|06| Sonhos Ruins

...Pov's Rosa Maria...

Eu olhei ao meu redor vendo o quão gelado e sombrio estava aquele lugar. Reconhecia bem, era a escola a qual eu estudava, mas não entendia o porque de eu estar ali naquele momento.

Desci as escadas do andar de cima e olhei a cantina vendo uma sombra negra atravessar de um canto ao outro e meu coração disparou, minhas pernas pareceram gelatinas e o ar que eu prendia soltei lentamente. No pátio de baixo caminhei vendo uma alma branca de costas para mim. No pequeno palco havia flores como uma homenagem e me aproximei da jovem de cabelos soltos e vestido branco, ela estava agachada perante as flores.

A cada mínimo passo que eu me aproximava uma ansiedade percorria meu corpo, as fotos coladas naquela homenagem eram de meu rosto e então lentamente a alma da moça se virou em minha direção e ali diante de mim, estava eu. Eu estava morta. Meu espírito me encarava e não soube mais o que processar. O que era real, ou não.

A alma olhou distante e eu fiz o mesmo vendo na outra ponta, aos pés da escadas a sombra negra com uma face de caveira. Me virei para o palco notando que tudo sumira e assim que voltei meu olhar para as escadas, aquela coisa estava diante de mim segurando me pelo pescoço e erguendo-me.

Parecia a própria morte, suas garras envolta de mim e eu afundando na escuridão nos segundos seguintes.

— AAAAAAAAAAA--

Eu gritei me sentando e sentindo tudo ao meu redor tremer, mal notei quando minha madrinha adentrou o quarto e me abraçou sussurrando palavras doces. Meu grito cessou, mas minhas lágrimas tomaram conta e eu senti meu corpo pesado demais.

— Está tudo bem querida, foi só um pesadelo... Está tudo bem...

O dia amanheceu mais nublado que o normal e por mais que insistente fosse minha madrinha coloquei uma blusa de frio na bolsa, já que o clima estava agradável para mim. Sobre o pesadelo, ninguém tocou no assunto, mas sabia que havia deixado pessoas preocupada, Leandra em todo caso estava comigo.

Eram 6h40min e o ônibus nem dera sinal, estava no ponto que ficava em frente a casa de minha madrinha e ao meu lado estava Leandra encolhida com seu moletom.

— Rosa, por Deus, coloca a blusa! — Implorou a loira e eu revirei os olhos — 'Tá frio e você vai pegar um resfriado desse jeito.

— Eu não estou com frio, Leh. — Digo e ela bufa — Prometo que se chover eu coloco a blusa.

— Promessas, não é o seu forte... — Meu corpo enrijeceu no mesmo instante — Quer um conselho?

Me virei para a aura azulada que estava a poucos metros de mim, Leandra também ficou tensa e perguntou em tom baixo:

— É aquela alma penada? — Vi o espírito torcer o nariz parecendo ofendido

— Josué. — Corrigi — o que você quer de mim?

— Te alertar para sair daquela casa o quanto antes, Rosa. Você é a próxima refeição daqueles sanguessugas. — Uma risada amarga escapou de meus lábios.

— Refeição? Eu? Está insinuando o que exatamente?! — Aumento meu tom de voz.

Leandra toca em meu ombro e recuo um pouco sabendo que se eu falasse um pouco mais alto minha madrinha poderia perceber.

Josué estalou a língua.

— Você sabe o que eu quero dizer, não se faça de boba. — Contestou ele.

— Vampiros não existem. Criaturas sobrenaturais são apenas lendas.

A gargalhada daquele espírito ecoou por toda rua e uma rajada de vento veio em seguida fazendo-o desaparecer, mas sua voz ecoou por minha cabeça:

— Então comece a questionar sua própria existência, Rosa querida.

Voltei minha atenção para Leandra que pressionava os lábios aflita e eu não estava nada diferente, me sentei no banco do ponto e respirei fundo. Leandra foi a única que acreditou em mim quando eu disse que podia me conectar com os mortos, bom, eu não saia espalhando isso para Deus e o mundo até porque provavelmente iriam me internar após me chamarem de louca.

— O que foi que ele falou dessa vez? — Perguntou a loira.

— Besteira. — Respondi. — Besteira que é melhor esquecer.

Era raro Josué aparecer para mim, mas duas vezes naquela mesma semana era algo perturbador demais. Tirando minha atenção da alma penada voltei a olhar a rua esperando algum sinal do ônibus, que eu já estava perdendo as esperanças de encontrar.

Porém desceu por ali um carro incrivelmente bonito e achei estranho quando ele parou diante de mim e de minha amiga, o vidro abaixou e meu coração disparou ao ver Joseph ali no volante, com um sorriso.

Puta merda, porque eu sorri de volta no mesmo instante?

— Hey.

— Hey. — Ele se apoiou na porta. — Se está a esperar o ônibus tenho uma péssima notícia; ele está atolado perto daquela granja e na minha opinião vai ser um pouco demorado de sair de lá. — Merda. — Porém eu estou levando meus irmãos pra escola, quer carona?

Estava pronta para responder quando Leandra me puxou pela alça da mochila me afastando uma boa distância do carro.

— Não.

— Não oque? — Franzi o cenho.

— Não vou deixar que aceite carona de desconhecidos, você está maluca?! E se ele for sei lá, um psicopata? — Disparou a loira e eu gargalhei logo em seguida ouvindo um resmungo.

— Primeiramente, ele é o Joseph, o filho mais velho do Sr. Holden e os irmãos que ele está levando para a escola certamente são os gêmeos que eu cuido! — A boca da minha amiga se formou um "O" e ela olhou novamente para Joseph que possuía uma expressão pensativa — E em segundo lugar, minha mãe já pegou carona com vários desconhecidos e nada ocorreu. — A cara da loira se tornou tediosa.

Dei a volta no carro de Joseph e ele destrancou a porta pra mim, me despedi de Leandra com um rápido aceno e entrei no carro, estava bem aquecido e me virei para as crianças no banco de trás com cintos em volta de seus corpos. Olhei o uniforme que vestiam reconhecendo o brasão da Maria Cecília.

— Maria Cecília, hein? — Sorri — Garanto para vocês, essa é a melhor escola que eu já estudei! Vão se dar bem lá.

Ambos sorriram pra mim e eu virei para frente colocando o cinto de segurança, Joseph logo deu partida no carro e ficamos em um silêncio confortável, não demorou muito para as gotas de chuva baterem contra o vidro.

— Você não está com frio? — Perguntou o mais velho e lhe dei um sorriso.

— Não. — Completei: — Amo climas assim, nublados, nasci pra isso, acho.

— Uau, uma pessoa que não gosta do sol, devo me preocupar? Vampiros também não gostam de sol. — Ele deu risada se ajeitando no banco. — Não me diga que brilha estando exposta a luz solar?

— Acredite eu não sou uma vampira e meu brilho é natural, no sol ou não. — Acho que essa última frase era mentira, até porque minha autoestima estava no ralo — Eu prefiro o clima fechado, me esconder nas sombras, nunca me sinto a vontade estando exposta—

— Exposta ao sol ou as pessoas? — Os olhos azulados recairá em mim e eu rapidamente desviei o olhar.

Tudo.

Ficamos em silêncio logo após, tentando ser o máximo discreta eu olhava de relance Joseph concentrado na estrada, sua pele limpa e pálida, seus olhos azuis como o oceano me traziam calma, uma coisa contraste com sua pele e que de fato aumentava sua beleza era aqueles cabelos negros e longos que desciam em cascata por seus ombros. Em certo momento me permitir pensar em meus dedos enroscando em seus fios e corei no instante que os olhos dele desviaram em minha direção, por uma fração de segundo tive a dedução que ele conseguiu ver cada pensamento indecente.

Voltei minha atenção para a chuva que agora caía mais feroz e me surpreendi quando o vidro abaixou e tomei respingos por todo o meu rosto e camiseta, estava chovendo muito e não demorou muito para que eu ficasse encharcada. Joseph surpreso apressou a fechar o vidro e encostou o carro encarando os gêmeos no banco de trás e eu fiz o mesmo vendo a carranca estampada na cara de Lavínia.

— Não olhe para o meu irmão tão descaradamente, não é como se ele fosse se interessar por uma garota desengonçada e sem graça como você! Não se iluda! — Apontou para mim com aquele coelho bizarro.

Ela era como a Mônica, mas loira e com um Sansão que parecia ter saído da boca de um cachorro.

— Lavínia! Não diga esse tipo de coisa inconveniente. — Joseph repreendeu a mais nova que fez bico e virou a cara, voltamos nossa atenção para a estrada — Me perdoe, Rosa.

— Sem problemas... Lavínia é uma criança, eu era assim na idade dela. Ciumenta. — Respondi dando um sorriso fraco.

— Eu não sou ciumenta! — Falou a menina aumentando a voz um pouco.

— Irmã, deixe-a em paz. — Pela primeira vez Louis se pronunciou.

Joseph voltou para o trajeto e vi seu olhar pousar em minha direção por segundos, me surpreendi quando ao chegarmos na cidade ele passou reto pela minha escola e assim que atravessamos a ponte, chegamos ao colégio das crianças.

— Logo volto, senhorita. — Joseph falou saindo do carro rapidamente.

— Se divirtam crianças e espero vocês em casa. — Sorri para eles.

Lavínia sorriu animada e saiu do carro primeiro, Louis com um olhar curioso apenas acenou antes de sair. Vi o filho mais velho abraçar seus irmãos e se despedir deles, após entrar, Joseph voltou para o carro e demos a volta até ele estacionar o carro no portão da minha escola.

Vi alguns olhares curiosos, os portões já abertos e então antes de sair do carro, Joseph retirou seu moletom e estendeu para mim, eu não sabia o motivo daquilo até ele mesmo dizer:

— O tecido de seu uniforme fica transparente quando em contato com algum líquido... Como água da chuva, como ocorreu há alguns minutos. Aceite, por favor.

Meu olhar voltou rapidamente para meu uniforme ensopado e apenas naquele momento notei que meu sutiã estava visível. Maldito sutiã de bolinhas vermelhas. Me amaldiçoei mil vezes antes de aceitar o moletom do rapaz que virou o olhar para o outro lado. Um verdadeiro cavaleiro.

Ou talvez Joseph me visse apenas como uma menina, não como uma mulher então revirei os olhos vestindo o moletom sobre meu uniforme, o rapaz me encarou de canto.

— Prometo devolver assim que chegar. — Digo e tomo coragem para sair do carro — Obrigada Joseph.

— Nem se preocupe. — Assim que sai do carro, prestes a fechar a porta ele deu aquele sorriso lindo e sincero — Estude bastante senhorita.

Fechei a porta e me preparei para adentrar o local, como o esperado, ele me via como uma menininha. Revirei os olhos com os olhares sobre meus ombros e entrei indo para o pátio e um arrepio percorreu meu corpo ao lembrar do pesadelo.

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Comments

Katia Mendes

Katia Mendes

TA DE PARABÉNS AUTORA 😁👏🏾👏🏾

2024-02-20

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