|01| Oportunidade Única

...Pov's Rosa Maria...

Dizem que se viemos ao mundo é porquê Deus tem um grande objetivo para nós, a partir do momento em que nascemos damos início a nossa própria história. Quando crianças não escrevíamos nada, apenas desenhamos nossos sonhos: ser uma princesa, um astronauta, um cowboy. Eu posso dizer que a quantidade de flores era o quanto queríamos atenção, se desenhamos olhos era porque esperavam muito de nós e observavam procurando o mínimo erro para em vez de ajudar, corrigir.

Eu desenhava rostos: felizes, tristes, raivosos. Minhas emoções eram complexas e aleatórias demais para qualquer um entender. Ser criança é ter toda a atenção dos pais voltada para você, ser amada e mimada, em uma escolinha fantasiar e fazer amigos, brincar e se divertir, momentos descontraídos onde falamos dos nossos futuros.

Quando pré-adolescentes muita coisa muda, nossos amigos do jardim de infância tomam novos rumos: aqueles filhos da classe média ou alta vão para escolas pagas, aqueles que sofrem pressão para ser o filho perfeito se torna rebelde e os mais comuns e introvertidos — como eu — apenas continuam sendo os mesmos, e mais nerds. Assim que você entra pro Ensino Fundamental II, te oferecem drogas, bebidas, a rebeldia vem e senta ao seu lado pedindo para se juntar a ela. É aquela fase que você descobre o que é sexo, não por aula e sim por vídeo que assiste escondido no cantinho da escola. Também há aquele típico grupo de garotas que mal saíram das fraudas se achando o bonde das maravilhas.

E então você se depara uns anos depois com o ensino médio, aquele que alguns torciam para chegar logo e as boas vindas eram desse jeito: dependendo de que tipo é sua popularidade, bem vindo ao paraíso ou inferno. Nessa época se descobre o amor, onde tudo é lindo e com perfume de rosas, os zoados continuam zoados, mas agora eles zoam também e são legais. Os nerds continuam sendo nerds, alguns mudam, mas eu, bem eu sempre fico no meu canto.

"Bem vindo ao seu inferno particular" — é praticamente esse o lema de quem sobrevive e chega ao terceiro ano do ensino médio, onde eu me encontro neste exato momento. Muita coisa muda e para nerds igual a mim sente a pressão na pele para conseguir passar de ano, passar em uma faculdade, se tornar o orgulho daqueles que mais acreditaram em você: seus pais. Alguns mudam de turno para começarem a trabalhar e os populares continuam seguindo populares.

Por favor não pense que eu sou uma completa anti social, eu conheço todos da minha sala muito bem e conversamos bem até, de melhores amigas sobrou apenas minha fiel companheira Ada.

Sou despertada de meus pensamentos quando o motorista passa por cima de um buraco fazendo todos os alunos do ônibus reclamar. Olhei para a paisagem verde e guardei meus fones na bolsa.

O dia havia sido cheio e minha cabeça quase explodia de tanta tarefa que eu tinha acumulado, ser considerada a "inteligente" da sala tinha seus defeitos que era quando você acumulava matéria os professores e alunos te olham estranho e soltam: eu esperava mais de você.

Eu estudava em período integral, ou seja, chegava em casa as 16h20. Passamos pela igreja que ficava para baixo de minha casa e estranhei quando o ônibus começou a parar num ponto velho, a porta se abriu e vi aquela garota de cabelos loiros entrar e me procurar.

— Rosa! — Sorriu para mim — Você desce aqui hoje.

Eu já estava de pé e enquanto caminhava em direção a porta dei um tchau rápido para a monitora e o motorista, assim que o ônibus foi embora olhei para Leandra esperando uma resposta:

— Sua avó teve que resolver algumas coisas e ficará fora por três dias e ela sentiu que não iria ser tão bom você ficar sobre a custódia da Bruna enquanto isso.

Solto um suspiro e atravessamos a rua onde pela primeira vez naquele momento notei um carro importado que apenas pessoas muito ricas tinham.

— Minha mãe está com visita, não liga não. — Se prontificou a falar.

Enquanto a Leh fechava o portão caminhei até a porta da casa e me virei encarando-a:

— Ué, sua mãe conhece o presidente?

Rimos juntas e então entro na casa, e justamente na sala de estar estava a atenção de minha madrinha e de um homem belíssimo voltada para mim.

Talvez eu tenha falado um pouco alto demais...

— Rosa! Você chegou, venha cá minha afilhada estávamos falando de você! — Se eu não estava vermelha no início, agora eu poderia me considerar um pimentão.

— Oi madrinha... Olá senhor... — Digo baixinho devido ao constrangimento.

O homem se levantou e deu dois passos até mim, ele era muito alto! E possuía uma elegância que era possível ser notada de muito longe, ele estendeu a mão para mim e mesmo um pouco em transe não o deixo esperando por muito tempo.

A mão dele era extremamente fria e aquilo me causou arrepios e dúvidas: ele morava no Alaska? A sensação térmica de Darwon City era muito alta e em tardes como essa a temperatura passa dos 30° graus.

— Ela realmente é muito linda como mencionou Márcia. — O homem se virou para minha madrinha — E parece ser muito gentil, por favor, sente-se conosco senhorita.

Minha madrinha também concordou me chamando com a mão e me sentei do lado dela, Leandra olhava tudo da porta completamente curiosa.

— Enquanto não chegava, sua madrinha me falava sobre você e, — ele parou rapidamente de falar ao perceber algo — mas que falta de educação a minha, eu sou Anthony Holden, apesar de ter vivido alguns anos nessa cidade há um tempo, voltei para ficar desta vez com os meus filhos! — Ele sorriu.

— Entendo. — É única coisa que consigo dizer. — E... Eu sou Rosa Maria! É um prazer te conhecer! — Digo quase gaguejando.

Ele sorriu como se me analisasse e então continuou a falar:

— Sua madrinha me disse que você estuda, tem dezessete anos e que se encontra no seu último ano do ensino médio — bem informado ele — E também o mais importante, que está "desesperadamente" — fez aspas com a mão enquanto soltava uma risada calma — Procurando um trabalho.

— Madrinha! — Olho para ela que apenas riu e então volto a atenção ao Sr. Holden.

— Não quero enrolar mais do que já estou em enrolando, então vou direto ao assunto. — Disse por fim — Me mudei com meus filhos recentemente e preciso de uma babá para cuidar deles, você sabe, brincar, dar banho, ajudar no dever de casa.

— S.r. Holden, desculpe a indelicadeza, mas onde está sua esposa? — Pergunto encarando-o.

— Rosa! — Minha madrinha deu um tapa de leve no meu ombro.

Anthony novamente riu e respondeu:

— Não tem problema Márcia, é bom ela tirar as dúvidas que possuí. E respondendo sua pergunta senhorita, eu me separei de minha esposa e meus filhos decidiram morar comigo em vez dela, os cinco.

— Cinco filhos?! — Não escondo meu espanto.

Ele não tem TV em casa?!

Por um momento ele me olhou como se pudesse ter lido meus pensamentos e meu medo foi que eu tivesse pensado alto demais.

— Mas você iria cuidar apenas de dois filhos meus, os meus caçulas Lavínia e Louis, eles tem oito anos.

— Gêmeos? — Pergunto surpresa e ele assente.

— Márcia, se não for lhe incomodar eu gostaria de falar a sós com a Rosa, se me permitir. — Anthony encarou minha madrinha com um olhar gentil de derreter qualquer um.

Minha madrinha assentiu e se retirou da sala puxando Leandra que me deu uma piscadela e um "boa sorte" mudo. Me voltei para Anthony que deu um sorriso como se quisesse me relaxar, mas aquilo era quase uma entrevista de emprego e isso me deixava nervosa.

— Rosa, me fale um pouco sobre você. — Ele pediu — O que faz, o que gostaria de fazer, praticamente o que deseja para seu futuro.

— Bom, vamos começar com as coisas básicas que você já sabe sobre mim — digo nervosa — Tenho dezessete anos, mas esse ano mesmo completo minha maioridade. Eu estou no meu último ano da escola e pretendo fazer faculdade de pedagogia, bom se tudo der certo, estou focada nisso desde o começo do ano. — Pausei um pouco enquanto Anthony me analisava minuciosamente quieto, aquilo estava me deixando ainda mais nervosa. — Eu nunca tive um trabalho, mas garanto que me adapto rápido, sobre cuidar de crianças, eu já cuidei dos meus primos. E eu gosto de criança, tanto que me formar em pedagogia meu maior foco é poder dar aula, praticamente ser professora, não é grande coisa como ser médica ou advogada, mas é—

— O seu sonho. — Ele me interrompeu com um sorriso e se levantou, fiz o mesmo e nesse momento minha madrinha apareceu com um copo de suco.

— Foi uma falta de educação não ter oferecido algo para beber, Anthony, sinto muito. — Disse ela com um sorriso sem graça.

— Não se preocupe Márcia, obrigado, mas eu estou de saída agora. — Meu coração palpitava rápido com receio, ele parecia decidido a ir embora e eu sentia que havia cometido algum erro — Rosa. — Rapidamente o olho — Você mesmo disse que nunca teve um trabalho, meus filhos são um tanto complicados de se acostumar há alguém, praticamente a mãe deles foi ausente e devido ao temperamento de Lavínia muitas babás não ficavam por mais de um mês. — Ele estava sério, mas logo soltou um suspiro e eu vi um mini sorriso — Mas eu tenho consciência que não vou saber se está apta para cuidar dos meus filhos se eu não lhe der uma chance, você ainda é menor de idade, então não será um trabalho oficial, obviamente vou pagar você, mas por enquanto irá contar como experiência. Assim que completar sua maioridade e se estiver acostumada com meus filhos podemos discutir sobre seu trabalho oficialmente com um salário fixo e bom você pode começar amanhã.

Eu estava sem palavras, com conseguia formular uma frase sequer, felicidade e alívio me percorria.

— Mas também, por ter dezessete anos eu preciso falar com seus pais. — Meu sorriso se desmanchou na hora.

— Anthony, a mãe da Rosa está resolvendo algumas coisas e por isso ela vai ficar comigo por três dias. — Minha madrinha dizia.

— Assim que eles voltarem eu aviso diretamente você Sr. Anthony. — Sorrio.

Caminhamos até o portão da casa onde Anthony se preparava para ir embora, porém antes ele se virou para mim dizendo:

— De segunda a sexta você trabalhará das 16h40 até às 21h e em final de semana das 12h até às 19h, tudo bem para você?

— Claro que sim. — Sorrio animada, porém uma dúvida surgiu em minha cabeça — Sr. Anthony, preciso saber onde você e sua família moram!

— Quanto a isso não se preocupe, seu ônibus passa por perto da minha casa, estarei esperando você no ponto amanhã. — Disse sorrindo — Sabe, meus filhos eles são um pouco complicados, principalmente a Lavínia, mas eu tenho certeza que vocês vão se dar muito bem! Estou contando você. Até logo Márcia, Leandra e até amanhã Rosa Maria.

Anthony entrou em seu carro indo embora, entrei em casa elétrica dando pulinhos enquanto minha amiga comemorava comigo.

— Eu tenho um trabalho Leh! Eu tenho um trabalho. — Digo animada.

— Me conte todos os detalhes do que vocês conversaram! — Leandra se joga no sofá.

— Também quero saber, mas por enquanto, vai tomar banho Rosa! — Minha madrinha ataca duas almofadas em nossa direção enquanto rimos.

Pego minha mochila e vou em direção ao quarto de Leandra deixando por lá, pego uma roupa fresca e vou para o banheiro retirar todo o suor e cansaço do corpo. Sorrio refletindo sobre tudo o que aconteceu hoje e sentia uma ansiedade, de que a partir daquele momento, minha vida iria mudar completo.

E eu faria de tudo para que essa mudança fosse para melhor.

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Comments

Katia Mendes

Katia Mendes

CARA ATE AGORA ESTOU CURTINDO 😉

2024-02-20

1

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