Capítulo 19

Hector deu alguns passos à frente e falou sério, olhando diretamente para ele.

— Na boa, qual é a sua? O Calvin foi apenas uma diversão para você; isso já ficou claro. Agora me diz, por que se importa com quem ele está saindo? Ele merece encontrar alguém que o trate com o valor que ele merece.

— Quem disse que ele foi só diversão? Seu amigo não me deixou explicar a situação e presumiu as coisas do jeito dele. Ele disse que estava gostando de mim e já está saindo com outra pessoa?

Hector não aguentou e sorriu diante do que ele disse.

— E você ficou noivo na mesma noite em que foi para a cama com ele. Me diz, quem está errado aqui? Você é um cara comprometido, e não ele. Deixa ele viver a vida dele em paz; se afasta, se realmente quiser o bem do Calvin, o melhor que pode fazer é se afastar dele.

Hector voltou para o aparelho, e Frank saiu daquele espaço, percebendo que não conseguiria persuadir o melhor amigo de Calvin. Ao retornar à área dos recrutas, Frank foi interceptado por Eddie, que colocou a mão em seu peito, impedindo-o de prosseguir.

— Fiquei sabendo que desperdiçou uma grande oportunidade. Por que não prestou queixa contra o Calvin?

Frank olhou para a mão de Eddie, retirou-a de seu peito e respondeu, tentando deixar claro que estava farto daquele assunto.

— O que eu ganharia com isso? A oportunidade que está falando é para você, não para mim. Não é novidade que você deseja o cargo do Calvin, e se acha que pode usar meu caso com ele para alcançar isso, está muito enganado. — Frank replicou com firmeza.

— Acha que eu preciso do seu caso com ele para subir? Eu sabia que ele não conseguiria manter a pose por muito tempo e que logo iria fazer uma besteira. A maioria aqui não concorda com a atitude dele; se ele agrediu o amante dele, o que poderia fazer com os outros? Você poderia ter pensado grande; se tivesse seguido com a denúncia, conseguiria o apoio de vários aqui dentro, e isso poderia ser bem-visto por um comandante ou coronel.

Frank estava compreendendo onde Eddie queria chegar. Se ele tivesse que subir, seria por meio de seus próprios esforços e não à custa de ninguém, exatamente como havia aprendido com Calvin.

— Vocês todos podem ficar tranquilos. Calvin me agrediu apenas porque eu o provoquei. Então, se todos continuarem como estavam, tudo vai ficar bem.

Frank não estava disposto a prosseguir com aquele assunto. Virou as costas e foi embora, deixando Eddie com uma expressão que indicava que a conversa ainda não havia terminado.

— Então, basta não provocá-lo? Será que é isso que pode acontecer se o “muralha” for provocado? Acho que seria interessante pagar para ver.

Longe do quartel e sem imaginar que alguém poderia estar tramando contra ele, Calvin chegava à academia que frequentava ocasionalmente. Pagou pelo dia e se dirigiu a uma das catracas. Do outro lado, Dereck saía, e quando Calvin levantou o olhar, reconheceu uma familiaridade no rosto dele.

Calvin considerou a ideia de abordar Dereck, mas, ao sair, foi interceptado por alguém que estava habituado a treinar com ele. A impressão que teve era de que poderia ser o homem da noite anterior, mas perdeu a oportunidade de confirmar ao não iniciar a conversa.

Diante da abordagem, Calvin não teve escolha a não ser dar atenção ao homem que se aproximou, dirigindo-se em direção aos equipamentos. Dereck, por sua vez, não avistou Calvin e talvez nem o reconhecesse, uma vez que estava bastante embriagado na noite anterior.

Dereck dirigiu-se ao Lincoln Park em seu carro. Gostava de frequentar aquele parque, pois a visão do Lago Michigan o deixava relaxado, algo que ele precisava naquele momento. Ao chegar, começou a caminhar pelo local, observando os animais, tirando algumas fotos e depois, indo em direção ao lago. Acreditava que ali conseguiria acalmar sua mente.

Enquanto isso, na academia, Calvin concluiu seu treino e decidiu seguir para o mesmo parque. Enquanto pilotava sua moto, ainda pensava nos conselhos de seu amigo, nas decisões a serem tomadas quando voltasse e, é claro, no homem da boate. Ficou se perguntando se era mesmo ele ali e, se fosse, aquilo seria uma grande coincidência.

Calvin apreciava a companhia dos animais, motivo pelo qual gostava daquele parque, que abrigava um zoológico. Ele brincou com alguns animais antes de partir, colocando os fones de ouvido e começando sua corrida. Enquanto corria, apreciava a paisagem ao seu redor.

Dereck, por sua vez, estava na beira do lago, também desfrutando de suas músicas. Como ele imaginou, ficar ali, contemplando o lago, trouxe clareza sobre suas decisões futuras.

Após refletir bastante, Dereck afastou-se da beira do lago e retornou ao centro do parque, onde várias pessoas passeavam ou apenas passavam por ali. Ao se aproximar de uma curva, prestes a entrar em uma área arborizada, duas crianças passaram correndo por ele, e uma delas caiu. Dereck olhou para trás e foi até elas para verificar como estavam.

Nesse momento em que Dereck se abaixou para verificar a criança, Calvin saiu correndo na direção oposta ao caminho que Dereck pegaria. Nenhum dos dois se viu, e parecia que o destino estava brincando com eles, mantendo-os tão próximos e, ao mesmo tempo, tão distantes.

A mãe da criança logo apareceu, e como ela estava apenas com alguns arranhões, Dereck seguiu seu caminho, ainda aconselhando a criança a não correr daquele jeito. Continuou caminhando, observando o menino se levantar, mesmo com o joelho ralado, e demonstrar disposição para continuar a brincar com seu irmão. Isso acabou servindo de lição para Dereck.

Ele sorriu e seguiu em direção ao seu carro, já sabendo o que faria quando chegasse ao hospital no dia seguinte. Assim como o menino, ele ergueria a cabeça e seguiria em frente, não permitindo que aquele incidente tirasse sua paz, afinal, não foi ele quem cometeu algo de errado. Se fosse preciso sair daquele lugar para obter a paz que precisava, não hesitaria em fazê-lo.

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