Capítulo 3

Ele coloca a mão no terno, e eu fecho um dos meus olhos com medo. No entanto, ele retira um cartão de crédito com a senha anexada atrás e me assegura que não é rastreável.

— Pode ficar tranquila, com isso, não seremos rastreados. — Ele então me encara, seus olhos gélidos transmitindo um temor profundo. — Se você deixar o menino no hospital, não sobreviverá nem mais um dia.

A ameaça é clara, e seu olhar frio me faz estremecer.

— Acho que minha opinião acaba de mudar, sim. Mas assim, não terei que pagar a fatura não né? Pois não tenho dinheiro nem para mim.

— Você não terá que pagar a fatura, tudo que eu preciso é que você cuide dele como se fosse seu filho.

Ele sorri de um jeito que não me deixa muito confortável.

— Mas saiba que vou estar de olho para garantir que esteja tudo em ordem. Se você tentar me passar a perna, não hesitarei em te matar.

— Meu "potinho de ouro" será bem cuidado, pode ter certeza disso.

Pego o menino de volta no colo, e ele me diz que manterá contato comigo. Ele pega uma caixa de celular das mãos de um dos homens que me ameaçaram, entrega a mim e instrui que eu o mantenha sempre carregado, pois essa será a nossa forma de comunicação.

Ele dá mais um beijo na criança e se afasta pelo outro lado do beco. O menino deita sua cabeça no meu ombro, observando o homem se afastar. Fico imaginando se ele seria o pai da criança, mas logo descarto a ideia, afinal, se fosse, teria levado o filho consigo, e a criança não o chamou de pai.

Decido verificar se o cartão realmente tem fundos. Passo pelos policiais e vou até um mercadinho, comprando algumas coisas para alimentar o menino. Surpreendentemente, o cartão é aprovado sem problemas, enquanto o meu próprio leva cerca de 20 segundos para a aprovação, como se estivesse contando os trocados para ter certeza de que há dinheiro suficiente.

Carrego as sacolas para casa e coloco o menino no chão. Subo as escadas lentamente, exausta. Uma eternidade depois, finalmente chego ao meu apartamento. O menino vai direto para os meus enfeites que ele deixou no chão.

— Bem, pequeno, acho que teremos que nos adaptar. Eu não sou fã de crianças, mas gosto da minha vida. Vou ter que aprender a gostar de você. Só espero que você não me enlouqueça nos dias que passaremos juntos.

Mas agora, quanto tempo terei que cuidar deste menino? Encosto-me à mesa, ponderando sobre essa nova realidade. Consulto o relógio e percebo que tenho que ir trabalhar em uma hora. Como vou lidar com a situação de levá-lo junto, considerando que o homem não me forneceu nenhum documento ou informação sobre ele? Nem sequer sei o nome dele.

Me aproximo do menino, sentando-me no chão ao lado dele.

— Ei, garoto, como você se chama?

Ele me olha e sorri. Repito minha pergunta, e com uma vozinha, ele finalmente responde.

— Nando.

— Fernando? — ele balança a cabecinha, concordando. — E quantos aninhos você tem?

Ele ergue a mãozinha e esconde o polegar e o anelar, e mostra três dedos, indicando que tem três anos.

Levanto-me e começo a preparar a refeição. Enquanto isso, meu celular toca, e é meu chefe, pedindo se posso começar a trabalhar mais cedo porque uma colega ficou doente. Explico a ele que terei que levar meu sobrinho, já que estou cuidando dele, e ele concorda, contanto que o menino não quebre nada, posso levá-lo.

O problema é que a criança ainda está usando minha camisa, então preciso passar em uma loja para comprar roupas para ele. Pego o cartão de crédito e o menino, saio do apartamento e encontro uma loja rapidamente. Compro uma peça de roupa para ele e, em seguida, vou para o trabalho.

Ele é tão fofo que deixa todos na lanchonete encantados, algumas até brincam com ele, mas como se tivesse falando com algum cachorrinho, tudo no diminutivo, me deixando com raiva disso.

— Ele é uma criança, não um animal. Não falem assim com ele, se não ele vai aprender a falar tudo errado.

— Ah, é assim que se fala com criança, sua tonta, né, bebê? Que coisinha mais lindinha...

Aff, tudo no diminutivo é meio brega demais. Uma das colegas pega o Nando no colo, e eu começo a organizar as mesas. O primeiro cliente entra e fica olhando para mim e para o Nando. Olho ao redor para ver se há outra pessoa que ele possa estar olhando, mas não, é para mim mesma que ele está olhando. Uma das colegas me chama para atendê-lo, ela segura o Nando, e eu vou atender o cliente.

— Seu filho é muito bonito, como ele se chama?

— Fernando. O que o senhor vai querer?

— Sabe, moça, minha esposa e eu não podemos ter filhos. Será que posso te oferecer dinheiro por ele?

— Desculpe, mas ele não está à venda. Ele é tudo o que tenho.

Ah, o melado de mãe é assim? Ele sorri e pede um pedaço de torta de frango e uma coca-cola. Anoto seu pedido e entrego a comanda para as colegas. Pego o Nando de volta do colo, já que ele está esticando os bracinhos para que eu o pegue.

— Desse jeito, eu não vou conseguir trabalhar. Vou encontrar um lugarzinho para você ficar e, por favor, fique comportado até eu voltar, ok?

Ele balança a cabecinha concordando, e eu o levo até a cozinha. Lá, ao lado, há um quartinho com uma TV, onde as colegas costumam ficar na hora do almoço. Deixo-o lá, coloco um desenho para ele assistir e peço que não saia. Ele pega alguns objetos que encontra e começa a brincar, fingindo que são carrinhos.

Volto ao trabalho, e percebo que o homem que tentou comprar a criança já se foi e não deixou uma gorjeta sequer. Toda hora vou até o quartinho para verificar como ele está, e ele sempre parece tranquilo, talvez seja a primeira criança que obedece tão bem às instruções.

Saio do quartinho e vejo três homens de terno conversando com uma das garçonetes. Ela aponta na minha direção, e eles começam a se aproximar.

— Cadê o menino? — Um deles pergunta com uma expressão muito séria, o que não parece ser algo bom.

— O pai veio buscá-lo para levá-lo ao parque. — Respondo rapidamente, tentando manter a situação sob controle.

Eles se entreolham, e um dos homens saca uma arma e a aponta para mim. Será que tudo que rodeia esse menino, está ligado a ameaçar seus cuidadores?

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Comments

Andréa Debossan

Andréa Debossan

Eu tinha pensado que poderia ser o filho dela, mas pelo visto ele deve ser filho de algum mafioso

2025-03-31

0

Livia Pereira

Livia Pereira

eu já teria me mudado daí com esse menino

2025-03-15

0

Ivanilde Serra

Ivanilde Serra

É amiga, acho que você arrumou uma grande encrenca pra você.

2024-12-01

1

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