Nininha
Enquanto Enrico dirige com concentração, sinto meu olhar brevemente capturado por ele. Rapidamente, viro minha cabeça para observar a paisagem passando pela janela do carro.
Engolindo em seco, decido romper o silêncio que nos envolve.
— Você e a Carol mudaram definitivamente para cá? Quero dizer, para Raio de Luz?
Ele me lança um olhar rápido e, voltando sua atenção à estrada, responde:
— Ainda estamos considerando. Viemos para cá passar um tempo na fazenda. Pensei que seria bom para a Carol.
Mantendo meus olhos no horizonte, comento pensativa:
— Certamente, estar mais próximo da natureza pode ser libertador.
Enrico olha para mim, com a testa um pouco franzida, e, sem resistir, ele pergunta:
— Você é bem diferente, Nininha. Por curiosidade, quantos anos você tem?
— Tenho 18 anos. — Respondi, fixando o olhar na estrada à frente antes de me virar para Enrico, notando seu semblante ligeiramente intrigado.
Enrico, surpreso, respondeu após um breve silêncio:
— Ah, entendi. É que normalmente eu... bem, presumi que alguém da sua idade seria mais... menos... Não sei, mais convencional? Mas está claro que me enganei.
Seu comentário me deixou um pouco inquieta, porém também despertou minha curiosidade. A maneira como ele tentou explicar sua surpresa me instigou a querer compreender melhor como ele me enxergava.
Curiosa, perguntei:
— Você também acha que sou estranha? O Vinícius costuma me chamar assim, de Estranha. Acredito que ele me perturba exatamente por isso.
Enquanto falava, olhei pela janela do carro, com várias lembranças rondando minha mente. Enrico olhou para mim com um olhar suave e disse:
— Não, Nininha, não acho que você seja estranha. Você é única, e isso é algo positivo. O babaca... ele só quer te afetar. Não dê atenção a ele.
Enrico passou a mão pela barba por fazer, suspirou e acrescentou:
— Porém, como eu disse, você é única. Você foi a única pessoa que conheci com esse jeito peculiar.
Por um momento, fiquei sem saber como reagir ao que ele disse, mas então percebo que já chegamos à minha casa. Ele para no portão, pronto para ir abrir, para entrar com seu carro, porém eu o detenho dizendo:
— Não precisa, daqui eu vou bem sozinha. Obrigada por me trazer, aliás.
Ele desligou o carro, olhando fixamente e sério para mim, disse:
— Mas eu preciso ir até lá e conversar com seu pai. O que esse babaca fez foi algo muito sério. Ele queria te machucar e acabou com sua bicicleta. Você realmente precisa tomar providências sobre isso. E seus pais definitivamente precisam saber o que está acontecendo.
Abri a porta do carro e desci. Enquanto fechava a porta, disse com uma expressão firme:
— Isso não diz respeito a você. Eu sei me cuidar.
Abri o portão e segui em direção à minha casa, deixando-o ali parado enquanto me observava seguir adiante. Eu nem sequer olhei para trás. No entanto, meus pais saíram para fora da casa para me encontrar. Minha mãe, curiosa, pergunta:
— Cadê sua bicicleta, Nininha?
Olhei para eles um pouco sem reação, mas rapidamente respondi:
— Aconteceu um acidente com minha bicicleta, mãe.
Mas então, uma voz por trás de mim me fez estremecer.
— Boa tarde, senhores! Sou o Enrico, irmão da amiga dela. O acidente com a bicicleta dela na verdade foi algo premeditado. Na verdade, tentaram matar a filha de vocês.
Meus pais ficam extremamente chocados, e meu pai dá um passo à frente, perguntando a Enrico:
— Como assim? Do que você está falando? Explique isso melhor, por favor.
Enquanto isso, eu estou atônita, surpresa pela forma como Enrico se envolveu nesse assunto. Estou sem reação diante da sua ousadia. Ele pigarreia, olha brevemente para mim e se vira novamente para meus pais:
— Bem, eu percebi uma caminhonete preta seguindo-a e tentando a todo custo atropelá-la. Ficou claro que a intenção de quem estava ao volante era essa. E depois, ela mesma me confessou que se tratava de um tal Vinícius, filho do delegado aqui da cidade.
Nesse momento, olho para Enrico perplexa. Como ele pode agir assim? Com que direito? Mas então, meus pais se viram para mim, me encarando, e minha mãe pergunta:
— Isso é verdade, Nininha?
Sem ter o que fazer diante dessa situação, suspiro profundamente e apenas confirmo com a cabeça. Meu pai, em silêncio, se afasta rapidamente de nós, indo em direção ao nosso fusquinha amarelo estacionado na garagem.
Minha mãe, desesperada, corre atrás dele, perguntando:
— Raimundo!? O que você vai fazer? Aonde vai!?
Meu pai, abrindo a porta do Fusca, responde:
— Eu vou resolver isso, Amélia.
Eu corro em direção ao meu pai, seguida por Enrico, que parece um pouco desconcertado com a situação que causou. Minha mãe tenta segurá-lo, dizendo:
— Por favor, Raimundo, não faça nada precipitado, meu amor.
Em um movimento rápido, me aproximo e pego a chave da mão do meu pai, dizendo:
— O senhor não vai fazer nenhuma loucura, está me ouvindo? Eu sei lidar com isso. Já estou acostumada com as provocações dele. Foi apenas mais uma tentativa de assustar, nada sério.
Enrico, até então calado, interfere:
— Não, Nininha, ele realmente queria te machucar. Aquilo não era só provocação.
Meu pai tenta pegar a chave novamente, mas eu me afasto rapidamente. Com um olhar furioso para Enrico, digo:
— Por favor, Enrico, vá embora. Você está só complicando mais as coisas.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Ana Geraldina
Enrico está querendo ajudar
2024-08-04
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