Re:Zero Começando A Vida Em Outro Mundo – Ninin No Senshin To Shiki Shishi–
Subaru arqueou a sobrancelha, perplexo, enquanto Mimi agitava os braços diante dele, radiante. A palavra "festa" ressoava de maneira extravagante, surgindo do nada.
– Um convite para a festa de Anastasia? – indagou Subaru – Mas, tipo, o que aconteceu? Tem algo para celebrar?
– Celebrar? – rebateu Mimi. – Uma celebração? Tanto faz! Quem liga?! Vai ser incrível, vamos nos empanturrar de comida e beber até cair! Muito divertido!
– Você claramente é jovem demais para beber. – apontou Subaru.
– Hehehe. A partir deste ano, eu sou adulta! Chefe disse que posso beber! Mas minha Patroa não deixa.
Mimi inflou o peito, orgulhosa, e os ornamentos em forma de sino em seu cabelo badalaram. Subaru arregalou os olhos, perplexo.
– Espera aí, se você pode beber, significa que já está crescida!? Nem vem. Quantos anos você tem?
– Fiz quinze anos agora! Então, sou uma adulta crescida! Já sou gente grande!
– 'Gente grande' não fala como se estivesse no primário! De qualquer forma… na teoria, ela tem a mesma idade que o Akashi... acredito que ele já tenha feito aniversário, é uma pena aquele cabeça oca não nos mandar uma carta ou a localização para podermos lhe dar os parabéns... ah, pera aí...
Recuperando a compostura, Subaru colocou uma mão no peito ao perceber as diferenças entre a vida adulta deste mundo e a do seu mundo antigo. Era essencialmente um Genpuku, onde com quinze anos você era considerado maior de idade, legalmente apto a beber e fumar.
– ...Isso é verdade, Petra? – perguntou o garoto.
– Sim, está correto. – respondeu Petra. – Se quiser saber mais, garotos deixam suas casas e começam a trabalhar aos quinze anos, enquanto algumas garotas casam nessa idade. As que não casam geralmente começam a trabalhar, como foi meu caso.
– Então você saiu de casa bem cedo. Você é uma garotinha precoce, hein?
– Hehe, sou uma garotinha precoce... Não tenho certeza se isso foi um elogio.
Petra encarou Subaru, que se dirigiu a uma Beatrice exausta. Mimi a soltara recentemente, suas tranças estavam um tanto desalinhadas. Beatrice olhou para Subaru com uma expressão irritada.
– Betty está exausta depois de participar do seu treinamento e ser maltratada por essa gata, eu suponho... Subaru, me carregue. – Beatrice diz.
– Participar? Mas você só ficou observando... – Subaru rebate.
Beatrice esticou suas mãos em direção a Subaru, que a segurou em seus braços. Como ele estava um pouco mais musculoso e ela era leve como uma pena, Subaru não se incomodava com o peso. No entanto, a cena lembrava mais um pai cuidando da filha, o que não era uma impressão ideal.
– Oooh! Você tá carregando o nenê! – Mimi exclamou. – Que incrível! Carrega eu também! Eu também!
– Com o seu Chefe pode ser diferente, mas eu fisicamente não consigo. – Subaru respondeu. – Pedido negado.
– O quê?! Isso não vale! Não vale! Injustiça! Injustiça!
Mimi começou a correr ao redor de Subaru enquanto ele segurava Beatrice, que sorria vitoriosa. Mimi agarrou a roupa de Subaru e...
– Tá bom então! Se é assim eu subo sozinha!
– Idiota! Pare com isso, você vai me derrubar. Petra, me ajuda aqui a parar— o que você está fazendo?
Subaru fitou Petra, que se aproximava dele.
– Ah, err, eu não estou com ciúmes nem nada. Com certeza não. Mas você se importaria se eu subisse em você também, Subaru-sama?
– Hmm, sim?!
Subaru estava com uma garotinha nos braços enquanto era perseguido por outras duas. A confusão continuava sem solução, até que...
– Estava me perguntando por que estavam demorando tanto e me deparo com vocês fazendo uma confusão e tanto na entrada. – Diz a voz daquela que surgia alí.
A voz gélida fez Subaru e Petra endireitarem suas posturas. Beatrice suspirou, enquanto os olhos de Mimi brilhavam de curiosidade pela voz.
A voz vinha da escadaria com vista para a entrada. Subaru olhou para cima e viu uma garota parada lá, com cabelos rosa e uma roupa curta de empregada. Seus olhos cor de cereja pareciam apáticos, e, mesmo sendo fofa, sua personalidade estava longe de ser adorável. Esta era Ram, colega de trabalho de Petra e chefe das empregadas da mansão.
Ela encarou Subaru com um olhar frio e soltou um "Ha."
– Nojento. – Disse Ram.
– Você que é a nojenta por chegar nessa conclusão! Se é saudável ou não, aí é discutível, mas você tem que admitir que é uma cena comovente! – Subaru respondeu.
– Você sempre distorce a realidade como bem entende. Mas não se esqueça, Barusu. —Eu julgo apenas com base naquilo que vejo.
– Então poderia por favor tirar esse filtro zoado que você tem antes de sair olhando por aí?
Ram olhou para ele de forma desinteressada, aparentemente sem a intenção de ouvi-lo. Enquanto ignorava Subaru, ela olhou para Petra, que começou a tremer instantaneamente.
– Petra. Eu te disse para levar o Barusu até pelo pescoço se for preciso. Gostaria de explicar o que estava fazendo aqui na entrada brincando com ele?
– D-Desculpa, Ram-nee-sama.
– Me parece que não estava ouvindo, Petra. Se não me engano fiz uma pergunta, o que estava fazendo brincando na entrada?
– Pare de falar com ela desse jeito. Era eu que estava atrapalhando ela. Não é culpa da Petra.
– Claro que é culpa dela. Eu vou te bater, Barusu. – Ram encarou Subaru, com um olhar sério.
– A culpa é um pouquinho dela! – Subaru a respondeu imediatamente.
Contente com esse meio-termo, Ram apontou com a cabeça para o cômodo atrás dela.
– Você não deve deixar a dona Emilia o esperando. Barusu, vá para a recepção no andar de cima. Petra, vá para a sala de jantar. Dona Beatrice, acompanhe Barusu.
– Claro, eu suponho.
– E eu? Vaaai, e eu? – Mimi perguntava.
Petra relutantemente soltou a manga de Subaru, mas ainda assim continuou sendo agarrada firmemente pela garota gato, cheia de energia como sempre. Ram passou para o lado as mechas que estavam em sua bochecha e respondeu...
– Peço que acompanhe Barusu para a recepção, cara convidada. Presumo que sua ausência esteja começando a deixar o seu companheiro nervoso.
– Certo. Pelo visto vou ter que voltar lá. Fiz besteira. – Mimi diria.
Até mesmo Ram era polida quando recebia visitantes. Mimi respondeu rindo bem alto, mas Subaru percebeu algo que não poderia deixar passar batido.
– Ué, um ‘Companheiro’? Mas você não disse que tava sozinha?
– Eu disse, e estou. Nem o Hetaro, nem o Tivey, nem o Chefe, nem o Julius, e nem a minha Patroa estão aqui. Só o Joshua. E eu estou sozinha sendo a garta-coshtas, garda-coshtas?
– Guarda-costas? – Subaru questiona.
– Isso! Guarda-coshtas!
Mimi estufou o peito enquanto sorria. Subaru passou a mão em sua cabeça antes de olhar novamente para Ram.
– Desculpa. Eu tava achando que era só a Mimi. Não percebi que deixei alguém esperando.
– Deu para ver. Tudo bem, mas se apresse. Não demorará muito até a paciência da dona Emilia se esgotar.
– Isso não me parece ser uma boa. Ok, até mais, Petra. E vamos lá, Mimi.
– Ihul! – Mimi comemora.
Quem seria esse tal de Joshua?
Ele devia ser alguém da facção da Anastasia que Subaru nunca ouviu falar. Se estavam mandando ele como um mensageiro e até deixando Mimi como sua guarda-costas, ele devia ser alguém importante. Apesar de Mimi não usar honoríficos ao falar dele, sua natureza amigável indicava que talvez ele não fosse tão formal.
– Assim que a poeira assentar, vou preparar tortas. Você vai experimentar, Subaru-sama?
Petra sussurrou antes de sair. Frederica provavelmente aguardava na sala de jantar. Subaru não sabia se serviriam comida na recepção, mas de qualquer forma, parecia que demoraria até provar as tortas de Petra.
– Quem está na recepção com a Emilia-tan? – Subaru pergunta.
–Apenas Otto e Garf, já que o patrão Roswaal ainda não voltou. Se o visitante for um assassino, Garf dará conta dele. – Ram respondeu.
– Não acho que precisamos nos preocupar com ataques diretos. Eu disse a Emilia-tan para usar Otto como escudo humano.
– Se me sentir ameaçada, farei o mesmo.
Não havia palavras para descrever como tratavam Otto. Bem, na verdade, havia. De qualquer forma, se Otto estava lá, provavelmente estava se esforçando ao máximo. Falhar em ajudá-lo significaria perder o Ministro de Administração Interna.
– Ele nunca é recompensado. – Beatrice pontua. – Não entendo por que é seu amigo.
– Pode ser invisível para outros, mas temos um laço sólido de amizade masculina. Firme como uma rocha.
– Ohh! Firme como uma rocha! – Mimi repetiu com empolgação.
Ram suspirou, guiando-os até a recepção, a primeira porta ao subir a escadaria. Ela bateu, e a porta foi aberta por...
– Aí está você, chefe. Demorou tanto que pensei que eu teria que ir buscá-lo. – Diz Garfiel, ao abrir a porta.
– Seria engraçado se todos dissessem que iriam atrás de mim e deixassem Otto por conta própria.
– Seria, mesmo. Agora estou imaginando ele surtando e gritando de um lado para o outro.
Garfiel, de cabelos loiros curtos, presas afiadas e cicatriz na testa, sorriu maliciosamente. Ele apontou para dentro do cômodo com a cabeça, cruzando os braços como se estivesse de guarda na porta.
– Entra logo. O visitante disse que era importante você estaparaqui pra ouvir o que ele tem a dizer. O Otto e a dona Emilia estavam tentando dar as boas-vindas pra ele, parecia mais uma comédia. – Garfiel contava.
– Sinceramente, eu queria ter visto isso.
– Chega de conversa furada, entre logo. – Ram diria, cansada de tanta perda de tempo. – Já estamos atrasados o suficiente.
– Guh. – Era a resposta de Subaru.
Ram chutou Subaru no meio das costas, fazendo-o entrar cambaleando no cômodo. A postura estranha fez todos olharem para ele. As emoções predominantes eram alívio, irritação e confusão, respectivamente.
Subaru segurou a vontade de se desculpar pelo atraso, virando-se para o indivíduo confuso. Que o olhava em silêncio.
O elegante homem olhou para Subaru, suas roupas chiques e cabelos violetas amarrados em um rabo de cavalo. Ele dava um ar de erudito, com seu monóculo reforçando a ideia. Seus olhos amarelados eram penetrantes, e seus lábios estavam selados, expressando descontentamento ao ver o desconhecido Subaru.
– E este seria…?
O visitante falou primeiro, desviando o olhar para as duas pessoas atrás de Subaru. Uma garota com longos cabelos prateados acenou com a cabeça.
– Perdão pelo atraso. —Este é Natsuki Subaru, meu cavaleiro. – Diria Emilia, também aproveitando para se desculpar pelo atraso de Subaru.
Ele sentiu suas costas formigarem. As palavras “Meu cavaleiro” eram tão maravilhosas que o cativavam sempre.
– Posso apontar que ele parece um pouco, hmm, extasiado…? – O visitante questionou.
– Subaru, pare de fazer caretas, eu diria. – Beatrice o alertou. – Ele vai acabar pensando qu… hã? Err, está segurando com muita força. Não, você está, apertando demais—Suba–Subaru! Ai! Ai, eu diria!
– Aah! Ahh, foi mal. Eu não tava com a cabeça no lugar. – Subaru respondeu.
Ele havia quase esmagado Beatrice sem querer para se distrair de seus sentimentos. Um abraço de urso ou talvez um abraço de Beako. De qualquer forma. O visitante olhou incrédulo para Subaru, que limpou a garganta e colocou Beatrice no chão.
– Como mencionado antes, eu sou Natsuki Subaru, o cavaleiro da dona Emilia. É um prazer conhecê-lo.
O visitante analisa Subaru, em silêncio.
Seu uniforme esportivo o fazia parecer desleixado, mas seus modos se alinhavam perfeitamente com a etiqueta. Ele costumava ser cínico sobre as atitudes pretensiosas dos cavaleiros, mas agora que tentava por conta própria, percebia como funcionava bem para ele. Não era uma questão de combinar ou não. Ele se sentia mais como um cavaleiro. A pressão de ser ridicularizado se desse um passo em falso mostrava a importância dessa seriedade. Sob os cuidados de Garfiel, o “Fanático por Cavaleiros”, Subaru aprendeu a se portar e não se humilhar.
Subaru olhou para Garfiel ao lado da porta com uma expressão contente. Garfiel percebeu e mostrou o dedo do meio. Subaru o ensinou, mas ele usava de forma errada. Como professor, excelente; como aluno, decepcionante.
– Não é para tanto. Eu… sou Joshua Juukulius, um mensageiro enviado pela dona Anastasia Hoshin.
– Então você é o Joshua. É um belo nome. Mesmo assim, peço desculpas pelo atraso. – Ao notar algo, Subaru pergunta. – Permita-me… Juukulius?
No meio da frase, Subaru percebeu a familiaridade da palavra e inclinou a cabeça, confuso. Joshua acenou afirmativamente.
– Isso mesmo, Subaru. – Emilia o respondia. – O Joshua é o irmão mais novo do Julius. E os dois estão dando suporte à Anastasia juntos, é tããão adorável.
Alegremente, Emilia abandonou sua atitude recatada, adotando um tom mais casual. O olhar que lançou para Subaru era genuíno. Ele soltou um suspiro, encarando Joshua de forma rude enquanto se sentava de frente para ele, ao lado de Emilia.
– Então é isso, ele é irmão do Julius. – Subaru prossegue. – Agora que eu parei para olhar, eles são bem parecidos. Você tem aquele mesmo olhar intenso dele. E um sorriso elegante que nem ele. Seu cabelo tem a mesma linda cor.
– Se é para ficar se forçando a isso, então não seria melhor simplesmente não falar nada?
Otto, incapaz de esconder seu desconforto, falou enquanto suava frio. Ele era o Ministro Principal de Administração Interna da facção de Emilia, o único com as qualificações para o título.
– Você emagreceu? – Subaru perguntou ao Otto.
– A vida aqui é corrida demais! Quando coisas assim ficam acontecendo toda hora, eu fico tão cansado mentalmente que nem tenho energia para me exercitar. Estou esquelético!
– Isqueléticu! Isqueléticu!
Gritou alegremente Mimi, agitando ainda mais Otto. Ele só ficara em silêncio porque Mimi acompanhava o visitante. Ignorando-o, ela correu rapidamente para perto de Joshua, pulando no assento ao lado dele. Beatrice procurou um lugar para sentar, mas Subaru, Emilia e Otto já ocupavam todos os lugares de frente para Joshua e Mimi. Beatrice decidiu sentar-se no colo de Subaru, que a segurou pela cintura para evitar que caísse.
– Beleza, de volta ao assunto… – Subaru diria.
– E-Espere, por favor! – Joshua pediu, num tom bastante surpreso e confuso. – Quem é essa garota?
Joshua apontou para Beatrice, sentada no colo de Subaru, inclinando-se para frente. Seu monóculo saiu do lugar. Subaru preferia o jeito mais descontraído de Joshua em comparação com o recato de Julius, enquanto Mimi respondia em voz alta.
– Nossa, como assim você não sabe, Joshua? Essa é a Beako, ela é a neném do Subaru. Óbvio. – A garotinha gata apontava para cada um, conforme ela prosseguia. – E do ladinho dele a mamãe, do outro o faxineiro?”
– Sinceramente, já não tenho confiança na minha posição atual e ainda me chamam de faxineiro, poderia por favor parar?
– Faxineiro! Faxineiro! Uau! Parece o nome de um majuu!
Os apelos de Otto foram completamente ignorados por Mimi, a encarnação da inocência. Subaru colocou sua mão na cabeça de Beatrice e…
– Foi mal por não ter dito antes. Estamos tão acostumados a sentar desse jeito que eu me esqueci completamente de explicar.
– Otto se esqueceu também. E me pegou incauta também. – Emilia diria.
– Quem é que fala ‘incauta’ hoje em dia?
Subaru fez seu comentário habitual, concordando com o que Emilia disse. Otto devia estar tão acostumado com isso que estava esquecendo de interrompê-los com bom senso. Era um problema extravagante, por assim dizer.
– Essa é a Beatrice. – Subaru a apresentava. – A Mimi acertou, ela é a minha filha com a dona Emilia.
– O quê?
Joshua ficou chocado.
– Poxa. Ela não é, Subaru. – Emilia rebate, tentando mudar a situação. – Olha só como você deixou o Joshua. Eu sei que nós nos beijamos, mas não dá para ter filhos com um beijo. Eu andei estudando.
– Ah, foi mal, Emilia-tan. E eu acho que uns assuntos pessoais acabaram de vazar. Foi minha culpa então vou apresentá-la direito.
– É isso que acontece quando você me usa para essas brincadeiras. Espero que se arrependa disso, eu diria.
Subaru deu um sorriso forçado para Emilia e Beatrice. A única parte que foi corrigida do mal-entendido de Emilia, sobre como crianças são feitas, havia sido a parte de “com um beijo”. Subaru tentava não se aprofundar mais no assunto e, antecipando o choque que isso teria em Emilia, as mulheres de sua facção decidiram esperar até ela ficar mais madura mentalmente. Basicamente, todo mundo ali era superprotetor.
– Err… então, a Senhorita Beatrice seria…?
Joshua colocou seu monóculo de volta no lugar, tendo sido completamente vencido pela iniciação da Mansão de Roswaal e de seus integrantes. Se bem que essa desordem não deveria ser tão diferente daquela na facção da Anastasia, por causa dos Presa de Ferro.
– Foi mal por ficar fugindo do assunto assim. – Subaru prosseguia. – Beatrice pode até parecer uma garotinha adorável qualquer, mas ela é o espírito com o qual estou contratado. Ela é uma vovóloli.
– Exatamente, sou um espírito. E eu sei que você está zombando de mim com esse ‘vovóloli’, eu diria.
Beatrice deixou de lado a mão de Subaru e acomodou a cabeça na parte de baixo do queixo dele. Ela estava se tornando fluente em Subaruês, fazendo com que coisas assim não passassem despercebidas. “Vovóloli” era só uma combinação de “Vovó” com “Loli”, uma palavra que já foi explicada para ela; era óbvio que perceberia.
A reação de Joshua quanto ao bate-papo entre Subaru e Beatrice foi extrema. Sua expressão perplexa, porém charmosa, se tornou gélida.
– O-Oh...—Entendo. Ela é um espírito. – Joshua sussurrava.
Ninguém ouvindo esse seu sussurro seria capaz de decodificar com qual emoção estava carregado. Mas não porque ele estava escondendo suas emoções, era o oposto. A emoção era tão confusa e complexa que era impossível compreender o que significava. Mas era óbvio a todos que esta frase não havia sido dita com um tom amigável.
– Ei, visitante. Você tem algum problema com o nosso chefe ter um espírito?
Garfiel assumiu o antigo papel de Subaru, que era basicamente desrespeitar todo mundo. Enquanto os outros estavam refletindo em como falar sobre o problema, ele foi direto ao ponto. Isso fez Joshua rapidamente chacoalhar sua cabeça de um lado para o outro.
– Não, nada demais. É só que caiu a ficha para mim que o senhor Natsuki é um Cavaleiro Espiritualista. Como já deve saber, meu irmão também é. O título é tão raro que você podia dizer que meu irmão era o único no país inteiro com ele.
– É, eu sei. Quando a gente estava lutando contra o Culto da Bruxa, ele… err, ele. Ele realmente me aj… a-ajud— ghk. Ajudou, um… monte, então… – Subaru penou para respondendo, fazendo algumas caretas para algo simples.
– Por acaso é tão difícil assim de admitir que ele te salvou!? – Otto questionava.
Não. Mas recordar as suas brigas com Julius o fazia se sentir envergonhado sobre o que estava dizendo, além de fazer as velhas feridas de sua “luta” com ele formigarem.
– Eu já tinha ouvido falar de outro cavaleiro que usa espíritos. Mas que bela de uma coincidência ser o seu irmão, eu diria.
– O que quer dizer com ‘bela de uma coincidência’. Espírito? – Joshua perguntava á Beatrice.
– É óbvio o que eu quero dizer. Precursores estão fadados a serem superados, eu suponho. O melhor lugar para ele seria como uma simples decoração no glorioso caminho que Subaru e eu ire— nhaaha!
– Não saia por aí comprando briga com quem acabou de conhecer. Além do mais, eu não tenho chance contra o Julius. Eu nunca vou ganhar dele no que ele se especializa. Eu não desafio pessoas que são boas com quebra-cabeças a resolver um quebra-cabeça, eu desafio elas pra uma partida de Mario Kart.
Subaru bagunçou o cabelo de Beatrice e curvou sua cabeça para Joshua, forçando Beatrice a se curvar também.
– Desculpa. Eu não tava tentando falar mal do seu irmão. Na verdade, eu sei que sou menos habilidoso que ele. É só esse espírito aqui se gabando mesmo.
– Um julgamento admirável e correto. Quando você se compara ao meu irmão, é natural que reconheça sua inferioridade.
– Hã?
Subaru estava tentando resolver a situação como um ser humano decente, mas a súbita arrogância de Joshua acabou piorando as coisas novamente. Enquanto ignorava Subaru, que estava cada vez mais confuso, o monóculo de Joshua brilhou estranhamente.
– Sim. O meu irmão é incrível. Com vinte anos já era o segundo cavaleiro mais competente da Guarda Real, a mais importante Ordem de Cavaleiros do Reino. Por estar servindo a dona Anastasia, ele frequentemente tem que se distanciar de seu posto na guarda, mas assim que os desejos dela forem realizados, seu lugar como Líder da Guarda Real estará garantido. Ele tem uma relação próxima e amigável com o Santo da Espada Reinhard, e se porta de forma impecável tanto aos olhos do público quanto longe deles. Ele é rígido consigo mesmo e com os outros, disciplinado, ambicioso, sempre buscando melhorar. Sua beleza cativa dezenas de mulheres e sua personalidade é igualmente excelente. Sim, meu irmão é incrível. Você nem chega aos pés dele.
– …Uhh.
Joshua falava incessantemente e com fervor, seu rosto avermelhado. Subaru ficou sem palavras, Beatrice também ficou perplexa. Garfiel e Otto permaneceram em silêncio, sem saber se isso poderia acabar se tornando fatal ou não, já Mimi estava ocupada demais se empanturrando de petiscos para ajudar. Havia apenas uma pessoa que poderia responder ao monólogo de Joshua.
– Hehe. Joshua, você gosta bastaaante do seu irmão Julius. – Dizia Emilia, com um sorriso adorável em seu rosto.
No recinto havia um anjo que levaria tudo para o lado positivo. Suas palavras fizeram Joshua perceber o que havia acabado de dizer, seu rosto estava corado, não de ânimo e sim de vergonha. Ele limpou a garganta, conseguindo manter a calma.
– M-Mil perdões. Pode ser que eu tenha me deixado levar. Tenho alguns problemas de autocontrole quando se trata da minha família. Ainda mais depois de um ocorrido há alguns meses atrás, eu sinceramente me senti...
– Não, está tudo bem. Eu gostaria de ouvir você falar mais sobre o Julius. Eu só vi ele algumas vezes quando estava na Capital, então tem um monte de coisas que eu adoraria ouvir sobre ele. – Emilia o responde.
– Sério!? Bem, tenho várias memórias com que ele que—
– Que tal deixarmos isso pra outra hora e voltar ao assunto de uma vez por todas?! O que acham da ideia, Otto! Garfiel?!
– Hã? – Ambos os rapazes, cujo os nomes foram chamados, estavam surpresos.
Subaru se intrometeu, forçando os dois na conversa mesmo quando estavam tentando ao máximo ficar de fora. Mas eles rapidamente acenaram com a cabeça em sinal de confirmação. Joshua então percebeu como haviam fugindo completamente do assunto e…
– E-Então irei guardar as histórias do quão magnífico é o meu irmão para outra hora. Eu… A minha pessoa também deve cumprir com seus deveres e se reunir novamente com dona Anastasia em breve.
– Certo. Estou tããão animada para isso. Demorou tanto tempo para finalmente chegarmos ao ponto… do que se trata essa visita?
Enquanto Emilia calmamente entrava no Modo “Candidata da Seleção Real”, Joshua tentou manter a calma, ainda envergonhado de certa forma. O tom de voz deles ficou mais grave, fazendo com que a atmosfera na recepção ficasse mais pesada. Emilia era capaz de aumentar a tensão desse jeito, pois reconheceu sua posição como um político emergente.
– Eu...—Sou o porta-voz de minha mestra, a dona Anastasia Hoshin, falarei com dona Emilia em seu lugar.
A tensão fez com que a expressão facial de Joshua recuperasse seu calor. Ele pôs a mão em seu bolso, tirou de lá uma carta e a colocou na mesa. Abriu então a carta e olhou para as letras nela escritas com tinta negra.
– A dona Anastasia deseja convidar você e todos os seus associados para a Cidade de Pristella.
Diria Joshua, lendo a carta.
– Um convite para a Cidade de Pristella… Pristella é a Cidade das Comportas, não é? Aquela cidade grande perto da fronteira entre o Reino de Lugnica e as Cidades-Estado de Kararagi. – Emilia pergunta.
– Correto. A dona Anastasia está lá no momento, não na Capital… e ela deseja convidá-la.
Joshua silenciosamente abaixou sua cabeça. Emilia virou o olhar em direção a Subaru. Era óbvio que esse olhar queria dizer “O que você acha?”
Subaru se sentia da mesma forma quanto ao assunto. Todo mundo sabia que Anastasia vivia em uma mansão no distrito nobre da Capital quando estava em Lugnica. Quando Mimi disse sobre um convite para uma festa, Subaru tinha certeza de que seria na tal mansão.
– Pristella é um lugar com uma vista e tanto. A cidade por si só já se destaca, servindo como um ponto turístico popular. A dona Anastasia se sente encantada e em paz lá.
– Seria uma boa se vocês estivessem só nos convidando pra um passeio, mas… vocês não estão, não é? A Emilia e a Anastasia não são amigas.
Se não lhe falhava a memória, Subaru lembrava que Anastasia havia sido um tanto severa com Emilia durante os discursos no Palácio. As candidatas mais impiedosas com Emilia haviam sido ela e Priscilla. Enquanto Crusch simplesmente não era racista e Felt estava devendo uma a Emilia. Então, embora Anastasia tenha de fato ajudado nos confrontos contra a Baleia Branca e o Culto da Bruxa, a opinião pessoal de Subaru sobre ela não era das melhores.
Então ele duvidava de que ela a convidaria de bom grado. Como se para reforçar as dúvidas de Subaru, um sorriso se formou no rosto de Joshua, e…
– A dona Anastasia está convidando você por beneficência. Pois ela percebeu que o objeto valioso o qual procura se encontra em Pristella.
– Hã? E o que seria? – Emilia pergunta.
No mesmo instante que Emilia demonstrou interesse, a expressão de Otto se contorceu, como se gritasse “Ela mordeu a isca!”. Isso revelava que Joshua havia assumido o controle antes mesmo que pudessem fazer algo para pará-lo, mas Subaru ainda não conseguia entender o que poderia ter de tão importante nesse acordo.
Nesse meio-termo, o oponente já havia tomado controle total sobre a situação. Com um sorriso enorme no rosto, Joshua prosseguiu:
— Na Cidade de Pristella há uma loja que vende pedras mágicas, e ela possui as pedras incolores de primeira linha que desejam. Creio eu que, no momento, esteja em busca de algo para abrigar o Grande Espírito, não?
Assim que Joshua dominou a situação, a facção de Emilia estava fadada a ir para Pristella.
Enquanto isso, na mansão de Annerose, Akashi batia na porta, aguardando resposta. Sua carruagem aguardava ao fundo, pronta para partir, e apesar de Akashi ser uma pessoa procurada, sentia que estaria seguro ao se revelar para seus amigos. Acreditava que todos estariam cientes de sua situação. Por isso, optou por não cobrir o rosto com o capuz de seu manto, permitindo que seu rosto fosse completamente visível.
Em pouco tempo, uma voz masculina respondeu:
– Só um momento, por favor.
A porta da mansão destrancou-se, revelando o mordomo da casa, Clind. O homem de cabelos curtos azuis, que vestia um uniforme de mordomo e um monóculo, cumprimentou Akashi com um sorriso, reverenciando-o.
– O senhor é Akashi Taiga, não é mesmo? Já faz um bom tempo que não nos vemos. Seja bem-vindo.
Surpreso ao ser reconhecido, Akashi observou Clind, que se curvou em reverência para cumprimentá-lo.
– Sim, sou eu. – respondeu Akashi. – U-Uhm... então, eu queria saber se o Subaru e os outros estão?
Clind arregalou levemente os olhos, surpreendido pela pergunta.
– O senhor Subaru? Na verdade, todos partiram há alguns meses. Atualmente, estão residindo na nova mansão do Margrave Mathers. – informou Clind, ajeitando o monóculo.
– Hã? Eles já estão em uma nova mansão? – indagou Akashi, arqueando as sobrancelhas. – Bom, era de se esperar, mesmo. Como eu nunca escrevi uma carta ou mandei nosso endereço, ninguém nunca me contou sobre isso...
Clind o observou em silêncio, abrindo um sorriso leve.
– O senhor gostaria que eu lhe entregasse a localização? Posso anotá-la ou pedir ao seu cocheiro que o leve.
– Seria uma boa ideia se o senhor anotasse, por favor. – respondeu Akashi, sorrindo aliviado.
Clind se curvou, convidando Akashi e seu cocheiro para entrarem, enquanto buscava algo para anotar o novo endereço da mansão do Roswaal. Akashi aguardou pacientemente, enquanto as memórias de seu último dia com Subaru e companhia surgiam em sua mente...
...Continua......
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Atualizado até capítulo 60
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