Sem contato não há sentimento

Já fazia uma semana que aquela mulher ia até ele, Clara no início fingia que não via a presença dela, mas quando a encontrou saindo do quarto dele no sétimo dia revirou os olhos automaticamente. Ela tinha que seguir mil e uma regras, mas ele fazia o que queria sem pensar na sua dignidade.

_Bom dia, Ellen certo?_ ela esticou a mão para cumprimenta-la.

Clara se sentiu chocada com a ousadia dela e não conseguiu esconder a cara de raiva, mas a cumprimentou por educação. A mulher sorriu cordialmente e sentou-se à mesa. Meu Deus! Ela estava ali sentada comendo com ela na mesa como se fosse de casa sem pudor algum. Clara respirou devagar e tentou manter a sua expressão neutra engolindo o que estava sentindo, olhando para ela percebeu que ambas deveriam ter a mesma idade ou perto.

_ Olha, eu sei que talvez você não deva estar acostumada com outra pessoa na casa, ele me disse que mora a pouco tempo por aqui._ ela olhou-a com pena deixando Clara enojada_ Eu imagino que como irmã dele, deve ser difícil assistir a isso.

_ Irmã?_ maldito mentiroso, ela riu alto_ Desculpe, estou atrasada.

Limpando a boca ela se levantou sob o olhar de confusão da mulher e foi para o seu trabalho. Nem mesmo a música a fazia se desconectar da bagunça que estava em sua vida, olhando para a janela ela viu novamente o carro do segurança dele passar. Ai já era o fim da picada mesmo!

Quando ela chegou ao shopping, logo viu o segurança andando em uma ala de roupas enquanto a procurava então sem pensar, Clara foi até ele e o cutucou.

_ Já pode parar de ficar me vigiando, não estou fazendo nada de errado._ ela botou as mãos na cintura.

_ Não estou te vigiando, estou aqui a trabalho.

_ Acha que eu não já não te vi outras vezes me vigiando?_ ele vacilou olhando para o lado _ Pode dizer ao meu "marido" que não preciso de ninguém cuidando da minha vida, obrigada.

Ela saiu andando irritada e foi para o último andar para se trocar, voltando para o andar da galeria. Ela chegou e deu um bom dia rápido e seguiu organizando e arrumando tudo o que via pela frente.

_ O espírito de faxineira baixou legal hoje hein._ Victor falou brincando.

_ Se eu pudesse faxinava a minha vida também viu!_ ela suspirou.

_ Problemas?_ ele cruzou os braços.

_ Se o problema no caso é o seu marido chegar em casa com outra mulher? Sim, é um problema.

Ela entrou para pegar um copo de água, não havia mais nada para limpar ou organizar e queria se manter ocupada.

_ Ele levou alguém? Que estranho._ ele coçou o queixo_ Marcos não é muito do tipo de levar mulheres para sua cama.

_ Agora ele é, ela está a uma semana lá.

Victor fez cara de espanto, mas depois riu e saiu, Clara ficou indignada com isso e foi atrás.

_ O que foi? Não é engraçado.

_ Na verdade é sim, está com ciúmes dele.

Oi? Clara riu alto e foi atender um grupo que entrava na galeria, compraram alguns chaveiros da Mona lisa e saíram. Ela guardou o dinheiro e ajeitou novos chaveiros no lugar.

_ Para haver ciúmes eu deveria ter algo com ele, o que no caso eu não tenho. Então eu não estou com ciúmes, estou irritada por ele fazer o que quer e eu não.

_ Entendi, então se você falar com ele sobre isso acredito que ele vai entender perfeitamente.

_ Ou vai rir da minha cara, prefiro ficar quieta.

Victor a olhou e balançou a cabeça. Quando deu o seu horário ela foi embora, no caminho até o ponto começou a chover então ela correu para não se atrasar. Assim que pisou em casa a chuva começou, respirando aliviada ela tirou os seus sapatos e os colocou no lugar. Como Marcos já não a acompanhava, Clara nem se deu o trabalho de olhar a sala de jantar, mas então ouviu uma risada feminina e viu aquela mulher de novo. Subindo rápido as escadas ela se trancou no quarto, só faltavam pouco mais de dez meses e ela estaria de volta na sua vida normal, apenas isso. Tomando um banho demorado, ela decidiu não descer e ficou desenhando até a hora do jantar. Abrindo a porta ela viu uma das empregadas subindo e então a chamou discretamente.

_ Poderia mandar o meu jantar para cá?_ a moça a olhou curiosa_ Estou fazendo algo importante, seria de grande ajuda se pudesse deixar o meu jantar na porta, obrigada.

Alguns minutos depois ela ouviu uma batida na porta e abriu para pegar seu jantar, agradeceu e logo entrou. Mais tarde ela desceu e deixou o prato com a cozinheira agradecendo e elogiando a comida, subiu silenciosamente e correu pelo corredor escuro até a porta de seu quarto.

_ Aconteceu alguma coisa?_ uma mão segurou o seu braço de repente.

_ Ai que susto!_ quando ela viu ser Marcos abaixou os olhos_ Sobre o que seria?

_ No jantar de hoje... Você não desceu.

_ Ah sim! Não aconteceu nada, não se preocupe._ ela riu sem graça.

_ Você não está incomodada com a Lucy, está?_ ele aproximou-se dela.

_Quem?_ então esse era o nome dela_ Não, não. Por que me incomodaria?

_ Tem certeza? Eu não quero que se sinta incomodada com nada...

_ Que bom que falou, na verdade tem algo sim._ ela se lembrou do segurança.

_ Me diga que irei resolver.

_ Diga ao seu segurança para parar de ficar me vigiando no trabalho e sim, eu já percebi faz tempo.

_ Ah._ ele fez cara de desentendido_ Algo mais?

_ Só isso mesmo.

Dando boa noite, ela entrou e foi para a cama. Ele sempre aparecia na hora errada como se quisesse descobrir algo, era irritante. Dormindo rapidamente, ela sonhou com a sua kitnet pequena e confortável. Lá estava tudo em ordem, mas então com três batidas, Marcos entrou andando em pé e com um bebê no colo.

_ Você vai cuidar dessa criança, Lucy a escolheu como babá. Apenas faça seu trabalho direito!

_ Oi? Como assim?

Jogando o bebê em seu colo, ele evaporou. Ela ficou assustada vendo que a criança era a cara de Lucy e acordou no susto caindo da cama, se levantando dolorida ela foi para o chuveiro refrescar a mente. Sua mente estava lhe pregando peças e isso a deixou irritada, chegando na sala de jantar para tomar seu café ela viu os dois lá, Marcos estava sorrindo e quando a viu levantou a mão para chama-la, mas Clara apressou o passo e foi embora.

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