Clara organizou as suas coisas em casa e preparou-lhe uma bolsa com tudo o que precisava, no final era só uma mala grande e nada mais que ela carregaria consigo. Antes das dezessete horas um número desconhecido a ligou e quando ela atendeu o seu coração deu uma batida errada e a sua respiração de repente ficou pesada.
_ Ellen... Ela está morta! A minha filhinha está morta senhorita!_ a voz do pai de Ellen soava nos seus ouvidos como um grito de desespero.
Clara não sabia o que dizer e o seu corpo não queria obedecer, ela ouviu-o balbuciar um endereço e sem pensar duas vezes ela foi com tudo que estava com ela. Chegando lá, algumas poucas pessoas estavam velando o seu corpo. Algumas amigas, tios e avós junto ao seu pai chorava copiosamente. Instintivamente, Clara se aproximou e olhou para a mulher à sua frente, apesar das marcas estava como se estivesse dormindo. Os seus olhos se encheram de lágrimas e ela tocou levemente o rosto dela sentindo a pele fria e a expressão vazia.
_ Os médicos disseram que ela teve duas paradas cardíacas, mesmo com toda a equipe não foi possível._ o senhor fungou acariciando a testa da filha.
_ Meus pêsames senhor._ ela abaixou a cabeça.
_ Sei que é um fardo para você carregar o nome dela enquanto estiver lá, sinto muito por pedir isso._ ele assoou o nariz _ Deixei tudo a cargo dos profissionais da área para amanhã, será algo íntimo então não se preocupe com nada.
_ Tudo bem, eu entendo._ Clara sentiu o seu peito doer, agora era uma responsabilidade que ela teria que carregar por um ano inteiro.
Entrando no carro, ele a levou até a casa da família e orientou aos funcionários o que deveriam fazer. Clara recebeu massagem, manicure e pedicure, e depois a mandaram para um quarto dormir. Deitando, ela se sentiu estranha por estar ali, ela não era Ellen e nunca seria, era só uma garota que veio do interior para trabalhar e correr atrás de seus sonhos. Rolando de um lado para o outro, Clara não sentia sono algum, então pegou o seu caderno de rascunho e começou a desenhar para se distrair um pouco. No começo eram só rabiscos, que depois se tornaram uma rua de paralelepípedos rodeado por rosas, pegadas em multicores seguiam por ali até um arco completamente branco enrolado com as mesmas rosas do caminho. Uma mulher alta de vestido branco esperava sob esse arco, com majestosas asas aguardando a hora de partir, um sorriso discreto estava em seu rosto, os olhos brilhavam em paz, Ellen transparecia paz e elegância com o seu longo vestido de noiva decorado de flores brancas. Clara mal percebeu que estava chorando até que uma lágrima caiu sobre o papel, secando o rosto ela fechou o seu caderno e olhou a hora assustando ao ver que já passava da meia-noite. Se deitando, ela se forçou a dormir e ficou murmurando o nome de Ellen até finalmente dormir.
Pela manhã, uma moça veio acordá-la para o café e em seguida mandou para o banheiro se lavar, às 8 da manhã começaram a mexer no seu cabelo e após meia hora decidiram o penteado, um coque alto rodeado de pedras ao seu redor com a parte da frente solta na franja com uma coroa delicada por cima, a maquiagem consistia em tons dourados nos olhos em efeito degradê e batom vermelho, mas num tom mais neutro. Olhando para o espelho, Clara sequer pôde reconhecer a figura que a olhava de volta no reflexo, parecia literalmente outra pessoa, não era muito o seu estilo aquele tipo de maquiagem, mas devia ser assim que Ellen gostava. Colocando o vestido, ela notou o comprimento da cauda que era enorme, o vestido tinha detalhes em renda na parte de cima até as mangas e completamente liso da cintura para baixo, com um salto feito de cristal para completar toda a arrumação.
Clara então foi levada até uma sala onde uma mulher na casa dos 50 a esperava, muito elegante em um vestido azul royal com o cabelo feito também em coque, ela tinha um semblante arrogante e delicado ao mesmo tempo.
_ Então realmente veio!_ ela falou com cara de nojo enquanto rodeava a jovem_ Pensei que não fosse como o seu pai, mas vejo que é uma vaca interesseira.
Clara não podia acreditar no que ouvia dela, como assim interesseira? Eles não haviam feito um contrato em troca de pagar as dívidas do senhor Arruda? Ela encarou-a perplexa enquanto a mulher cuspia fogo pelos olhos, então Ellen tinha razão em relação à família e as exigências do contrato com toda a certeza foram feitas por ela.
_ As dívidas de seu pai serão quitadas após o casamento terminar e você virá para a nossa mansão, mas já aviso que se tentar algo ou falar sobre o contrato farei questão de varre-la da face da terra!_ ela cuspiu as palavras com raiva_ Sua sorte é que meu marido e seu pai são amigos antigos, senão eu nunca aceitaria tal acordo ridículo.
Ela engoliu seco cada palavra que lhe era direcionada, mal entrara para casar e a sogra já estava destilando o veneno sobre ela, com toda a certeza Ellen teria respondido, mas Clara não sabia nem como se defender de tantos insultos numa única vez. Ela apenas acenou e esperou o que fosse vir a seguir, a mulher a rodeava e a olhava de cima a baixo como se fosse um inseto nojento que ela quisesse pisar. Quando o sino tocou, Clara entendeu que era sua deixa e então levantou-se para ir até a porta, mas foi detida pela mulher mais uma vez.
_Antes de mais nada, deve me chamar de Senhora Soares apenas, não deve dirigir os seus olhos a mais ninguém a não ser meu filho e deve cumprir o seu papel até o fim do contrato, sem exceções.
Com um sorriso forçado ela se afastou e logo o seu "pai" apareceu com um sorriso discreto segurando delicadamente o seu braço, os olhos sem brilho algum, mas se forçando a manter postura.
_ Vamos?
_ Sim._ Ela então deu o primeiro passo quando a porta abriu.
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Atualizado até capítulo 75
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