capítulo 14

Que merda é essa que está acontecendo comigo? Por que fiz aquilo com ela? Droga, agora que ela vai me odiar mesmo. Se mantê-la presa, ela já tinha rancor de mim. Imagina agora que forcei o beijo dela.

Vou até a recepção, peço outro quarto e consigo um no mesmo andar, no quarto ao lado. Já resolvo tirar a limpo a questão sobre ser emboscada ou não, sobre ela ter que voltar lá na lanchonete que ela trabalhava.

Depois de pegar a chave, entro no meu carro e sigo para frente da lanchonete. De longe, já vejo um carro preto estacionado bem em frente, o único carro estacionado ali, pois a tragédia lá dentro foi feia. Então não é de nenhum cliente.

Ligue para um dos meus homens vir de encontro comigo aqui onde estou. Peço para entrar lá dentro para saber o que está acontecendo. Ele vai pois conhece os capangas do Johnson, assim, será mais fácil para mim descobrir quem estava lá dentro. Com alguns minutos ele volta e entra no carro disfarçadamente.

— Senhor, o chefe está bem abalado. Com certeza, o cara está ameaçando ele. Não tenho dúvidas de que são os capangas do Johnson.

— Eu sabia, eu tinha certeza que era uma emboscada. Quantos caras têm lá dentro?

— Dois, Senhor. Um está na porta para abrir para quem entra e sai, e o outro está ao lado dele dentro do balcão, no caixa, para ser mais exato.

Minha vontade agora é ligar para aquela teimosa e falar para ela tudo isso, para que ela saiba que o chefe dela não é tão bom. Ela não imagina o que uma pessoa faz quando está com uma arma na cabeça.

Destravo a minha arma e deixo preparada para atirar, chamo o meu soldado, e juntos descemos até a lanchonete. Ele entra na frente, disfarçando, dizendo que esqueceu algo lá dentro. Assim que ele se aproxima do balcão, eu entro, já dando um tiro na cabeça do soldado que está na porta, e o meu soldado dá um tiro na cabeça do que está ameaçando o ex-chefe da Virgínia.

— Você queria que ela viesse até aqui para entregá-la para ele, não é? Você tem ideia do que ele ia fazer com ela?

— Eles disseram que não iam machucá-la, que a única coisa que querem é o menino e o pai da criança.

— E você acreditou? Como vai confiar em um cara que entra na sua lanchonete te enfiando uma arma? Ele ia matar a criança e ia matar ela também. Agora, liga para ela e avisa que não precisa vir. Vou te pagar por todo o prejuízo que nós causamos, mas deixe a Virgínia longe disso tudo.

— Você é o irmão dela? — Ele fala em um tom de deboche, mesmo eu tendo dito que ela era minha esposa. Acho que ele está tentando testar minha sanidade.

— Virgínia é minha esposa, e peço que você não ligue para ela novamente. Tenho certeza de que você não quer se juntar a esses homens aqui, não é? — Minha esposa...sou um imundo. Como poderia tê-la como esposa?

— Isso é o que você está falando, mas só acredito nas palavras dela. Você não é marido da Viih, está mentindo. Mas por quê?

— Já está avisado, não vou repetir. Se eu ver o seu telefone na tela do celular dela novamente, eu te caço e te mato.

Ele só concorda com a cabeça, e me entrega um papel escrito a sua conta bancária. Faço a transferência na hora, e volto para o hotel. Antes de eu entrar, dou ordens para eles continuarem a limpar a área, pois quero voltar para minha casa o mais tardar amanhã, já estou cansado de ficar em hotel.

Ao passar pela porta do quarto dela, sinto uma vontade de bater e entrar, conversar com ela, pedir desculpas pelo que eu fiz. Mas não sou digno disso. Essas mãos, esse corpo que um dia causou tanto mal a uma adolescente, não serve para tocar em mulher nenhuma.

Tinha 21 anos, nem sei quantos ela tinha, pois as imagens estavam um pouco embaçadas. Quero muito um dia encontrá-la e implorar seu perdão. Talvez, com o perdão dela, eu possa seguir em frente. Até lá, melhor eu continuar na minha solidão.

Vou para o meu quarto e penso em um jeito de mantê-la comigo e com o Nando para sempre. Pelas suas palavras, sei que ela não aceitará um casamento, mesmo que seja de fachada. Mas também, não quero que um dia ela vá embora.

O Nando se apegou muito a ela. Mesmo que ele chore pela Tânia, Virgínia tem um jeito encantador de fazê-lo se acalmar. Ela daria certo para ser a mãe dele. Não quero que ela seja só a babá; quero que ela seja algo a mais. Quero que ela faça parte da minha família e que, se algo aconteça comigo, ela tenha o direito de cuidar do Nando e herdar tudo que tenho.

Minha mente trabalha a noite toda, pois não consigo dormir. Todas as vezes que fecho os meus olhos, a imagem daquela menina saindo de dentro do carro me atormenta, e com as palavras que a Virgínia falou para mim depois de forçar o beijo, fico pior ainda.

Me levanto, vou até o banheiro e faço a minha higiene. Quando volto para o quarto, meu celular está tocando, e quando atendo, é o meu pai.

— Alessandro, meu filho, como estão as coisas aí?

— Estão indo, pai, estamos bem. — Ele pergunta sobre o Nando, e lá vem ele querendo que eu me case de novo. Diz que arrumou uma esposa, uma nova aliança, e que dessa vez dará certo.

Mas eu não quero outra mulher na minha vida. As duas que entraram acabaram morrendo por minha culpa. Não seria justo mais uma morrer pelas mãos do Johnson. Então, conto uma mentira para ele.

— Pai, eu já estou casando de novo. A mulher é muito boa com o Nando, e acabei me casando com ela.

— Não falou nada para nós? Poxa, sua mãe vai ficar muito brava quando souber.

— Desculpa, pai, foi hoje o casamento, e não deu tempo de explicar nada.

— Só te perdôo se trazer ela aqui, quero ver a minha nora. Quando você vem?

Agora ferrou de vez. Como vou convencer a Virgínia a fingir ser minha esposa? Ou como posso transformá-la em minha esposa de verdade, sem ouvir um não dela? Droga, o que eu faço agora... Já sei, não tenho outra alternativa a não ser isso.

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