Capítulo 11

Já descobriram onde eu escondo o Nando, e é hora de mudá-los de casa. No hotel, será mais reservado, já que eles não têm permissão para saber em qual quarto estou. Não peguei o quarto presidencial, pois seria muito óbvio. Optei por um quarto no andar do meio, facilitando uma possível saída rápida, se necessário.

Entretanto, ela parece se incomodar com isso. Para mim, conviver com uma mulher sem tocá-la é fácil, vivi anos sem tocar na minha esposa, e Virgínia passará despercebida da mesma forma.

Chegamos no quarto, e ela percebe que há duas camas. Coloca o Nando em uma delas e senta-se na beirada. Eu vou diretamente para o banheiro, tiro as minhas luvas e lavo a minha mão e o meu rosto.

Espero encontrar esses desgraçados antes que tentem algo contra o meu filho. Se algo acontecer com ele, minha vida já não terá mais sentido. Vou lutar por ele e pela máfia, quero a cabeça daquele idiota, nem que para isso eu tenha que acabar com o país inteiro. Saio do banheiro, e ela está diante da janela, olhando para fora, com os braços cruzados.

— Virgínia, pode ficar à vontade, pode fingir que eu não estou aqui se quiser.

— Impossível, já que você é uma muralha enorme. — Ela fala sem olhar para mim, mas depois se vira e olha diretamente para minha mão. — Pensei que você usava luvas por ter a mão machucada.

— Não, eu uso por outro motivo. — Ela sorri, vira o rosto para a janela, e eu não quero nem imaginar o que ela está pensando agora. — Já falei uma vez, e vou repetir, eu não sou gay, só tenho algumas manias, isso não me torna homossexual.

— É você quem diz, não eu. A vida é sua, faça dela o que quiser. Apesar de que eu estaria mais confortável aqui se você fosse, pois seríamos como duas mulheres aqui dentro.

Na hora em que vou responder, Nando acorda chorando, chamando pela sua mãe. Ela o pega no colo, abraçando-o com um conforto maternal, como se fosse a mãe dele de verdade.

Agora percebo que o cabelo dos dois tem a mesma tonalidade, e se Nando não fosse adotado, eu diria que poderia ser filho dela. Mas, quando pesquisei sobre a vida da Virgínia, só mostrou que ela morava no orfanato, e sei como esses lugares são rígidos, não teria como ela engravidar lá dentro.

Pego minha roupa e volto para o banheiro, tomo um banho e me visto lá dentro mesmo. Estou acostumado a dormir sem camisa, mas se só a minha presença aqui já deixou ela desconfortável, imagina se ela me ver com o torso pelado, vai ter um infarto.

Coloco uma regata e vou para a cama, olho para ela, que desvia o olhar ao me ver. Nando está acordado, ela pede para eu pedir comida enquanto ela dá banho nele. Ela tira toda a roupa do Nando e o leva para o banho.

Ligo para a recepção, pedindo para trazer os pratos, principalmente frango, que é o que ele mais gosta de comer. Antes da comida chegar, ela sai com ele enrolado na toalha, e assim que ela o coloca na cama, a blusa branca dela está praticamente transparente.

E uma coisa que eu não sentia há muito tempo começou a acender dentro de mim. Não sei o que há de errado comigo, mas o meu corpo está reagindo só de olhar para ela desse jeito.

— Vamos colocar a roupa, seu mijão, para quando chegar a comida, você estar limpinho.

— Mijão? — Pergunto sem entender por que ela está chamando ele assim, já que o Nando usa o banheiro desde os dois anos.

— Sim, acredita que no primeiro dia ele soltou um dilúvio de mijo na minha cama? Pensei até que ia morrer afogada.

— Não levou ele no banheiro antes?

— Eu perguntei se ele queria ir, ele disse que não, então, não insisti.

Balanço a cabeça negando; Nando sempre avisa que quer ir ao banheiro, mas só quando já está muito apertado. Alguém bate na porta, e ela ainda não percebeu que a sua roupa está transparente em seu corpo. Ela coloca o Nando sentado na cama e se levanta para abrir a porta.

Ela olha pelo olho mágico e abre. O homem que trouxe a comida olha para ela de cima a baixo, e ela não percebe, mandando-o colocar o carrinho no quarto.

Ele para diante dela, e ela olha para ele, enquanto ele observa o corpo dela. Eu fico só olhando a cena, vendo qual será a sua reação. Quando ela percebe para onde ele está olhando, ela se vira de costas e começa a gritar, correndo para o banheiro. Me levanto da cama e vou até a porta.

— Eu poderia arrancar os seus olhos por estar olhando para a mulher dos outros, já ouviu dizer que peixe morre pelos olhos?

— Desculpa, senhor, eu não deveria... Eu... Com licença. — Ele sai tão nervoso que nem se deu conta de que eu falei o ditado popular errado.

Fecho a porta, e quando me viro, o Nando já está atacando o prato de frango dele. Vou até o banheiro para ver se ela está bem, e quando eu abro, ela está apenas de lingerie. Porém, está de costas para mim, não percebeu a minha presença.

Mas, ao vê-la assim, me sinto estranho. Fecho a porta devagar, cerrando os meus olhos. Não entendo, a única vez que me senti assim foi com a minha Alícia, nem com a Tânia eu sentia algo que pudesse me fazer tentar algo com ela.

— Aqui não tem toalha, pode me ajudar? — Ela pede, e eu vou até a cômoda que tem ali, pegando uma toalha limpa. Vou até a porta do banheiro e bato, ela apenas coloca a mão para fora, procurando a toalha.

— Você levou roupa para se trocar aí dentro?

— Não, eu não estou acostumada a morar com um homem. Não seria melhor você alugar outro quarto só para você e deixar eu e o Nando aqui neste? Tenho certeza de que para você também não é cômodo.

— Eu não ligo, não me importo de ver mulher pelada, não me atiça em nada.

— Ah, então você é gay mesmo. O bom é que poderemos ser amigas.

— EU NÃO SOU GAY, QUE PORRÄ...

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