Ellen nunca fora uma pessoa paciente e naquele momento ela queria puxar aquela garota pelos cabelos e arrastá-la de lá como um cachorro.
_ O-ok._ ela gaguejou e a seguiu.
Indo para uma sorveteria mais aberta, ela entrou e pediu dois milkshakes, observando a jovem se sentar desconfiada, ela só se irritou mais.
_ Você é bem medrosa garota, parece aquelas caipiras do campo.
_ Mas eu sou do campo,_ Clara falou brava_ e também não posso sair a falar com estranhos assim.
_ Ellen, muito prazer!_ ela esticou a sua mão_ Pronto, agora não sou mais uma estranha para você.
Clara estendeu a mão e enfim se sentou a respirar devagar, estavam num lugar público então ela poderia correr e gritar facilmente, mas, no fundo ela estava curiosa em saber o que Ellen queria e o seu corpo inclinou levemente para entender melhor.
_ Eu sou Clara._ ela então começou _ Posso... Saber o que quer comigo?
Sorrindo, educadamente ela pegou na sua bolsa um papel pardo, abriu com cuidado e o passou. Clara então começou a ler e ao observar a palavra "casamento" ela levantou as sobrancelhas confusa.
_ Então vai casar? Isso parece muito bom, na verdade, para...
_ Eu não quero isso!_ ela exaltou-se e depois falou mais baixo _ Na verdade, não é um casamento de verdade, apenas um contrato. O meu pai tem uma dívida altíssima e como uma forma de compensar todo o trabalho prestado, as nossas famílias vão se unir. Eles pagam todas as suas pendências e em troca eu me caso com o filho deles.
Ellen pegou o seu milkshake de morango tomando-o rapidamente enquanto observava Clara digerir uma parte da informação.
_ Eu não entendo, você não pode simplesmente dizer não?
_ Não é tão simples assim, se eu disser não o meu pai perderá a sua honra como advogado, o lugar de sócio na empresa e tudo o que ele já conquistou.
_E isso custa jogar a sua felicidade fora?_ Clara sentiu pena ao ouvir isso _ Penso que os problemas dos nossos pais não devem custar as nossas escolhas.
Nesse momento ela pegou a mão de Ellen e a apertou gentilmente.
_ Posso tentar resolver para você, se quiser.
_ Sim, eu sei que vai._ ela respondeu _ Esse é um sacrifício que poderá fazer por mim._ ela olhou para seu celular e então se levantou _ Leve com você, preciso que leia tudo e assim que terminar mande uma mensagem ou me ligue, o número está na última página.
Clara observou a mulher indo embora, a postura elegante e o andar rápido a deixou com inveja, mas olhando para o papel ela sentiu tristeza. Casamentos deveriam ser por amor e não forma de pagamento, isso não era justo com nenhum dos lados.
Chegando em casa, ela tomou o seu banho, comeu e passou um tempo falando com a sua mãe e o seu irmão, deixou de lado a situação da tarde para evitar perguntas e logo foi para a cama. Olhando para a cabeceira, ela lembrou do contrato que Ellen havia lhe entregado.
A princípio era apenas um contrato comum feito no cartório para o casamento no civil, na segunda folha havia uma lista de coisas para o casamento. Clara lia curiosa cada linha como se fosse uma história, mas quando virou a terceira página ela tremeu. A 25° regra era clara ao dizer com todas as letras "se a esposa for pega traindo ou mentindo durante o contrato a mesma será presa, assim como toda a sua família.".
Ignorando todo o resto ela ligou para Ellen, o telefone tocou até cair e alguns minutos depois uma mensagem chegou.
"Ellen: Estou ocupada, já leu tudo? 21:39"
"Clara: Esse contrato é um absurdo, como aceitou isso? Ainda não terminei. 21:40"
"Ellen: Quando terminar me avise. 21:40"
Sem saber o que dizer ela continuou a leitura, era tanta coisa absurda que seu estômago doía em pensar o quão doentio devia ser o marido. No final tinha a data marcada para o dia 21 de julho, exatamente daqui a quatro dias e a mesma data para o divórcio próximo ano. Fechando o documento ela pensou um pouco, com um contrato desses ninguém aceitaria, mesmo que pudesse ir embora na data marcada. E se até lá ele tentasse maltratar a esposa de mentira? Ou até mesmo simplesmente acabasse com a vida dela para não precisar dar nada à família?
"Clara: Terminei de ler. 22:30"
"Ellen: Ótimo! Entende agora o motivo de não querer me casar? 22:30"
"Clara: Mas como vai fazer para sair dessa situação? É impossível! 22:32"
"Ellen: Por isso preciso da sua ajuda. Amanhã podemos falar sobre isso? 22:33"
"Clara: Sim, no mesmo lugar? 22:34"
"Ellen: Ok, até amanhã. 22:35"
Desligando o celular, Clara passou a noite pensando em alguma solução para Ellen. Se houvesse a oportunidade de mudar o jeito de pagar a dívida, mas isso dependeria do pai dela aceitar e falar com a família do noivo, a sua cabeça rapidamente doeu ao pensar nas mais variadas possibilidades e logo ela adormeceu.
Saindo cedo de casa, ela chegou adiantada ao trabalho e precisou esperar o seu chefe chegar para abrir. Enquanto esperava, ela então pegou o seu caderno de esboço e fez um desenho rápido, um homem de terno vibrante carregava um enorme buquê de rosas indo em direção a uma dama, onde a sua figura era uma sombra da cabeça aos pés e apenas os seus olhos eram visíveis. Entre eles havia uma trilha de cores que ligava os dois, mas a dama parecia distante e o seu olhar era triste numa mistura de preto e branco.
_ É um belo desenho, você tem o dom para isso!_ uma voz grossa soou acima da sua cabeça a fazendo fechar o caderno rapidamente.
_O-obrigada!_ Clara agradeceu sem graça quando percebeu ser o dono.
_ Victor precisou ir ao médico, então vim pessoalmente abrir a galeria._ Ele olhou-a calmo_ Não tenha vergonha em perguntar-me o que precisar se tiver alguma dúvida.
Acenando, ela então começou a limpar o lugar enquanto tentava disfarçar o rosto vermelho de vergonha. Para sua sorte a máscara cobria quase tudo, então ele não percebia o rubor das suas bochechas. Ele passou cada segundo olhando o lugar e verificando os estoques, mesmo com a sua condição, tudo parecia simples de fazer deixando Clara admirada com o seu esforço. A encarando de repente, ela virou-se rápido fingindo estar analisando um quadro próximo e passando o espanador antes de sair de fininho.
Quando ele a liberou do trabalho, ela logo correu para o banheiro se trocar e foi para a sorveteria, Ellen já estava sentada acompanhada de um senhor calvo que deveria ser o seu pai.
_ Então a senhorita é mesmo parecida com a minha filha!_ ele disse admirado lhe dando um aperto de mão _ Sinto muito por pedir esse grande favor a você, é algo muito maior que tudo para nós.
_ Eu não sei o que posso fazer, mas espero ter um resultado positivo.
Ellen sorriu e ajeitou o seu cabelo enquanto retirava da bolsa um novo envelope, os seus dedos bateram indecisos sobre o papel antes dela passa-lo para a jovem.
_ Não há o que fazer, você apenas precisa se casar no meu lugar.
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Atualizado até capítulo 75
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