Capítulo 14

Calvin e Hector saíram do quartel direto para uma boate que conheciam e que ficava perto de onde estavam. Como Calvin estava de suspensão, o primeiro-tenente decidiu que iria aproveitar a noite. Ambos possuíam motos, e cada um foi na sua, apenas teriam que decidir como iriam embora depois.

Ainda estava cedo, e a boate não estava tão cheia. Hector entrou observando o lugar.

— Cara, está cheio de gostosas aqui — falou, cutucando Calvin com o cotovelo.

Ele olhou para Calvin com um grande sorriso, mas logo se desfez ao perceber a expressão de seu amigo, compreendendo o motivo. Hector tratou imediatamente de tentar reverter aquela situação.

— Eu me esqueci. Olha, tem alguns caras até legais aqui.

Calvin revirou os olhos e começou a andar em direção ao bar. Hector continuou olhando ao redor, buscando uma possível conquista, e acabou esbarrando em alguém. Ele olhou e viu que era um homem com uma bebida, tratando de se desculpar.

— Sinto muito, eu estava distraído. Posso pagar outra bebida para você.

— Está tudo bem, não precisa, só derramou um pouco — respondeu com um sorriso.

Calvin parou seus passos ao perceber que o amigo não o acompanhava. Entre as luzes, ele viu apenas as costas de um homem se afastando, enquanto Hector voltava em sua direção. A pessoa com quem Hector esbarrou era Dereck, que se afastou, passando a mão pela camisa, onde respingou um pouco de bebida.

A falta de sorte que ele teve já deixou Dereck duvidando se foi mesmo uma boa ideia ter ido naquele lugar. Ele procurava por distração e diversão, mas começou com o pé esquerdo. O médico encontrou um lugar para ficar e começou a observar um pouco as pessoas à sua frente.

Todos pareciam estar se divertindo; alguns flertavam, outros já se beijavam, e todos pareciam cientes de que aquilo provavelmente não passaria de uma noite quente, sem problemas futuros e sem complicações.

— Será que é isso que eu deveria fazer? Se apaixonar e querer algo sério é mais complicado do que algo casual.

Dereck tomou um pouco de sua bebida. Pensar e falar sobre isso poderia parecer fácil, mas, na prática, ele não sabia se conseguiria levar uma vida de encontros casuais. Ele olhou para o pulso e passou a mão por ali, sentindo a pulseira que estava sob o tecido da camisa.

— Acho que o amor não é para mim. Não tive sucesso com meu primeiro amor e nem com os demais. Só queria saber onde você está agora, que tipo de homem se tornou, se está casado e com filhos. Se eu tivesse falado, será que teria me aceitado?

Dereck não sabia por que se lembrou de seu primeiro amor da época de escola, mas aquilo apenas o deixou ainda mais nostálgico, convencendo-se de que aquele dia estava sendo mesmo uma merda. No balcão da boate, os dois acabaram de pegar suas bebidas e estavam indo para o andar superior. Calvin estava curioso sobre algo e começou a perguntar.

— Quem era o homem que estava falando com você?

— Eu acabei esbarrando nele e derrubei um pouco de bebida. Apenas estava me desculpando — explicou, dando de ombros.

Enquanto subiam as escadas, algumas garotas passaram e sorriram para os dois, deixando Hector bem animado, ao contrário de Calvin. Ele ainda não estava com ânimo, e infelizmente, continuava pensando na história com Frank. Eles chegaram a um ponto que dava para ver toda a pista lá embaixo, e Hector, percebendo que ele ainda parecia para baixo, começou a conversar com ele.

— Cara, eu te chamei para vir aqui se divertir, não para ficar com essa cara de velório. O Frank é tão bom assim para te deixar nessa bad toda? Olha lá embaixo, deve ter alguém que te agrade aqui.

Calvin suspirou e tentou explicar ao amigo.

— Não se trata de ser bom de cama como você está pensando. Não sei se vai me entender, mas eu achei que estivesse rolando algo além de sexo, que ele estivesse gostando de mim como eu estava deixando me levar por esse sentimento. Foi frustrante, decepcionante. Já tive casos de uma noite, mas ambos sabiam que era apenas aquilo, sem expectativa, entende?

— Entendi que você estava caidinho por ele, mas você vai se deixar abater por isso? Se você foi apenas um caso de uma noite para ele, trate-o da mesma forma e bola para frente. Quem sabe você não encontra alguém que faça seu coração balançar de novo. Ainda estou me acostumando com o fato de você gostar de homens, mas acho que esse conselho vale para os dois lados.

Calvin sorriu e bebeu um pouco, ouvindo seu amigo dizer que era aquele sorriso que ele queria ver no rosto dele, não uma expressão de tristeza. Eles ficaram ali em cima por um tempo, conversando e dançando, e a tequila já estava fazendo seu efeito mágico, deixando Calvin mais relaxado.

Em certo momento, ele disse que ia ao banheiro e desceu, deixando Hector sozinho. A boate estava mais cheia agora, e Calvin foi passando pelas pessoas, às vezes se espremendo um pouco. Perto do banheiro, em um canto mais escuro, ele viu um homem que empurrou outra pessoa e parecia querendo fugir, mas acabou esbarrando nele.

Calvin, por instinto, acabou segurando o homem que esbarrou nele e olhou para o outro que vinha logo atrás. Ao ver o tamanho de Calvin e a forma como foi olhado, o homem apenas se afastou.

— Está tudo bem? — perguntou Calvin, afastando o homem um pouco.

Dereck ergueu a cabeça e tentou focar para ver quem o tinha ajudado, mas estava muito tonto, e as luzes piscantes não ajudavam muito.

— Eu… eu…

Dereck não conseguiu falar, colocou a mão na boca e tentou correr para o banheiro, ou acabaria vomitando ali e quem sabe até em cima do homem que o ajudou. Calvin viu que ele não estava bem e o ajudou, abrindo a porta e o guiando até uma das cabines.

Calvin pensou em deixar o homem ali e ir embora, mas considerou que o outro homem poderia voltar e não sabia o que havia acontecido. Então, ele usou o banheiro e decidiu esperar um pouco. Mesmo não conhecendo aquele que passava mal, sua consciência não ficaria em paz se o deixasse sozinho naquele estado.

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