Perspectivas de Cada Um

Na mansão Miload, Akashi e Clind estavam do lado de fora, conversando enquanto a tarde lentamente se encerrava.

– O senhor treinou o Subaru, certo? – perguntou Akashi, seu olhar curioso denotava interesse no poder de Clind e no potencial de Subaru.

– Sim, ensinei-lhe o básico do que ele sabe agora. – respondeu Clind, sorrindo. – Ele ainda tem muito a aprimorar, mas suas habilidades com o chicote e sua movimentação estão bastante desenvolvidas, ainda vou á mansão do senhor Mathers para treiná-lo de vez em vez. Creio que, em breve, ele dominará seu corpo e suas habilidades, alcançando feitos incríveis.

Se lembrando de algo, Clind sorriu e afirmou para Akashi...

– Agora que me recordei, minha senhorita irá acompanhar o senhor Roswaal para uma questão em breve, talvez nos encontremos na mansão amanhã.

Akashi acenou com a cabeça, ouvindo Clind. Então, o mordomo olhou para Akashi com seriedade.

– Sinto muito se isso o incomoda, e falar disso de repente pode ser desagradável, mas... você mudou muito, não só em aparência, mas sinto que enfrenta momentos sombrios...

Akashi sorriu gentilmente, logo dirigindo seu olhar para as nuvens...

– Não se preocupe. Entendo o que quer dizer, e sinceramente prefiro não tocar nesse assunto... mas tudo o que posso afirmar é que a escuridão surgiu numa certa noite, e desde então, tem me acompanhado sem trégua.

Clind fitava Akashi, cujo encarava os céus em silêncio, a carruagem parada diante deles, a qual foi emprestada por Reinhard, indicando que logo Akashi seguiria sua viagem. E enquanto isso...

De volta à mansão do Mathers...

– Não foi justo com o Otto decidirmos tanto por nossa conta. – Emilia falou depois de conversar com Joshua e retornar ao seu quarto, oferecendo um assento a Subaru. Ele se sentou e riu.

– Deixando o pânico de Otto como uma lenda para as futuras gerações, sempre apoiarei suas ideias, Emilia-tan. – respondeu Subaru. – Mas se tivesse algo que me preocupasse, seria o fato de estarem prontos e nos esperando.

– Não acho que Anastasia correria riscos de qualquer forma, enviando mensageiros. Mimi pode ter estado lá, mas Joshua ainda tomou o controle quando tentei intervir.

– Ela a reconhece como uma oponente ao enviar alguém da família de seu Cavaleiro como mensageiro. Sempre me perguntei por que, nos dramas de Sengoku, quando enviam mensageiros importantes, eles não os matam. Mas agora entendo que há toda uma trama por trás das cortinas. Nunca imaginei que aprenderia isso por experiência. – disse Subaru.

É uma questão de confiança entre as partes e as pessoas. Se as pessoas descobrissem que os governantes agem injustamente, isso prejudicaria sua permanência no poder. E cada facção enfrenta muitos inimigos para agir de forma antagonista. Considerando que um grupo enfrenta mais opositores quanto mais cresce, é lógico ser cauteloso ao desafiar pessoas influentes.

A reunião com Joshua Juukulius terminou, e a noite caiu sobre a nova Mansão de Roswaal. Como seria imprudente enviá-los de volta no mesmo dia, convidaram Joshua e Mimi para passarem a noite e aceitaram o convite para a Cidade de Pristella. Joshua foi imponente ao discutir o assunto, mas todos perceberam seu alívio quando concordaram. Seu monóculo provavelmente era uma decoração para causar uma certa impressão, a de um jovem sério.

– Ele é bem mais agradável do que o irmão dele. – Subaru afirmou, comparando Joshua de forma favorável a Julius.

– Você sempre é tão insincero sobre Julius. Ainda guarda ressentimentos daquele incidente no palácio?

 Emilia provocou, divertindo-se com a reação de Subaru. A simples menção ao evento costumava deixá-lo constrangido e indignado. Mas quanto tempo havia passado desde então?

– A memória ainda está muito vívida para que eu possa simplesmente rir e sorrir sobre isso. Eu era jovem na época, e refleti sobre minhas ações. Gostaria que ele fizesse o mesmo. – respondeu Subaru.

– Mas ouvi dizer que vocês já se desculparam e fizeram as pazes. É tão deselegante fazer desculpas superficiais e continuar a ferver por dentro. – Emilia observou.

– Mnngh——— Mas eu sou apenas humano!

Emilia olhou para ele com reprovação, mas Subaru permaneceu teimoso. Ele desviou o olhar e Emilia franziu a testa por um momento, mas não pôde conter o sorriso que se formou em seus lábios.

– Tudo bem, Subaru. Você pode ser egoísta, mas não está autorizado a brigar com Julius se o encontrarmos em Pristella. Você é um cavaleiro agora, e os cavaleiros não devem usar seu poder de forma inadequada.

– Sim, sim, você venceu, minha Soberana.

Subaru tenta disfarçar seu rosto corado com algumas piadas e esfrega o lábio superior. Ele olha distraindo para o quarto de Emilia antes de parecer se lembrar de algo.

– Oh sim, Emilia-tan. Eu realmente não sei muito sobre Pristella, ela é conhecida por algo?

– Hmp, você precisa estudar mais, Subaru. – Emilia respondeu. – Pristella é uma das cinco principais cidades de Lugnica. Fica no Rio Tigracy, marcando a fronteira com Kararagi. É famosa por ser construída sobre um grande lago, com canais fluindo pela cidade.

– Ok, então, deixando de lado todas essas informações secundárias, ela é uma cidade flutuante. Bem, temos Veneza, então isso também deve ser possível aqui.

Veneza vem à mente quando se fala em cidades aquáticas. Rodeada por água, com lagos serpenteando pela paisagem urbana de pedra. É um dos destinos românticos que todos devem visitar pelo menos uma vez na vida, e Subaru a associa a um lugar pitoresco também. Essa é a impressão que ele tem de Pristella.

– Não, Subaru. Pristella não é uma cidade flutuante, é uma Cidade das Comportas.

– Comportas? – Subaru repetia, curioso.

– Sim. É uma cidade no meio de um lago, então inunda quando chove. Construíram paredes enormes ao redor da cidade para evitar isso, e há comportas para regular os níveis de água. As comportas são tão incríveis e famosas que eles não a chamam de cidade flutuante, mas sim de Cidade das Comportas.

A explicação de Emilia transforma a ideia de uma bela cidade aquática em uma jaula aquática fechada. O conceito é tão belo, mas então eles arruínam tudo com essas paredes gigantes. Subaru inclina a cabeça, perguntando-se por que criariam todo esse mecanismo.

– Eu acho que existem várias teorias por trás da construção da cidade. Como, eles estavam testando os limites da tecnologia deles, ou tentando dominar as enchentes sem contar com magia ou o Dragão, ou tentando aprisionar uma poderosa Majuu maligna. – Emilia contou.

– Nenhuma delas parece razoável, mas todas elas de alguma forma parecem possíveis, o que te faz pensar que foram os humanos que a construíram. – Subaru respondeu.

Uma pessoa mediana não viria com essa ideia, mas os gênios da humanidade são fundamentalmente liberados dos reinos do senso comum. E algumas vezes as ideias deles são realizadas. Seja como for,

– Mas nós ainda não sabemos o que eles estão planejando. Duvido que eles apenas estão sendo gentis e nos dirigindo para aquilo que nós estamos procurando. – O rapaz diria.

– Você tem certeza? Você já considerou acreditar mais nas pessoas, ao invés de ser tão desconfiado?

– Desculpa, mas todas as candidatas têm seus defeitos. E eu não confio naquilo que elas estão tramando nem por um segundo.

Crush por si só é confiável, mas Subaru não sabe se ela irá continuar uma dama recatada, e ele tem que ser cauteloso com Felix. O problema é resolvido se Wilhelm tomar as rédeas de Felix, mas o Demônio da Espada também coloca Subaru à flor da pele. Conhecendo as circunstâncias, é difícil confiar neles quando eles forem deixados à própria sorte.

Subaru não tem ideia do que Anastasia está pensando, ou o que a motiva. Ele não consegue adivinhar os motivos dela para enviar esse convite. Julius pode até ser o Cavaleiro entre os Cavaleiros, mas é Anastasia que está no controle definitivo. E a vida de negócios dos membros da Presa de Ferro não está relacionada com quem eles são como pessoas. Subaru não consegue desgostar deles.

Reinhard e Rom da Facção de Felt talvez pudessem merecer confiança. Mas os pensamentos de Felt são incertos para Subaru. Contanto que ela continue desejando participar da Seleção, Subaru deve se preparar para o caso da diabólica garota traiçoeira estar planejando algo. Se ela seriamente utilizar Reinhard, e ele virar inimigo deles, a chance deles o vencerem em combate é um sonho entre os sonhos.

A facção de Priscilla é a mais difícil de ser ler. Subaru não consegue confiar em nenhum deles. Al pode ter vindo do Japão, mas ele é surpreendentemente leal a Priscilla. Logo ele não irá pôr-se em pé por Subaru, enquanto o capricho de Priscilla já é aterrorizante o suficiente. Ela poderia aleatoriamente fazer uma visita para decapitá-lo com um sorriso em seu rosto. Esse é o nível de absurdidade dela.

Apesar de que um ano se passou, nenhuma das candidatas sabem as motivações das outras. Subaru precisa investigar mais a fundo se ele quiser saber mais do que ele aprendeu no Palácio. O que é um motivo para aceitar esse convite.

‐ Sinceramente, eu estou apavorado com a ideia de ficar devendo para alguém como a Anastasia. Como foi que ela sequer descobriu que você estava procurando por um cristal mágico incolor, afinal?

– Puck foi revelado no Palácio naquela vez que Akashi e você chegaram lá de surpresa, e eu não queria que ninguém soubesse que ele é limitado. – Emilia respondeu. ‐ Eu estava sendo tão cuidadosa— mas não tem como impedir as pessoas de sair dizendo coisas.

A meio-elfa turvou seu olhar, encarando o chão, sua expressão era triste e, ao mesmo tempo, confusa.

– É isso o que acontece. Então mesmo que nós peguemos o cristal mágico, isso significa apenas que as coisas estão de volta para a situação atual do ponto de vista das outras facções. Os benefícios estão em estabelecer essa dívida.

Portanto, a volta de Puck aumentará ainda mais a força de combate de Emilia, que já é considerável. Porém, somente ter mais força de combate não garante o sucesso de Emilia na Seleção. Na verdade, isso só tornaria mais impressionante a vitória deles sobre o Grande Coelho no Santuário.

A segunda façanha da Facção de Emilia, além de derrotar a Preguiça do Culto da Bruxa, infelizmente não é reconhecida pelo público. Ninguém presenciou a derrota do Coelho, e é impossível coletar qualquer corpo como prova, e mesmo que conseguissem, seria perigoso que ele apenas se fingisse de morto para depois atacar novamente enquanto se multiplica. A aparição do Grande Coelho na Capital poderia causar um caos e provavelmente dificultaria derrotá-lo caso não houvessem forças suficientes para isso.

Eles mandaram aquela coisa para outra dimensão para que nunca mais voltasse. É a verdade, mas não é convincente. O feitiço Al Shamak que Beatrice usou foi esquecido em outras eras, e ela não tem mana para demonstrar essa técnica novamente.

Então, embora eles tenham reportado a derrota do Coelho para a Capital, essa façanha ainda precisa ser comprovada. E se eles derem muitos detalhes, eles teriam que descrever o Santuário em detalhes também, e isso revelaria que Roswaal mantinha uma vila secreta em seu território. No final das contas eles tiveram que parar de insistir nisso, ou Roswaal e até mesmo a facção em geral, teriam problemas.

Eles foram informados que suas alegações ganhariam credibilidade se os Coelhos não aparecessem pela próxima década, mas a essa altura isso seria tarde demais para ser uma façanha útil. Apesar de que isso não incomoda muito Emilia, já que tudo aconteceu de forma muito repentina.

‐ Mas ainda sim é muito irritante. Sinceramente não consigo nem descrever quanta dor esses malditos coelhos me fizeram passar...– Subaru reclamou.

‐ Mas nós realmente derrotamos o Grande Coelho, mesmo que eles não acreditem na gente. Aquele majuu assustador não irá machucar mais ninguém. Isso não é o suficiente?

‐ Emilia-tan, você é positiva e generosa demais...

Emilia diz bondosamente que quem faz algo justo merece reconhecimento. Subaru se sente miserável ao ouvir isso. Como ele gostaria de pensar como Emilia. Mas ele sabe que nunca conseguiria. Ele se irrita por não receber o reconhecimento que acha que merece.

Subaru fica de cara fechada, e Emilia sorri ao ver isso. Subaru não notava que Emilia às vezes o olhava com ternura, ou que a expressão dela nessas momentos não tinha o brilho maternal de uma mãe vendo um filho, e sim algo inexplicavelmente complexo.

– E as pessoas já sabem que você conquistou coisas, Subaru. É formalmente reconhecido que você lutou contra a Baleia Branca e derrotou a Preguiça.

– Em relação a esse... Realmente parece que eu só peguei os restos. As outras pessoas estavam fazendo muito mais do que eu contra a Baleia Branca, até o Akashi conseguiu encher ela de surra só pra vingar a quase morte do Wilhelm... sinceramente, ele sempre foi muito impulsivo e explosivo demais, aquilo poderia ter o matado se não fosse o poder do Kairus, mas e eu? Só aconteceu de eu prendê-la no momento perfeito no final. E eu nem sequer derrotei a Preguiça com esse objetivo em mente.

Ele só pensava em proteger Emilia durante a batalha contra Petelgeuse, e ter o Akashi e Julius por perto, lhe davam uma boa certeza de que matariam Petelgeuse e garantiria a segurança de Emilia. Mas isso não é exatamente verdade. O que Subaru sentia naquele momento era não apenas o desejo de proteger Emilia, mas também ódio pessoal por Petelgeuse. Não importa qual dos dois é legítimo. Os dois são, e os dois são o desejo pessoal de Subaru. Ele fica incomodado com a ideia de que uma luta motivada pelo seu rancor pessoal seja vista como sendo pelo bem de todo o mundo.

- Mas é o mesmo caso para o Grande Coelho. Você derrotou os dois Majuus que assolavam o mundo por quatrocentos anos em um tempo tão curto... – Emilia afirmou, tentando contentar e enaltecer Subaru e seus feitos. – Eu sei que eu não posso falar muito, mas parece que você está fazendo muuuuuito mais do que você deveria, ah, e o Akashi também! Afinal, ele esteve com você desde que o deixamos na Capital e lutou ao seu lado nas batalhas perigosas.

- É. Tanto ele quanto eu estamos envolvidos nos dois casos. Sinceramente, eu acho que o que eu fiz foi demais pra quem sequer consegue lutar, eu agradeço por ter a Rem e o Akashi comigo durante toda aquela situação. Só espero que essa última não apareça.

- É... – Emilia concordou quanto á última fala de Subaru.

Subaru confia no poder das palavras e reza para que ele nunca encontre a Serpente negra.

- Bom, sobre Pristella.

Antes que ele possa lidar com a mudança de atitude dela, Emilia muda de assunto. Claramente ela não queria falar sobre isso. E, tendo se tornado uma pessoa mais sábia, Subaru decide não forçar uma explicação dela. Embora às vezes ele se esqueça de prestar atenção nessas coisas e aja exatamente como ele era acostumado.

- Nós sabemos que nós vamos, mas nós vamos mesmo com as mesmas pessoas? Eu queria conversar com o Roswaal sobre isso, também. – Emilia falou.

- Eu acho que nós estamos bem. Se você vai, então naturalmente seu Cavaleiro, que sou eu, e minha parceira Beako também vão. Mas falando sério, nós levaremos Garfiel para combate e Otto também, já que ele está tão insistente em ir. Eu queria muito que Petra ou Frederica fossem também para que todas as suas necessidades fossem atendidas, mas...

- É uma pena. Roswaal está ocupado com o Encontro dos Lordes do Oeste. Nós sabemos que Petra precisa acompanhá-lo para seu treinamento de empregada. Embora ela fique beeeeeem irritada com isso.

- Porque ela detesta Roswaal completamente depois do incidente do Santuário. Roswaal gosta disso, o que acalma a Ram, o que me lembra da vez que Akashi socou Roswaal tão forte que causou um estrondo, a Ram ficou uma fera, mas quanto a Petra...

A garota está crescendo de forma justa e brilhante como empregada, mas sua essência ainda é perigosamente infantil. A grosseria dela com o mestre é especialmente notável, e ela teoricamente poderia fazer um chá para ele com a água da roupa torcida. Mas como Subaru está do lado da Petra, ele está preparado para fazer vista grossa mesmo que ele hipoteticamente a pegue fazendo isso.

Somente o tempo irá consertar a confiança quebrada. Mas parece que um ano ainda não foi o suficiente para a Petra começar a ouvir Roswaal.

- O que significa que Frederica deveria ir com eles para moderá-la e servir como modelo de etiqueta apropriada, o que faz com que Ram fique na mansão. Espere, isso é perigoso.

- Sério? Anne também irá ao encontro, então Clind vai junto. Tenho certeza de que ele será amigável com Petra, então talvez Frederica não precise ir.

- Clind... Eu realmente não o entendo.

Subaru pensa no poderoso mordomo da Mansão Miload, onde o grupo ficou enquanto a mansão deles estava sendo preparada. Ele trabalha de forma tão refinada que os olhos não conseguem acompanhar. Não é bem um elogio, mas é o que o descreve.

O treinamento de Subaru com o Parkour também começou com Clind, que o ensinou os básicos. Ele treinou Subaru, que não conseguiria superar os limites físicos de um homem normal, quando ele estava tentando aprender a se movimentar sem superar seus limites. Annerose e Clind visitaram a nova mansão várias vezes para dar uma volta. Clind supervisiona Subaru praticando o parkour, mas então Clind superou a pista de obstáculos de Garfiel sem derramar uma gota de suor e sem bagunçar suas roupas. Ele não é humano.

– Mas deixando de lado quem ficará na mansão, nós não devemos nos preocupar muito com isso. E de qualquer forma eu deveria ser aquele mais preocupado em ser cauteloso. Vale pra você também, Emilia-tan.

– Mm. Eu me sinto mal por tomar decisões sem fazer uma discussão. Eu terei que pedir desculpas para o Otto.

– Ele não liga muito para a dignidade dele, mas ele guarda rancor por anos. Eu vou falar pra ele que eu te coloquei de castigo a ponto de você chorar.

– Heehee, obrigada.

Pensando no jovem dos cabelos brancos, Subaru arqueou as sobrancelhas, claramente curioso sobre algo.

– A minha maior dúvida é... como será que o Akashi está indo? Digo, será que ele já está voltando?

– Tenho certeza de que logo ele voltará, do jeito que ele aprendeu tão rápido as tarefas na mansão, acredito que os treinos com o senhor Halibel tenham sido facinhos. – Emilia acenou com a cabeça, sorrindo docilmente.

Subaru olhava incrédulo para Emilia, murmurando...

– Você está mesmo comparando tarefas domésticas com um treinamento de shinobi?

– De qualquer modo, quando ele chegar, vamos comemorar todos juntos seu retorno. Tenho certeza de que ele ficará muito feliz.

Vendo o sorriso genuíno de Emilia, Subaru também sorriu, suspirando e fazendo sua afirmação.

– A Emilia-tan é tão gentil.

– Sou, mesmo?

– É, isso aí. – Subaru ergueu seu punho cerrado, erguendo um polegar em confirmação. – Eu estou de apoio em comemorar o retorno dele, aliás.

Subaru dá um golpe no ar, e Emilia sorri. Ela põe a mão dela em seu peito e toca o pingente de cristal azul. Mesmo agora, o Grande Espírito Puck dorme naquele cristal.

Ignore o verdadeiro poder dele, essa jóia não é forte o suficiente sequer para que ele se comunique. Se ele sequer se contrair, a jóia irá quebrar e ele irá ser liberado— ou pelo menos é isso o que Emilia e Beatrice dizem. Uma vez livre, Puck irá involuntariamente trazer grande destruição ao ambiente, eventualmente ficar sem mana, e desaparecer de volta para o lugar de onde ele veio.

Emilia está constantemente fornecendo mana para o cristal para que isso não aconteça, e preservando o Puck. Agora eles apenas precisam fazer um bom cristal com a pedra mágica incolor e eles poderão ser capazes de restaurá-lo. Anastasia está dizendo que ela viu pedras mágicas que conseguiriam aguentar esse tranco.

– Quando eu falar com Puck novamente... terá tantas coisas que eu gostaria de perguntar a ele. Então—...

Emilia fecha seus olhos, sem dizer mais nada. Os longos cílios dela se estremecem, e Subaru silenciosamente coça a cabeça dele. Ele só consegue entender vagamente o que Emilia está pensando.

– É melhor você vir aqui logo, seu gato espírito. Eu tenho uma montanha de reclamações para você.

E, como o cavaleiro dela deveria, ele concorda com ela juntamente com os insultos dele.

Retornando á mansão Miload, Akashi acenava para Clind. O garoto, já dentro da carruagem, sorria com uma expressão de cansaço e sono para o mordomo que o acompanhou até o momento do embarque.

– Tenha uma boa viagem, senhor Taiga, senhor cocheiro, lembre-se de passar pela cidade de Costuul e não pela floresta ao redor. Durante a noite, pode ser arriscado.

– Pode deixar, eu vou garantir de seguir o conselho. – O cocheiro respondeu, sorrindo e fazendo um jóia com sua mão, claramente cansado e exausto, mas pretendendo seguir com seu dever até Akashi estar em casa.

Akashi logo diria, com um tom amigável para Clind.

– Sei que a dona Annerose está ocupada, mas fala pra ela que eu mandei um "oi". E que sinto muito por chegar e sair tão rápido.

– Pode deixar, eu a direi, com certeza. – O mordomo sorria, vendo a carruagem iniciando a viagem e o dragão correndo enquanto a puxava.

Akashi via Clind acenando, cada vez mais se distanciando. A mansão Miload se encontrava fora da cidade de Costuul, enquanto a mansão do Mathers era próxima á cidade. Essa viagem deveria levar menos que uma hora... ou pelo menos era pra ser assim.

De volta á mansão do Mathers...

– Olha! Eu estou dizendo isso com os interesses de todo mundo em mente!

Otto Suwen bate com seu copo na mesa, claramente de mau humor. Após a conversa dele com Emilia, e o jantar, Subaru decidiu ver Otto antes da sua rotina noturna, e ele o escutou reclamando bêbado durante o tempo todo.

– Ele já tá um tempão nisso daí. Minhas incríveis orelhas já estão cansadas!

Garfiel mostra sua indignação, se sentando ao lado de Subaru enquanto ele ouve Otto resmungar. Ele coloca o mindinho em sua orelha e coça a cabeça, suas presas rangendo enquanto ele toma o copo de leite dele.

Subaru defende que eles não devam dar álcool para menores como ele. Frederica e Ram apoiam, e ele está tentando estabelecer uma idade de vinte anos como a idade mínima para beber na Mansão de Roswaal. Uma vez Otto também ofereceu um gole de álcool para Garfiel e descobriu que ele não suporta beber de jeito nenhum. Agora só de ver uma garrafa ele já faz careta.

Subaru não irá violar as leis do antigo mundo, então os únicos que bebem na mansão são Roswaal, Otto, Ram e Frederica. O que significa que o único bebedor nesse cômodo é Otto.

– Ora, não fique de mal humor. A Emilia sente muito por ter decidido tudo sozinha. Ela sabe que deveria ter discutido sobre isso. Não pense que isso faria alguma coisa mudar de qualquer forma. ‐ Subaru diria, se desculpando por Emilia enquanto tenta tranquilizar Otto.

– Mas existem coisas além das conclusões. O processo também é importante. É comum ter conversas onde a conclusão já é clara desde o começo, mas o caminho que você segue para chegar lá é essencial. Especialmente quando nós estamos aceitando a oferta deles de forma descuidada... você não pode cair nas mãos dos inimigos!

Subaru tenta aliviar as coisas, mas Otto o repreende. Ele está completamente certo então Subaru não consegue rebatê-lo, porém...

– Mas que diabos, você realmente parece um cara dos assuntos internos. Isso depois do tanto que você resistiu à ideia? Acho que você não estava tão relutante afinal das contas. - Subaru prosseguiu.

‐ A gente só ta aceitando a droga do convite, não é tão complicado, Otto.

‐ É quase revigorante o quão pouco vocês mudaram!

e Subaru se joga em cima de Garfiel em sincronia e batem as mãos. Os três amigos têm idades parecidas, e costumam sair juntos. É bonito o quão naturalmente as conversas deles sempre seguem esse mesmo ritmo.

Não importa o que o Otto pensa. Ele é um ótimo Ministro de Assunto Internos. Ele foi criado como um filho de comerciante, aprendeu os costumes do mundo como um comerciante viajante, e ele é inteligente e calculista. Isso deve ser um destino melhor para ele do que arriscar que alguém o engane e ele se torne um escravo. Mas, ele ainda balança a cabeça, se perguntando como isso aconteceu com ele enquanto ele se ferra com esses montes de papelada. O cara é teimoso.

Já que ele já viu a papelada confidencial de Roswaal, ele está acostumado com seu posto como ajudante da Emilia, e ele está atolado com a administração do território do Marquês Mathers. Logo, ele não tem saída.

‐ O que é esse, esse olhar penoso? É como se vocês estivessem encarando uma galinha segundos antes de estrangulá-la!

‐ É mais como se eu estivesse olhando para uma bateria de gaiolas com galinhas que vivem apenas para botar ovos.

‐ Isso é ainda pior!

‐ Ora, chefe, fique quieto. E para de provocar o Otto dessa forma. As regras dizem para trabalharem dez Ottos por dia.

‐ O quanto é isso? Quanto é dez Ottos por dia?!

Grita Otto, com o rosto corado, mas nem Subaru nem Garfiel responderam. É assim que as coisas são quando ele está bêbado. Ele está trabalhando em um emprego estressante, então eles dão a ele o tempo dele beber, mas isso na verdade pode encorajar ainda mais estresse.

‐ Parece que o Otto descarrega melhor gritando mesmo.

‐ Claramente não!

‐ Arram, arram, agora fica quieto e pegue mais um copo. Então, Chefe, tem um negócio que eu quero confirmar contigo.

‐ Oh? Essa é rara. Continue.

Otto resmunga enquanto ele enche seu copo e bebe discretamente. Garfiel desvia o olhar dele, a sua boca branca de leite.

‐ É sobre o que os inimigos tão fazendo, óbvio! As candidatas nunca tiveram nenhum tipo de confronto até agora, e agora ela tá na nossa cara caçando briga. Ela deve estar aprontando alguma coisa, não acha?

‐ Você tá querendo dizer... então, você está achando que ela está só chamando a gente para um duelo?

‐ Claro que eu tô, porra. ‐ Garfiel o respondeu, franzindo as sobrancelhas. ‐ É o que ela tá querendo. Esquece aquele magrelo do Joshua e o que ele disse na reunião, cê viu aquela moleca gata que tava com ele?

‐ A moleca gata é da mesma idade que você.

Esse comentário é muito sem gosto para Subaru realmente fazer. Mas qual é o problema dele com a Mimi? Até onde Subaru sabe, ela estava agindo da mesma forma de sempre, apenas caçando o chá dela e os biscoitos. E ela fez a mesma coisa no jantar também.

‐ Aquela garota é forte pra caramba. E ela tava encarando meu incrível eu, não só durante a conversa, mas durante a janta toda. Ela deve ter se ligado que eu sou o cara mais forte desse lugar.

‐ Você tem certeza…? Não, quero dizer, Mimi é forte, e ela é do tipo viciada em batalha, mas... além dela já ter visto o Akashi em ação...

Ela não parecia ser ligeiramente esperta o bastante para ter intenções escusas. Subaru só consegue ver ela como transparente, ou na verdade apenas uma cabeça-de-vento.

‐ Hahh! Aquele lá não é nem metade do que eu sou agora. De qualquer forma, ela tá de olho no meu incrível eu enquanto ela ta aqui. Melhor garantir que você e a dona Emilia não sejam pegos por ela enquanto a gente tá aqui. Chefe, o Otto é uma coisa, mas nós nunca vamos nos recuperar se a gente te perder.

‐ Você percebe que esse feudo seria um desastre total se eu não estivesse aqui? Eu gostaria que você levasse isso em consideração às vezes!

Garfiel não está tentando menosprezar Otto enquanto ele exige cautela. É só que ele precisa fazer uma comparação se ele quer que Subaru entenda seu ponto. Apesar de que ele não perdeu a oportunidade de brincar com Otto.

‐ Sim, eu definitivamente irei contar com você pra isso. Não quero levantar muita bandeira então eu serei curto, mas, eu estarei contando com você, Garfiel. Na ausência do nosso espadachim, você é nosso escudo e vigia também.

‐ Arram, pode confiar. Confie no Mais Forte dos Escudos, vulgo Guardião Lendário, Garfiel Tinzel! Aquele que arrebentou até mesmo aquele idiota do cabelo branco duas vezes seguidas!

Garfiel orgulhosamente aponta para si mesmo com seu dedão. Subaru acena com a cabeça para ele. Ele bebe um gole do seu próprio copo de leite, se lamentando com o quão incríveis são os títulos que Garfiel conseguiu, mas acha que se vangloriar de vitórias onde Akashi estava claramente em desvantagem, ou da vez em que o plano era apenas segurar Garfiel, seria injusto... mas uma luta é uma luta.

‐ Eu me pergunto se algum dia eu terei um ataque de gênio como quando eu nomeei a Providência Invisível... somente o destino quando ele vai sorrir pra mim de novo. Talvez eu quisesse um cristal carmesim pra mim também, mas não deve ser muito legal ter um cara falando na sua cabeça e você nem poder calar a boca dele.

‐ Você tá pensando em alguma coisa de novo. Mas não precisa se incomodar, chefe. Você vai conseguir fazer as coisas quando realmente for a hora. Eu tenho fé nisso.

É a mesma coisa com Emilia, mas a confiança no olhar de Garfiel é incrivelmente convincente. Ela instantaneamente faz Subaru sentir que ele deve corresponder essa confiança. Ele está tentando não confundir o auto-aperfeiçoamento necessário para alcançar essa confiança com esforço cego e mal direcionado.

‐ Se nós temos o Garfiel então não precisamos nos preocupar com nosso poder de combate. Emilia-tan é bem forte por si só também, e eu sou decente o bastante com Beako. O problema aqui é o Otto… você realmente vai vir com a gente?

‐ É obvio que eu vou! Eu não quero nem imaginar em que tipo de situação insana você e a dona Emilia vão se enfiar se eu não for com vocês!

É até eletrizante o quão pouco eles confiam em Subaru quando se trata de negociações. Emilia é tão honesta e pura o quanto ela parece, e Subaru apesar de ser diabólico ele também é inexperiente. Então naturalmente eles parecem dois patinhos sentando do lado do Otto.

‐ Além disso, Pristella é a cidade natal do Hoshin das Planícies, o fundador de Kararagi. Ela tem contato com Kararagi já que fica na fronteira, fazendo dali um lugar bem relevante para comerciantes. Eu me vejo obrigado a visitá-la também.

‐ Eu pensei que você tinha largado completamente a ideia de ser um comerciante há um tempão atrás. Onde é que você tá com a cabeça, afínal?

‐ Você está enganado se você acha que eu vou me render à ideia de ser um Ministro de Assuntos Internos para sempre! Meu objetivo final ainda é ser um comerciante bem sucedido com sua própria loja! Esse é um caminho necessário para chegar lá, um caminho necessário para o meu objetivo final!

‐ É bem possível que esse seja o caminho que te leve pra tua morte.

Essa história de prender ele aqui é honestamente bem superficial e se ele quiser ir e ajudar eles como Ministro de Assuntos Internos, faz sentido que Otto junte-se a eles. Todo mundo na mansão sabe, apesar das provocações, que eles não conseguem funcionar sem o Otto. E Otto sabe disso, também, e é por isso que ele não pode se afastar.

‐ Ou talvez você seja só um masoquista, mas eu não vou considerar isso. ‐ Subaru diria, cruzando os braços enquanto sorria levemente.

‐ Por acaso você concordou comigo de uma forma incrivelmente rude ou eu só estou imaginando isso!? ‐ Pergunta Otto, claramente surpreendido com o fato de que Subaru concordou com ele, afínal é até raro.

‐ Não importa. Anastasia estará lá, e nós não sabemos em quais termos ela irá tocar com a gente. Mas estamos contando com você. Você na parte burocrática, Garfiel na parte militar. E eu estarei lá para fazer as coisas ficarem mais divertidas.

‐ Faça mais coisas!

Subaru poderia tentar o seu melhor, mas ele nunca seria mais forte do que Garfiel. Ele poderia estudar ao seu máximo, mas ele nunca seria melhor do que Otto como um burocrata.

‐ Apenas farei o que eu tiver que fazer. Esse é um dos pontos positivos para auto-aperfeiçoamento que eu refleti sobre com a Beako.

‐ Cê vai ficar bem se a dona Emilia e a Beatrice estiver contigo. O que quer dizer que meu eu incrível vai fazer cobertura para o Otto. Fica de olho nas tuas costas por mim, beleza?

‐ Por que parece que eu sou o maior fardo aqui? Eu não consigo admitir que eu concordo com isso!

Subaru fica sério, e Garfiel aceita seu posto de babá. Otto se queixa e toma outro gole de sua bebida. A noite fica mais escura, o clima era bem agradável.

‐ Bom, já que nós vamos estar ocupados amanhã, eu vou parar por aqui. E quanto a você, Garfiel?

‐ Eu vou ficar mais um pouco aqui e beber mais um pouco com o Otto. Eu tô bem próximo de ganhar dele no Xatranje. Devo conseguir agora que ele tá bêbado.

Garfiel desconsidera Subaru e pega um tabuleiro e algumas peças no fundo do cômodo. O jogo é chamado de Xatranje, com regras similares ao Shogi ou Xadrez. Subaru fica impressionado em como todo mundo tem esses jogos. Otto é aparentemente muito bom nesses jogos, e apesar de que Garfiel tem se esforçado ao máximo, ele apenas perdia e perdia. Subaru é escandalosamente bom em Othello, mas ele sofre com Shogi e Xadrez.

‐ Não fique acordado até tarde. Isso vai atrapalhar seu crescimento.

‐ Eh? Você já falou nisso uma vez então eu tô fazendo isso, mas você tem certeza que isso funciona mesmo? Meu incrível eu sente que eu não cresci nem um pouco esse ano.

‐ Frederica absorveu um pouco do crescimento então seu caso é complicado.

‐ Vai se foder, Irmãzona!

Ruge Garfiel, rangendo seus dentes enquanto ele bate o tabuleiro de Xatranje na mesa. Ele então começa a meticulosamente arrumar as peças pequenas. Então ele observa Garfiel, Subaru acena para Otto, que está corado.

‐ Não vá ficar muito bêbado também. Se você ficar de ressaca e inutilizável, Petra vai piorar ainda a impressão dela sobre você.

‐ Eu sinto que ela tem sido um pouco cruel comigo recentemente, mas talvez seja impressão minha. Você poderia ter uma conversa com ela?

‐ Quer dizer, falar para ela se esforçar mais?

‐ Eu claramente estava te pedindo para falar pra ela ser mais gentil comigo!

Subaru responde com um sorriso amargo, dizendo para Otto que isso é impossível, e ele deixa ambos jogarem Xatranje enquanto ele sai do cômodo. As luzes do corredor indicam para Subaru que já quase se passou da meia-noite. Normalmente ele já estaria na cama a essa hora, mas...

‐ Acabei chegando tarde hoje...

Subaru ignora a escadaria para seu quarto no terceiro andar da ala leste, e vai em direção ao dormitório feminino na ala oeste. Onde...

‐ Você se importa se eu entrar?

Subaru sempre bate na porta. Ele sabe que ninguém irá responder. Nesse caso ele fala isso por que ele tem esperança? Ou talvez ele confirme que não tem resposta, para que ele não se esqueça. Para que ele não se esqueça do inferno, sempre ardendo em seu coração?

Subaru, silenciosamente, abre a porta. Um quarto escuro o recebe. É um quarto simples. Sua configuração é idêntica aos outros incontáveis quartos de convidados na mansão, mas esse plenamente carece de mobília. Apenas uma cama no meio do quarto, janelas, cortinas, uma mesa pequena e um vaso com flores. Subaru sabe que ninguém irá reclamar, mas ele ainda não gosta da austeridade.

Chame de sentimentalismo, mas ele deseja que o local tenha mais calor humano. Talvez nunca chegue o dia onde ele não consiga não considerar esse desejo como uma fraqueza.

‐ Se você pudesse racionalizar as coisas dessa maneira, eu não acho que nós conseguiríamos encontrar um denominador comum para nossos argumentos um dia. Eu gosto taaaanto de você do jeito que você é. – Emilia lhe diria, numa memória de Subaru.

‐ É um vício querer coisas além das suas possibilidades, de fato. Subaru, você é descuidado quanto está sozinho, eu suponho. —Mas você não está sozinho mais, então eu irei fazer algo por você mesmo que você esteja sendo ganancioso, de fato. ‐ Beatrice também o diria, em lembranças do rapaz.

‐ Elas estão me mimando. E Emilia-tan está tentando com essas declarações provocativas.

Subaru queria que ela fosse mais cuidadosa ao dizer 'Eu gosto de você' ou 'Você é tão legal'. Ele já declarou seus sentimentos, mas Emilia é muito inocente sobre isso. O relacionamento deles ainda não chegou ao nível romântico. Mas mesmo que chegasse, Subaru ainda não estava pronto mentalmente para isso. Ele precisava de mais dois anos, não, três - ou até mais, se possível. Esse era o tipo de fracassado que ele era.

- Meu Deus, é tão indelicado da minha parte ficar falando da Emilia ou da Beatrice enquanto eu estou aqui. Petra me daria um tapa se me ouvisse.

Petra talvez fosse a que melhor entendia de romance e suas nuances na mansão. De algum modo, todos eram péssimos com relacionamentos. Roswaal liderava com sua obsessão doentia, enquanto os outros também tinham seus defeitos. Os sentimentos de Garfiel por Ram ainda eram uma paixonite de escola, embora Subaru não tivesse moral para criticá-lo. As ideias de Ram sobre amor e lealdade extrema eram perturbadoras, e a vida amorosa de Frederica era um mistério. Às vezes, quando Otto estava bêbado, ele se gabava de ser um conquistador, mas todos sabiam que era mentira e exagero. Era uma vergonha para esses adultos que uma garota de treze anos os superasse.

- É assim que as coisas são. Eu não acho que essa tendência vai mudar muito, mesmo depois que você acordar. Seja porque eu sou um fracassado, ou porque você me admira.

Subaru pegou uma cadeira e se sentou ao lado da cama. A luz da lua entrava pela fresta das cortinas, iluminando o rosto dela enquanto ela dormia.

A luz da lua banhava o rosto pálido dela, seus lábios rosados. Ela era uma bela adormecida de cabelos azuis curtos, o corpo curvilíneo dela coberto por uma camisola fina. O peito dela subia e descia conforme a respiração dela.

Ela dormia há um ano.

‐ Tenho várias coisas para te contar hoje, já que alguns visitantes apareceram sem serem convidados, e com uma oferta maluca. Eu comecei o meu dia com o meu—...

Subaru conversa calmamente com ela enquanto ela dorme. Ele usa a mesma fraseologia de sempre, mas o tom dele é incrivelmente gentil. Ele fala como se estivesse recitando uma canção de ninar para uma criança dormir enquanto ele alegremente conta para ela sobre o dia dele.

Ela não responde. Apesar disso, esses encontros acontecem toda noite. Essa noite é um rifle cheio de munição de coisas para discutir. Até que a lua se abaixe no céu, a história continua entre Subaru e a Bela Adormecida.

Enquanto isso, a carruagem da mansão Astrea seguia viagem pela estrada noturna. Eles já haviam deixado Costuul para trás e estavam a poucos minutos da mansão do Mathers. O cocheiro, com uma expressão sonolenta, coçava os olhos enquanto tentava se manter acordado. Ele tinha um corpo grande, com cabelos, bigode e olhos roxos. Seu terno esvoaçava com a velocidade da carruagem enquanto ele suspirava.

Akashi Taiga estava adormecido, deitado em um dos assentos confortáveis. Ele sonhava com o seu reencontro com seus amigos e com a derrota de Cecilus Segmunt, tendo vingado Halibel e Lye...

- Volte.

Uma voz ecoou na mente do garoto, interrompendo seu sono. Ele ignorou de início, se ajeitando no assento e resmungando algo como "só mais um pouco".

- Volte, Akashi Taiga.

A voz voltou, mais séria e urgente, despertando Akashi enquanto ele abria os olhos. Ele não entendeu o que estava acontecendo, mas antes de qualquer pergunta...

O espaço se distorceu, tudo congelou, Akashi arregalou os olhos e rapidamente se levantou do assento, sentindo tudo girar e seu corpo fraquejar. Ele se perguntou...

- O que é isso?! O que está acontecendo?!

O jovem dos cabelos brancos olhou em volta, procurando por alguma explicação. Ele viu o cocheiro, que estava paralisado no seu lugar, com uma expressão de surpresa. Ele viu a carruagem, que estava suspensa no ar, sem nenhum sinal de movimento. Ele viu a estrada, que estava deformada e distorcida, como se fosse uma pintura borrada.

Mas não viu nada que fizesse sentido, era bizarro e muito estranho, por que isso acontecia? Por que parece que alguém não quer Akashi por lá? Será possível que a presença de Akashi na região do Mathers é indesejada ou proibida?

- Quem é você?! O que você quer de mim?!

Ele gritou, tentando encontrar a fonte da voz. Mas ele não obteve nenhuma resposta. Apenas um silêncio perturbador.

Ele sentiu um puxão, como se algo o estivesse arrastando para fora daquela realidade. E mesmo que resistisse, segurando-se no assento com força, era inútil. Ele não queria ir, ele não sabia para onde estava indo. Akashi queria ficar, ele queria ver seus amigos de novo.

Ele queria viver.

Mas era tarde demais.

Ele perdeu o equilíbrio, ele perdeu o contato, ele perdeu a consciência. Akashi veria o cocheiro desaparecer com a carruagem e o dragão. Ele viu a escuridão engolir tudo e, então...

Ele não viu, não ouviu e nem sentiu mais nada, até que...—

...Fim do capítulo....

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