um espírito, era um garotinho e usava roupa de hospital. Ele atravessou os portões e caminhou até a moça que chorava desesperada.

— O que ela tem? — Ada perguntou em tom baixo.

— O irmão dela... Faleceu. — Murmurei abaixando o olhar.

— Meu Deus... Como você sabe disso? — Minha amiga me olhou de canto.

Não respondi ao seu questionamento, porque ele estava diante de mim agora. Ignorou os outros espíritos, seus olhos pequenos me encarando, ele parecia muito novo, diria que teria a idade do meu... Irmão...

— Com licença. — Ele parece acanhado, mexia seu corpo para lá e para cá. Os olhos baixos e dedos cruzados. — Você me vê, né? — Assenti e então ele me olhou — Pode me fazer um favor? — Não respondi, mas ele continuou: — Ela... Ela é minha irmã. Eu morri ontem a noite... No hospital, ela soube disso hoje... Eu não me despedi dela. Por favor, diga pra ela que eu a amo? Que não importa onde eu estiver, irei retribuir todos os anos que ela me amou, cuidando dela... No céu. — Seus olhos brilhavam e então ele olhou para baixo novamente — Por favor.

Minha irmã. Suas palavras trouxeram lembranças dolorosas de minha irmã. Respirei fundo e me levantei deixando minha bolsa sobre o banco de madeira.

— Como você sabe que o irmão dela morreu, Rosa? — Ada perguntou novamente.

— Porque ele está diante de mim agora. — Murmuro em um tom ainda mais baixo.

— Não brinque com esse tipo de coisa, Rosa. Não é legal! Pode ser algo grave. — A expressão dela passou de irritada para preocupada.

— Pergunte ao cowboy então.

O cowboy era nosso colega de classe, João. Enquanto eu afastava na companhia do garotinho, o rapaz se aproximava, ele me deu um leve aceno parecendo confuso para onde eu ia; ele vinha de lá. Ficando ao lado de Ada ela perguntou o que ocorrerá; e seus olhos se arregalaram em minha direção.

Eu estava diante da garota que sofria a perda, ela nem sequer levantou seus olhos em minha direção. Suas amigas pareciam confusas, mas deram espaço, ela estava sentada e eu me abaixei.

— Hey.

Mas ela nem sequer me olhou.

— O nome dela é Bianca, mas eu chamava ela de Bia, ou Bian, era pra irritar... O meu é.. Luís. — Meu coração palpitou, Luís; Louis. Era parecido, mas espantei aquele sentimento horrível de meu peito.

— Bia... Bian. — Seus olhos se voltaram surpresos em minha direção, vermelhos por conta das lágrimas. — Ele te amava. Ainda te ama onde quer que esteja, seu irmão agradece todos os anos os quais você cuidou dele e prometeu que agora será ele que irá cuidar de você. Numa forma oculta para seus olhos, na forma de um anjo.

Ela me abraçou e chorou em meu ombro ainda mais e eu retribui. Suas amigas ainda surpresas não disseram nada, olhei o espírito de Luís ser levado pelo vento, mas ele tinha um sorriso no rosto, grato pelo o que eu fiz.

Bianca se levantou e enxugou as lágrimas.

— Obrigada. — Agradeceu.

— Não há de que. — Dei de ombros.

Ela e as amigas foram em direção ao banheiro e me virei para Ada que estava sozinha, na companhia de meus fantasmas. Ela estava surpresa e sem entender, Kayron possuía um sorriso e Maxwell um olhar alheio, como se não se importasse.

Torci o nariz ao ver que Kayron ainda estava embaixo de Ada, pouco se importando. Caminhei de volta até ela e me sentei em meu lugar. João que havia se afastado, retornará falando alguma coisa sobre música sertaneja.

Ele se sentou despojadamente a minha esquerda e Maxwell murmurou um "caí fora" se levantando e sumindo no mesmo instante. Kayron gargalhou e piscou para mim, desaparecendo também.

Finalmente voltei a minha atenção para meus amigos de carne e osso que conversavam animados, logo me envolvi no papo. Não durou muito já que o sinal tocou anunciando o início das aulas.

Caminhamos os três de volta para a sala, onde demos início aquela quinta-feira que de alguma forma, prometia ser longa.

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Katia Mendes

Katia Mendes

CADE O POVO QUE GOSTA DE LÊ FANTASIAS DE VAMPIROS ❤️

2024-02-20

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