|07| Lembranças

...Pov's Rosa Maria...

Naquele palco estava homenagens para mim, meu espírito. Não ousei encarar a cantina ou a escada. Soltando um suspiro dou meus primeiros passos e como uma maldição lançada para mim acabei tropeçando em meus próprios pés e indo de cara no chão.

Respirei fundo tentando ignorar os risos baixos ao me redor, até isso ser o menor das minhas preocupações.

— Vamos Rosa, levanta daí. — Voltei meu olhar para a direita vendo aquele espírito caminhar até o banco.

— Você é mais forte que isso, gatinha. — Me sentei e enxuguei minhas lágrimas olhando em direção ao pilar vendo o outro encostado nela com um sorriso.

Levanto do chão e diferente do que fazia, me sentei no banco ao lado do espírito e o outro fez o mesmo. Eles eram nada mais que Kayron e Maxwell, os primeiros espíritos que tiveram contato comigo.

— Como você está, querida? — Kayron perguntou me encarando.

"Estou bem e vocês?" Por algum motivo eles eram capazes de ler meus pensamentos. Apenas eles. E eu agradecia esse fato, pois não iria parecer uma louca nos olhos dos outros ao me ver falando com o nada.

— Estou bem, melhor agora na sua companhia. — Kayron como sempre o mais paquerador, foi estranho no começo... Uma alma penada me dando cantadas, mas talvez eu estivesse acostumada agora.

Acostumar. Essa palavra era um tanto estranha ao meu ver, mas eu tive que me adaptar com cada parte desse novo poder, desse bizarro poder.

— Morto. — Maxwell respondeu logo em seguida.

Kayron xingou o rapaz pela indelicadeza ao me responder, mas esse era Max. Entre os dois, este fora o primeiro a interagir comigo, o primeiro que apareceu para mim. Não foi um encontro agradável, longe disso, no dia em que Maxwell surgiu perante a mim eu estava no pior dos momentos.

Pesquisas as quais eu fiz diziam que o despertar de um dom como esse poderia surgir dentre vários fatores, entre eles: algo direto de sua nascença, maldições e traumas, foi a partir disso que um dom oculto como esse surgiu, tomou seu despertar.

Fora há três anos, estava eu, minha irmã e irmão, estávamos voltando de carro de uma festinha de criança. Minha tia era quem dirigia, eu estava sentada no banco da frente, me sentindo adulta e minha irmã reclamando atrás, foi tão de repente, o carro fez uma virada brusca a qual eu nunca entendi o motivo, minha cabeça explodia cada vez que tentava lembrar. O carro capotou três vezes, minha tia fora atirada para fora e o carro despencou da rodovia, sendo amparado apenas por uma árvore. O vidro estilhaçado, o gosto metálico tomando conta da minha boca, o sangue em meu corpo, o choro de desespero de meu irmão que tinha apenas quatro anos na época.

— ME AJUDA... ALGUÉM ME AJUDA! — Eu gritava desesperada — POR FAVOR, ALGUÉM ME AJUDA!

Me virei para minha irmã vendo ela olhando para longe, um olhar calmo em todo aquele estrago, mas ela chorava, baixinho.

— Daniel... Acalme-se. — Implorei para meu irmãozinho. Mas eu era uma tola pedindo para uma criança machucada parar de chorar, até mesmo eu com quinze anos queria chorar, mas eu apenas gritava pedindo ajuda.

— Você precisa... Sair daqui com o Dani. — Contestou minha irmã e ela tossiu, sangue saiu ainda mais de sua boca e seus olhos voltaram para mim — A árvore não vai segurar o carro por muito tempo... Vocês—

— Eu vou tirar nós três daqui, Mari. Eu vou. — Voltei para frente e vi um fragmento de vidro em minha coxa e como meu vestido era branco afundava na cor vermelha. Fiz impulso para tentar abrir a porta, mas desisti quando o carro inclinou ainda mais, sendo segurado apenas pela roda. — POR FAVOR, ME AJUDA! POR FAVOR! NOS TIRE DAQUI!

— Ninguém... Ninguém vai te escutar, mas eu posso te ajudar. — Uma voz soou baixa do lado de fora.

— Quem está aí?! POR FAVOR ME AJUDE! — Imploro.

— Não há necessidade de gritar, ninguém vai te ouvir garota. — Falou novamente, mas sua voz estava amargurada. — O carro está derrapando. Você é capaz de sair daí, mas você precisa se concentrar em mim para eu te ajudar.

— Oque?! Do que você está falando?! — Estava ainda mais confusa.

— Irmã... Com quem você está falando? — A voz de Mari soou baixa demais.

— Você não o escuta? — Perguntei e ela murmurou um não quase como um sussurro.

Uma espécie de aura azul surgiu perante ao vidro estraçalhado diante da porta onde meu irmão estava, era uma pessoa. Um rapaz de no máximo 21 anos, roupas antigas e um olhar calmo até demais.

— Apenas você tem esse dom que permite poder me ver e apenas você pode salvar seus irmãos e sua vida. — Ele me fitou.

— Como? — Perguntei enxugando as lágrimas com as costas da mão. Ignorei o sangue e todo o resto, se havia uma oportunidade de salvar meus irmãos eu faria qualquer coisa.

— Primeiro, acalme-se. — Ordenou ele. — Respire e inspire, tire essa tensão de seus ombros, isso só vai te atrapalhar. — Falar é fácil. — Eu sei que não é nada fácil, mas faça isso. — O encarei rapidamente, mas sua expressão era a mesma.

Fechei meus olhos e fiz o que ele pediu. Tentei e me esforcei, até mesmo Daniel parou de chorar, inspirei e respirei fundo, o vento lá fora se acalmou mais. As lágrimas que desciam por meus olhos pareceram irrelevante, ainda chorava, mas agora eu estava focada em minha respiração.

— Me veja. — Prestes a abrir os olhos ele continuou — Não abra seus olhos, não ainda. Me visualize, Rosa. Imagine-me formando aqui, como um corpo, o qual você e seus irmãos podem me enxergar, me tocar. Para eu poder salvar vocês.

Forcei meus pensamentos apenas naquilo, fazendo cada processo, mesmo parecendo completamente impossível.

— Não é impossível, Rosa! Faça! Se quer salvar-se e seus irmãos também, me permita a forma física, através do toque. — Ele novamente disse.

Eu o imaginei. Imaginei aquela pessoa bem diante da porta, imaginei ele abrindo e retirando meu irmão de lá, logo após minha irmã e eu.

— O que é... Quem é ele? — Abri meus olhos com a pergunta de minha irmã. Pude ver aquela aura azulada com um sorriso mínimo nós lábios, Mari o encarava espantada, eu não estava diferente.

Em um movimento ele arrancou a porta do carro e retirou meu irmão de lá, logo após fez o mesmo comigo. Ele resmungou algo ao ver o estado da minha perna e me puxou para fora. Frio. Ele era extremamente frio, o contato parecia pele com pele, fazia cosquinhas, mas mesmo assim eu podia ver através dele, mesmo sendo forte.

O carro inclinou mais atraindo a atenção dele e ele se virou para o outro lado, abracei meu irmão que começou a chorar.

— Calma Mari, está quase lá. Tira ela de lá por favor. — Implorei.

Então ele parou.

Olhou bem para a minha irmã que possuía um sorriso mínimo nós lábios cobertos de sangue, ela apenas negou com a cabeça e então me encarou ainda agarrada a Daniel.

— O que... O que houve? Tira ela daí!

— Eu não posso. — Murmurou o estranho.

— POR QUE?! TIRA ELA DAÍ! POR FAVOR! — Gritei chorando ainda mais.

— EU NÃO POSSO! OLHE PARA ELA...

Em um movimento rápido ele me fez olhar o interior do carro. O banco do motorista espremia suas pernas e um pedaço de vidro atravessava sua barriga.

— Não posso fazer mais nada. — Ele abaixou a voz — Eu sinto muito.

Meus olhos ardiam diante das lágrimas, Mari também chorava, agora o som era mais visível.

— Hey! Você é uma boa irmã Rosa, nunca agradeci por ser uma irmã mais velha tão incrível... Eu adorei quando a gente assistia desenhos, você brincava e estudava comigo. Obrigada... O Daniel vai precisar de você, cuida dele irmã, por favor. — Ela dizia em tom baixo. — Desde o momento que eu nasci você cuidou de mim, agora... Permita-me ser o seu anjo.

O carro inclinou ainda mais e encarei os olhos brilhantes de minha irmã, ela parecia em paz... Calma com tudo aquilo, ela ainda era a garotinha calma e gentil.

— Amo vocês.

O carro derrapou, sendo que nem a árvore foi capaz de segurar, ao chegar ao limite ele explodiu.

— MARINA! — Gritei alto.

Daniel chorou ainda mais e eu perdi a noção de tudo. Estava desolada, querendo me juntar a ela. O estranho me segurou em seu colo, e eu estava abraçada a meu irmão. Foi tão de repente, ele sumiu e eu estava de volta na rodovia, meu corpo pesado se chocou com o asfalto, Daniel gritou me chacoalhando.

— Rosi... Nha... Rosa... Ima... — Ele chorou ainda mais.

Antes de perder completamente a consciência eu ouvi um grito a distância:

— ALI! TEM DUAS CRIANÇAS!

Depois daquela noite fatídica eu passei por vários psicólogos, sempre que falava sobre aquele que salvará eu recebia olhares confusos, como se eu estivesse louca o suficiente. Remédios e mais remédios foram ingeridos por mim até eu ter a plena noção que aquele dom que eu tinha não poderia ser confiado a ninguém.

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