Enrico
Minha irmã soltou um grito tão alto que por um momento pensei ter ficado surdo. O anjo, a quem me reencontrei, olhou para mim tão assustada quanto eu.
Então, dirigindo-se à garota que pensei não voltar a ver tão cedo, minha irmã diz:
— Seu cachorrinho é lindo. Como se chama?
A voz do anjo foi como uma melodia suave que preencheu meus ouvidos quando ela respondeu:
— Caramelo. Ele se chama Caramelo.
Enquanto ela falava, eu não conseguia desviar o olhar dela. Era como se um ímã me atraísse para ela. Eu observava cada traço, desde o contorno de sua boca até seus pés, que novamente estavam descalços, mas dessa vez não sujos de lama.
Então, um homem, presumivelmente o dono do estabelecimento, se aproximou dela e disse:
— Aqui está, Nininha. Diga à sua mãe que os queijos dela são os melhores e que já estou ansioso por novas remessas.
O nome "Nininha", usado pelo dono da mercearia, ecoou em meus ouvidos. Que nome peculiar. Mas, então, esse é o nome desse anjo, Nininha. Ela agradeceu ao homem, chamou seu cachorro e, ao passar por mim, permaneci imóvel, encarando-a.
Foi minha irmã quem cedeu espaço para ela passar; ela quase esbarrou em mim devido ao pouco espaço, e nesse momento, senti uma corrente elétrica passar por mim.
Seu cheiro, uma mistura de lavanda com algo que lembrava o cheiro de vacas, me surpreendeu. No entanto, de alguma forma, esse aroma me agradou, trazendo à tona uma sensação nostálgica e reconfortante.
Meu coração parecia disparar a cada segundo; ela passou tão próxima a mim que senti como se minhas mãos ansiasssem por tocá-la.
Minha irmã me olha e diz:
— Preciso conversar com essa garota.
Ela saiu rapidamente atrás da garota. Através do vidro da mercearia, vi quando o anjo pega sua bicicleta vermelha, com o cachorro animado ao seu lado.
Observo minha irmã se aproximando dela, um pouco hesitante, dizendo algo. A garota olha intrigada para minha irmã, enquanto esta continua a falar, balançando a cabeça.
Fico como se estivesse hipnotizado pela cena. É reconfortante ver minha irmã interagindo com alguém de sua idade, já que ela não tem muitos amigos, o que me preocupa.
Fico tão absorto na cena que demoro a perceber o dono da mercearia pigarreando para chamar minha atenção.
— Senhor? Tudo bem? O senhor deseja algo? — Diz ele, avaliando-me.
Em um momento quase cômico, mantenho os olhos fixos no anjo, que agora sei que se chama Nininha, e respondo sem desviar o olhar:
— Sim, desejo muito.
Mas, percebendo a confusão da situação, também pigarreio e viro meu olhar para ele, perguntando:
— Os queijos que aquela garota trouxe, o senhor os revende?
Ele sorri e responde:
— Certamente, o senhor vai querer um?
Enquanto pego algumas notas da carteira, comento:
— Vou querer todos.
Ele parece um pouco surpreso, mas logo se recompõe:
— Claro, senhor, é para já.
Enquanto ele embala minhas encomendas, meu olhar se volta novamente para fora. Vejo ela partindo com sua bicicleta, se despedindo de minha irmã, o cachorro correndo ao seu lado. Antes de ir embora, seus olhos rapidamente se encontram com os meus, e então ela se vai.
Depois que o senhor embalou minhas encomendas, minha irmã voltou e fez algumas compras para si antes de irmos embora. Já no carro, enquanto minha irmã saboreava um pacotinho de salgadinho que comprou, ela me ofereceu um. Eu o peguei rapidamente enquanto trocava as marchas do carro.
Enquanto eu comia o salgado, observei minha irmã saboreando o restante do pacote. No entanto, ela me olhou furiosa e disse:
— Eu não vou te dar mais, Enrico. Eu te disse para pegar um para você, e você não quis.
Rindo da situação, respondi:
— Não se preocupe, eu não quero mais. Só estou curioso se você tem alguma novidade para me contar.
Ela me olhou curiosa e perguntou:
— Por que você está agindo assim? Você está estranho.
Enquanto fazia uma curva, expliquei:
— Não estou estranho, apenas curioso. Você foi atrás daquela garota dizendo que precisava conversar com ela. Sobre o que conversaram?
Ela suspirou, parecendo relutante em compartilhar:
— Não é nada demais, Enrico. Apenas algumas coisas sobre a vizinhança e a mercearia. Nada relevante.
Não convencido com a resposta, insisti:
— Parece que foi mais do que isso. Você parecia bem intrigada.
Ela olhou pela janela por um momento antes de responder:
— Está bem, eu estava perguntando a ela se queria ser minha amiga. Ela é bastante reservada, mas é simpática. Eu a convidei para um almoço amanhã em casa, fiz mal?
Meu coração acelerou com a possibilidade de revê-la. Fiquei sem saber como reagir à revelação da minha irmã, me sentindo um pouco confuso.
Ao chegarmos à nossa fazenda, respondi de forma séria:
— Não, Carol, você fez bem. Fico feliz que possa ter encontrado uma amiga.
Internamente, um misto de emoções me invadia. Será que Nininha, aquele anjo peculiar, virá mesmo para esse almoço? Deveria dizer algo quando a visse novamente ou permanecer calado seria a melhor opção?
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Viviane Maria Dias
que lindo
2024-07-25
2
William
Nossa, que história tocante.💘
2024-04-01
3