Subaru arqueou a sobrancelha, perplexo, enquanto Mimi agitava os braços diante dele, radiante. A palavra "festa" ressoava de maneira extravagante, surgindo do nada.
– Um convite para a festa de Anastasia? – indagou Subaru – Mas, tipo, o que aconteceu? Tem algo para celebrar?
– Celebrar? – rebateu Mimi. – Uma celebração? Tanto faz! Quem liga?! Vai ser incrível, vamos nos empanturrar de comida e beber até cair! Muito divertido!
– Você claramente é jovem demais para beber. – apontou Subaru.
– Hehehe. A partir deste ano, eu sou adulta! Chefe disse que posso beber! Mas minha Patroa não deixa.
Mimi inflou o peito, orgulhosa, e os ornamentos em forma de sino em seu cabelo badalaram. Subaru arregalou os olhos, perplexo.
– Espera aí, se você pode beber, significa que já está crescida!? Nem vem. Quantos anos você tem?
– Fiz quinze anos agora! Então, sou uma adulta crescida! Já sou gente grande!
– 'Gente grande' não fala como se estivesse no primário! De qualquer forma… na teoria, ela tem a mesma idade que o Akashi... acredito que ele já tenha feito aniversário, é uma pena aquele cabeça oca não nos mandar uma carta ou a localização para podermos lhe dar os parabéns... ah, pera aí...
Recuperando a compostura, Subaru colocou uma mão no peito ao perceber as diferenças entre a vida adulta deste mundo e a do seu mundo antigo. Era essencialmente um Genpuku, onde com quinze anos você era considerado maior de idade, legalmente apto a beber e fumar.
– ...Isso é verdade, Petra? – perguntou o garoto.
– Sim, está correto. – respondeu Petra. – Se quiser saber mais, garotos deixam suas casas e começam a trabalhar aos quinze anos, enquanto algumas garotas casam nessa idade. As que não casam geralmente começam a trabalhar, como foi meu caso.
– Então você saiu de casa bem cedo. Você é uma garotinha precoce, hein?
– Hehe, sou uma garotinha precoce... Não tenho certeza se isso foi um elogio.
Petra encarou Subaru, que se dirigiu a uma Beatrice exausta. Mimi a soltara recentemente, suas tranças estavam um tanto desalinhadas. Beatrice olhou para Subaru com uma expressão irritada.
– Betty está exausta depois de participar do seu treinamento e ser maltratada por essa gata, eu suponho... Subaru, me carregue. – Beatrice diz.
– Participar? Mas você só ficou observando... – Subaru rebate.
Beatrice esticou suas mãos em direção a Subaru, que a segurou em seus braços. Como ele estava um pouco mais musculoso e ela era leve como uma pena, Subaru não se incomodava com o peso. No entanto, a cena lembrava mais um pai cuidando da filha, o que não era uma impressão ideal.
– Oooh! Você tá carregando o nenê! – Mimi exclamou. – Que incrível! Carrega eu também! Eu também!
– Com o seu Chefe pode ser diferente, mas eu fisicamente não consigo. – Subaru respondeu. – Pedido negado.
– O quê?! Isso não vale! Não vale! Injustiça! Injustiça!
Mimi começou a correr ao redor de Subaru enquanto ele segurava Beatrice, que sorria vitoriosa. Mimi agarrou a roupa de Subaru e...
– Tá bom então! Se é assim eu subo sozinha!
– Idiota! Pare com isso, você vai me derrubar. Petra, me ajuda aqui a parar— o que você está fazendo?
Subaru fitou Petra, que se aproximava dele.
– Ah, err, eu não estou com ciúmes nem nada. Com certeza não. Mas você se importaria se eu subisse em você também, Subaru-sama?
– Hmm, sim?!
Subaru estava com uma garotinha nos braços enquanto era perseguido por outras duas. A confusão continuava sem solução, até que...
– Estava me perguntando por que estavam demorando tanto e me deparo com vocês fazendo uma confusão e tanto na entrada. – Diz a voz daquela que surgia alí.
A voz gélida fez Subaru e Petra endireitarem suas posturas. Beatrice suspirou, enquanto os olhos de Mimi brilhavam de curiosidade pela voz.
A voz vinha da escadaria com vista para a entrada. Subaru olhou para cima e viu uma garota parada lá, com cabelos rosa e uma roupa curta de empregada. Seus olhos cor de cereja pareciam apáticos, e, mesmo sendo fofa, sua personalidade estava longe de ser adorável. Esta era Ram, colega de trabalho de Petra e chefe das empregadas da mansão.
Ela encarou Subaru com um olhar frio e soltou um "Ha."
– Nojento. – Disse Ram.
– Você que é a nojenta por chegar nessa conclusão! Se é saudável ou não, aí é discutível, mas você tem que admitir que é uma cena comovente! – Subaru respondeu.
– Você sempre distorce a realidade como bem entende. Mas não se esqueça, Barusu. —Eu julgo apenas com base naquilo que vejo.
– Então poderia por favor tirar esse filtro zoado que você tem antes de sair olhando por aí?
Ram olhou para ele de forma desinteressada, aparentemente sem a intenção de ouvi-lo. Enquanto ignorava Subaru, ela olhou para Petra, que começou a tremer instantaneamente.
– Petra. Eu te disse para levar o Barusu até pelo pescoço se for preciso. Gostaria de explicar o que estava fazendo aqui na entrada brincando com ele?
– D-Desculpa, Ram-nee-sama.
– Me parece que não estava ouvindo, Petra. Se não me engano fiz uma pergunta, o que estava fazendo brincando na entrada?
– Pare de falar com ela desse jeito. Era eu que estava atrapalhando ela. Não é culpa da Petra.
– Claro que é culpa dela. Eu vou te bater, Barusu. – Ram encarou Subaru, com um olhar sério.
– A culpa é um pouquinho dela! – Subaru a respondeu imediatamente.
Contente com esse meio-termo, Ram apontou com a cabeça para o cômodo atrás dela.
– Você não deve deixar a dona Emilia o esperando. Barusu, vá para a recepção no andar de cima. Petra, vá para a sala de jantar. Dona Beatrice, acompanhe Barusu.
– Claro, eu suponho.
– E eu? Vaaai, e eu? – Mimi perguntava.
Petra relutantemente soltou a manga de Subaru, mas ainda assim continuou sendo agarrada firmemente pela garota gato, cheia de energia como sempre. Ram passou para o lado as mechas que estavam em sua bochecha e respondeu...
– Peço que acompanhe Barusu para a recepção, cara convidada. Presumo que sua ausência esteja começando a deixar o seu companheiro nervoso.
– Certo. Pelo visto vou ter que voltar lá. Fiz besteira. – Mimi diria.
Até mesmo Ram era polida quando recebia visitantes. Mimi respondeu rindo bem alto, mas Subaru percebeu algo que não poderia deixar passar batido.
– Ué, um ‘Companheiro’? Mas você não disse que tava sozinha?
– Eu disse, e estou. Nem o Hetaro, nem o Tivey, nem o Chefe, nem o Julius, e nem a minha Patroa estão aqui. Só o Joshua. E eu estou sozinha sendo a garta-coshtas, garda-coshtas?
– Guarda-costas? – Subaru questiona.
– Isso! Guarda-coshtas!
Mimi estufou o peito enquanto sorria. Subaru passou a mão em sua cabeça antes de olhar novamente para Ram.
– Desculpa. Eu tava achando que era só a Mimi. Não percebi que deixei alguém esperando.
– Deu para ver. Tudo bem, mas se apresse. Não demorará muito até a paciência da dona Emilia se esgotar.
– Isso não me parece ser uma boa. Ok, até mais, Petra. E vamos lá, Mimi.
– Ihul! – Mimi comemora.
Quem seria esse tal de Joshua?
Ele devia ser alguém da facção da Anastasia que Subaru nunca ouviu falar. Se estavam mandando ele como um mensageiro e até deixando Mimi como sua guarda-costas, ele devia ser alguém importante. Apesar de Mimi não usar honoríficos ao falar dele, sua natureza amigável indicava que talvez ele não fosse tão formal.
– Assim que a poeira assentar, vou preparar tortas. Você vai experimentar, Subaru-sama?
Petra sussurrou antes de sair. Frederica provavelmente aguardava na sala de jantar. Subaru não sabia se serviriam comida na recepção, mas de qualquer forma, parecia que demoraria até provar as tortas de Petra.
– Quem está na recepção com a Emilia-tan? – Subaru pergunta.
–Apenas Otto e Garf, já que o patrão Roswaal ainda não voltou. Se o visitante for um assassino, Garf dará conta dele. – Ram respondeu.
– Não acho que precisamos nos preocupar com ataques diretos. Eu disse a Emilia-tan para usar Otto como escudo humano.
– Se me sentir ameaçada, farei o mesmo.
Não havia palavras para descrever como tratavam Otto. Bem, na verdade, havia. De qualquer forma, se Otto estava lá, provavelmente estava se esforçando ao máximo. Falhar em ajudá-lo significaria perder o Ministro de Administração Interna.
– Ele nunca é recompensado. – Beatrice pontua. – Não entendo por que é seu amigo.
– Pode ser invisível para outros, mas temos um laço sólido de amizade masculina. Firme como uma rocha.
– Ohh! Firme como uma rocha! – Mimi repetiu com empolgação.
Ram suspirou, guiando-os até a recepção, a primeira porta ao subir a escadaria. Ela bateu, e a porta foi aberta por...
– Aí está você, chefe. Demorou tanto que pensei que eu teria que ir buscá-lo. – Diz Garfiel, ao abrir a porta.
– Seria engraçado se todos dissessem que iriam atrás de mim e deixassem Otto por conta própria.
– Seria, mesmo. Agora estou imaginando ele surtando e gritando de um lado para o outro.
Garfiel, de cabelos loiros curtos, presas afiadas e cicatriz na testa, sorriu maliciosamente. Ele apontou para dentro do cômodo com a cabeça, cruzando os braços como se estivesse de guarda na porta.
– Entra logo. O visitante disse que era importante você estaparaqui pra ouvir o que ele tem a dizer. O Otto e a dona Emilia estavam tentando dar as boas-vindas pra ele, parecia mais uma comédia. – Garfiel contava.
– Sinceramente, eu queria ter visto isso.
– Chega de conversa furada, entre logo. – Ram diria, cansada de tanta perda de tempo. – Já estamos atrasados o suficiente.
– Guh. – Era a resposta de Subaru.
Ram chutou Subaru no meio das costas, fazendo-o entrar cambaleando no cômodo. A postura estranha fez todos olharem para ele. As emoções predominantes eram alívio, irritação e confusão, respectivamente.
Subaru segurou a vontade de se desculpar pelo atraso, virando-se para o indivíduo confuso. Que o olhava em silêncio.
O elegante homem olhou para Subaru, suas roupas chiques e cabelos violetas amarrados em um rabo de cavalo. Ele dava um ar de erudito, com seu monóculo reforçando a ideia. Seus olhos amarelados eram penetrantes, e seus lábios estavam selados, expressando descontentamento ao ver o desconhecido Subaru.
– E este seria…?
O visitante falou primeiro, desviando o olhar para as duas pessoas atrás de Subaru. Uma garota com longos cabelos prateados acenou com a cabeça.
– Perdão pelo atraso. —Este é Natsuki Subaru, meu cavaleiro. – Diria Emilia, também aproveitando para se desculpar pelo atraso de Subaru.
Ele sentiu suas costas formigarem. As palavras “Meu cavaleiro” eram tão maravilhosas que o cativavam sempre.
– Posso apontar que ele parece um pouco, hmm, extasiado…? – O visitante questionou.
– Subaru, pare de fazer caretas, eu diria. – Beatrice o alertou. – Ele vai acabar pensando qu… hã? Err, está segurando com muita força. Não, você está, apertando demais—Suba–Subaru! Ai! Ai, eu diria!
– Aah! Ahh, foi mal. Eu não tava com a cabeça no lugar. – Subaru respondeu.
Ele havia quase esmagado Beatrice sem querer para se distrair de seus sentimentos. Um abraço de urso ou talvez um abraço de Beako. De qualquer forma. O visitante olhou incrédulo para Subaru, que limpou a garganta e colocou Beatrice no chão.
– Como mencionado antes, eu sou Natsuki Subaru, o cavaleiro da dona Emilia. É um prazer conhecê-lo.
O visitante analisa Subaru, em silêncio.
Seu uniforme esportivo o fazia parecer desleixado, mas seus modos se alinhavam perfeitamente com a etiqueta. Ele costumava ser cínico sobre as atitudes pretensiosas dos cavaleiros, mas agora que tentava por conta própria, percebia como funcionava bem para ele. Não era uma questão de combinar ou não. Ele se sentia mais como um cavaleiro. A pressão de ser ridicularizado se desse um passo em falso mostrava a importância dessa seriedade. Sob os cuidados de Garfiel, o “Fanático por Cavaleiros”, Subaru aprendeu a se portar e não se humilhar.
Subaru olhou para Garfiel ao lado da porta com uma expressão contente. Garfiel percebeu e mostrou o dedo do meio. Subaru o ensinou, mas ele usava de forma errada. Como professor, excelente; como aluno, decepcionante.
– Não é para tanto. Eu… sou Joshua Juukulius, um mensageiro enviado pela dona Anastasia Hoshin.
– Então você é o Joshua. É um belo nome. Mesmo assim, peço desculpas pelo atraso. – Ao notar algo, Subaru pergunta. – Permita-me… Juukulius?
No meio da frase, Subaru percebeu a familiaridade da palavra e inclinou a cabeça, confuso. Joshua acenou afirmativamente.
– Isso mesmo, Subaru. – Emilia o respondia. – O Joshua é o irmão mais novo do Julius. E os dois estão dando suporte à Anastasia juntos, é tããão adorável.
Alegremente, Emilia abandonou sua atitude recatada, adotando um tom mais casual. O olhar que lançou para Subaru era genuíno. Ele soltou um suspiro, encarando Joshua de forma rude enquanto se sentava de frente para ele, ao lado de Emilia.
– Então é isso, ele é irmão do Julius. – Subaru prossegue. – Agora que eu parei para olhar, eles são bem parecidos. Você tem aquele mesmo olhar intenso dele. E um sorriso elegante que nem ele. Seu cabelo tem a mesma linda cor.
– Se é para ficar se forçando a isso, então não seria melhor simplesmente não falar nada?
Otto, incapaz de esconder seu desconforto, falou enquanto suava frio. Ele era o Ministro Principal de Administração Interna da facção de Emilia, o único com as qualificações para o título.
– Você emagreceu? – Subaru perguntou ao Otto.
– A vida aqui é corrida demais! Quando coisas assim ficam acontecendo toda hora, eu fico tão cansado mentalmente que nem tenho energia para me exercitar. Estou esquelético!
– Isqueléticu! Isqueléticu!
Gritou alegremente Mimi, agitando ainda mais Otto. Ele só ficara em silêncio porque Mimi acompanhava o visitante. Ignorando-o, ela correu rapidamente para perto de Joshua, pulando no assento ao lado dele. Beatrice procurou um lugar para sentar, mas Subaru, Emilia e Otto já ocupavam todos os lugares de frente para Joshua e Mimi. Beatrice decidiu sentar-se no colo de Subaru, que a segurou pela cintura para evitar que caísse.
– Beleza, de volta ao assunto… – Subaru diria.
– E-Espere, por favor! – Joshua pediu, num tom bastante surpreso e confuso. – Quem é essa garota?
Joshua apontou para Beatrice, sentada no colo de Subaru, inclinando-se para frente. Seu monóculo saiu do lugar. Subaru preferia o jeito mais descontraído de Joshua em comparação com o recato de Julius, enquanto Mimi respondia em voz alta.
– Nossa, como assim você não sabe, Joshua? Essa é a Beako, ela é a neném do Subaru. Óbvio. – A garotinha gata apontava para cada um, conforme ela prosseguia. – E do ladinho dele a mamãe, do outro o faxineiro?”
– Sinceramente, já não tenho confiança na minha posição atual e ainda me chamam de faxineiro, poderia por favor parar?
– Faxineiro! Faxineiro! Uau! Parece o nome de um majuu!
Os apelos de Otto foram completamente ignorados por Mimi, a encarnação da inocência. Subaru colocou sua mão na cabeça de Beatrice e…
– Foi mal por não ter dito antes. Estamos tão acostumados a sentar desse jeito que eu me esqueci completamente de explicar.
– Otto se esqueceu também. E me pegou incauta também. – Emilia diria.
– Quem é que fala ‘incauta’ hoje em dia?
Subaru fez seu comentário habitual, concordando com o que Emilia disse. Otto devia estar tão acostumado com isso que estava esquecendo de interrompê-los com bom senso. Era um problema extravagante, por assim dizer.
– Essa é a Beatrice. – Subaru a apresentava. – A Mimi acertou, ela é a minha filha com a dona Emilia.
– O quê?
Joshua ficou chocado.
– Poxa. Ela não é, Subaru. – Emilia rebate, tentando mudar a situação. – Olha só como você deixou o Joshua. Eu sei que nós nos beijamos, mas não dá para ter filhos com um beijo. Eu andei estudando.
– Ah, foi mal, Emilia-tan. E eu acho que uns assuntos pessoais acabaram de vazar. Foi minha culpa então vou apresentá-la direito.
– É isso que acontece quando você me usa para essas brincadeiras. Espero que se arrependa disso, eu diria.
Subaru deu um sorriso forçado para Emilia e Beatrice. A única parte que foi corrigida do mal-entendido de Emilia, sobre como crianças são feitas, havia sido a parte de “com um beijo”. Subaru tentava não se aprofundar mais no assunto e, antecipando o choque que isso teria em Emilia, as mulheres de sua facção decidiram esperar até ela ficar mais madura mentalmente. Basicamente, todo mundo ali era superprotetor.
– Err… então, a Senhorita Beatrice seria…?
Joshua colocou seu monóculo de volta no lugar, tendo sido completamente vencido pela iniciação da Mansão de Roswaal e de seus integrantes. Se bem que essa desordem não deveria ser tão diferente daquela na facção da Anastasia, por causa dos Presa de Ferro.
– Foi mal por ficar fugindo do assunto assim. – Subaru prosseguia. – Beatrice pode até parecer uma garotinha adorável qualquer, mas ela é o espírito com o qual estou contratado. Ela é uma vovóloli.
– Exatamente, sou um espírito. E eu sei que você está zombando de mim com esse ‘vovóloli’, eu diria.
Beatrice deixou de lado a mão de Subaru e acomodou a cabeça na parte de baixo do queixo dele. Ela estava se tornando fluente em Subaruês, fazendo com que coisas assim não passassem despercebidas. “Vovóloli” era só uma combinação de “Vovó” com “Loli”, uma palavra que já foi explicada para ela; era óbvio que perceberia.
A reação de Joshua quanto ao bate-papo entre Subaru e Beatrice foi extrema. Sua expressão perplexa, porém charmosa, se tornou gélida.
– O-Oh...—Entendo. Ela é um espírito. – Joshua sussurrava.
Ninguém ouvindo esse seu sussurro seria capaz de decodificar com qual emoção estava carregado. Mas não porque ele estava escondendo suas emoções, era o oposto. A emoção era tão confusa e complexa que era impossível compreender o que significava. Mas era óbvio a todos que esta frase não havia sido dita com um tom amigável.
– Ei, visitante. Você tem algum problema com o nosso chefe ter um espírito?
Garfiel assumiu o antigo papel de Subaru, que era basicamente desrespeitar todo mundo. Enquanto os outros estavam refletindo em como falar sobre o problema, ele foi direto ao ponto. Isso fez Joshua rapidamente chacoalhar sua cabeça de um lado para o outro.
– Não, nada demais. É só que caiu a ficha para mim que o senhor Natsuki é um Cavaleiro Espiritualista. Como já deve saber, meu irmão também é. O título é tão raro que você podia dizer que meu irmão era o único no país inteiro com ele.
– É, eu sei. Quando a gente estava lutando contra o Culto da Bruxa, ele… err, ele. Ele realmente me aj… a-ajud— ghk. Ajudou, um… monte, então… – Subaru penou para respondendo, fazendo algumas caretas para algo simples.
– Por acaso é tão difícil assim de admitir que ele te salvou!? – Otto questionava.
Não. Mas recordar as suas brigas com Julius o fazia se sentir envergonhado sobre o que estava dizendo, além de fazer as velhas feridas de sua “luta” com ele formigarem.
– Eu já tinha ouvido falar de outro cavaleiro que usa espíritos. Mas que bela de uma coincidência ser o seu irmão, eu diria.
– O que quer dizer com ‘bela de uma coincidência’. Espírito? – Joshua perguntava á Beatrice.
– É óbvio o que eu quero dizer. Precursores estão fadados a serem superados, eu suponho. O melhor lugar para ele seria como uma simples decoração no glorioso caminho que Subaru e eu ire— nhaaha!
– Não saia por aí comprando briga com quem acabou de conhecer. Além do mais, eu não tenho chance contra o Julius. Eu nunca vou ganhar dele no que ele se especializa. Eu não desafio pessoas que são boas com quebra-cabeças a resolver um quebra-cabeça, eu desafio elas pra uma partida de Mario Kart.
Subaru bagunçou o cabelo de Beatrice e curvou sua cabeça para Joshua, forçando Beatrice a se curvar também.
– Desculpa. Eu não tava tentando falar mal do seu irmão. Na verdade, eu sei que sou menos habilidoso que ele. É só esse espírito aqui se gabando mesmo.
– Um julgamento admirável e correto. Quando você se compara ao meu irmão, é natural que reconheça sua inferioridade.
– Hã?
Subaru estava tentando resolver a situação como um ser humano decente, mas a súbita arrogância de Joshua acabou piorando as coisas novamente. Enquanto ignorava Subaru, que estava cada vez mais confuso, o monóculo de Joshua brilhou estranhamente.
– Sim. O meu irmão é incrível. Com vinte anos já era o segundo cavaleiro mais competente da Guarda Real, a mais importante Ordem de Cavaleiros do Reino. Por estar servindo a dona Anastasia, ele frequentemente tem que se distanciar de seu posto na guarda, mas assim que os desejos dela forem realizados, seu lugar como Líder da Guarda Real estará garantido. Ele tem uma relação próxima e amigável com o Santo da Espada Reinhard, e se porta de forma impecável tanto aos olhos do público quanto longe deles. Ele é rígido consigo mesmo e com os outros, disciplinado, ambicioso, sempre buscando melhorar. Sua beleza cativa dezenas de mulheres e sua personalidade é igualmente excelente. Sim, meu irmão é incrível. Você nem chega aos pés dele.
– …Uhh.
Joshua falava incessantemente e com fervor, seu rosto avermelhado. Subaru ficou sem palavras, Beatrice também ficou perplexa. Garfiel e Otto permaneceram em silêncio, sem saber se isso poderia acabar se tornando fatal ou não, já Mimi estava ocupada demais se empanturrando de petiscos para ajudar. Havia apenas uma pessoa que poderia responder ao monólogo de Joshua.
– Hehe. Joshua, você gosta bastaaante do seu irmão Julius. – Dizia Emilia, com um sorriso adorável em seu rosto.
No recinto havia um anjo que levaria tudo para o lado positivo. Suas palavras fizeram Joshua perceber o que havia acabado de dizer, seu rosto estava corado, não de ânimo e sim de vergonha. Ele limpou a garganta, conseguindo manter a calma.
– M-Mil perdões. Pode ser que eu tenha me deixado levar. Tenho alguns problemas de autocontrole quando se trata da minha família. Ainda mais depois de um ocorrido há alguns meses atrás, eu sinceramente me senti...
– Não, está tudo bem. Eu gostaria de ouvir você falar mais sobre o Julius. Eu só vi ele algumas vezes quando estava na Capital, então tem um monte de coisas que eu adoraria ouvir sobre ele. – Emilia o responde.
– Sério!? Bem, tenho várias memórias com que ele que—
– Que tal deixarmos isso pra outra hora e voltar ao assunto de uma vez por todas?! O que acham da ideia, Otto! Garfiel?!
– Hã? – Ambos os rapazes, cujo os nomes foram chamados, estavam surpresos.
Subaru se intrometeu, forçando os dois na conversa mesmo quando estavam tentando ao máximo ficar de fora. Mas eles rapidamente acenaram com a cabeça em sinal de confirmação. Joshua então percebeu como haviam fugindo completamente do assunto e…
– E-Então irei guardar as histórias do quão magnífico é o meu irmão para outra hora. Eu… A minha pessoa também deve cumprir com seus deveres e se reunir novamente com dona Anastasia em breve.
– Certo. Estou tããão animada para isso. Demorou tanto tempo para finalmente chegarmos ao ponto… do que se trata essa visita?
Enquanto Emilia calmamente entrava no Modo “Candidata da Seleção Real”, Joshua tentou manter a calma, ainda envergonhado de certa forma. O tom de voz deles ficou mais grave, fazendo com que a atmosfera na recepção ficasse mais pesada. Emilia era capaz de aumentar a tensão desse jeito, pois reconheceu sua posição como um político emergente.
– Eu...—Sou o porta-voz de minha mestra, a dona Anastasia Hoshin, falarei com dona Emilia em seu lugar.
A tensão fez com que a expressão facial de Joshua recuperasse seu calor. Ele pôs a mão em seu bolso, tirou de lá uma carta e a colocou na mesa. Abriu então a carta e olhou para as letras nela escritas com tinta negra.
– A dona Anastasia deseja convidar você e todos os seus associados para a Cidade de Pristella.
Diria Joshua, lendo a carta.
– Um convite para a Cidade de Pristella… Pristella é a Cidade das Comportas, não é? Aquela cidade grande perto da fronteira entre o Reino de Lugnica e as Cidades-Estado de Kararagi. – Emilia pergunta.
– Correto. A dona Anastasia está lá no momento, não na Capital… e ela deseja convidá-la.
Joshua silenciosamente abaixou sua cabeça. Emilia virou o olhar em direção a Subaru. Era óbvio que esse olhar queria dizer “O que você acha?”
Subaru se sentia da mesma forma quanto ao assunto. Todo mundo sabia que Anastasia vivia em uma mansão no distrito nobre da Capital quando estava em Lugnica. Quando Mimi disse sobre um convite para uma festa, Subaru tinha certeza de que seria na tal mansão.
– Pristella é um lugar com uma vista e tanto. A cidade por si só já se destaca, servindo como um ponto turístico popular. A dona Anastasia se sente encantada e em paz lá.
– Seria uma boa se vocês estivessem só nos convidando pra um passeio, mas… vocês não estão, não é? A Emilia e a Anastasia não são amigas.
Se não lhe falhava a memória, Subaru lembrava que Anastasia havia sido um tanto severa com Emilia durante os discursos no Palácio. As candidatas mais impiedosas com Emilia haviam sido ela e Priscilla. Enquanto Crusch simplesmente não era racista e Felt estava devendo uma a Emilia. Então, embora Anastasia tenha de fato ajudado nos confrontos contra a Baleia Branca e o Culto da Bruxa, a opinião pessoal de Subaru sobre ela não era das melhores.
Então ele duvidava de que ela a convidaria de bom grado. Como se para reforçar as dúvidas de Subaru, um sorriso se formou no rosto de Joshua, e…
– A dona Anastasia está convidando você por beneficência. Pois ela percebeu que o objeto valioso o qual procura se encontra em Pristella.
– Hã? E o que seria? – Emilia pergunta.
No mesmo instante que Emilia demonstrou interesse, a expressão de Otto se contorceu, como se gritasse “Ela mordeu a isca!”. Isso revelava que Joshua havia assumido o controle antes mesmo que pudessem fazer algo para pará-lo, mas Subaru ainda não conseguia entender o que poderia ter de tão importante nesse acordo.
Nesse meio-termo, o oponente já havia tomado controle total sobre a situação. Com um sorriso enorme no rosto, Joshua prosseguiu:
— Na Cidade de Pristella há uma loja que vende pedras mágicas, e ela possui as pedras incolores de primeira linha que desejam. Creio eu que, no momento, esteja em busca de algo para abrigar o Grande Espírito, não?
Assim que Joshua dominou a situação, a facção de Emilia estava fadada a ir para Pristella.
Enquanto isso, na mansão de Annerose, Akashi batia na porta, aguardando resposta. Sua carruagem aguardava ao fundo, pronta para partir, e apesar de Akashi ser uma pessoa procurada, sentia que estaria seguro ao se revelar para seus amigos. Acreditava que todos estariam cientes de sua situação. Por isso, optou por não cobrir o rosto com o capuz de seu manto, permitindo que seu rosto fosse completamente visível.
Em pouco tempo, uma voz masculina respondeu:
– Só um momento, por favor.
A porta da mansão destrancou-se, revelando o mordomo da casa, Clind. O homem de cabelos curtos azuis, que vestia um uniforme de mordomo e um monóculo, cumprimentou Akashi com um sorriso, reverenciando-o.
– O senhor é Akashi Taiga, não é mesmo? Já faz um bom tempo que não nos vemos. Seja bem-vindo.
Surpreso ao ser reconhecido, Akashi observou Clind, que se curvou em reverência para cumprimentá-lo.
– Sim, sou eu. – respondeu Akashi. – U-Uhm... então, eu queria saber se o Subaru e os outros estão?
Clind arregalou levemente os olhos, surpreendido pela pergunta.
– O senhor Subaru? Na verdade, todos partiram há alguns meses. Atualmente, estão residindo na nova mansão do Margrave Mathers. – informou Clind, ajeitando o monóculo.
– Hã? Eles já estão em uma nova mansão? – indagou Akashi, arqueando as sobrancelhas. – Bom, era de se esperar, mesmo. Como eu nunca escrevi uma carta ou mandei nosso endereço, ninguém nunca me contou sobre isso...
Clind o observou em silêncio, abrindo um sorriso leve.
– O senhor gostaria que eu lhe entregasse a localização? Posso anotá-la ou pedir ao seu cocheiro que o leve.
– Seria uma boa ideia se o senhor anotasse, por favor. – respondeu Akashi, sorrindo aliviado.
Clind se curvou, convidando Akashi e seu cocheiro para entrarem, enquanto buscava algo para anotar o novo endereço da mansão do Roswaal. Akashi aguardou pacientemente, enquanto as memórias de seu último dia com Subaru e companhia surgiam em sua mente...
...Continua......
Na mansão Miload, Akashi e Clind estavam do lado de fora, conversando enquanto a tarde lentamente se encerrava.
– O senhor treinou o Subaru, certo? – perguntou Akashi, seu olhar curioso denotava interesse no poder de Clind e no potencial de Subaru.
– Sim, ensinei-lhe o básico do que ele sabe agora. – respondeu Clind, sorrindo. – Ele ainda tem muito a aprimorar, mas suas habilidades com o chicote e sua movimentação estão bastante desenvolvidas, ainda vou á mansão do senhor Mathers para treiná-lo de vez em vez. Creio que, em breve, ele dominará seu corpo e suas habilidades, alcançando feitos incríveis.
Se lembrando de algo, Clind sorriu e afirmou para Akashi...
– Agora que me recordei, minha senhorita irá acompanhar o senhor Roswaal para uma questão em breve, talvez nos encontremos na mansão amanhã.
Akashi acenou com a cabeça, ouvindo Clind. Então, o mordomo olhou para Akashi com seriedade.
– Sinto muito se isso o incomoda, e falar disso de repente pode ser desagradável, mas... você mudou muito, não só em aparência, mas sinto que enfrenta momentos sombrios...
Akashi sorriu gentilmente, logo dirigindo seu olhar para as nuvens...
– Não se preocupe. Entendo o que quer dizer, e sinceramente prefiro não tocar nesse assunto... mas tudo o que posso afirmar é que a escuridão surgiu numa certa noite, e desde então, tem me acompanhado sem trégua.
Clind fitava Akashi, cujo encarava os céus em silêncio, a carruagem parada diante deles, a qual foi emprestada por Reinhard, indicando que logo Akashi seguiria sua viagem. E enquanto isso...
De volta à mansão do Mathers...
– Não foi justo com o Otto decidirmos tanto por nossa conta. – Emilia falou depois de conversar com Joshua e retornar ao seu quarto, oferecendo um assento a Subaru. Ele se sentou e riu.
– Deixando o pânico de Otto como uma lenda para as futuras gerações, sempre apoiarei suas ideias, Emilia-tan. – respondeu Subaru. – Mas se tivesse algo que me preocupasse, seria o fato de estarem prontos e nos esperando.
– Não acho que Anastasia correria riscos de qualquer forma, enviando mensageiros. Mimi pode ter estado lá, mas Joshua ainda tomou o controle quando tentei intervir.
– Ela a reconhece como uma oponente ao enviar alguém da família de seu Cavaleiro como mensageiro. Sempre me perguntei por que, nos dramas de Sengoku, quando enviam mensageiros importantes, eles não os matam. Mas agora entendo que há toda uma trama por trás das cortinas. Nunca imaginei que aprenderia isso por experiência. – disse Subaru.
É uma questão de confiança entre as partes e as pessoas. Se as pessoas descobrissem que os governantes agem injustamente, isso prejudicaria sua permanência no poder. E cada facção enfrenta muitos inimigos para agir de forma antagonista. Considerando que um grupo enfrenta mais opositores quanto mais cresce, é lógico ser cauteloso ao desafiar pessoas influentes.
A reunião com Joshua Juukulius terminou, e a noite caiu sobre a nova Mansão de Roswaal. Como seria imprudente enviá-los de volta no mesmo dia, convidaram Joshua e Mimi para passarem a noite e aceitaram o convite para a Cidade de Pristella. Joshua foi imponente ao discutir o assunto, mas todos perceberam seu alívio quando concordaram. Seu monóculo provavelmente era uma decoração para causar uma certa impressão, a de um jovem sério.
– Ele é bem mais agradável do que o irmão dele. – Subaru afirmou, comparando Joshua de forma favorável a Julius.
– Você sempre é tão insincero sobre Julius. Ainda guarda ressentimentos daquele incidente no palácio?
Emilia provocou, divertindo-se com a reação de Subaru. A simples menção ao evento costumava deixá-lo constrangido e indignado. Mas quanto tempo havia passado desde então?
– A memória ainda está muito vívida para que eu possa simplesmente rir e sorrir sobre isso. Eu era jovem na época, e refleti sobre minhas ações. Gostaria que ele fizesse o mesmo. – respondeu Subaru.
– Mas ouvi dizer que vocês já se desculparam e fizeram as pazes. É tão deselegante fazer desculpas superficiais e continuar a ferver por dentro. – Emilia observou.
– Mnngh——— Mas eu sou apenas humano!
Emilia olhou para ele com reprovação, mas Subaru permaneceu teimoso. Ele desviou o olhar e Emilia franziu a testa por um momento, mas não pôde conter o sorriso que se formou em seus lábios.
– Tudo bem, Subaru. Você pode ser egoísta, mas não está autorizado a brigar com Julius se o encontrarmos em Pristella. Você é um cavaleiro agora, e os cavaleiros não devem usar seu poder de forma inadequada.
– Sim, sim, você venceu, minha Soberana.
Subaru tenta disfarçar seu rosto corado com algumas piadas e esfrega o lábio superior. Ele olha distraindo para o quarto de Emilia antes de parecer se lembrar de algo.
– Oh sim, Emilia-tan. Eu realmente não sei muito sobre Pristella, ela é conhecida por algo?
– Hmp, você precisa estudar mais, Subaru. – Emilia respondeu. – Pristella é uma das cinco principais cidades de Lugnica. Fica no Rio Tigracy, marcando a fronteira com Kararagi. É famosa por ser construída sobre um grande lago, com canais fluindo pela cidade.
– Ok, então, deixando de lado todas essas informações secundárias, ela é uma cidade flutuante. Bem, temos Veneza, então isso também deve ser possível aqui.
Veneza vem à mente quando se fala em cidades aquáticas. Rodeada por água, com lagos serpenteando pela paisagem urbana de pedra. É um dos destinos românticos que todos devem visitar pelo menos uma vez na vida, e Subaru a associa a um lugar pitoresco também. Essa é a impressão que ele tem de Pristella.
– Não, Subaru. Pristella não é uma cidade flutuante, é uma Cidade das Comportas.
– Comportas? – Subaru repetia, curioso.
– Sim. É uma cidade no meio de um lago, então inunda quando chove. Construíram paredes enormes ao redor da cidade para evitar isso, e há comportas para regular os níveis de água. As comportas são tão incríveis e famosas que eles não a chamam de cidade flutuante, mas sim de Cidade das Comportas.
A explicação de Emilia transforma a ideia de uma bela cidade aquática em uma jaula aquática fechada. O conceito é tão belo, mas então eles arruínam tudo com essas paredes gigantes. Subaru inclina a cabeça, perguntando-se por que criariam todo esse mecanismo.
– Eu acho que existem várias teorias por trás da construção da cidade. Como, eles estavam testando os limites da tecnologia deles, ou tentando dominar as enchentes sem contar com magia ou o Dragão, ou tentando aprisionar uma poderosa Majuu maligna. – Emilia contou.
– Nenhuma delas parece razoável, mas todas elas de alguma forma parecem possíveis, o que te faz pensar que foram os humanos que a construíram. – Subaru respondeu.
Uma pessoa mediana não viria com essa ideia, mas os gênios da humanidade são fundamentalmente liberados dos reinos do senso comum. E algumas vezes as ideias deles são realizadas. Seja como for,
– Mas nós ainda não sabemos o que eles estão planejando. Duvido que eles apenas estão sendo gentis e nos dirigindo para aquilo que nós estamos procurando. – O rapaz diria.
– Você tem certeza? Você já considerou acreditar mais nas pessoas, ao invés de ser tão desconfiado?
– Desculpa, mas todas as candidatas têm seus defeitos. E eu não confio naquilo que elas estão tramando nem por um segundo.
Crush por si só é confiável, mas Subaru não sabe se ela irá continuar uma dama recatada, e ele tem que ser cauteloso com Felix. O problema é resolvido se Wilhelm tomar as rédeas de Felix, mas o Demônio da Espada também coloca Subaru à flor da pele. Conhecendo as circunstâncias, é difícil confiar neles quando eles forem deixados à própria sorte.
Subaru não tem ideia do que Anastasia está pensando, ou o que a motiva. Ele não consegue adivinhar os motivos dela para enviar esse convite. Julius pode até ser o Cavaleiro entre os Cavaleiros, mas é Anastasia que está no controle definitivo. E a vida de negócios dos membros da Presa de Ferro não está relacionada com quem eles são como pessoas. Subaru não consegue desgostar deles.
Reinhard e Rom da Facção de Felt talvez pudessem merecer confiança. Mas os pensamentos de Felt são incertos para Subaru. Contanto que ela continue desejando participar da Seleção, Subaru deve se preparar para o caso da diabólica garota traiçoeira estar planejando algo. Se ela seriamente utilizar Reinhard, e ele virar inimigo deles, a chance deles o vencerem em combate é um sonho entre os sonhos.
A facção de Priscilla é a mais difícil de ser ler. Subaru não consegue confiar em nenhum deles. Al pode ter vindo do Japão, mas ele é surpreendentemente leal a Priscilla. Logo ele não irá pôr-se em pé por Subaru, enquanto o capricho de Priscilla já é aterrorizante o suficiente. Ela poderia aleatoriamente fazer uma visita para decapitá-lo com um sorriso em seu rosto. Esse é o nível de absurdidade dela.
Apesar de que um ano se passou, nenhuma das candidatas sabem as motivações das outras. Subaru precisa investigar mais a fundo se ele quiser saber mais do que ele aprendeu no Palácio. O que é um motivo para aceitar esse convite.
‐ Sinceramente, eu estou apavorado com a ideia de ficar devendo para alguém como a Anastasia. Como foi que ela sequer descobriu que você estava procurando por um cristal mágico incolor, afinal?
– Puck foi revelado no Palácio naquela vez que Akashi e você chegaram lá de surpresa, e eu não queria que ninguém soubesse que ele é limitado. – Emilia respondeu. ‐ Eu estava sendo tão cuidadosa— mas não tem como impedir as pessoas de sair dizendo coisas.
A meio-elfa turvou seu olhar, encarando o chão, sua expressão era triste e, ao mesmo tempo, confusa.
– É isso o que acontece. Então mesmo que nós peguemos o cristal mágico, isso significa apenas que as coisas estão de volta para a situação atual do ponto de vista das outras facções. Os benefícios estão em estabelecer essa dívida.
Portanto, a volta de Puck aumentará ainda mais a força de combate de Emilia, que já é considerável. Porém, somente ter mais força de combate não garante o sucesso de Emilia na Seleção. Na verdade, isso só tornaria mais impressionante a vitória deles sobre o Grande Coelho no Santuário.
A segunda façanha da Facção de Emilia, além de derrotar a Preguiça do Culto da Bruxa, infelizmente não é reconhecida pelo público. Ninguém presenciou a derrota do Coelho, e é impossível coletar qualquer corpo como prova, e mesmo que conseguissem, seria perigoso que ele apenas se fingisse de morto para depois atacar novamente enquanto se multiplica. A aparição do Grande Coelho na Capital poderia causar um caos e provavelmente dificultaria derrotá-lo caso não houvessem forças suficientes para isso.
Eles mandaram aquela coisa para outra dimensão para que nunca mais voltasse. É a verdade, mas não é convincente. O feitiço Al Shamak que Beatrice usou foi esquecido em outras eras, e ela não tem mana para demonstrar essa técnica novamente.
Então, embora eles tenham reportado a derrota do Coelho para a Capital, essa façanha ainda precisa ser comprovada. E se eles derem muitos detalhes, eles teriam que descrever o Santuário em detalhes também, e isso revelaria que Roswaal mantinha uma vila secreta em seu território. No final das contas eles tiveram que parar de insistir nisso, ou Roswaal e até mesmo a facção em geral, teriam problemas.
Eles foram informados que suas alegações ganhariam credibilidade se os Coelhos não aparecessem pela próxima década, mas a essa altura isso seria tarde demais para ser uma façanha útil. Apesar de que isso não incomoda muito Emilia, já que tudo aconteceu de forma muito repentina.
‐ Mas ainda sim é muito irritante. Sinceramente não consigo nem descrever quanta dor esses malditos coelhos me fizeram passar...– Subaru reclamou.
‐ Mas nós realmente derrotamos o Grande Coelho, mesmo que eles não acreditem na gente. Aquele majuu assustador não irá machucar mais ninguém. Isso não é o suficiente?
‐ Emilia-tan, você é positiva e generosa demais...
Emilia diz bondosamente que quem faz algo justo merece reconhecimento. Subaru se sente miserável ao ouvir isso. Como ele gostaria de pensar como Emilia. Mas ele sabe que nunca conseguiria. Ele se irrita por não receber o reconhecimento que acha que merece.
Subaru fica de cara fechada, e Emilia sorri ao ver isso. Subaru não notava que Emilia às vezes o olhava com ternura, ou que a expressão dela nessas momentos não tinha o brilho maternal de uma mãe vendo um filho, e sim algo inexplicavelmente complexo.
– E as pessoas já sabem que você conquistou coisas, Subaru. É formalmente reconhecido que você lutou contra a Baleia Branca e derrotou a Preguiça.
– Em relação a esse... Realmente parece que eu só peguei os restos. As outras pessoas estavam fazendo muito mais do que eu contra a Baleia Branca, até o Akashi conseguiu encher ela de surra só pra vingar a quase morte do Wilhelm... sinceramente, ele sempre foi muito impulsivo e explosivo demais, aquilo poderia ter o matado se não fosse o poder do Kairus, mas e eu? Só aconteceu de eu prendê-la no momento perfeito no final. E eu nem sequer derrotei a Preguiça com esse objetivo em mente.
Ele só pensava em proteger Emilia durante a batalha contra Petelgeuse, e ter o Akashi e Julius por perto, lhe davam uma boa certeza de que matariam Petelgeuse e garantiria a segurança de Emilia. Mas isso não é exatamente verdade. O que Subaru sentia naquele momento era não apenas o desejo de proteger Emilia, mas também ódio pessoal por Petelgeuse. Não importa qual dos dois é legítimo. Os dois são, e os dois são o desejo pessoal de Subaru. Ele fica incomodado com a ideia de que uma luta motivada pelo seu rancor pessoal seja vista como sendo pelo bem de todo o mundo.
- Mas é o mesmo caso para o Grande Coelho. Você derrotou os dois Majuus que assolavam o mundo por quatrocentos anos em um tempo tão curto... – Emilia afirmou, tentando contentar e enaltecer Subaru e seus feitos. – Eu sei que eu não posso falar muito, mas parece que você está fazendo muuuuuito mais do que você deveria, ah, e o Akashi também! Afinal, ele esteve com você desde que o deixamos na Capital e lutou ao seu lado nas batalhas perigosas.
- É. Tanto ele quanto eu estamos envolvidos nos dois casos. Sinceramente, eu acho que o que eu fiz foi demais pra quem sequer consegue lutar, eu agradeço por ter a Rem e o Akashi comigo durante toda aquela situação. Só espero que essa última não apareça.
- É... – Emilia concordou quanto á última fala de Subaru.
Subaru confia no poder das palavras e reza para que ele nunca encontre a Serpente negra.
- Bom, sobre Pristella.
Antes que ele possa lidar com a mudança de atitude dela, Emilia muda de assunto. Claramente ela não queria falar sobre isso. E, tendo se tornado uma pessoa mais sábia, Subaru decide não forçar uma explicação dela. Embora às vezes ele se esqueça de prestar atenção nessas coisas e aja exatamente como ele era acostumado.
- Nós sabemos que nós vamos, mas nós vamos mesmo com as mesmas pessoas? Eu queria conversar com o Roswaal sobre isso, também. – Emilia falou.
- Eu acho que nós estamos bem. Se você vai, então naturalmente seu Cavaleiro, que sou eu, e minha parceira Beako também vão. Mas falando sério, nós levaremos Garfiel para combate e Otto também, já que ele está tão insistente em ir. Eu queria muito que Petra ou Frederica fossem também para que todas as suas necessidades fossem atendidas, mas...
- É uma pena. Roswaal está ocupado com o Encontro dos Lordes do Oeste. Nós sabemos que Petra precisa acompanhá-lo para seu treinamento de empregada. Embora ela fique beeeeeem irritada com isso.
- Porque ela detesta Roswaal completamente depois do incidente do Santuário. Roswaal gosta disso, o que acalma a Ram, o que me lembra da vez que Akashi socou Roswaal tão forte que causou um estrondo, a Ram ficou uma fera, mas quanto a Petra...
A garota está crescendo de forma justa e brilhante como empregada, mas sua essência ainda é perigosamente infantil. A grosseria dela com o mestre é especialmente notável, e ela teoricamente poderia fazer um chá para ele com a água da roupa torcida. Mas como Subaru está do lado da Petra, ele está preparado para fazer vista grossa mesmo que ele hipoteticamente a pegue fazendo isso.
Somente o tempo irá consertar a confiança quebrada. Mas parece que um ano ainda não foi o suficiente para a Petra começar a ouvir Roswaal.
- O que significa que Frederica deveria ir com eles para moderá-la e servir como modelo de etiqueta apropriada, o que faz com que Ram fique na mansão. Espere, isso é perigoso.
- Sério? Anne também irá ao encontro, então Clind vai junto. Tenho certeza de que ele será amigável com Petra, então talvez Frederica não precise ir.
- Clind... Eu realmente não o entendo.
Subaru pensa no poderoso mordomo da Mansão Miload, onde o grupo ficou enquanto a mansão deles estava sendo preparada. Ele trabalha de forma tão refinada que os olhos não conseguem acompanhar. Não é bem um elogio, mas é o que o descreve.
O treinamento de Subaru com o Parkour também começou com Clind, que o ensinou os básicos. Ele treinou Subaru, que não conseguiria superar os limites físicos de um homem normal, quando ele estava tentando aprender a se movimentar sem superar seus limites. Annerose e Clind visitaram a nova mansão várias vezes para dar uma volta. Clind supervisiona Subaru praticando o parkour, mas então Clind superou a pista de obstáculos de Garfiel sem derramar uma gota de suor e sem bagunçar suas roupas. Ele não é humano.
– Mas deixando de lado quem ficará na mansão, nós não devemos nos preocupar muito com isso. E de qualquer forma eu deveria ser aquele mais preocupado em ser cauteloso. Vale pra você também, Emilia-tan.
– Mm. Eu me sinto mal por tomar decisões sem fazer uma discussão. Eu terei que pedir desculpas para o Otto.
– Ele não liga muito para a dignidade dele, mas ele guarda rancor por anos. Eu vou falar pra ele que eu te coloquei de castigo a ponto de você chorar.
– Heehee, obrigada.
Pensando no jovem dos cabelos brancos, Subaru arqueou as sobrancelhas, claramente curioso sobre algo.
– A minha maior dúvida é... como será que o Akashi está indo? Digo, será que ele já está voltando?
– Tenho certeza de que logo ele voltará, do jeito que ele aprendeu tão rápido as tarefas na mansão, acredito que os treinos com o senhor Halibel tenham sido facinhos. – Emilia acenou com a cabeça, sorrindo docilmente.
Subaru olhava incrédulo para Emilia, murmurando...
– Você está mesmo comparando tarefas domésticas com um treinamento de shinobi?
– De qualquer modo, quando ele chegar, vamos comemorar todos juntos seu retorno. Tenho certeza de que ele ficará muito feliz.
Vendo o sorriso genuíno de Emilia, Subaru também sorriu, suspirando e fazendo sua afirmação.
– A Emilia-tan é tão gentil.
– Sou, mesmo?
– É, isso aí. – Subaru ergueu seu punho cerrado, erguendo um polegar em confirmação. – Eu estou de apoio em comemorar o retorno dele, aliás.
Subaru dá um golpe no ar, e Emilia sorri. Ela põe a mão dela em seu peito e toca o pingente de cristal azul. Mesmo agora, o Grande Espírito Puck dorme naquele cristal.
Ignore o verdadeiro poder dele, essa jóia não é forte o suficiente sequer para que ele se comunique. Se ele sequer se contrair, a jóia irá quebrar e ele irá ser liberado— ou pelo menos é isso o que Emilia e Beatrice dizem. Uma vez livre, Puck irá involuntariamente trazer grande destruição ao ambiente, eventualmente ficar sem mana, e desaparecer de volta para o lugar de onde ele veio.
Emilia está constantemente fornecendo mana para o cristal para que isso não aconteça, e preservando o Puck. Agora eles apenas precisam fazer um bom cristal com a pedra mágica incolor e eles poderão ser capazes de restaurá-lo. Anastasia está dizendo que ela viu pedras mágicas que conseguiriam aguentar esse tranco.
– Quando eu falar com Puck novamente... terá tantas coisas que eu gostaria de perguntar a ele. Então—...
Emilia fecha seus olhos, sem dizer mais nada. Os longos cílios dela se estremecem, e Subaru silenciosamente coça a cabeça dele. Ele só consegue entender vagamente o que Emilia está pensando.
– É melhor você vir aqui logo, seu gato espírito. Eu tenho uma montanha de reclamações para você.
E, como o cavaleiro dela deveria, ele concorda com ela juntamente com os insultos dele.
Retornando á mansão Miload, Akashi acenava para Clind. O garoto, já dentro da carruagem, sorria com uma expressão de cansaço e sono para o mordomo que o acompanhou até o momento do embarque.
– Tenha uma boa viagem, senhor Taiga, senhor cocheiro, lembre-se de passar pela cidade de Costuul e não pela floresta ao redor. Durante a noite, pode ser arriscado.
– Pode deixar, eu vou garantir de seguir o conselho. – O cocheiro respondeu, sorrindo e fazendo um jóia com sua mão, claramente cansado e exausto, mas pretendendo seguir com seu dever até Akashi estar em casa.
Akashi logo diria, com um tom amigável para Clind.
– Sei que a dona Annerose está ocupada, mas fala pra ela que eu mandei um "oi". E que sinto muito por chegar e sair tão rápido.
– Pode deixar, eu a direi, com certeza. – O mordomo sorria, vendo a carruagem iniciando a viagem e o dragão correndo enquanto a puxava.
Akashi via Clind acenando, cada vez mais se distanciando. A mansão Miload se encontrava fora da cidade de Costuul, enquanto a mansão do Mathers era próxima á cidade. Essa viagem deveria levar menos que uma hora... ou pelo menos era pra ser assim.
De volta á mansão do Mathers...
– Olha! Eu estou dizendo isso com os interesses de todo mundo em mente!
Otto Suwen bate com seu copo na mesa, claramente de mau humor. Após a conversa dele com Emilia, e o jantar, Subaru decidiu ver Otto antes da sua rotina noturna, e ele o escutou reclamando bêbado durante o tempo todo.
– Ele já tá um tempão nisso daí. Minhas incríveis orelhas já estão cansadas!
Garfiel mostra sua indignação, se sentando ao lado de Subaru enquanto ele ouve Otto resmungar. Ele coloca o mindinho em sua orelha e coça a cabeça, suas presas rangendo enquanto ele toma o copo de leite dele.
Subaru defende que eles não devam dar álcool para menores como ele. Frederica e Ram apoiam, e ele está tentando estabelecer uma idade de vinte anos como a idade mínima para beber na Mansão de Roswaal. Uma vez Otto também ofereceu um gole de álcool para Garfiel e descobriu que ele não suporta beber de jeito nenhum. Agora só de ver uma garrafa ele já faz careta.
Subaru não irá violar as leis do antigo mundo, então os únicos que bebem na mansão são Roswaal, Otto, Ram e Frederica. O que significa que o único bebedor nesse cômodo é Otto.
– Ora, não fique de mal humor. A Emilia sente muito por ter decidido tudo sozinha. Ela sabe que deveria ter discutido sobre isso. Não pense que isso faria alguma coisa mudar de qualquer forma. ‐ Subaru diria, se desculpando por Emilia enquanto tenta tranquilizar Otto.
– Mas existem coisas além das conclusões. O processo também é importante. É comum ter conversas onde a conclusão já é clara desde o começo, mas o caminho que você segue para chegar lá é essencial. Especialmente quando nós estamos aceitando a oferta deles de forma descuidada... você não pode cair nas mãos dos inimigos!
Subaru tenta aliviar as coisas, mas Otto o repreende. Ele está completamente certo então Subaru não consegue rebatê-lo, porém...
– Mas que diabos, você realmente parece um cara dos assuntos internos. Isso depois do tanto que você resistiu à ideia? Acho que você não estava tão relutante afinal das contas. - Subaru prosseguiu.
‐ A gente só ta aceitando a droga do convite, não é tão complicado, Otto.
‐ É quase revigorante o quão pouco vocês mudaram!
e Subaru se joga em cima de Garfiel em sincronia e batem as mãos. Os três amigos têm idades parecidas, e costumam sair juntos. É bonito o quão naturalmente as conversas deles sempre seguem esse mesmo ritmo.
Não importa o que o Otto pensa. Ele é um ótimo Ministro de Assunto Internos. Ele foi criado como um filho de comerciante, aprendeu os costumes do mundo como um comerciante viajante, e ele é inteligente e calculista. Isso deve ser um destino melhor para ele do que arriscar que alguém o engane e ele se torne um escravo. Mas, ele ainda balança a cabeça, se perguntando como isso aconteceu com ele enquanto ele se ferra com esses montes de papelada. O cara é teimoso.
Já que ele já viu a papelada confidencial de Roswaal, ele está acostumado com seu posto como ajudante da Emilia, e ele está atolado com a administração do território do Marquês Mathers. Logo, ele não tem saída.
‐ O que é esse, esse olhar penoso? É como se vocês estivessem encarando uma galinha segundos antes de estrangulá-la!
‐ É mais como se eu estivesse olhando para uma bateria de gaiolas com galinhas que vivem apenas para botar ovos.
‐ Isso é ainda pior!
‐ Ora, chefe, fique quieto. E para de provocar o Otto dessa forma. As regras dizem para trabalharem dez Ottos por dia.
‐ O quanto é isso? Quanto é dez Ottos por dia?!
Grita Otto, com o rosto corado, mas nem Subaru nem Garfiel responderam. É assim que as coisas são quando ele está bêbado. Ele está trabalhando em um emprego estressante, então eles dão a ele o tempo dele beber, mas isso na verdade pode encorajar ainda mais estresse.
‐ Parece que o Otto descarrega melhor gritando mesmo.
‐ Claramente não!
‐ Arram, arram, agora fica quieto e pegue mais um copo. Então, Chefe, tem um negócio que eu quero confirmar contigo.
‐ Oh? Essa é rara. Continue.
Otto resmunga enquanto ele enche seu copo e bebe discretamente. Garfiel desvia o olhar dele, a sua boca branca de leite.
‐ É sobre o que os inimigos tão fazendo, óbvio! As candidatas nunca tiveram nenhum tipo de confronto até agora, e agora ela tá na nossa cara caçando briga. Ela deve estar aprontando alguma coisa, não acha?
‐ Você tá querendo dizer... então, você está achando que ela está só chamando a gente para um duelo?
‐ Claro que eu tô, porra. ‐ Garfiel o respondeu, franzindo as sobrancelhas. ‐ É o que ela tá querendo. Esquece aquele magrelo do Joshua e o que ele disse na reunião, cê viu aquela moleca gata que tava com ele?
‐ A moleca gata é da mesma idade que você.
Esse comentário é muito sem gosto para Subaru realmente fazer. Mas qual é o problema dele com a Mimi? Até onde Subaru sabe, ela estava agindo da mesma forma de sempre, apenas caçando o chá dela e os biscoitos. E ela fez a mesma coisa no jantar também.
‐ Aquela garota é forte pra caramba. E ela tava encarando meu incrível eu, não só durante a conversa, mas durante a janta toda. Ela deve ter se ligado que eu sou o cara mais forte desse lugar.
‐ Você tem certeza…? Não, quero dizer, Mimi é forte, e ela é do tipo viciada em batalha, mas... além dela já ter visto o Akashi em ação...
Ela não parecia ser ligeiramente esperta o bastante para ter intenções escusas. Subaru só consegue ver ela como transparente, ou na verdade apenas uma cabeça-de-vento.
‐ Hahh! Aquele lá não é nem metade do que eu sou agora. De qualquer forma, ela tá de olho no meu incrível eu enquanto ela ta aqui. Melhor garantir que você e a dona Emilia não sejam pegos por ela enquanto a gente tá aqui. Chefe, o Otto é uma coisa, mas nós nunca vamos nos recuperar se a gente te perder.
‐ Você percebe que esse feudo seria um desastre total se eu não estivesse aqui? Eu gostaria que você levasse isso em consideração às vezes!
Garfiel não está tentando menosprezar Otto enquanto ele exige cautela. É só que ele precisa fazer uma comparação se ele quer que Subaru entenda seu ponto. Apesar de que ele não perdeu a oportunidade de brincar com Otto.
‐ Sim, eu definitivamente irei contar com você pra isso. Não quero levantar muita bandeira então eu serei curto, mas, eu estarei contando com você, Garfiel. Na ausência do nosso espadachim, você é nosso escudo e vigia também.
‐ Arram, pode confiar. Confie no Mais Forte dos Escudos, vulgo Guardião Lendário, Garfiel Tinzel! Aquele que arrebentou até mesmo aquele idiota do cabelo branco duas vezes seguidas!
Garfiel orgulhosamente aponta para si mesmo com seu dedão. Subaru acena com a cabeça para ele. Ele bebe um gole do seu próprio copo de leite, se lamentando com o quão incríveis são os títulos que Garfiel conseguiu, mas acha que se vangloriar de vitórias onde Akashi estava claramente em desvantagem, ou da vez em que o plano era apenas segurar Garfiel, seria injusto... mas uma luta é uma luta.
‐ Eu me pergunto se algum dia eu terei um ataque de gênio como quando eu nomeei a Providência Invisível... somente o destino quando ele vai sorrir pra mim de novo. Talvez eu quisesse um cristal carmesim pra mim também, mas não deve ser muito legal ter um cara falando na sua cabeça e você nem poder calar a boca dele.
‐ Você tá pensando em alguma coisa de novo. Mas não precisa se incomodar, chefe. Você vai conseguir fazer as coisas quando realmente for a hora. Eu tenho fé nisso.
É a mesma coisa com Emilia, mas a confiança no olhar de Garfiel é incrivelmente convincente. Ela instantaneamente faz Subaru sentir que ele deve corresponder essa confiança. Ele está tentando não confundir o auto-aperfeiçoamento necessário para alcançar essa confiança com esforço cego e mal direcionado.
‐ Se nós temos o Garfiel então não precisamos nos preocupar com nosso poder de combate. Emilia-tan é bem forte por si só também, e eu sou decente o bastante com Beako. O problema aqui é o Otto… você realmente vai vir com a gente?
‐ É obvio que eu vou! Eu não quero nem imaginar em que tipo de situação insana você e a dona Emilia vão se enfiar se eu não for com vocês!
É até eletrizante o quão pouco eles confiam em Subaru quando se trata de negociações. Emilia é tão honesta e pura o quanto ela parece, e Subaru apesar de ser diabólico ele também é inexperiente. Então naturalmente eles parecem dois patinhos sentando do lado do Otto.
‐ Além disso, Pristella é a cidade natal do Hoshin das Planícies, o fundador de Kararagi. Ela tem contato com Kararagi já que fica na fronteira, fazendo dali um lugar bem relevante para comerciantes. Eu me vejo obrigado a visitá-la também.
‐ Eu pensei que você tinha largado completamente a ideia de ser um comerciante há um tempão atrás. Onde é que você tá com a cabeça, afínal?
‐ Você está enganado se você acha que eu vou me render à ideia de ser um Ministro de Assuntos Internos para sempre! Meu objetivo final ainda é ser um comerciante bem sucedido com sua própria loja! Esse é um caminho necessário para chegar lá, um caminho necessário para o meu objetivo final!
‐ É bem possível que esse seja o caminho que te leve pra tua morte.
Essa história de prender ele aqui é honestamente bem superficial e se ele quiser ir e ajudar eles como Ministro de Assuntos Internos, faz sentido que Otto junte-se a eles. Todo mundo na mansão sabe, apesar das provocações, que eles não conseguem funcionar sem o Otto. E Otto sabe disso, também, e é por isso que ele não pode se afastar.
‐ Ou talvez você seja só um masoquista, mas eu não vou considerar isso. ‐ Subaru diria, cruzando os braços enquanto sorria levemente.
‐ Por acaso você concordou comigo de uma forma incrivelmente rude ou eu só estou imaginando isso!? ‐ Pergunta Otto, claramente surpreendido com o fato de que Subaru concordou com ele, afínal é até raro.
‐ Não importa. Anastasia estará lá, e nós não sabemos em quais termos ela irá tocar com a gente. Mas estamos contando com você. Você na parte burocrática, Garfiel na parte militar. E eu estarei lá para fazer as coisas ficarem mais divertidas.
‐ Faça mais coisas!
Subaru poderia tentar o seu melhor, mas ele nunca seria mais forte do que Garfiel. Ele poderia estudar ao seu máximo, mas ele nunca seria melhor do que Otto como um burocrata.
‐ Apenas farei o que eu tiver que fazer. Esse é um dos pontos positivos para auto-aperfeiçoamento que eu refleti sobre com a Beako.
‐ Cê vai ficar bem se a dona Emilia e a Beatrice estiver contigo. O que quer dizer que meu eu incrível vai fazer cobertura para o Otto. Fica de olho nas tuas costas por mim, beleza?
‐ Por que parece que eu sou o maior fardo aqui? Eu não consigo admitir que eu concordo com isso!
Subaru fica sério, e Garfiel aceita seu posto de babá. Otto se queixa e toma outro gole de sua bebida. A noite fica mais escura, o clima era bem agradável.
‐ Bom, já que nós vamos estar ocupados amanhã, eu vou parar por aqui. E quanto a você, Garfiel?
‐ Eu vou ficar mais um pouco aqui e beber mais um pouco com o Otto. Eu tô bem próximo de ganhar dele no Xatranje. Devo conseguir agora que ele tá bêbado.
Garfiel desconsidera Subaru e pega um tabuleiro e algumas peças no fundo do cômodo. O jogo é chamado de Xatranje, com regras similares ao Shogi ou Xadrez. Subaru fica impressionado em como todo mundo tem esses jogos. Otto é aparentemente muito bom nesses jogos, e apesar de que Garfiel tem se esforçado ao máximo, ele apenas perdia e perdia. Subaru é escandalosamente bom em Othello, mas ele sofre com Shogi e Xadrez.
‐ Não fique acordado até tarde. Isso vai atrapalhar seu crescimento.
‐ Eh? Você já falou nisso uma vez então eu tô fazendo isso, mas você tem certeza que isso funciona mesmo? Meu incrível eu sente que eu não cresci nem um pouco esse ano.
‐ Frederica absorveu um pouco do crescimento então seu caso é complicado.
‐ Vai se foder, Irmãzona!
Ruge Garfiel, rangendo seus dentes enquanto ele bate o tabuleiro de Xatranje na mesa. Ele então começa a meticulosamente arrumar as peças pequenas. Então ele observa Garfiel, Subaru acena para Otto, que está corado.
‐ Não vá ficar muito bêbado também. Se você ficar de ressaca e inutilizável, Petra vai piorar ainda a impressão dela sobre você.
‐ Eu sinto que ela tem sido um pouco cruel comigo recentemente, mas talvez seja impressão minha. Você poderia ter uma conversa com ela?
‐ Quer dizer, falar para ela se esforçar mais?
‐ Eu claramente estava te pedindo para falar pra ela ser mais gentil comigo!
Subaru responde com um sorriso amargo, dizendo para Otto que isso é impossível, e ele deixa ambos jogarem Xatranje enquanto ele sai do cômodo. As luzes do corredor indicam para Subaru que já quase se passou da meia-noite. Normalmente ele já estaria na cama a essa hora, mas...
‐ Acabei chegando tarde hoje...
Subaru ignora a escadaria para seu quarto no terceiro andar da ala leste, e vai em direção ao dormitório feminino na ala oeste. Onde...
‐ Você se importa se eu entrar?
Subaru sempre bate na porta. Ele sabe que ninguém irá responder. Nesse caso ele fala isso por que ele tem esperança? Ou talvez ele confirme que não tem resposta, para que ele não se esqueça. Para que ele não se esqueça do inferno, sempre ardendo em seu coração?
Subaru, silenciosamente, abre a porta. Um quarto escuro o recebe. É um quarto simples. Sua configuração é idêntica aos outros incontáveis quartos de convidados na mansão, mas esse plenamente carece de mobília. Apenas uma cama no meio do quarto, janelas, cortinas, uma mesa pequena e um vaso com flores. Subaru sabe que ninguém irá reclamar, mas ele ainda não gosta da austeridade.
Chame de sentimentalismo, mas ele deseja que o local tenha mais calor humano. Talvez nunca chegue o dia onde ele não consiga não considerar esse desejo como uma fraqueza.
‐ Se você pudesse racionalizar as coisas dessa maneira, eu não acho que nós conseguiríamos encontrar um denominador comum para nossos argumentos um dia. Eu gosto taaaanto de você do jeito que você é. – Emilia lhe diria, numa memória de Subaru.
‐ É um vício querer coisas além das suas possibilidades, de fato. Subaru, você é descuidado quanto está sozinho, eu suponho. —Mas você não está sozinho mais, então eu irei fazer algo por você mesmo que você esteja sendo ganancioso, de fato. ‐ Beatrice também o diria, em lembranças do rapaz.
‐ Elas estão me mimando. E Emilia-tan está tentando com essas declarações provocativas.
Subaru queria que ela fosse mais cuidadosa ao dizer 'Eu gosto de você' ou 'Você é tão legal'. Ele já declarou seus sentimentos, mas Emilia é muito inocente sobre isso. O relacionamento deles ainda não chegou ao nível romântico. Mas mesmo que chegasse, Subaru ainda não estava pronto mentalmente para isso. Ele precisava de mais dois anos, não, três - ou até mais, se possível. Esse era o tipo de fracassado que ele era.
- Meu Deus, é tão indelicado da minha parte ficar falando da Emilia ou da Beatrice enquanto eu estou aqui. Petra me daria um tapa se me ouvisse.
Petra talvez fosse a que melhor entendia de romance e suas nuances na mansão. De algum modo, todos eram péssimos com relacionamentos. Roswaal liderava com sua obsessão doentia, enquanto os outros também tinham seus defeitos. Os sentimentos de Garfiel por Ram ainda eram uma paixonite de escola, embora Subaru não tivesse moral para criticá-lo. As ideias de Ram sobre amor e lealdade extrema eram perturbadoras, e a vida amorosa de Frederica era um mistério. Às vezes, quando Otto estava bêbado, ele se gabava de ser um conquistador, mas todos sabiam que era mentira e exagero. Era uma vergonha para esses adultos que uma garota de treze anos os superasse.
- É assim que as coisas são. Eu não acho que essa tendência vai mudar muito, mesmo depois que você acordar. Seja porque eu sou um fracassado, ou porque você me admira.
Subaru pegou uma cadeira e se sentou ao lado da cama. A luz da lua entrava pela fresta das cortinas, iluminando o rosto dela enquanto ela dormia.
A luz da lua banhava o rosto pálido dela, seus lábios rosados. Ela era uma bela adormecida de cabelos azuis curtos, o corpo curvilíneo dela coberto por uma camisola fina. O peito dela subia e descia conforme a respiração dela.
Ela dormia há um ano.
‐ Tenho várias coisas para te contar hoje, já que alguns visitantes apareceram sem serem convidados, e com uma oferta maluca. Eu comecei o meu dia com o meu—...
Subaru conversa calmamente com ela enquanto ela dorme. Ele usa a mesma fraseologia de sempre, mas o tom dele é incrivelmente gentil. Ele fala como se estivesse recitando uma canção de ninar para uma criança dormir enquanto ele alegremente conta para ela sobre o dia dele.
Ela não responde. Apesar disso, esses encontros acontecem toda noite. Essa noite é um rifle cheio de munição de coisas para discutir. Até que a lua se abaixe no céu, a história continua entre Subaru e a Bela Adormecida.
Enquanto isso, a carruagem da mansão Astrea seguia viagem pela estrada noturna. Eles já haviam deixado Costuul para trás e estavam a poucos minutos da mansão do Mathers. O cocheiro, com uma expressão sonolenta, coçava os olhos enquanto tentava se manter acordado. Ele tinha um corpo grande, com cabelos, bigode e olhos roxos. Seu terno esvoaçava com a velocidade da carruagem enquanto ele suspirava.
Akashi Taiga estava adormecido, deitado em um dos assentos confortáveis. Ele sonhava com o seu reencontro com seus amigos e com a derrota de Cecilus Segmunt, tendo vingado Halibel e Lye...
- Volte.
Uma voz ecoou na mente do garoto, interrompendo seu sono. Ele ignorou de início, se ajeitando no assento e resmungando algo como "só mais um pouco".
- Volte, Akashi Taiga.
A voz voltou, mais séria e urgente, despertando Akashi enquanto ele abria os olhos. Ele não entendeu o que estava acontecendo, mas antes de qualquer pergunta...
O espaço se distorceu, tudo congelou, Akashi arregalou os olhos e rapidamente se levantou do assento, sentindo tudo girar e seu corpo fraquejar. Ele se perguntou...
- O que é isso?! O que está acontecendo?!
O jovem dos cabelos brancos olhou em volta, procurando por alguma explicação. Ele viu o cocheiro, que estava paralisado no seu lugar, com uma expressão de surpresa. Ele viu a carruagem, que estava suspensa no ar, sem nenhum sinal de movimento. Ele viu a estrada, que estava deformada e distorcida, como se fosse uma pintura borrada.
Mas não viu nada que fizesse sentido, era bizarro e muito estranho, por que isso acontecia? Por que parece que alguém não quer Akashi por lá? Será possível que a presença de Akashi na região do Mathers é indesejada ou proibida?
- Quem é você?! O que você quer de mim?!
Ele gritou, tentando encontrar a fonte da voz. Mas ele não obteve nenhuma resposta. Apenas um silêncio perturbador.
Ele sentiu um puxão, como se algo o estivesse arrastando para fora daquela realidade. E mesmo que resistisse, segurando-se no assento com força, era inútil. Ele não queria ir, ele não sabia para onde estava indo. Akashi queria ficar, ele queria ver seus amigos de novo.
Ele queria viver.
Mas era tarde demais.
Ele perdeu o equilíbrio, ele perdeu o contato, ele perdeu a consciência. Akashi veria o cocheiro desaparecer com a carruagem e o dragão. Ele viu a escuridão engolir tudo e, então...
Ele não viu, não ouviu e nem sentiu mais nada, até que...—
...Fim do capítulo....
Levaram-se três dias se preparando para a viagem a Pristella.
- Eu respeito a decisão da dona Emilia, e nããããão vejo nada de errado nisso. No entanto, suas intenções parecem difíceis de adivinhar. - Diria Roswaal, o lorde da mansão do Mathers.
A Reunião dos Lordes do Oeste, uma conferência entre o Marquês Roswaal e os outros lordes sob sua jurisdição, será realizada na mansão do lorde mais neutro. Embora os lordes geralmente sigam os planos de Roswaal obedientemente, alguns expressaram preocupações e protestaram contra seu apoio a Emilia.
A maioria dos lordes respeita a política de Roswaal sobre favoritismo demi-humano, ou melhor, sobre igualdade para os demi-humanos, mas meio-elfos como Emilia não são normalmente considerados demi-humanos. Ao longo do último ano, através de discussões e acordos, eles conseguiram garantir o apoio superficial de alguns dos lordes. Esta conferência é, em parte, para dar a Emilia a oportunidade de conversar com os lordes que a recusam obstinadamente. Roswaal deixou a mansão vazia em preparação para isso.
- Eu sinto muito. Sinceramente, queria poder participar da reunião também, mas... - Emilia diria, com um tom suave.
- Nããããão seria uma boa ideia. O motivo por trás desta reunião é permitir que você tenha a chance de conversar com eles futuramente, ter você lá seria jogo sujo... Se beeeeeem que, se você pudesse acalmar essa confusão e silenciar os lordes rebeldes com um maravilhoso discurso, seria incrííííível.
- Eu não acho que sou capaz disso ainda. Certo, vou me comportar.
Emilia franze os lábios e baixa a cabeça frustrada. Já Roswaal, satisfeito, acena com a cabeça para ela. Subaru quer protestar contra o tom um tanto sarcástico de Roswaal, mas pelo menos ele está sendo sincero com ela. É um milhão de vezes melhor do que no ano passado, quando Roswaal a mantinha longe de assuntos envolvendo política e ela ficava de enfeite-pelo menos foi o que Emilia disse a Subaru quando ele reclamou do assunto.
Roswaal é um apoiador muito mais confiável agora que está sendo proativo. Porém, já que seus motivos são questionáveis, não tem tantos benefícios quanto parece.
- Levando em consideração que Petra certamente estará na reunião... quem ficará na mansão? - Subaru perguntou.
- Annerose e seus associados participarão da reunião. A presença de Clind provavelmente evitará problemas, considerando seu favoritismo por Petra. Estava pensando em deixar Frederica aqui, já que ela e Clind não se dão bem... e você, Ram?
- Irei acompanhá-lo conforme desejar, senhor Roswaal.
- Você diz "conforme desejar", mas está claro que o desejo é seu... - Murmurou Subaru.
Ram ainda é obediente a Roswaal, mas agora não hesita tanto em expressar seus próprios desejos. Roswaal não parece surpreso. A dinâmica unilateral de dependência entre eles parece ter mudado. Parece que eles realmente se entendem agora. No entanto, ainda não está claro se é benéfico ou prejudicial ter alguém que simpatiza com Roswaal tão próximo.
- O que você está olhando? Se falar algo imprudente, vou transformar seus olhos em purê, Barusu.
- Nee-sama, na sua opinião, o quanto sou insistente?
Ram faz uma expressão extremamente complicada. Não porque a pergunta era difícil, mas porque era a mesma expressão que ela sempre faz quando Subaru a chama de "Nee-sama" (irmã mais velha). Não é que ela não goste, mas parece que não é sincero. Desde que suas memórias de Rem não voltaram, todos aqueles anos em que ela foi idolatrada por sua irmã mais nova foram apagados.
- Eu ficaria preocupado se apenas você e a senhora Emilia fossem, mas tenho certeza de que tudo ficará bem com Garfiel e Otto os acompanhando. Otto vai impedi-los de se envolverem em acordos terríveis e, na pior das hipóteses, Garfiel resolverá todos os problemas enquanto vocês fogem.
Emilia sorriu sutilmente ao ouvir Roswaal, respondendo-lhe logo em seguida...
- Acho que isso seria muito problemático também... Farei o possível para evitar que chegue a isso.
- Se é para pressioná-los, deixe comigo, Emilia-tan. Vou ficar em cima deles, seja Anastasia ou Julius. Aprendi muito sobre pessoas que evitam assuntos importantes em conversas com uma certa bruxa tagarela.
- Não sei se isso é algo para se orgulhar...
Subaru faz um gesto positivo para Emilia e sorri, seus dentes brilhando. Emilia sabe que Subaru está brincando para deixá-la mais relaxada. Ao longo de um ano, eles estabeleceram uma relação de confiança forte o suficiente para entender um ao outro até certo ponto.
- Entããããão, Beatrice, Posso confiar que irá ficar de ooooolho neles?
- Claro. Pode descansar em paz sabendo que Betty estará com eles, eu suponho.
Beatrice estufa o peito enquanto suas tranças balançam de um lado para o outro. Esta atitude adorável deixa todo mundo com um sorriso no rosto. Embora ela pareça um pouco descontente com isso.
De qualquer forma, com esta conversa encerrada, eles decidiram finalmente ir até Pristella.
- Procure pelo Pavilhão Pluma d'Água assim que chegar lá. É onde a senhorita Anastasia está os aguardando. - Joshua deu sua informação final.
- Não deixem ela esperando! - Mimi exclamou.
E com isso os subordinados de Anastasia deixam a Mansão de Roswaal. Eles vão na frente informar Anastasia de que o convite foi aceito.
- É, se cuida.
- Você também, Garf! - Mimi respondia. -Eu vô tá super animada te esperando, não me deixa na mão!
- Você tá animada é toda hora. Mas deu pra entender. Esses cara aqui não tem jeito sem o meu incrível eu pra ajudar. Só vamos terminar umas coisas aqui. Melhor preparar o teu pescoço.
- Hã? OK! Vou ficar mega preparada!
Esta conversa adorável entre Mimi e Garfiel foi particularmente notável. Garfiel estava muito desconfiado deles lá na mansão, mas, baseando-se na atitude de Mimi, parecia que suas preocupações eram infundadas. Ou melhor, parecia que Mimi dava tudo de si quando se tratava de fazer amigos. Ela começou a chamá-lo de "Garf" sem nenhum aviso prévio, então quem sabe o convite de Anastasia não seja hostil.
- Você pode até ter conquistado a Mimi, mas eu... a minha pessoa não irá ceder tão facilmente.
Diz Joshua, tentando permanecer sério enquanto segue seu guarda-costas sorridente. Mimi estava puxando com força e sem parar o braço de Joshua para frente. Ele se manteve sério o tempo todo, o que foi meio engraçado. Mas até mesmo Subaru aprendeu a ser gentil o suficiente para não dizer isso a ele.
- Joshua, vai ficar tudo bem? Você tem roupas tão adoráveis, mas a manga parece que está por um fio... - Emilia lhe dizia, preocupada.
- P-Por favor não se preocupe. Não há necessidade disso! - O jovem dos cabelos roxos respondia.
Subaru conseguia entender os sentimentos do pobre homem, mas o mesmo não podia ser dito do anjo que também estava se despedindo dele. Emilia estava de fato preocupada com Joshua, que, incapaz de erguer a voz, está de forma lamentável tentando se soltar de Mimi. Mas ela é obviamente mais forte que ele e seus esforços não levam a lugar nenhum.
- Meu irmão pode até chamá-lo de amigo, mas acredito que ele está sendo gentil demais. O que é uma de suas várias virtudes. Eu acredito que meu trabalho como irmão mais novo seja compensar por isso, então não espere piedade da família Euclius.
- Quê? Você já se cansou desse negócio de "A minha pessoa"? - Subaru pergunta, claramente zombando de Joshua e seu modo de falar.
-P-Por favor preste atenção no que estou dizendo! Tentando me fazer de idiota assim! Vejo que não é um homem muito agradável!
- Estou mais preocupado é com o jeito que você se esquece de que é só um mensageiro. Se você falar mal assim das pessoas em público não acha que pega mal pra você e pra família Euclius?
Joshua fica pálido ao ouvir isso, mas Subaru não está tentando criticá-lo. Além do mais, quando se tratava de escândalos em público, Subaru era pior. Não que Joshua soubesse disso, e, Subaru Natsuki sendo Subaru Natsuki, ele não dirá isso a Joshua.
-Subaru, pare de importunar os mais novos. - A jovem meio-elfa diria, sua atitude parecia com alguém mais velha brigando com sua criança que provoca as outras crianças mais novas. - Mil perdões, Joshua. O Subaru... ele é assim às vezes.
- N-Não... Eu estava realmente sendo rude. Eu que devo me perdoar.
- Cadê o "A minha pessoa"? - Subaru prosseguia com a zombaria. - Ai! Ai, isso dói, Emilia-tan!
Subaru imediatamente começa a zombar de Joshua novamente, fazendo com que Emilia o puxe pela orelha. Joshua vê algumas lágrimas nos olhos de Subaru e, satisfeito, decide finalizar a conversa.
Joshua respira profundamente e eles embarcam na carruagem de dragão. Na verdade, já que a carruagem está sendo puxada por Ligers, não dragões, seria uma carruagem de cachorro? Será que existem corridas de cães nesse mundo?
- Talvez seja uma boa introduzir algumas formas de entretenimento, corrida de cavalos e tal...
As ideias de Subaru que usam seu conhecimento único do Século XXI (21) nunca saem do papel. Talvez ele devesse considerar usar seu conhecimento mais seriamente. Primeiro ele precisa definir os prós e os contras de introduzir corridas de cavalos ao mundo, e...
- O que foi, Subaru? Parece que você está pensando em algo tão maquiavélico. - Emilia pontuou.
- De repente vieram um monte de ideias do meu 'Conhecimento Único do Século XXI'. Tipo uma enxurrada de Subaruísmos.
- É outro condimento? Eu adorei a maionese, o molho tártaro também.
- Desta vez é uma ideia tão única que nunca nem passaria pela cabeça do povo.
A propósito, na Mansão do Roswaal há estoques de molho tártaro e maionese. Basicamente todos da mansão gostam, mas isso não satisfaz completamente Subaru. Ao mesmo tempo que esta conversa ocorre, Joshua e Mimi terminam de se preparar e a carruagem começa a se mexer. Não há ninguém no lugar do cocheiro, Mimi está montada em um dos dois Ligers e os está controlando diretamente. Suas roupas brancas tremulam ao vento enquanto ela sorri alegremente.
- Certo! Até mais, vocês dois! Até mais, Garf!
Eles se despedem da alegre Mimi e acenam para Joshua, que estava alerta do outro lado da janela da carruagem. Dois dias após esta despedida, Subaru e os outros vão até Pristella.
- Vai levar mais de dez dias para chegar lá, mesmo se nós acelerarmos. - Otto explicava - Mas não temos motivo para isso, dá para relaxar e ir com calma.
Ninguém tem nada contra os planos de Otto. Comparado aos outros ali, ele é certamente o que está mais acostumado com viagens, e, quando se trata da resiliência física do grupo todo, ele está mais ou menos no centro. Se eles viajarem em um ritmo que não o estresse, então todos irão provavelmente desfrutar de uma jornada segura.
- Levando em conta o peso da carruagem, Frufoo e Patrasche irão puxá-la. E, já que não temos planos de acampar, só precisaremos levar o mínimo de suprimentos de emergência.
- Faz mal pro corpo ficar parado na carruagem o tempo todo, Otto. - Garfiel diria.
- Se pensa assim, está livre para descer da carruagem e dar um corrida.
- Isso mesmo que vou fazer.
- Isso mesmo que você vai fazer?
Emilia perguntava, ela fica chocada ao ouvir esse bate-papo entre Otto e Garfiel, e, com isso, a viagem para Pristella finalmente se inicia.
Com isso dito, não houveram muitos problemas durante a viagem. Eles tiveram alguns problemas quando entravam em territórios que não estavam sob a jurisdição dos Mathers ou pelos portões de outros lordes, mas esses problemas eram mais ou menos resolvidos ao mostrar o brasão da família Mathers ou Emilia. Isso em si já pode causar problemas, mas eles não se depararam com ninguém planejando algo maligno no caminho.
Às vezes alguns cães selvagens ou majuus aparecem, tentando atacar a carruagem, quando isso acontece...
- Perfeito. Tava com saudade de dar uns murros em uns bichos.
Garfiel violentamente protegia a carruagem, espantando todo os animais que ousavam se aproximar, seu trabalho como guarda-costas era tão perfeito que dava até pena dos majuus. Mas até mesmo o aterrorizante Garfiel, quando não estava ocupado espantando majuus, passava o tempo roendo uma faca que ele trouxe, dando a ele traços de gap moe. Também é levemente perturbador vê-lo destruindo o aço da faca com os dentes.
^^^(Nota: Gap moe é quando uma personagem faz algo completamente contraditório com o que os seus hábitos/personalidade/característica/aparência habituais ditam.)^^^
- Hmm. Esse dragão não é tão ruim. Isso eu tenho que admitir, eu diria.
Diz Beatrice, sentada ao lado de Subaru, que estava segurando as rédeas. Surpreendentemente, Otto não é único responsável pela direção. Pode até ter demorado um ano, e precisado de um dragão acostumado com os maus hábitos e peculiaridades de Subaru, mas agora ele é capaz de dirigir uma carruagem. Se bem que é porque essa carruagem está sendo puxada por Patrasche e pelo dragão de Otto, Frufoo. Os únicos outros dragões que são mantidos perto da mansão são Rascal e Peter. Obviamente Subaru era familiar o bastante para dar um nome a eles.
- Que tal deixar de lado essa gabação toda e me ajudar com as rédeas? O que não falta na Patrasche é espírito materno, tenho certeza de que ela vai ser gentil com você também, Beako.
- Acho melhor não. Na verdade, esse dragão está obviamente me encarando de um jeito nada amigável, eu suponho. Ela não me vê como amiga. De onde foi que você tirou isso de "espirito materno", eu diria?
- Ei, sem falar mal da Patrasche. Eu nunca vou permitir que ninguém insulte a Emilia-tan, a Rem, você ou a Patrasche.
- Você me inclui nessa lista também mas não permite que eu fale nada da Patrasche, eu diria?
- Quando é alguém da lista, ela só tá sendo levada!
Beatrice tenta fugir, o que é impossível naquele assento tão estreito. Subaru agarra ela pela nuca e a traz mais perto, colocando-a em seu colo enquanto ela se debate. Ele tenta sentenciá-la à morte por cosquinha, mas aí um fio do cabelo se esfrega em seu nariz, fazendo com que ele espirre com força-o que faz com que a carruagem chacoalhe.
- Senhor Natsuki! Não deixe eles fazerem nada estranho! Se a gente sair da área de efeito da Proteção Divina da Quebra de Vento, vamos ter alguns problemas com enjoo!
- Foi mal! A Beako estava tão animada que eu...
- Não tente fazer parecer que a culpa é da Betty! Subaru foi lá e... pare de fazer cócegas em mim, eu diria! Par-pffhahaha!
Otto suspira ao ver essa cena. Emilia solta uma risada abafada e...
- Eles se dão tão bem. Não muito tempo atrás, eu nunca teria imaginado que Subaru e Beatrice ficariam tão próximos desse jeito.
- Pessoalmente, eu acho até difícil de acreditar que houve uma época em que não se conheciam. A dona Beatrice e o senhor Natsuki são tão adoráveis juntos que chega a doer.
Emilia dá um sorriso solene, parecendo um pouco uma mãe ou irmã mais velha do ponto de vista de Otto. Mas ele não é tão insensato ao ponto de dizer isso em voz alta, na tentativa de não atiçar Subaru.
- Vamos deixar eles se divertindo e discutir algo bem mais importante... os objetivos da chapa da Anastasia e como vamos reagir. - Otto começou.
- Eles não estão tentando apenas nos endividar. - Emilia lhe respondia.
- O primeiro ano da Seleção Real já passou, com dois anos faltando esta é nossa oportunidade final para estabelecer um alicerce. Assim que estiver estabelecido, teremos que assegurar os apoiadores na Reunião dos Lordes do Oeste. Se ignorarmos que as outras chapas já tinham esse problema resolvido desde sempre, devemos estar mais ou menos no mesmo nível de progresso.
- Como anda a Anastasia no momento?
Emilia foi mantida de fora dos movimentos exatos das outras chapas por um tempo. Isso foi porque eles precisavam treiná-la da estaca zero em como ser um político, deixando com que ela consiga as habilidades que necessita, ao invés de se sobrecarregar com informações desnecessárias. Roswaal e Otto, a dupla de administração interna, compreendiam isso como sendo seu motivo para concentrar sua atenção em outro lugar, e também entendem que seria seguro remover algumas destas restrições durante esta viagem.
Então Otto acena com a cabeça para Emilia e começa a montar a situação mentalmente.
- Primeiro vamos discutir o apoio que as outras candidatas têm no momento. No começo, a Duquesa Crusch Karsten e Anastasia Hoshin eram consideradas a vencedora e a concorrente. Já as outras três chapas, incluindo a sua... me perdoe pela indelicadeza, mas diziam que estavam lá só para encher linguiça.
- ...Hmm, isso eu tenho que admitir. Mas, pelo jeito que você diz...
- Sim. A opinião do público mudou ao longo do ano passado. Isso se deve porque as outras três chapas, começando com a sua, alcançaram grandes conquistas.
As conquistas mais notáveis da chapa de Emilia, como esperado, foram a derrota do Arcebispo da Preguiça e da Baleia Branca. A chapa de Crusch que liderou a batalha contra a Baleia, mas Crusch em pessoa declarou publicamente que Subaru Natsuki contribuiu imensamente. Ambas as conquistas instantaneamente desviaram a atenção do público para Emilia, antes ignorada. O problema é que ela já tem uma desvantagem por causa de sua linhagem. Seja por bem ou por mal, Emilia é o tópico de vários rumores e boatos por todo o reino.
As outras candidatas ignoradas, Felt e Priscilla, também começaram a chamar a atenção do público.
Priscilla Barielle fez coisas notáveis também. Após herdar as terras de seu falecido marido, Leip Barielle, ela se aproveitou do estado deplorável das coisas na fronteira entre Lugnica e o hostil Império de Vollachia, aliando-se aos territórios próximos em meio à confusão. E, como se magicamente, acalmou Vollachia e fez alianças com vários lordes. Ela então revitalizou as terras que haviam sido arruinadas por causa da guerra. Ela demonstrou grande potencial em um curto período de tempo. Ela também tem uma atitude extravagante e sua beleza está a seu favor. A parte sul de Lugnica está a cada dia apoiando Priscilla mais.
Enquanto isso, Felt tem Reinhard van Astrea e os territórios da família Astrea, que, comparada às outras candidatas, ela é ofuscada pelo seu cavaleiro. O título de "Santo da Espada", imponente como é, não é muito útil na hora de escolher outro Rei. A atitude dos lordes locais, incluindo aqueles no domínio dos Astreas, se assemelha mais a desconfiança do que cautela.
No entanto, Felt inesperadamente superou esta situação horrível. Ao invés de consultar os influentes nobres capazes de intereferir com as outras candidatas, ela reuniu pessoas que haviam abdicado de seus postos e plebeus. Quando se trata de descobrir ambições escondidas ou pessoas talentosas que nunca foram reconhecidas, Felt é inigualável. Deixando os rumores dela ter sangue real de lado, ela é capaz de identificar pessoas talentosas e atribuir a elas um cargo, o que pode ser considerado uma das mais importantes qualidades de um líder. Por causa disto, a família Astrea e os territórios adjacentes começaram a ganhar vida, e os lordes que estavam observando começaram a mudar pouco a pouco. Ainda é apenas um pequena faísca, mas ela definitivamente terá seu lugar reservado na história. Ninguém importante na nação a está ignorando.
-... e é assim que cada chapa está agora. A nossa também é reconhecida por suas conquistas, mas as outras duas têm um alicerce mais estável. Embora eu acredite que poderíamos esquecer isso se a derrota do Grande Coelho fosse reconhecida oficialmente.
- Otto, você está dizendo as mesmas coisas que o Subaru. Mas talvez queira dizer que é seguro ser otimista e dizer que estamos mais ou menos no meio.
- Por ora. Sim. Porém... tiveram algumas mudanças por parte da Duquesa Karsten. E foram a nosso favor."
- A nosso favor?
- Sim. A Duquesa Crusch Karsten perdeu um pouco de seu brilho este ano, como se tivesse virado outra pessoa. Ela era rígida tanto em assuntos públicos quanto privados, alguém que os apoiadores do antigo Duque Karsten não tinham escolha a não ser aceitar.
Algo havia mudado em seu jeito de agir e liderar. Ela se tornou mais indecisa e passava agora uma impressão leve. Os rumores dizem que ela tentou ao máximo exercer o papel nada feminino de Duquesa, mas sua verdadeira personalidade veio à tona. Ela aparentemente está ocupada lidando com pessoas e lordes descontentes, às vezes até pedindo pela ajuda do já aposentado Duque.
- O povo tinha certeza de que ela venceria a Seleção, já que até havia assegurado sua primeira conquista contra a Baleia Branca... mas, ainda não está muito claro o que levou à sua queda. Dona Emilia, fique atenta.
- ...Entendo.
Emilia baixa seus olhos, meio melancólicos. Ela não consegue não sentir pena de suas rivais, mas Otto considera isso perigoso e frágil. Elas eventualmente irão se opor uma à outra. Não é vantajoso ser muito solidário com elas. Este último ano ensinou Otto que política e comércio são muito semelhantes.
- Tente não pensar demais no assunto. Mais conversas como esta terão que acontecer no futuro."
- Uhum. Obrigada. Eu sei que você só está tomando conta de mim.
- Excelente. Agora vamos finalmente vamos falar sobre a chapa da Anastasia. Eles não tem algo para chamar de base em Lugnica, mas têm o apoio de mercadores importantes em Kararagi. E parece que várias lojas estão abrindo as portas por toda Lugnica com o apoio da Companhia Hoshin.
- Mas o que isso quer dizer? Talvez tenham várias novas lojas, mas isso não quer dizer que terão vários novos apoi... oh, com mais pessoas a conhecendo, ela terá mais visibilidade?
- Acredito que isso seja apenas um efeito colateral. Sua meta é muito mais simples. -Ela tem muito dinheiro para usar. E já que dinheiro é tão simples, funciona com qualquer um. Não há sequer um ser vivo nessa sociedade que conseguiria viver em paz com problemas econômicos.
Fazer alianças com mercadores significa fazer mais amigos no mundo dos negócios. E, já que a economia é o que sustenta a sociedade, possuir poder econômico significa possuir meios de atacar e defender tal sociedade. Ela está fazendo aliados por toda a parte, isso faz com que seja praticamente impossível de se opor a ela, é uma mulher de negócios que prioritiza poder econômico.
- Creio eu que a chapa da Anastasia é a que mais temos que ter cautela. E aí recebemos um convite deles... tenho uma sensação de que vamos acabar endividados com eles. Você entende como eu estou cheio de problemas?
-... Finalmente entendi. Desculpe por agir tão descuidadamente.
- Não é nada preocupante, só quero que entenda. A partir de agora você não vai fazer nada descuidado porque tenho certeza... tenho certeza... tenho certeza de que você entende!
Emilia curva sua cabeça enquanto Otto balança a sua de um lado para o outro em submissão, suspirando logo em seguida.
A explicação de Otto foi clara e simples de entender. Emilia acena com a cabeça várias vezes.
De fato. O mundo da política é complexo e difícil.
Ela já estava ciente de que dizer "Eu vou fazer o meu melhor" e "Vamos fazer nosso melhor" não iria lhe assegurar a vitória, mas ela fica tonta só de pensar que teria de ficar de olho nos movimentos de seus rivais também. Ela está feliz que esses segredos foram revelados a ela, mas também está bem mais apreensiva.
- Você não precisa ficar remoendo isso sozinha.
Diz Otto, imaginando como ela deve estar se sentindo. Emilia levanta seu rosto, enquanto Otto fica mexendo com seu cabelo cinza.
- Você pode até ser a figura central, mas isso não quer dizer que você tem que fazer tudo sozinha. Essa carruagem toda está com você.
- Essa carruagem toda?
- O senhir Natsuki está com as rédeas. Dona Beatrice está de olho para que ele não procrastine. Garfiel está de vigia no topo da carruagem, e fui eu que planejei o nosso itinerário. O que você faz é nos agradecer pelo trabalho duro e nós vamos rumo a Pristella.
Emilia arregala os olhos, compreendendo o que Otto quer dizer. E é engraçado, porque o seu jeito de falar o lembrou de outra pessoa.
- Otto. Você lembra taaanto o Subaru dizendo isso.
- O quê!? Sério!? Ah, não... ele deve ter passado alguma coisa pra mim em todo esse tempo que eu passei com ele... n-não, por favor, não, é assustador só de pensar q-
- Ei, Otto! O que você tá falando aí com a Emilia-tan que tá tão feliz? Os sorrisos da Emilia-tan são a minha dieta, acho melhor não tentar roubar nenhum!
Otto ergue seus ombros de susto quando a pessoa em questão se intromete na conversa. Sua reação faz Emilia sorrir, Otto acaba sorrindo de volta, derrotado.
- Qual é! O que é que tá acontecendo aí!? Não é justo! Beatrice, assume a direção. Eu vou entrar.
- Ah! Não! Pare, eu diria! Eu não posso... V-Vai virar! Vai virar! Olha, ela vai virar, eu diria!
Ao ouvir a gritaria vindo do lado de fora, Otto se levanta. Um certo cavaleiro impaciente deve estar no limite. Hora de trocar de lugar e dar um oi aos dragões.
- Otto.
Emilia chama Otto enquanto ele se preparava para ir ao assento do cocheiro. Otto olha para ela e prende o fôlego. Era como se o sorriso estampado em seu rosto, que expressa confiança em Otto, o perfurasse pelo peito
- Eu sei que vou causar alguns problemas, mas ainda vou fazer o meu melhor. Estou contando com você.
- Sim, por favor. Eu posso me contentar com as sobras.
- Você também pareceu o Subaru dizendo isso.
Com um sorriso torto no rosto, Otto vai para o assento do cocheiro. Subaru e Emilia são ambos levados. Para Otto, acometido por uma doença na qual ele deve responder às expectativas colocadas sobre ele, os dois são uma combinação fatal.
Enquanto essa confusão se desenrola, doze dias se passam desde a saída deles. E o grupo de Emilia chega em segurança a Pristella, a Cidade das Comportas.
Durante este período, Akashi Taiga flutua de olhos fechados num espaço claro e vazio. Seu corpo leve como uma pena era levitado pra cima e baixo lentamente. A respiração do jovem era calma e seu rosto não parecia ter traços do estresse e desespero que sentiu há algum tempo atrás.
- Desperte, criança. - Uma voz grave, com tons suaves, lhe diria. - Está na hora de acordar.
Lentamente abrindo seus olhos, Akashi não tinha idéia do que lhe viria a acontecer alí.
...Continua...
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