Capítulo 16

Entro no meu escritório e já ligo o monitor das câmeras. Quero observá-la enquanto ela caminha pela casa com o Nando. Posso admitir que ela é demais para mim, mas preciso deixá-la conosco, mesmo que seja à força.

Ligo para o meu advogado e peço que ele me traga uma certidão de casamento, dando um jeito de trazê-la aqui, já que não seria possível levá-la ao cartório sem que perceba que está se casando comigo.

— Senhor, vou tentar, mas essas coisas são bem complicadas.

— Traga um juiz de paz aqui em casa, pague um bom dinheiro a ele para afirmar que estou apenas passando a guarda do Nando para ela. Ele não deve mencionar o assunto do casamento.

— Ah, eu sei quem faria isso por dez mil dólares. Precisa para quando, senhor Medina?

— Para hoje, para agora, para já.

Ele compreendeu bem o que eu quis dizer e desligo o celular, prometendo que estaria aqui em 1 hora. Não preciso contar isso a ela; posso deixar que descubra só depois de eu morrer.

Se alguém tentar tirá-la daqui, terá juiz e confusão para afirmar que ela é a proprietária de tudo isso. Com esse assunto resolvido, subo para o quarto que era da Tânia. Percebo que o Nando a levou diretamente para lá, e ele deve estar chorando agora.

Subo as escadas, e ao entrar no quarto, deparo-me com ela sentada na cama, quase deitada, e o Nando deitado recebendo carinhos na cabeça.

Me aproximo lentamente, e a semelhança entre os dois é incrível, fazendo-me pensar se ele não é realmente filho dela. São muitas coisas iguais. Já ouvi dizer que existem pessoas semelhantes no mundo, mas seria possível serem tão parecidos?

Ela olha para mim e me vê parado observando os dois. Como ele está dormindo, faz sinal de "shh" para mim. Peço para ela me acompanhar apenas com um gesto da mão, e devagar, ela se afasta dele, e vamos até a porta.

— Vou precisar da sua ajuda, Virgínia. Meus pais querem arranjar um casamento forçado para mim. Disse a eles que já estou casado. Você poderia me ajudar a mentir?

— E por quê?

— Já tive duas esposas, e ambas morreram em confrontos. Não quero mais colocar a vida de ninguém em risco.

— Mas eles farão muitas perguntas, como nos conhecemos, quando começamos a namorar, essas coisas.

— Podemos manter a história real, mas no meio disso tudo, peço você em casamento. Nem chegamos a namorar, já queria me casar logo. Pronto.

— Não sei não, isso pode dar muito problema. — Ela fala com medo, mas eu preciso que ela ao menos finja. Se o juiz de paz mencionar algo sobre casamento, posso dizer que é falso, que é para o caso dos meus pais quererem ver a certidão.

— Não vai, vai dar tudo certo. Tem outra coisa, meu advogado vai trazer um juiz aqui, e preciso que você assine a guarda do Nando. Caso algo aconteça comigo, preciso que você cuide dele, pode ser?

Ela olha para ele, concordando com um sorriso encantador. Acho que estou me apaixonando, ela é tão linda, tão delicada, fazendo-me lembrar muito da Alícia. Ela volta a olhar para mim, e nossos olhos ficam conectados de uma forma intensa. Não conseguimos desviar o olhar um do outro, como se nossas almas conversassem através dos nossos olhos.

— Aceita se casar comigo? — Falo sem pensar, soltando as palavras como se houvesse uma necessidade nisso.

— Casar? Não podemos casar. — Ela quebra o clima com essas palavras. — Sim, casamento não é apenas a junção de corpos. Os dois precisam estar apaixonados, pois é uma vida conjunta, como se a pessoa fosse uma só. Não podemos simplesmente casar.

— Se eu ganhar o seu coração, você aceita?

— Eu... eu... — Ela vai andando para trás, e eu a sigo. Quando ela encosta na parede, coloco minhas mãos ao redor da cabeça dela, aguardando a sua resposta.

— Me responda. Se aceitar, tudo isso será seu, e não teremos problemas com o Nando, já que ele passará a ser o seu filho de verdade.

— Eu não sei, senhor Medina. Tenho algo no meu passado que não permitiria o senhor chegar perto de mim, e sei que entre casais isso é normal. Comigo não vai rolar. É melhor você conhecer uma mulher que seja normal, sem um passado que te trave quando um homem se aproxima.

— O que tem no seu passado? Até onde eu te investiguei, você viveu em um orfanato. — Pergunto curioso, pois puxei a ficha completa dela, e não há nada que a faça temer um casamento. — É por causa do abandono dos seus pais? Posso ajudar a encontrá-los se quiser.

— Não, não quero saber quem são meus pais. E sobre esse assunto, prefiro guardar para mim. Apesar de não ter sido totalmente minha culpa, eu me sinto suja, imunda... Não quero falar disso, é melhor o senhor arrumar uma esposa decente, e eu ser só a babá do Nando.

Fico curioso, muito curioso com isso, e quero que ela fale sobre o que aconteceu. Quanto mais pergunto, mais ela desvia do assunto. Preciso descobrir o que aconteceu, mesmo que tenha que ir até o orfanato para conhecer a sua história.

— Eu vou ganhar o seu coração... — Aproximo meu rosto do dela, mas paro antes de tocar seus lábios. — Você já tocou no meu, e eu não desisto daquilo que me faz bem. Quero você ao meu lado, como minha esposa e mãe do Nando. Vou esperar pacientemente pela sua resposta, pois sei que vai dizer sim.

— Não crie expectativas com isso, pode não acontecer.

— Só pode acontecer. Mas, por hora... — Me afasto dela, percebendo seu desconcerto. Ela queria que eu a beijasse, mas não vou forçar nada. — Preciso que diga aos meus pais que estamos casados. Não quero outra mulher na minha casa além de você, está bem?

Termino de falar passando o dedo indicador nos lábios dela, notando sua respiração ofegante ao meu toque. Ela fecha os olhos para sentir, e eu me perco nessa sensação.

— Posso te beijar, Virgínia?

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