Capítulo 20

Estou parado na entrada da nossa casa, a chave na mão tremendo ligeiramente. A luz do luar ilumina a fachada de tijolos, lançando sombras longas e sinistras. Respiro fundo, tentando acalmar os nervos.

— Você consegue, Alessandro, você consegue. — Murmuro para mim mesmo, antes de abrir a porta. Assim que entro, a vejo sentada na sala me esperando, e quando ela me vê, ela se levanta em um salto.

— Vai me contar agora, ou vai deixar para depois de novo?

— Eu vou contar, só preciso saber como; tenha paciência. — Falo, me aproximando dela, e me sentando no sofá. Ela se senta ao meu lado e fica olhando fixamente para mim. — Olha, vamos combinar uma coisa: independentemente do que seja, você vai continuar aqui, não vai embora de jeito nenhum, combinado?

— Não posso garantir isso, não sei do que se trata. Apesar de que eu devo imaginar, já que por diversas vezes estive na mira de uma arma. Mas ainda assim, quero ouvir da sua boca, Alessandro.

Ouvir meu nome sair assim dos seus lábios é incrível; eu nunca disse meu nome para ela, ela foi descobrindo ao ouvir os outros me chamarem.

— Então talvez seja melhor você ficar mais acostumada aqui para eu poder falar; o Nando precisa muito de você, e não quero que você vá embora.

Ela franze a testa e manda eu falar logo, ou ela vai embora agora mesmo, pois não dá para ficar em um lugar em segredo.

— Está bem, eu conto. Bom, eu sou Alessandro Medina Killer, sou chefe da máfia da França.

Ela fica estática, sem nem piscar, e estou com medo da sua reação. Passo a mão na frente do seu rosto, e é quando ela começa a piscar sem parar, como se fosse um tique nervoso.

— Eu... Eu pensava que você fazia parte de algo assim, mas nunca imaginei que seria o chefe. Droga. — Ela se levanta e começa a andar pela sala de estar, e eu fico quieto, só ouvindo ela reclamar baixinho. O que é normal, ela só reclama mesmo.

— Virgínia, como eu disse, você será protegida; você e o Nando terão total proteção.

— Igual à sua esposa? A mãe do Nando que morreu estirada lá no chão de frente à minha casa. Era ela, não era?

— Sim, era ela. Mas é diferente, eu achava que ela sabia se defender, e sei que você não sabe. Não a colocarei em risco, por isso te passei a senha do quarto do Pânico; assim você ficará segura.

Me levanto indo até ela, mas ela se afasta e coloca a mão na minha frente, impedindo-me de me aproximar dela.

— Poderemos manter a relação de patrão e empregada, mas eu zelo pela minha vida, senhor, então é melhor você cancelar o falso casamento para seus pais. Não vou me envolver nisso não.

A essa altura, ela querendo dar para trás, mas agora já é tarde demais. Não vou deixar que ela desista em cima da hora.

— Sinto muito, a gente pode mentir só para eles, ninguém mais precisará saber que somos um casal, mas para os meus pais precisaremos ser.

Ela balança a cabeça negando e vai saindo da sala; seguro em seu braço, e nossos olhos se encontram. Vejo seus olhos se encherem de lágrimas, ela está com medo, e eu não tiro sua razão, mas depois da ameaça do Johnson, eu não posso correr o risco de deixá-la ir. Fora que eu não quero que ela vá.

— Me deixe ir para o meu quarto, Senhor, por favor.

— Não me chame de senhor, me chame de Alessandro, igual você fez quando eu cheguei.

— A situação é diferente, me deixe ir por favor. — Solto o seu braço, como eu havia prometido; não vou forçar nada com ela.

Ela sobe quase correndo para o quarto, e eu sigo para o meu. Depois de um banho tomado, me deito na cama, e os olhos dela cheios de lágrimas não saem da minha mente. Não me arrependo nem um momento de ser mafioso, mas a decepção nos olhos de Virgínia tocou a minha alma. Fecho os meus olhos para dormir, meu corpo pede descanso, então eu apago.

Mas sou desperto no meio da noite com ela gritando em desespero. Pego a minha arma e corro até o quarto dela, e assim que eu o abro, vejo que ela está em um pesadelo. Me aproximo da cama e começo a chamá-la pelo seu nome, ouvindo ela mandar alguém parar, não tocá-la, para não fazer mal a ela.

— Virgínia, acorda agora. — Falo um pouco mais alto, e ela abre os olhos e me vê ali. Ela se levanta, me encarando por alguns minutos em silêncio. — Com o que sonhou, me fala para eu...

Sou interrompido com ela pulando em cima de mim e me abraçando forte. Sinto o seu corpo tremer. Será que foi um sonho, ou uma lembrança do passado dela?

— Fala comigo, com o que você estava sonhando?

— Não quero falar, é uma coisa que me machuca muito.

— Como assim? — Ela não me solta do abraço, e eu fico intrigado com isso. — Me conta, Virgínia, o que aconteceu com você? Isso foi um sonho ou uma lembrança?

— Eu não quero falar. — Ela fala com uma voz chorosa, e eu não insisto mais, até porque o Ryan vai descobrir tudo e me passar todo o relatório da vida dela dentro do orfanato.

Ela solta o abraço e se deita novamente. Sinto um aperto no peito ao vê-la tão frágil e abatida. Com todo o cuidado, peço para que ela descanse e digo que ficarei na poltrona ao lado, caso precise de mim. Ela me dá um sorriso fraco, e seus olhos se fecham lentamente.

Sentado na poltrona, sinto o estofado macio sob meu corpo tenso. Observo Virgínia deitada, seu rosto sereno, mas marcado pela dor. Meu coração se enche de tristeza, querendo desesperadamente aliviar seu sofrimento. Será que isso tem a ver de não deixar eu me aproximar?

"Virgínia Felix", murmuro suavemente, minha voz carregada de emoção. "O que será que fizeram com você? O que te deixou assim tão mal?" As perguntas ecoam em minha mente, sem respostas claras. Sinto uma mistura de raiva e impotência, desejando poder protegê-la de tudo o que a machucou.

Lembro-me dos momentos em que tentei me aproximar dela, apenas para ser repelido por uma barreira invisível. Pergunto-me se é por causa do que ela passou, se é por causa das feridas profundas que ela carrega em seu coração. O medo de se abrir novamente, de confiar e se entregar, pode ser a razão pela qual ela se mantém distante.

Mas eu estou determinado a estar ao lado dela, quero que ela sinta meu amor e apoio, mesmo que eu não possa ser o cara ideal para isso, pois o meu passado também me condena. Seguro sua mão delicadamente, depositando um beijo suave em seus dedos, na esperança de transmitir todo o meu carinho e cuidado.

Vendo ela dormir novamente, agora mais tranquila, fecho os meus olho, e durmo ali, sentando segurando a sua delicada mão.

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Comments

Andréa Debossan

Andréa Debossan

É Ale mais vc tá lascado porque vc está nesse passado nebuloso del,e quero ver quando vcs dois descobrirem isso, porque vc se martiriza por ter feito o que fez e ela se sente suja e acha que a culpa tbm é dela vamos ver como vai se desenrolar isso

2025-04-01

0

Imaculada Nova Messias

Imaculada Nova Messias

ha que PROTETOR você tá SENDO Alê 😎 ISTO é importante demais em um relacionamento mesmo que não tenha começado com a vi mas vai fazer a diferença pra ela ❤

2025-02-17

2

Imaculada Nova Messias

Imaculada Nova Messias

você querendo ou não vi já está envolvida a partir do momento em que salvou a vida do nando naquele beco ali você traçou seu DESTINO junto de Alê 🤔🙂

2025-02-17

0

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