Nininha
Estávamos todos almoçando juntos quando Enrico, sentado ao meu lado, me lançou um olhar indicando que queria falar. Suspirei e assenti com a cabeça.
Ele pigarreou e disse:
— Senhor Raimundo, senhora Amélia... Eu os convidei porque tenho algo importante para dizer. Oficialmente, quero anunciar que eu e Nininha somos agora namorados.
Seguiu-se um silêncio, interrompido apenas por um grito de Carol, que, ao perceber a atmosfera, calou-se. Meus pais nos observavam com um olhar indecifrável.
Meu pai foi o primeiro a se manifestar:
— Bem, se a Nininha aceitou, não cabe a mim interferir. No entanto, não quero ver minha filha sofrendo. Você sabe, como eu disse, a Nininha é diferente das mulheres que você conheceu, Enrico. Não brinque com os sentimentos dela.
Enrico encarou meu pai com confiança e disse:
— Jamais, senhor. Eu a amo, amo a filha de vocês.
Meu pai assentiu e falou:
— Bem, então só me cabe abençoar a união de vocês. Tenham a minha bênção e que a vossa relação seja sólida e duradoura.
Enrico e eu nos olhamos. Ele sorriu, segurou minha mão sobre a mesa e a levou até seus lábios, olhando-me apaixonadamente, assim como eu a ele.
No entanto, voltamos nossa atenção para minha mãe. Ela mantinha o olhar fixo na mesa e não disse uma palavra. Preocupada, perguntei:
— Mãe? Está tudo bem? Você não vai dizer nada?
Ela voltou o olhar para nós e disse com um tom profundo que ecoou em mim:
— Você, Nininha, é diferente, e todos aqui sabem disso. E não, não pense que isso vai mudar, que você vai amadurecer e se tornar outra pessoa, porque não vai. Pode tentar esconder quem é de verdade, mas lembre-se que, ao fazer isso, nunca terá paz, será sempre atormentada por não ter assumido sua verdade.
Com a respiração ofegante e lágrimas nos olhos, e com a voz embargada pela vontade de chorar, respondi:
— Mãe, por que está falando assim? O que quer dizer? Eu não vou me esconder, sempre serei eu mesma, sem máscaras.
Enrico percebeu a possível tensão e apertou suavemente minha mão sobre a mesa, dirigindo-se à minha mãe:
— Dona Amélia, eu jamais vou impedir a Nininha de ser quem ela é. Mesmo que eu não compreenda completamente esse lado peculiar dela, jamais tentarei anulá-lo. Eu a amo.
Minha mãe soltou um sorriso de desdém e disse:
— Amor? Em tão pouco tempo já a ama? É amor verdadeiro ou um jogo de poder? Ter controle sobre ela, sobre suas diferenças, só aumenta seu ego.
Nesse momento, as lágrimas já rolavam pelo meu rosto. Carol tentou me consolar, mas era impossível. O que estava acontecendo com minha mãe? Sempre esteve ao meu lado, o que mudou?
Enxugando as lágrimas com a mão livre, perguntei à minha mãe:
— O que aconteceu? Por que está agindo assim?
Ela então direcionou seu olhar para Enrico, visivelmente abalado e sem reação diante da afronta dela. Olhando-me profundamente, disse:
— Estou fazendo isso porque te amo, filha. Ele pode estar se aproveitando da sua ingenuidade. Você pode ser apenas mais um troféu para ele, um troféu diferente dos muitos que já possui. Conquistando você, ele prova para si mesmo que não há limites para o que deseja.
As palavras duras da minha mãe pesaram sobre mim como pedras. Por um momento, me senti tonta, pois aquilo que ela disse foi o que eu mesma já me questionei. É difícil discernir as verdadeiras intenções das pessoas, algumas enxergam apenas manipulação.
Olhei para Enrico; ele estava quieto, refletindo sobre as palavras da minha mãe. Então, seus olhos encontraram os meus, sem pronunciar uma palavra. Enquanto o encarava, minha mão lentamente se soltava da sua. Ele baixou o olhar para nossas mãos enquanto se separavam.
Seus olhos voltaram aos meus, marejados e vermelhos, e ele disse com a voz baixa e embargada:
— Depois de tudo o que compartilhamos, você não acreditará nisso, não é? Eu amo você, Nininha, de verdade.
Naquele momento, senti-me completamente perdida. Sem saber como reagir, retirei minha mão da dele. Os olhares de todos estavam fixos em mim. Meu pai permanecia calado, enquanto minha mãe parecia revoltada com Enrico. Carol estava visivelmente desconcertada.
Enrico me olhou com desespero, e eu me vi em uma angústia profunda, imersa em um mar de descobertas e intrigas. Sem saber o que fazer, corri dali como se minha vida dependesse disso. Enquanto passava pela porta, ouvi todos me chamando desesperadamente.
Mas eu já estava longe. Lágrimas banhavam meu rosto, e o vento parecia furioso, sacudindo meu cabelo. Corri em direção ao pasto verde da fazenda de Enrico, buscando o único lugar onde me sinto segura: a natureza, que me acolhe e parece me entender como ninguém.
Enquanto meus pés batiam no chão, a corrida se transformava em uma fuga da confusão que dominava minha mente. O vento contra meu rosto misturava-se com as lágrimas que teimosamente não cessavam.
As palavras da minha mãe ecoavam, cada sílaba carregada de dúvidas que eu tinha reprimido por um tempo. Eu me perguntava se Enrico poderia ser quem minha mãe insinuava, se suas intenções eram genuínas ou apenas uma fachada para algo mais obscuro.
Eu corria, não só pela fazenda, mas em busca de respostas dentro de mim. Enquanto meus pensamentos se entrelaçavam em um emaranhado de incertezas, uma pergunta se destacava: eu realmente me conhecia o suficiente para discernir entre a verdade e a ilusão?
As lágrimas turvavam minha visão, mas meu coração estava em tumulto. A sensação de ser manipulada ou usada, como se minha singularidade fosse apenas uma peça em um jogo, me atormentava. Era essa a verdade sobre Enrico? Ou minha mãe estava apenas projetando seus medos sobre mim?
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Ester
eita achei que a mãe dela fosse legal pra que inimigo se tu tem uma mãe dessa 😂😂😂😂
2024-09-07
0
Viviane Maria Dias
que mãe hein credo
2024-07-25
2