Às cinco da manhã, Marcos estava de pé e já havia dado ordens para prepararem o café da manhã bem cedo, com um terno preto em sua cadeira de rodas ele se sentia poderoso e o seu olhar frio fazia os funcionários correrem para deixar tudo em mãos antes de sumirem pelas paredes.
Quando a garota desceu, faltou pouco ela infartar ali mesmo, ele a encarou sério antes de mudar a sua expressão e lhe cumprimentar calmo:
_ Bom dia esposa! Me acompanhe no café da manhã._ ele lhe deu um sorriso.
_ Bom dia marido, está bem._ ela falou devagar deixando-o satisfeito.
Comendo alguns cubinhos de queijo, ela o olhava desconfiada enquanto ele sustentava o seu olhar com um sorriso radiante mastigando lentamente a comida.
_ Está um lindo dia não acha?_ ele tomou um gole do seu café.
_ Si-sim, está mesmo._ ela pegou um pouco de suco para molhar a boca.
_ Está indo apreciar o sol nascer?_ ele se inclinou curioso.
_ Não senhor, estou indo trabalhar!_ ela falou diretamente e deu uma última mordida na torrada.
_Huum... Precisa de uma carona? É muito cansativo pegar ônibus o trajeto todo._ ele estreitou os olhos analisando a reação dela.
_ Eu gosto de andar de ônibus, coloco fone de ouvido e fico relaxando no caminho com a música...
_ Então algo lhe deixa estressada em casa?_ ele arqueou as sobrancelhas.
_ Não é isso, não mesmo!_ ela exclamou nervosa _ É modo de dizer, desculpa.
Ele apenas acenou e voltou a comer, voltando a sua expressão anterior, ela não demorou muito a sair de casa e assim que o fez o seu segurança se despediu e foi atrás. Marcos então levantou-se devagar de sua cadeira e foi até a janela olhar a vista, ele sentia os seus membros arderem um pouco menos e isso era um bom sinal.
Na fisioterapia, ele se saiu melhor do que o esperado e só cedeu após dez metros. O suor descia em seu rosto, mas seu corpo parecia reagir melhor hoje.
_ Se tudo der certo, em um mês você não precisará mais da cadeira para se locomover!
_ Espero que até antes, meu amigo.
Na empresa ele pensava no jeito dela falar, Ellen não era muito falante, mas também não parecia estar mentindo. O seu jeito de falar mostrava muito que ela não tinha nada a esconder, mas sair antes dele acordar lhe deixava com dúvidas. Ao final da tarde, ela chegou e o cumprimentou indo em seguida para o quarto e só descendo para jantar. As suas mãos pequenas mal cobriam o fundo do prato, o modo como ela segurava o talher mostrava que ela era muito simples, os cabelos presos em um coque lhe davam um ar mais jovem do que era de fato. Piscando, ele percebeu que estava olhando demais e pensando muito nesses detalhes, então terminou a sua refeição e subiu. No quarto o segurança o ajudou a se deitar e então falou rapidamente:
_ Ela trabalha no shopping no centro da cidade senhor, mas não consegui ver o lugar.
_ Está ótimo, apenas observe e se ver algo suspeito me informe.
_ Sim senhor._ ele se despediu e saiu do quarto.
Todos os dias ele acordava cedo e tomava o café da manhã com ela, e todos os dias ele perguntava algo diferente curioso com a sua resposta.
_ O que gosta de fazer para passar o tempo?_ ele cruzou os braços aguardando.
_ Desenhar, é maravilhoso.
_ Achei que fosse o balé, não é o que você faz?_ ele inclinou-se para ela.
_ Sim, também é, mas sempre dá para descobrir novos gostos._ ela ajeitou o cabelo.
_ Hum, entendi._ balançando a xícara ele a observou sair para o trabalho mais um dia.
Durante quinze dias ele a acompanhou pela manhã e isso até o deixou de bom humor, na empresa já estava tudo certo para o lançamento do motor, era preciso apenas marcar uma data para apresentar oficialmente.
_ Senhor, estamos aguardando a confirmação da senhora Soares para escolher o lugar e o dia.
_ Aguardando ela por qual motivo exatamente?_ ele questionou fechando a cara.
_ Be-bem, ela é sua mãe senhor e esteve presente em tudo nesses últimos anos..._ o assistente gaguejou com medo_ Ela falou que ela era responsável, por isso, achei que deveria aguardar as ordens dela.
Ele cobriu o rosto com a prancheta esperando alguma reação negativa dele, Marcos olhou-o de cima abaixo e sorriu ironicamente.
_ Eu já sei onde iremos fazer, e não precisa dizer nada a ela, eu sou o dono desta empresa!_ ele falou firme vendo o rapaz estremecer com a sua autoridade.
Passando todas as informações para o assistente, ele foi embora. Em seu quarto ele andou de um canto ao outro fazendo movimentos calculados para não forçar demais o seu corpo e exercita-lo ao mesmo tempo. Saindo do banho ele ouve o seu telefone tocar e o atende.
_ Senhor, vimos a sua esposa...
_ Sim?_ ele sentou-se.
_Ela estava em sua galeria agora a tarde, estava olhando os quadros.
_ O que mais?
_ Parece que o seu sócio conhece senhor, eles conversaram como se fossem íntimos...
_Hum...ok. Obrigada pela informação, até._ desligando o telefone ele se vestiu e aguardou a chegada dela.
Será que Victor a conhecia há muito tempo ou algo estava acontecendo entre eles? Automaticamente ele fechou o seu punho ao pensar nessa última parte, mas ele mal a conhecia para concluir esse pensamento então, relaxando ele tomou um chá enquanto aguardava a sua chegada.
_ Boa noite Ellen._ ele soou um pouco mais íntimo a deixando assustada.
_ Bo-boa noite marido._ ela quase tropeçou.
_ Como foi o trabalho?_ ele empurrou devagar a sua cadeira de rodas até ela.
_ Foi bom, por quê?_ dando alguns passos até a escada ela foi se afastando.
_ Sou o seu marido, preciso saber.
_ É verdade...Eu vou tomar um banho e já desço._ ela subiu correndo como se tivesse visto um monstro.
Observando ela ir escada acima, ele mandou mensagem para Victor:
"Marcos: Boa noite meu amigo, preciso te perguntar algo, está ocupado? 19:05"
"Victor: Boa noite Marcos! Aconteceu algo? 19:06"
"Marcos: Já conheceu a minha esposa? Ela fez uma visita à galeria hoje. 19:08"
"Victor: Não sabia ser ela, tem foto? 19:09"
"Marcos: Sim, vou mandar para você. 19:09"
Enviando a foto de Ellen ele aguardou o amigo respondê-lo, ele sentia uma sensação estranha em seu corpo, saber que alguém conhecia a sua esposa melhor que ele lhe dava um gosto amargo na boca.
"Victor: É um cara de sorte, ela é uma boa pessoa. Conheço sim, mas não sabia que ela era sua esposa. 19:11"
"Marcos: Que bom que acha isso, Ellen é um pouco calada, mas é muito esforçada. 19:12"
"Victor: Ellen? 19:13"
"Marcos: Sim, é o nome dela, porquê? 19:13"
"Victor: Ah sim, desculpe. Ela nunca disse o nome, é um bom nome. Parabéns pelo casamento meu amigo!! 19:15"
Agradecendo a ele, Marcos tomou um banho demorado e então desceu para o jantar. Com um sorriso no rosto ele se sentia confiante, agora nada escaparia de seus olhos. Ellen jamais saberia como ele a conheceria, enquanto comia ele reparava em suas mãos pequenas e imaginava se poderia tocá-la se aquilo tudo não fosse uma mentira.
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Atualizado até capítulo 75
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