Enrico
Enquanto conversava com o senhor Raimundo e a senhora Amélia, minha irmã logo se juntou a nós para jantarmos, seguida por Nininha, que estava intrigante em um vestido verde com um broche lilás.
Isso me fez lembrar do broche branco dela, guardado no meu quarto. Quando a cumprimentei com um sorriso, ela pareceu momentaneamente intrigada, avaliando algo em mim.
— Boa noite, Nininha! — cumprimentei.
Ela ficou momentaneamente sem reação até que o pai dela interveio:
— Cadê os modos, Nininha? Não ouviu o rapaz te cumprimentar?
Ela assentiu um pouco sem jeito e respondeu:
— Boa noite!
Então, ela e minha irmã se sentaram. Parecia que algo após o momento em que Nininha me avaliou a fez refletir, deixando-a presente e ao mesmo tempo distante em seus pensamentos.
Sentada em frente a mim, ela não retribuía o olhar. O que estaria passando em sua mente para deixá-la ainda mais distante? Enquanto nos servíamos, elogiei dona Amélia pela deliciosa comida caseira, destacando seu talento natural na preparação dessas iguarias.
Um silêncio absoluto pairou após os agradecimentos tímidos de dona Amélia. Decidi quebrá-lo, dirigindo-me à minha irmã:
— Do que você estava rindo, Carol?
O olhar surpreso de Nininha para minha irmã pareceu estranho, gerando dúvidas em minha mente. Entre garfadas, minha irmã respondeu:
— Nada demais, Enrico. Coisas entre garotas.
A resposta dela não me convenceu. Teria ela revelado algo a Nininha sobre meu interesse? Mesmo que tenha feito, não me importa muito. Afinal, não deixa de ser verdade.
Enquanto discretamente observava Nininha, ela me olhou por um momento, desviando rapidamente o olhar. Tentando iniciar uma conversa com ela, perguntei:
— Já terminou os estudos, Nininha?
Ela suspirou, mexeu na comida e disse:
— Sim.
Tentando manter o diálogo, continuei:
— E está cursando algo? Universidade, talvez?
Ela me encarou fixamente, manuseando a carne com brusquidão antes de responder com um sorriso forçado:
— Não estou fazendo nada disso, e não tenho planos. Fim do interrogatório!?
Um silêncio pesado se instalou à mesa, e sua mãe interveio, mais para mim do que para ela:
— Desculpe por isso. Como você e sua irmã podem ter notado, Nininha vê as coisas de maneira diferente. Certas normas não fazem sentido para ela.
Assenti sem conseguir articular palavras, percebendo que a complexidade que envolve Nininha está muito além de uma simples peculiaridade.
Meus olhos se voltaram para ela, quieta e com a comida praticamente intocada, evidenciando um desconforto. Seria eu a causa desse incômodo?
Minha irmã cochichou algo para ela e, após concordar, Nininha se virou para os pais:
— Mãe, pai, não estou com fome. Eu e a Carol vamos até o celeiro. Ela quer ver meu cavalo Ventania. Tudo bem?
Os pais consentiram, e eu disse para minha irmã enquanto elas se afastavam:
— Não demore, Carol. Estaremos indo embora em breve.
Ela assentiu, e enquanto meu olhar buscava os de Nininha, ela me evitou e saiu rapidamente, puxando minha irmã pela mão, com certa pressa.
Depois que as meninas saíram e o jantar terminou, agradeci sinceramente pela refeição maravilhosa. Foi então que Seu Raimundo, que até então estava mais calado, me convidou para ir até a sala.
Aceitei o convite, enquanto dona Amélia insistiu e, foi nos preparar um café. Ao chegarmos à sala, Seu Raimundo se acomodou em uma poltrona, e eu me sentei no sofá.
Fitando-me com firmeza, ele perguntou:
— Quais são suas intenções com a minha filha?
Surpreso, respondi tentando disfarçar:
— Como assim, senhor?
Com seriedade evidente, ele prosseguiu:
— Não, rapaz. Não acredite que pode me enganar. Notei como você olha para a minha filha. Nininha não é como as mulheres que você conheceu na cidade grande. Como deve ter percebido, ela tem um jeito peculiar de ser.
Enquanto Seu Raimundo expressava suas preocupações sobre Nininha, senti-me surpreso e um tanto desconfortável com sua abordagem direta. Tentei manter a calma e respondi com sinceridade:
— Senhor, respeito muito suas preocupações. Nininha é uma pessoa incrível, e minha admiração por ela vem de sua autenticidade, não apenas de sua aparência ou algo do tipo. Ela, sem dúvidas, é muito especial.
Ele me encarava com seriedade, mas pude perceber um toque de curiosidade em seu olhar.
Continuei tentando ser claro:
— Entendo que minha presença aqui possa gerar dúvidas. Sinceramente, tenho muito apreço por sua filha.
Houve um breve silêncio tenso na sala. Aguardei a reação de Seu Raimundo, procurando transmitir minha sinceridade e respeito pela família, na esperança de dissipar qualquer mal-entendido que pudesse ter surgido.
Após esse momento tenso, Seu Raimundo permaneceu em silêncio por alguns instantes, seu olhar parecendo analisar cada palavra que eu havia dito. Então, com uma expressão mais suave, ele quebrou o silêncio:
— Entendo suas palavras, jovem. Minhas preocupações são apenas as de um pai zeloso. É reconfortante ouvir suas considerações sobre Nininha. Você parece ser alguém que valoriza o que realmente importa.
Uma sensação de alívio me invadiu enquanto eu tentava demonstrar meu respeito e gratidão pela oportunidade de esclarecer minha posição na vida de Nininha:
— Agradeço pela compreensão, senhor. Gostaria apenas de acrescentar que meu desejo é contribuir positivamente para a vida dela, apoiando-a e valorizando suas qualidades únicas.
A tensão na sala pareceu dissolver-se um pouco, e um pequeno sorriso surgiu no rosto de Seu Raimundo.
— Espero que, com o tempo, possamos nos conhecer melhor. Acredito que ambos desejamos o melhor para Nininha.
Essas palavras foram um sinal de esperança, uma abertura para um entendimento mútuo, algo que esperava alcançar no futuro.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 83
Comments
Elisa Araújo
linda história muito boa 👏👏👏
2024-09-12
1
Luana Rosa🖤
ahh,eu quero maaaaisss
2023-11-27
2