O trabalho acabou a tirar da cabeça de Clara a conversa de cedo, por ser uma sexta-feira o dia estava corrido e ela optou por comer um lanche rápido no horário de almoço. O seu chefe entrava e saia repondo quadros enquanto ela os vendia, o seu rosto estava brilhando de alegria e suor pelo esforço constante e quando os dois fecharam o caixa no fim da tarde ele parabenizou-a pelo seu trabalho árduo e disse que comunicaria ao dono sobre as vendas desse dia.
_ Hoje foi perfeito e merece uma comemoração!_ ele gritou enquanto os dois faziam um toque de mãos contagiante.
_ Hoje foi o melhor dia da minha vida! _ ela falou eufórica.
_ Vamos a uma lanchonete? Às 19:30 eu pego você na sua casa.
_ Vou estar pronta!
Chegando em casa ela passou o endereço a ele, tomou o seu banho e se arrumou com um vestido azul de alcinha, fez uma trança lateral com as pontas soltas e passou uma maquiagem neutra com um batom rosado. Quando Victor a buscou, ele assobiou e abriu a porta para ela entrar.
_ Olha, está muito linda!_ ele falou enquanto dirigia.
Chegando a lanchonete, Clara apreciou a vista enquanto iam até uma mesa perto da janela. O lugar tinha um jeitinho rústico e muito aconchegante, ela sentiu-se um pouquinho mais perto da sua antiga cidade neste lugar.
_ Bebida?_ Victor perguntou a ela.
_ Ah não, eu não bebo.
_ Então suco, por favor._ ele pediu.
_ Quantas pessoas virão? Essa mesa é um pouco grande.
_ Tem razão, alguns funcionários das outras galerias já estão a caminho, somos dez agora com você._ ele contou feliz.
Alguns minutos depois, três garotas se sentaram à mesa e mais cinco rapazes. Todos se cumprimentaram e apresentaram-se a ela dando-lhe boas-vindas à equipe. Pediram pizza e alguns petiscos, o clima estava muito agradável e Clara sorria à vontade.
_ Quantos anos tem?_ uma das moças chamada Brenda perguntou-lhe.
_ Fiz 23 a alguns meses._ Ela falou sem jeito.
_ Então você é a caçula da equipe, todos temos mais de 25._ um rapaz chamado Rickson falou com um sorriso estranho.
Quando tudo terminou, Victor a deixou em casa. Clara se preparou para dormir e olhou as suas mensagens, Ellen não havia dito mais nada desde que fora embora da galeria e nem mesmo esteve online a tarde toda.
_ Para de se preocupar com isso garota, esse assunto não me diz respeito mais._ Ela deu uma batidinha na testa.
Dormindo logo em seguida, Clara sonhou que encontrava a sua mãe e o seu irmão, os dois pareciam muito tristes enquanto pediam para ela não ir embora, mas do nada o cenário mudava e ela estava estava apertando a mão de Ellen, ambas com um corte na palma da mão selando um pacto inquebrável. Assustada, Clara acordou com o despertador no seu ouvido e rapidamente se levantou para se arrumar.
O movimento estava lento, mas sempre aparecia algum cliente para comprar itens pequenos ou pedir informação. Abrindo a boca de sono, ela se sentiu estranha por não receber ligação alguma de Ellen, nem mesmo mensagens dela ela recebeu.
_ Parece até de ressaca, tem certeza que você não bebe?_ Victor a cutucou brincando.
_ Eu só dormi mal essa noite._ ela riu sem jeito.
_ Acho que ontem foi demais para você, mas espero que tenha mais reuniões assim._ ele piscou.
_ Olha, eu sou comprometida "senhor"!_ ela frisou a palavra.
_ Eu não vejo aliança._ ele apontou para o seu dedo_ Eu nem preciso, a minha namorada sabe sempre onde estou.
Ele riu e balançou o celular, Clara entendeu e riu imaginando o absurdo em ficar rastreando alguém só por sentir ciúmes. Quando deu o horário eles fecharam e foram embora, olhando para a sorveteria, ela lembrou-se dos dois encontros com a sua outra eu e se sentiu triste por não poder ser amiga dela, talvez um dia quando todo aquele problema passar. Mas assim que saiu deu de cara com o pai dela esperando do lado de fora do shopping, os seus olhos estavam fundos e tristes, quando a viu ele foi na sua direção quase num ato de desespero.
_ Por favor, ajude a minha filha! Ajude a nossa família!_ ele segurou a sua mão.
_ Eu não entendo, por quê?_ ela falou.
_ Faça por ela. Clara, faça por minha filha!
E indicando o carro ele chamou-a para entrar, as suas mãos tremiam consideravelmente e ele parecia ter envelhecido uns dez anos desde a última vez em que se viram. Clara entrou desconfiada e então eles seguiram viagem, os seus olhos iam para a janela onde tudo passava feito um borrão para o senhor com olhos caídos e sem vida ao seu lado. Em quinze minutos eles pararam frente a um hospital e indo direto a recepcionista ele falou o nome da sua filha fazendo Clara levantar a cabeça surpresa, o que havia acontecido afinal?
_ O que aconteceu com ela?_ Clara perguntou com receio da sua resposta.
_ Ontem voltando do shopping, um caminhão atingiu o carro em que ela estava. O nosso motorista morreu na hora, foi uma batida muito forte... Ela está em coma, mas está longe de perigo. O problema é o casamento ser amanhã e mesmo que eu conte a família o que aconteceu eles não irão aceitar.
_ O senhor nem mesmo pensou em dizer a verdade? Ela sofreu um acidente!_ Clara se exaltou por um instante _ Ela está em coma, sem poder fazer ou dizer nada e o senhor está com medo de ser sincero?
Entrando no quarto ela a viu deitada na cama, os batimentos controlados por aparelhos, e vários materiais para a manterem respirando. Ellen parecia um monte de fios, com os cabelos castanhos esparramados no travesseiro, pequenos cortes no rosto e braço, uma perna quebrada e uma parte da cabeça enfaixada. Tocando gentilmente a sua mão, ela sentiu-se culpada, no dia anterior ela havia negado ajuda e agora lá estava numa cama de hospital sem poder fazer nada a respeito da sua vida.
_ Por quanto tempo...dura o casamento?_ ela falou devagar.
_ É um contrato de um ano, mas tem que ler...
_ Eu já sei tudo._ ela respondeu sentindo que não havia outra opção _ Está bem, vou me casar no lugar dela até que ela se recupere e acorde, então trocaremos de lugar.
_ Eu nem sei como lhe agradecer, o que p...
_ Mas quero que seja correto, assim que ela estiver bem vamos trocar e cada uma vai viver a sua vida. E não quero que o noivo dela saiba da minha verdadeira identidade, já que no contrato ele ameaçou se houvesse alguma traição ou mentira.
_ Está bem senhorita Clara, farei o que for necessário para que tudo dê certo.
Os dois então deram um aperto de mão frente a cama onde Ellen se encontrava, Clara sentiu seu corpo tremer. Agora ela estaria presa a alguém que nem saberia sua verdadeira identidade para salvar alguém que ela não teve tempo de conhecer. Respirando fundo, ela ouviu atentamente as instruções de seu "pai" e foi para sua casa.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Rita DE Cassia Gomes
interessante
2024-04-15
1