Capítulo 12

Dereck atendeu aquela ligação, e o diretor pediu que ele fosse até sua sala, pois queria falar com ele. Mesmo que não quisesse, teria que deixar aquele assunto para depois.

— Continuamos depois, mas isso não vai ficar assim. — Dereck afirmou e saiu daquele espaço.

George ficou ali sozinho e suspirou, tentando se acalmar. Começou a pensar nas perguntas que escutou de seus colegas, sobre ter gostado do que Dereck fez. Mesmo dizendo que imaginou uma mulher ali, ele não admitiria nunca que foi prazeroso o que ele fez.

Esperou um pouco para sair dali. Não queria que ninguém o visse saindo depois de Dereck. O outro seguiu direto para a sala do diretor, bateu na porta e recebeu permissão para entrar. Dereck se sentou de frente para o diretor, e por algum motivo, sentia um frio na espinha.

O diretor, um homem de meia-idade com cabelos grisalhos e olhos penetrantes, olhava para ele com uma expressão um tanto quanto descontente.

— Dr. Clark — começou o diretor — Acredito que já imagine o motivo para que eu pedisse que viesse à minha sala. Você é um excelente médico, isso não tenho dúvida, mas esse incidente pode trazer complicações para você e prejudicar sua carreira.

Dereck engoliu em seco, mas não estava entendendo o rumo que estava tomando aquela conversa. Ele foi a pessoa exposta, mas a forma como o diretor falava parecia até que ele que havia cometido tal infração.

— O senhor poderia ser mais claro? Como esse vídeo poderia prejudicar minha carreira? A pessoa no vídeo que aparece comigo gravou aquilo sem minha autorização e ainda espalhou pelo hospital. Nesse contexto, não deveria ser ele a ser punido?

O diretor recosta na cadeira e suspira, cruza suas mãos e parece um pouco sem jeito para falar.

— Dr. Clark, a versão que ele contou aqui nesse escritório foi outra.

— O que ele contou aqui? — perguntou incrédulo.

— O George afirmou que você vinha o assediando com frequência e que até chegou a ameaçá-lo, usando seu posto de médico. Ele disse que aceitou com medo de perder o emprego e que gravou como prova do que você estava fazendo com ele, mas que não foi ele quem espalhou o vídeo.

Dereck não aguentou e começou a sorrir diante do que ouviu. Ele se levantou, expressando sua indignação.

— Como aquele cretino pôde falar isso? Foi ele que se aproximou de mim. Ele fez uma aposta para provar que eu era gay. O que ele está dizendo é apenas para se safar do que fez.

O diretor, vendo que ele estava muito exaltado, se levantou e foi até perto dele.

— Isso é mentira — afirmou Dereck mais uma vez — Alguma vez já ouviu dizer que assediei alguém aqui? Que faltei com respeito com qualquer pessoa nesse hospital?

— Para ser sincero, não acredito no que ele disse. Todos esses anos nunca recebi uma reclamação sua. Dereck, deixe-me te perguntar uma coisa: alguém viu e pode afirmar que ele deu em cima de você? Ou você tem como provar que ele está mentindo? Se isso for adiante, será um desgaste para você, vai te expor ainda mais e, como eu disse, pode prejudicar sua carreira. Entende que o que estou tentando dizer é que precisa tomar cuidado com o que vai fazer a seguir.

Ele aconselhou Dereck e voltou para sua cadeira, continuando seu raciocínio.

— Se isso foi uma aposta, acha que as pessoas envolvidas vão confirmar isso? Ele e quem está envolvido nisso, sabem que podem ser processados por isso. Eles vão se ajudar, e quem você tem para te ajudar?

Aquela pergunta fez Dereck ficar pensativo. Além do enfermeiro que o avisou que aquilo estava acontecendo, ninguém falou mais nada sobre aquele assunto.

— Então o que sugere é que eu deixe isso de lado e apenas continue seguindo como se nada tivesse acontecido? Como se minha privacidade não tivesse sido violada, além de me expor ao ridículo para todo o hospital? Como que isso pode ser justo? — Dereck questionou, sua voz cheia de frustração.

— Sei que o que você quer é justiça, o que eu disse é para você colocar na balança o que realmente importa para você e é sobre o que pode perder ou ganhar com tudo isso. Apenas apresentei as opções a você. Sou o diretor desse hospital, mas não sou o dono dele; se eles acharem que de alguma forma um processo, um escândalo podem prejudicar o hospital ou a imagem dele, eles não hesitarão em te tirar, ou a ambos daqui.

Dereck estava se sentindo extremamente frustrado naquele momento. Saber que George ainda poderia sair impune depois do que fez o deixou com um sentimento de impotência.

— Se você acha que não consegue trabalhar com os olhares, fofocas e comentários desnecessários, posso conseguir uma transferência para você, com uma boa recomendação. Pense no que quer fazer e me fale. Se decidir que vai abrir uma reclamação ou entrar com um processo, espero que saiba o que vai enfrentar e também espero que consiga provas suficientes; do contrário, as coisas podem se virar contra você.

Dereck agradeceu a conversa e saiu da sala do diretor. Em vez de ir para sua sala, dirigiu-se ao terraço, aonde alguns funcionários iam para fumar e descansar. Ele foi até a beira do parapeito, sentindo o vento bater em seu rosto, fechou os olhos e desejou que aquele vento levasse toda aquela sensação desagradável que estava experimentando. Dereck ficou assim por um bom tempo, até ouvir uma voz chamando-o, e ele se virou.

— O senhor está bem? — Quem fez a pergunta foi o enfermeiro que o avisou sobre o que estava acontecendo — Não sabia que também vinha aqui.

— Não costumo vir, mas acho que eu precisava. Para dizer a verdade, os corredores do hospital estão me sufocando.

— Conseguiu resolver aquele assunto? — O rapaz perguntou, se aproximando mais de Dereck.

— Ele foi esperto. Para dizer a verdade, ele me acusou de assédio e de ameaçá-lo para dormir comigo.

— O quê? Como ele pode ser tão descarado assim, eu ouvi os comentários de que ele fez isso para provar que você é gay. O diretor, ou alguém, deveria fazer alguma coisa.

— Eu já falei com o diretor. Se eu quiser ir adiante, teria que conseguir provas, testemunhas que aleguem que não fiz esse assédio. Por um lado, ele tem razão. Quantas pessoas estariam dispostas a se envolverem nesse assunto e dizer que ele está mentindo? Ninguém viu ele falando comigo e me chamando para sair.

Dereck pensou por um tempo enquanto estava sozinho. Todos tinham medo de perderem seus empregos ou de se envolverem em problemas. Ele entendeu que basicamente estava sozinho naquele problema e, como o diretor disse, sua carreira era muito importante para ele. Teria mesmo que pensar bem no que faria.

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