Capítulo 9

Ele entra, vai direto para o Nando, e o pega no colo, acordando-o. Será que ele não tem ideia de como é difícil fazer esse menino dormir à tarde? E por que apareceu logo agora? Sinto um cheiro de queimado e corro até as panelas. Ao verificar, vejo que o arroz queimou. Molho um pano, coloco a panela em cima e pego um copo de vidro para eliminar o cheiro.

— O que está fazendo?

Dou um pulo com o susto, quase tacando uma panela na cabeça dele.

— Comida. Não me dê susto, eu odeio isso.

Ele sorri, se encosta na mesa, cruza os braços e fica me olhando.

— Pode voltar para a sala, seu filho está lá e não aqui.

— Eu sei, mas ele está dormindo, não quer conversa. Preciso saber se vocês precisam de alguma coisa.

Digo que estamos bem, até porque com o cartão de crédito que ele me deu, não tinha como eu não estar bem. Pego as coisas e levo para cima da mesa, pegando o pratinho do Nando e começando a colocar sua comida.

A campainha toca novamente, algo incomum para mim. Olho pelo olho de gato e vejo um homem de terno e gravata. Olho para o pai do Nando, que já fica em alerta. Ele faz sinal de silêncio com os dedos e entra no meu quarto. Pergunto quem é, e ele diz que tem um recado para mim.

— Pode falar daí mesmo, estou ouvindo.

— Senhora, eu preciso entregar em mãos.

— Então, errou de endereço. Eu não encomendei nada, nem dinheiro tenho para comprar. Não tenho ninguém nem mesmo para me presentear. Toca no vizinho que deve ser dele.

Ele fala meu nome completo, mas como não estou esperando nada, mando ele vazar. Me afasto da porta e vou caminhando até o Nando. Quando o pego no colo, o homem arromba minha porta. Ele sorri, olha ao redor da minha casa, abraço o Nando bem forte e vou caminhando para trás.

— Você é esperta, garota. Tenho que admitir, mas onde está o seu chefe?

— Está lá na lanchonete onde eu trabalho.

Ele continua caminhando lentamente até mim, passando o dedo em todos os meus móveis que ficam pelo caminho.

— Estou falando do pai desse menino.

— O pai dele morreu, teve uma intoxicação alimentar, e já era.

Ele começa a rir, e agora estou com medo de verdade. Minhas costas batem na parede, e não tem mais para onde fugir. Ele acelera os passos, e tenta tirar o Nando dos meus braços, eu luto para não deixá-lo ir. Olho para trás dele, e o pai do Nando manda eu me abaixar com a mão.

Dou uma joelhada em seu saco e me abaixo com o Nando. Só escuto o barulho do tiro, e o cara caindo no chão. O pequeno acorda e começa a chorar. Eu começo a acalmá-lo, como sempre faço, segurando-o bem apertado e balançando-o devagar.

— Você não está mais segura aqui, precisamos ir para outro lugar.

— Está louco, eu não posso sair da minha casa.

— Terá que sair, ou vai morrer aqui.

Já chega, já deu essa história de mãe postiça. Levo o Nando até ele e entrego em seu colo, empurro-o para sair do apartamento, mas quando ele percebe que essa é a minha intenção, trava no lugar.

— O que você pensa que está fazendo?

— Me livrando do perigo, pode ir embora. Ah, peraí. — Vou até a geladeira, pego o cartão e entrego para ele. — Seu dinheiro, agora sim, pode ir embora.

Ele coloca o Nando no chão, e na mesma hora o menino agarra nas minhas pernas. Oh Deus, não tinha um castigo pior não?

— Ou você fica com ele, ou você morre. Não vou deixar quem não é útil para mim viver.

Isso é injusto, e mais uma vez me arrependo de ter tirado o menino dos dados de lixo. Ele começa a chorar e estende os braços para que eu o pegue. Me abaixo e coloco-o no meu colo.

— E para onde a vossa senhoria vai me levar?

— Vou te mudar de casa, você já se tornou alvo para eles. Aqui, você não está mais segura. Leva só o que é pessoal, o resto deixa aí.

Ele manda eu agilizar logo. Entrego o Nando para ele e vou até o meu quarto, pego uma caixa de papelão e começo a colocar tudo dentro. Aqui, os móveis não são meus, eu já aluguei com a mobília. Só lamento pelo colchão mijado.

Saio com duas caixas de papelão, e ele me olha com curiosidade no olhar. Pergunto se tem alguma coisa errada, e ele reclama por eu estar levando em caixas, que todo mundo tem malas.

Só que eu não sou todo mundo. Se ele é rico e tem tudo, deveria ter olhado melhor para mim, já que eu não tenho absolutamente nada aqui.

— Bom, ou eu levo na caixa, ou você carrega peça por peça até o seu carro. Só não esqueça que tem que subir e descer os cinco lances de escadas, pois a minha preocupação maior era comprar comida e pagar contas, e não comprar malas de viagem, sendo que eu não viajo para lugar nenhum.

Ele balança a cabeça sem acreditar no que eu falo, ele parece ser muito fresco com as coisas, e isso me deixa incomodada, já que eu não sou tão cheia de frescuras. Mas o que ele não imagina, é que eu cuidado do filho dele, ele vai acabar se espelhando em mim, e vai ser igual, ou pior do que eu.

Imagina essa hora cuidado do próprio filho depois que tudo isso acabar, e o Nando fazendo tudo que eu faço. O homem vai infartar.

Olho para a escada, e espero que seja essa a única escada a descer. Não quero descer as escadas do inferno, não. Amo a minha vida. Acho que vou começar a frequentar alguma igreja e pedir perdão a Deus por todos os meus pecados até conseguir sair dessa enroscada que me meti. Bom, vamos lá para uma nova vida, que eu não faço ideia de como será.

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Comments

Nelly Rose

Nelly Rose

kkkkk amo as protagonista das estórias ela não tem medo de enfrentar esses homens machista e eles passam mal nas mãos delas ,😜😜😜😜

2023-12-15

104

Maria Eduarda Wrobel Pinheiro

Maria Eduarda Wrobel Pinheiro

Essa Virgínia é maravilhosa parabéns ❤️❤️❤️

2024-05-16

1

Priih

Priih

Ele já tem uma conexão com a mamãe dele 🥹

2024-04-28

0

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