Capítulo 17

Dereck acordou um pouco mais tarde do que o habitual, pois não precisava trabalhar naquele dia e sentia os efeitos do que ocorreu na noite anterior.

— Caramba, minha cabeça vai explodir — falou, segurando a cabeça ao se levantar.

Ele procurou por um analgésico e tomou, dirigindo-se em seguida para o banho. Dereck ainda se sentia idiota por ter sido tão descuidado, e sua experiência após tanto tempo sem sair não foi nada agradável. Como não tinha muitos planos para seus dias de folga, tomou café e esperou até que sua dor de cabeça passasse, pretendendo, então, ir até a academia.

Enquanto aguardava, recebeu uma mensagem de outro médico que trabalhava no mesmo hospital.

“Está circulando um vídeo pelo hospital. Realmente é você?”

A pergunta apenas deteriorou ainda mais o humor de Dereck, que até então apenas havia percebido os olhares dos enfermeiros e outros funcionários, ainda não havia recebido perguntas dos médicos. Dereck ficou olhando para a mensagem, cogitando se respondia ou ignorava. Ele não era próximo; mal trocavam algumas palavras durante as cirurgias, além de que não devia explicações para nenhum deles. Decidiu ignorar e foi preparar sua bolsa para ir à academia. Pretendia evitar olhar o celular naquele dia e talvez iria ao parque. Precisava se distrair e pensar no que faria.

Enquanto naquele dia era o descanso de Dereck, George foi trabalhar e, diferente do dia anterior, as coisas para ele também não estavam ficando nada agradáveis, já que várias pessoas perguntavam sobre os detalhes, se ele havia gostado e se também era gay. Um desses questionamentos foi na área de convivência e já estava o deixando constrangido.

— Nós sabemos que é você no vídeo, mas você parece estar gostando. Diz aí, como foi a experiência de ficar com o gato no hospital? — Uma enfermeira perguntou.

— Por que acha que eu gostei? Tinha que fazer um teatro, ou ele iria perceber. Não sou gay e saí antes que ele quisesse algo mais.

Quem estava na sala parecia ainda não acreditar muito no que ele disse e sorriam desconfiados.

— Cara, mas ele teria percebido se o seu “brinquedo” não tivesse respondido ao que ele fez. Você disse que saiu antes, mas quem garante que você também não fez nele, ou que foram até o fim? — Foi a vez de um enfermeiro questionar.

— Acabei de dizer que não sou gay e fiz isso apenas para provar o que a maioria aqui queria saber. — respondeu, demonstrando que já estava ficando nervoso.

O enfermeiro que avisou Dereck também estava lá e viu a reação dele, continuando a provocação.

— Me desculpe se não acredito nesse seu papo e acredito que outras pessoas que estão aqui também não. Eu sou hétero e não conseguiria fazer isso com outro homem, mesmo que fosse para provar algo, como disse um dos nossos colegas, o “brinquedo” não reagiria.

Os outros na sala sorriram e pareciam concordar com o que seu colega disse. George não gostou de como as coisas estavam sendo conduzidas e quis enfrentá-lo.

— Qual é a sua, hein? Todos aqui estavam doidos para saber a verdade, mas ninguém tinha coragem para chegar nele e perguntar, e agora que fiz, fica querendo questionar os motivos? Está se doendo todo por quê? Também é uma bichinha e gosta dele?

O enfermeiro deu um passo à frente, e todos perceberam que a tensão havia aumentado.

— Você é ambicioso e inescrupuloso, isso todos aqui sabem. Você disse bem, se queriam saber se ele era gay, bastava chegar nele e perguntar, mas você teve que ir além, deu bola para ele e deixou chegar onde chegou. Não sou gay; se fosse, não teria problema em assumir, mas tenho um irmão que é, e meu medo é só que ele encontre algum babaca como você no caminho dele.

Ele fez uma pequena pausa, esperando para ver se George falava alguma coisa. Como ele não argumentou, continuou a falar o que queria.

— Ninguém é obrigado a sair do armário contra a vontade, e foi isso que você fez. Você o expôs e o forçou a isso, por que não podemos fazer o mesmo com você?

— Não estou preso em nenhum armário, sou hétero, e não é a opinião de vocês que vai mudar isso. — George respondeu e começou a ir na direção da porta.

Antes que ele terminasse de sair, ainda ouviu o que seu colega continuou a falar.

— Ao menos agora sabe como é ser julgado pelas pessoas ao seu redor.

George nem mesmo olhou para trás para ouvir aquele final; apenas saiu da sala, indo até o banheiro. Ele lavou o rosto, mas aquelas acusações ainda estavam mexendo com ele. Pensava no que seus colegas falaram e na pergunta que o estava deixando incomodado. Por que ele gostou e achou prazeroso o que Dereck fez?

Para George, aquela pergunta precisava de uma resposta, ou ele sentia que acabaria ficando doido com todos aqueles pensamentos passando por sua mente. Respirou fundo algumas vezes e saiu do banheiro. Afinal, não adiantaria ficar ali, e não iria se esconder, já que para ele apenas deu o que todos queriam.

Ao passar pelo corredor, ele se deparou com o diretor do hospital, que aproveitou para falar com ele.

— Já que está aqui, não vou precisar te chamar na minha sala. Você me disse que não sabe como esse vídeo saiu do seu celular, então trate de tentar fazer ele sumir, o que acho meio difícil a essa altura. Falei com o Dereck, e a versão dele foi bem diferente da sua. Não queremos um escândalo, mas se ele decidir levar isso adiante, saiba que o hospital não vai tomar partido.

— Mesmo se ele tiver me ameaçado? — George perguntou, vendo que as coisas não estavam indo bem.

— Você poderia ter prestado queixa na diretoria do hospital, mas preferiu sair com ele e gravar um vídeo. Se ele fez como disse, ambos estão errados, ele por ter ameaçado e você por ter omitido essa questão. Outra opção é resolver diretamente com o Dereck, mas espero sinceramente que isso não vaze para fora desse hospital.

O diretor virou as costas e saiu. George estava se dando conta de que, por mais que tenha ganhado alguma grana com a aposta, ainda não estava compensando toda a dor de cabeça que ele estava tendo com aquele assunto.

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