capítulo 13

Meu celular volta a tocar, tirando-me do transe mais uma vez.

— Deixe-me atender. Ele sempre foi um bom patrão para mim, sempre me ajudou em tudo.

— Era apenas um patrão ou havia algo mais? — Olho para ele, balançando a cabeça, tentando entender o que ele quer dizer com isso. — Não precisa responder. Atenda e diga a ele que você não pode ir, mas enviará o dinheiro pelos prejuízos.

— Ele sabe que eu não tenho dinheiro para pagar nada.

— Primeiro, saia de cima de mim. — Levanto-me sem um sobressalto, e ele se ajeita, pigarreando a garganta. — Segundo, diga que vai pagar; invente qualquer história, mas que enviará o dinheiro para ele.

O celular para de tocar quando ele passa para mim, e quando vou ligar, ele toca. Ao atender, ele pede para colocar no viva voz. Sem entender nada, acabo obedecendo.

— Desculpe, chefe. Aqui o sinal é ruim, e a ligação caiu. Não poderei ir, estou cuidando do meu sobrinho. Passe sua conta, meu irmão enviará o dinheiro para você.

— Irmão? — pergunta o pai do Nando, e eu fico sem jeito. Ele percebe meu desconforto, virando o rosto para a janela.

— Não tenho tempo agora para procurar alguém, você tem que vir, por favor, Viih, preciso da sua ajuda aqui.

— Ela não vai. Além de babá do meu filho, quase morreram na sua lanchonete. Acha que vou enviá-la novamente? Pode considerar a demissão dela, pois não precisa mais desse trabalho.

— Você é o irmão? Saiba que não vou demitir a Viih. Onde estava quando ela precisou? Agora volta como bom moço? Se não trouxer ela de volta, vou chamar a polícia, porque isso é sequestro, sabia?

— Ela não é minha irmã. Ela é a minha... — Ele para de falar, olhando fixamente nos meus olhos, e então abre a boca para dizer o que sou dele. — Ela é minha esposa.

— Está louco?

— Esposa? A Virginia não é casada. Conheço ela desde o dia em que saiu do orfanato e veio aqui me pedir uma chance de emprego. Você está mentindo.

— Não estou. Acabamos de nos casar, e você está atrapalhando nossa lua de mel. Mande sua conta por mensagem e apague o número dela da sua agenda, pois não vou permitir mais que ligue para ela.

Ele desliga o celular, deixando-me chocada com suas palavras. Entrega-me o celular e se levanta em silêncio. Tento voltar à realidade, mas minha cabeça dá um giro enorme com o que ele fez. Ao acordar desse sonho, vou até ele, que está na sacada olhando para a rua como se não tivesse feito nada de errado.

— Eu me demito da função de babá. Vou pegar minhas coisas e vou embora. Acho que você ultrapassou todos os limites que uma pessoa deveria. Não vou ficar brincando de casinha enquanto tenho uma vida para viver lá fora.

— Você ganha $200 por mês, paga $100 de aluguel, come no trabalho para não ter despesas, tem o cartão de crédito estourado, viveu a vida toda em um orfanato sem conhecer seus pais. O que você quer de volta da sua vida?

— Apesar de tudo isso, eu tinha liberdade para ir e vir aonde quisesse. Era uma pessoa normal, sem ninguém tentando me matar a todo momento. E estou nessa vida para quê? Ter um cartão de crédito ilimitado? Pode ficar com ele. Prefiro receber os $200 e ter paz na minha vida.

Entro no quarto, retiro o cartão da minha bolsa e vou até ele, estendendo-o para que pegue. Sua mão se ergue, mas em vez de pegar o cartão, ele segura minha mão e me puxa com força, colando-me em seu corpo.

— Me solte, por favor! Nem sei seu nome, não sei quem você é, e não faço questão de saber. Agora me deixe ir, ou vou gritar até alguém vir me ajudar.

— Você não faria isso. — Ele sorri de forma sádica, e começo a gritar por socorro. Uma de suas mãos vai em direção à minha boca, fazendo-me calar. Debato-me para que me solte, e só sinto sua mão em minha nuca, liberando minha boca para seus lábios, que me beijam com lascívia, mas a intensidade diminui conforme paro de me debater.

Empurro-o com força, limpando minha boca. Ele não podia ter feito isso, não assim, não à força.

— Seu idiota, vou embora daqui agora. — Saio sem olhar para trás quase chorando. Mas ao tocar na maçaneta, a porta está trancada. Começo a gritar para que ele abra.

— Me perdoa, isso não vai mais acontecer. Fica, por favor. O Nando precisa de você.

— Isso não vai dar certo. Se quiser que eu fique, arrume outro quarto para você.

— Eu arrumo, faço isso agora mesmo. Então, fique aqui que eu saio. Quando eu for para a mansão, eu te aviso. Mas não vá até a lanchonete. Tenho certeza de que é uma emboscada. Se os caras estiverem lá e estiver usando uma arma para ameaçar seu chefe, ele vai te chantagear para te pegar, fazer muitas coisas ruins com você até descobrir onde está o Nando. Tudo isso que estamos passando agora é porque eles querem matá-lo. Você realmente quer que ele morra?

Olho para o pequeno, que está mexendo na minha bolsa, todo quietinho. Não consigo nem pensar em alguém fazendo mal a ele, machucando-o.

— Por favor, eu preciso da sua ajuda. Ele precisa da sua ajuda, e prometo que não vou mais nem chegar perto de você.

— Então saia do quarto, pegue suas coisas e alugue outro lugar. Deixe-me aqui só com ele.

Ele balança a cabeça concordando, pega sua bolsa e coloca algumas coisas dentro. Retira a chave do bolso, e antes de sair, ele me olha, mas não consigo encará-lo. Viro meu rosto para o outro lado.

Depois do dia que fui forçada a ter relação com aquele homem, que eu implorava para ele não me tocar, tenho pavor quem tenta me tocar a força, da vontade de arrancar a cabeça da pessoa.

Assim que ele sai, eu fecho a porta e fico encostada nela, soltando todo ar preso em meus pulmões. Olho para o Nando e me aproximo dele, vou ficar só por ele, pelo senhor não sei o nome, eu quero distância.

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