Capítulo 2

Dirijo-me à cozinha e preparo dois copos de suco, um para ele e outro para mim. Em seguida, coloco alguns biscoitos em um prato e os levo até ele. Seus olhos examinam os biscoitos antes de finalmente pegar um. Fico pensando se ele é filho de alguém rico, talvez acostumado apenas com frutas e verduras.

Se for esse o caso, ele terá dificuldade aqui, já que não tenho nenhuma fruta à disposição. Como um biscoito, dando a entender que também é uma opção saborosa. Ele olha receoso, mas acaba pegando e experimentando.

De repente, o som de bombinhas ecoa, me assustando, e o menino começa a gritar descontroladamente. Corro até a janela e a fecho com rapidez, mas estou preocupada em saber como acalmá-lo agora.

Ele corre até mim, agarrando minhas pernas como se fosse um pequeno carrapatinho. Com cuidado, me abaixo para desgrudá-lo da minha perna, mas ele rapidamente se agarra ao meu pescoço. Mesmo entre os soluços e lágrimas, ele não quer me soltar.

Sinto uma onda de compaixão, surpreendendo a mim mesma. Deve ser difícil para ele, provavelmente vindo de um lugar onde só se ouvem os cantos dos pássaros, sendo assustado por explosões. Com ele no colo, me dirijo ao meu quarto. Deito-me com ele na cama e passo a mão para verificar se ele usa fraldas, mas descubro que não usa.

— Você precisa fazer xixi?

— Não, xixi não.

— Tudo bem então. Se você fizer xixi na cama, eu corto seu pipi fora, está bem?

Abraço ele e acaricio seu cabelo até que ele adormeça. Estou tão exausta que acabo pegando no sono também. No entanto, sou despertada por algo molhando minhas costas, e quando abro os olhos, percebo que o pequeno fez xixi na cama, transformando-a em um lago de mijo.

— Ah não, não posso acreditar nisso. Você disse que não precisava fazer xixi. — Começo a chorar desesperadamente ao ver minha cama encharcada.

Levanto-me furiosa, mas o menino permanece dormindo, aparentemente alheio ao que aconteceu. Olho pela janela e percebo uma série de viaturas estacionadas na rua, o que desperta minha curiosidade para saber o que está acontecendo, já que esta rua é a mais tranquila da cidade.

Sinto um sobressalto quando o menino se agarra à minha perna, e começo a pensar em como levá-lo ao hospital e sumir sem que ninguém perceba. Pego sua mão e o levo para tomar um banho, pois o cheiro de bebê que ele tinha quando chegou aqui, foi para o ralo, ele tá todo catinguento agora.

Após o banho, estou mais encharcada do que ele, mas pelo menos ele está limpo e cheiroso. Sorte minha que também vou tomar um banho. Visto uma das minhas camisetas nele e o coloco em uma poltrona, onde ele assiste televisão e come biscoitos enquanto eu finalmente tomo meu banho e me esforço para eliminar o odor de mijo infantil que ele deixou em mim.

Saio do banheiro e encontro o menino sentado no tapete, entretido com alguns objetos de plástico que uso como enfeite. Enquanto me visto, olho pela janela e percebo que as viaturas ainda estão na rua. Decido pegar o menino no colo, verificar o que está acontecendo e aproveitar a oportunidade para levá-lo ao hospital antes de ir à lanchonete.

Ao descer, ele deita a cabeça em meu ombro, e me deparo com uma cena perturbadora: uma pessoa está deitada no chão, coberta por um pano metálico, mas o sangue se espalha pelo canto da rua. Alguns curiosos se aglomeram, esperando para ver o desenrolar da situação, e eu estou no meio dessa cena com uma criança nos braços.

Muitas pessoas me observam, curiosas, e percebo que estão interessadas em saber de quem é o menino. No entanto, como não sou alguém que socializa com elas, ninguém tem a coragem de me fazer perguntas. Se o fizessem, eu simplesmente diria que ele é filho do vendedor, assim pelo menos as pessoas pensariam que ele tem uma mãe em vez de saber que alguém o abandonou como lixo. Se eu não tivesse ouvido seu choro, o caminhão teria esmagado a vida dele. Algumas pessoas são realmente sem coração, nem merecem ser chamadas de mães.

Enquanto observo a cena, o vento repentinamente revela parte do corpo da vítima, o suficiente para identificar que é uma mulher. Curiosa, tento ver melhor, mas então sinto uma mão me puxando para longe da multidão. Sou levada até um beco, e percebo que, se essa pessoa tentar fazer algo comigo, não poderei me defender, já que estou segurando uma criança nos braços.

— Por favor, moço, não faça nada. Meu filho é apenas uma criança.

— Ele não é seu filho.

Olho para o homem e depois para a criança. Ele estende as mãos para o homem, que prontamente o pega.

— Bem, se você o conhece, então fique com ele. Eu estava prestes a levá-lo para o hospital, mas agora tenho que ir para o trabalho.

— Não posso ficar com ele. Ele estará mais seguro com você.

— Comigo? Ele vai passar fome. Eu como no trabalho para não ter despesas. Não tenho condições de cuidar de uma criança. Trabalho o dia todo e não tenho dinheiro para pagar por uma babá.

O homem acaricia a cabeça do menino, que está agarrado a ele. Em seguida, ele sussurra algo no ouvido da criança, que acena e estende as mãos na minha direção, implorando para que eu o segure. No entanto, eu balanço a cabeça negando e insisto que ele não tem relação comigo.

Enquanto tento sair do beco, dois homens aparecem na minha frente, apontando armas na minha direção. Com cautela, começo a recuar, voltando para perto deles.

— Por favor, não faça isso, moço. Deixe-me ir, eu prometo que não direi nada a ninguém sobre isso.

— Você cuidará do menino, não precisa se preocupar com as despesas. Eu pagarei por tudo.

— Não posso. Não tenho jeito com crianças. Deixarei ele no hospital se você não o levar consigo.

Os olhos do homem se enchem de fúria, e embora ele fale com aparente gentileza, seu olhar é gelado, ameaçador, como o de um matador, fazendo-me tremer. Caminho para trás até bater nas costas da parede, e ele me segue, olhando-me com uma expressão raivosa. Olho desesperadamente para os lados, mas não vejo uma rota de fuga. O que esse sujeito maluco quer de mim?

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Comments

Priscila andrade

Priscila andrade

Day amo seus livros vc faz refletir tenho certeza que será extraordinário

2023-12-15

69

Priih

Priih

Quanto mistério… adorooo! 🤭🥰

2024-04-28

4

Priih

Priih

Não adiantou nada avisa-lo, mas acontece 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣

2024-04-28

0

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