Capítulo 11

Calvin sabia que mais cedo ou mais tarde teria que falar com ele; era melhor resolver aquele assunto, pois poderia prejudicá-lo ainda mais.

— Acha mesmo que temos alguma coisa para conversar? Não sei por que está gastando tanta energia com algo sem importância, já que deixou claro que não significou nada.

— Você pode até achar que não temos nada para falar, mas eu tenho. Será que podemos conversar fora daqui, ou na sua sala? — Frank insistiu.

— O que mais precisa ser dito? Se quer explicar que não significou nada, ou que foi apenas uma diversão, eu já entendi. Então, poupe sua saliva.

Hector, amigo de Calvin, não estava entendendo nada sobre o que eles estavam falando, nem quem estava ouvindo aquela conversa. Frank não queria que aquele assunto se espalhasse, mas Calvin não lhe dava outra escolha senão falar ali mesmo.

— Acha que sabe tudo, Calvin? Não sabe como me sinto ou como me senti, e é isso que estou tentando explicar aqui. Mas você só parece se importar com os seus sentimentos e com o que pensa. — Frank expressou-se, deixando sua voz sair mais alto do que ele queria.

Diante do que Frank falou, Calvin não estava mais se importando se todos soubessem do que aconteceu. Se Frank queria jogar a sujeira no ventilador, ele mesmo faria isso.

— Sou eu que estou pensando apenas em mim? Como queria que eu tivesse interpretado o que você fez? Eu queria mais do que uma noite com você, mas pelo que vejo, fui apenas a porra da sua despedida de solteiro.

Quando Calvin disse isso de maneira nada sutil, quem ouvia começou a entender o que estava acontecendo. Hector foi um dos que ficaram de boca aberta, e outro colega ao lado a fechou.

— Espera aí, vocês dois… — Hector não sabia o que dizer e ficou apontando de um para o outro. — É o que estou pensando? — perguntou, não escondendo sua surpresa.

Calvin ainda olhava para Frank, sua expressão misturando mágoa e raiva.

— Se o que você está pensando é que ele transou comigo e, na mesma noite, ficou noivo, então está pensando certo. Ele queria uma experiência diferente antes de firmar compromisso com a namorada.

Hector viu que aquele assunto estava rendendo mais do que imaginava e tentou amenizar os danos.

— Vamos, pessoal, não tem nada para ver aqui. Vamos sair e deixar os dois resolverem esse assunto — tentou fazer com que todos saíssem.

— Vão conversar ou vão se pegar? — Um dos bombeiros fez a piada e saíram rindo.

Aquela era a situação que Calvin queria evitar, pois sabia que nem todos respeitavam ou tinham a mente aberta. Todos saíram, mas Hector ficou na porta, ainda com medo de Calvin perder o controle.

— Qual é a sua, Calvin? Acha mesmo que eu só queria uma maldita experiência ou uma despedida de solteiro? Não passou pela sua cabeça que, se fosse isso, eu poderia simplesmente ter contratado alguém? Assim, eu não precisaria passar por uma situação como essa.

— Então foi o quê? Ninguém aqui sabia que você tinha uma namorada. Se eu soubesse, o que aconteceu não teria acontecido. Você acha mesmo que vou acreditar que estava atraído ou apaixonado por mim? — Calvin o questionou, demonstrando incredulidade no que ele falava.

— Querendo acreditar ou não, foi isso, sim, que aconteceu. Será que não percebeu a forma como eu te olhava? Como sempre arrumava uma desculpa para encostar em você? Será que eu faria tudo isso apenas para transar uma vez com você? Eu esperava resolver tudo antes, mas não consegui e achei que poderia não ter outra chance de ficar com você.

Calvin sorriu e se afastou um pouco, passando a mão pelo cabelo.

— Certo, e como eu fico? Você fez tudo isso, sim, dando a entender que também estava interessado. Porque quando eu quero apenas uma transa, vou a uma boate, sou claro com a pessoa que me deu bola, mas não fico flertando por tanto tempo com alguém, mesmo sabendo que estou prestes a colocar uma aliança em outra pessoa.

Hector ouviu a conversa e achou melhor interromper.

— Gente, não acho que vocês deveriam resolver isso aqui dentro. Não vai ser mais segredo que vocês dois transaram, já que resolveram discutir pelados no banho, mas é melhor não aumentar a fofoca. Calvin, conversem lá fora como dois adultos e resolvam as diferenças de vocês, ou querem acabar se ferrando e sendo disciplinados?

Frank sabia que Hector estava sendo sensato e achou melhor fazer o que ele disse, já que Calvin estava visivelmente irritado com aquele assunto.

— Eu vou embora, mas quero que saiba, Calvin, que eu gosto de você e não foi apenas uma brincadeira ou curtição para mim. — Frank fez aquela declaração e saiu da área do chuveiro, indo para o vestiário.

Calvin socou a parede assim que ele saiu, e Hector tentou acalmá-lo.

— Calma aí, negão, a parede não tem culpa e nem sua mão — falou e se aproximou dele, segurando em seu ombro. — Porra, cara, achei que eu fosse seu amigo, onde está a irmandade nessas horas?

Hector era negro, um pouco mais baixo que Calvin, com menos músculos e usava tranças no cabelo. Ele havia entrado na corporação depois de Calvin e fizeram amizade logo de cara, por isso falava abertamente com ele.

— Não me sinto à vontade para falar sobre isso. Eu não sabia como você poderia encarar isso. Não viu o que disseram antes de saírem? — tentou se explicar.

— Maneiro, não ficou à vontade para falar comigo sobre isso, mas falou ao mesmo tempo, para um monte de bombeiros pelados.

Hector sabia que não ajudaria muito falar daquela forma, mas não conseguia evitar. O que ele queria mesmo era tentar acalmar Calvin, já que sabia do soco que ele deu em Frank e não queria vê-lo se metendo em mais problemas.

Frank se vestiu sob alguns olhares e sorrisos. Quando saiu do vestiário em direção à saída, foi parado pelo capitão.

— Frank, poderia dar uma passada no meu escritório antes de ir embora?

Ele confirmou com a cabeça e seguiu em direção à sala, ciente de que o assunto era sobre ele e Calvin. Antes de entrar, olhou em uma determinada direção e percebeu que Eddie observava, parecendo satisfeito com a cena que via. Não teve dúvidas de que ele queria que Calvin se desse mal.

 Hector

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