Nininha
O silêncio pesado pairava sobre o carro enquanto voltávamos para casa após o emocionante culto, e eu me encontrava em um turbilhão de emoções como nunca antes. É como se ainda pudesse sentir o reconfortante calor da enorme mão de Enrico sobre a minha.
Carol conversa sobre alguns assuntos comigo, mas confesso que minha mente está viajando. Eu disse que manteria distância de Enrico, porém, nesse momento, desejo mais do que nunca estar perto dele.
Ele também permanece calado, imerso em um mar de pensamentos, como se estivesse questionando tudo. A maneira como expressou seu amor foi tão intenso e irreal que, por um momento, pensei ter sido uma alucinação.
Mas agora, tanto ele quanto eu estamos confusos e um pouco desorientados com a intensidade do momento que compartilhamos durante o culto. Fiquei extremamente feliz ao vê-lo entrar para assistir, algo que, na verdade, me surpreendeu.
Estava tão absorta em meus pensamentos que levei um tempo para perceber Carol me chamando:
— Ei? Terra chamando Nininha, está me ouvindo?
Saio dos meus devaneios com um pequeno sorriso pela forma engraçada de Carol e pergunto:
— O que foi, Carol?
Ela responde rapidamente:
— Sua mãe deixou, você vai querer ir?
Devo confessar que não fazia ideia do que Carol queria dizer. Confusa, me viro no assento olhando para ela, que está atrás, e pergunto:
— Ir para onde?
Ela suspira e revira os olhos, como se não pudesse acreditar na minha falta de atenção, e diz:
— Ir dormir lá em casa hoje. Como amanhã é sábado mesmo, podemos curtir um dia das meninas. O que acha?
Meu coração acelera, parece que estou tendo um ataque cardíaco neste momento. Minhas mãos suam, enquanto, disfarçadamente, enxugo-as na lateral do meu vestido.
E foi nesse exato momento em que me vi sem conseguir articular nenhuma palavra que Enrico, virando uma curva na silenciosa estrada, me olha fixamente e diz:
— Não vai responder?
Neste momento, foi como se minha alma saísse do corpo, viajasse até o paraíso e depois retornasse como uma bomba no tobogã, explodindo com força total no meu corpo novamente.
Eu então me viro para minha mãe, que me olha sorrindo e diz:
— Vai, filha, acho que vai ser bom para você.
Por dentro, queria gritar para minha mãe: "Poxa, mãe, até você? Não percebe que este homem ruivo ao meu lado me espreita como um enorme lobo pronto para dar o bote!?" Forçando um sorriso para minha mãe e Carol, apenas digo:
— Claro, irei adorar.
Carol dá um gritinho empolgada, já engatando em uma conversa animada com minha mãe. Enquanto isso, por dentro, estou pensando: "Ah não, não, não. Dormir na casa dele depois de tudo que aconteceu entre nós dois será mesmo uma boa ideia? Bem, acho que não."
Ele me olha de relance, e desta vez decido encará-lo de volta, tentando descobrir alguma intenção oculta. Mas percebo que foi um erro, pois ele me encara tão fixamente que parece enxergar minha alma. Confiantemente, mantenho meu olhar.
Percebo que Carol e minha mãe estão alheias ao que acontece entre nós no banco da frente, continuando a conversa como se nós dois não estivéssemos ali.
Decidida, digo em um tom confiante:
— Se fosse você, olharia para frente. Não quero ser a causa de nenhum acidente, isso não seria nada romântico.
Um leve sorriso surge nos meus lábios após dizer isso, uma sensação de vitória me atravessa, porém não esperava a reação que ele teve: direcionou seu olhar para o caminho à frente realmente.
Enquanto ele habilmente manobrava o volante do carro, um sorriso genuíno iluminava seu rosto. Observando sua expressão, percebo uma sensação de vitória, como se o jogo tivesse virado a seu favor. No entanto, surge a minha pergunta: por quê?
Ao chegarmos em casa, deixamos apenas minha mãe. Pego algumas peças de roupa e as coloco em uma mochila.
Meu pai me olha e diz:
— Comporte-se lá, garota.
Assinto para meu pai e sigo em direção ao carro com Carol. Enquanto isso, ouço meu pai dizer a Enrico:
— E você, espero que tenha juízo.
Enrico esboça um leve sorriso e responde:
— Pode deixar, senhor.
E assim partimos: desta vez, sentei atrás com a Carol, enquanto Enrico continuava a observar-me pelo retrovisor do carro. Fiquei um pouco sem jeito, e Carol percebeu. Sem rodeios, ela disse:
— Ok, ok, maninho, se controle, já está parecendo um psico... Você sabe, né? Aliás, se quiserem ignorar minha presença, fiquem à vontade. Vão lá, crianças, conversem.
Franzi a testa olhando para Carol, claramente expressando um "Ei, o que deu em você, garota?" Me inclinei levemente, empurrando-a, e disse sorrindo:
— Acho que seu irmão não tem nada a dizer, Carol.
Enrico, com um sorriso curioso, disse:
— Ei, quem disse que não? Quem me ignora aqui é você, Nininha.
Carol pegou seu celular, colocou os fones e disse:
— Boa conversa para vocês dois, não escuto nada, não sei de nada.
Balancei a cabeça, como quem não acreditasse, passei a mão pelo meu rosto e disse:
— Não estou acreditando nisso... Carol é espertinha, isso sim.
Enrico olhou para mim pelo retrovisor com seriedade e chamou:
— Nininha?
Tirei lentamente a mão do rosto, suspirei profundamente e olhei na direção dele, respondendo:
— O que?
Ele manteve seu olhar na estrada à frente e disse:
— Nós dois realmente precisamos conversar. Não aqui, mas definitivamente precisamos. Sem fugir ou me evitar desta vez, Nininha.
Seu olhar encontrou o meu por um instante no retrovisor, como se esperasse uma resposta, mas engolindo em seco, apenas consegui assentir com a cabeça.
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Atualizado até capítulo 83
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