Quando o dia amanhece eu me levanto e cuido da minha higiene pessoal primeiro. Depois de me vestir eu ando até o quarto de Ítalo que ficou com a porta aberta, a cama está bagunçada mas nem sinal dele.
Bato de leve na porta.
- Ítalo?
Ele aparece da porta do closet, está vestindo uma camiseta de mangas curtas branca.
- Bom dia.
Faço um gesto de cabeça pra ele.
- Dormiu bem? Como está?
Ele anda até mim e para bem de frente.
- Dormi sim, não tive problemas, só estou um pouco dolorido.
Bom, isso é normal levando em conta que tomou um tiro.
- Hãn... vai descer pra tomar café?
- Vou sim, só vou te pedir pra não comentar nada com Antonieta. Ela é meio desesperada com esse tipo de coisa.
Dou de ombros pra ele.
- Tudo bem, como você preferir.
Graças a Deus Italo não me diz mais nada e eu me afasto já me sentindo incomodada por ficar perto dele. Está tudo uma bagunça dentro de mim e ficar o olhando torna as coisas mais difíceis.
Nós tomamos café em silêncio e eu começo a pensar que talvez deva fazer alguma coisa hoje, mas também não quero deixar Rizzo sozinho. Ele não vai pedir ajuda se precisar, chegou em casa baleado e sentindo dor, mas não abriu a boca pra nada.
Isso me leva a pensar também que seja muito fechado pra várias coisas. Ele consegue ser um cara expansivo e até carinhoso quando quer, mas se julga autossuficiente pra quase tudo e talvez isso seja reflexo de ter crescido sem os pais. É mais uma coisa de personalidade mesmo, já que Pietra é toda mais meiguinha.
- Como foi o final de semana?
Antonieta vem repor o suco de laranja na mesa.
- Foi ótimo!
Abro um sorriso pra ela, que se senta à mesa com a gente. Depois de fofocar por um bom tempo, com Rizzo só ouvindo, ela se levanta e vai cuidar das suas coisas.
- Eu vou dar um pulo em uma das minhas boates.
Ítalo não costuma dar detalhes de onde vai, suponho que esteja fazendo isso pra que eu não fique preocupada com ele. Mas inevitavelmente eu já estou.
Eu sei, eu sou uma burra...
Mas ele não foi para o escritório hoje e eu pensei que ficaria de repouso.
Aproveito que ele sobe as escadas e subo também. Troco de roupa colocando um tubinho preto até os joelhos e de alças finas, faço uma maquiagem leve e ajeito meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Me visto rápido e confiro pela janela vendo que o seu carro ainda está lá. Desço as escadas e Amadeo não entende quando eu entro no banco de trás do suv, mas não fala nada, se limita a expressões faciais.
Quando Ítalo aparece ele se assusta comigo sentada dentro do carro.
- Algum problema?
Nego com a cabeça enquanto coloco a bolsa que ele me deu no meu colo.
- Nenhum, só vou garantir que você não se enfie em mais nenhuma confusão.
Ítalo não usa um terno hoje, mas colocou uma blusa escura, acho que temendo alguma mancha de sangue que possa surgir. Ele mexe na gola da camisa como se estivesse sufocado.
- Eu não estou indo passear, Ambra, estou indo trabalhar e em um lugar que você não deveria nem pensar em pisar.
Balanço os ombros.
- Também não estou indo passear, Ítalo, estou indo pra...
Me detenho no meio da frase quando me dou conta do que já ia dizendo.
💭Eu ia mesmo dizer que estou indo pra cuidar de Ítalo?💭
Ele parece perceber o que eu ia dizer, passa o polegar esquerdo pelo lábio inferior em uma clara demonstração de que pensa no que fazer agora.
Por fim ele entra no carro e nós seguimos em silêncio pra tal boate.
É de manhã ainda, então não tem movimento algum. O chão é escuro e as luzes acesas espalhadas pelas paredes pretas da casa evidenciam a estrutura grande que a boate tem. Tem um bar grande no fundo, com uma bancada de mármore e uma infinidade de garrafas de bebida.
Nunca vim em um lugar assim, embora eu saiba que Bruno mantinha vários lugares dessa natureza. Só aí que me dou conta de que estamos no lado norte, provavelmente essa é uma das que ele comandava.
Tem um homem parado atrás do balcão e eu não o conheço. Ele grita chamando por alguém.
- Ei Penale, Diavolo chegou!
Imediatamente entendo que é o codinome de alguém que trabalha pra Ítalo. Mas não me espanta alguém sendo chamado de criminoso aqui dentro, é uma redundância, o que me espanta é Ítalo ser chamado de diabo.
O quão ruim você tem que ser pra ter um nome desse sendo um Don?
Quando Matteo aparece franze a testa me vendo, obviamente nunca pensou que me veria aqui, certamente não traria a mulher dele nesse lugar, nem mesmo agora de manhã sem movimento.
- Tudo bem, Ambra?
Digo a ele que sim e estendo a mão para cumprimenta-lo. Quando nos encontramos ele sempre aperta a minha, mas aqui dentro as regras parecem ser outras. Ele não vai tocar a mulher do Don, mesmo que seja sem maldade alguma. Se limita a segurar o AK 47 com as duas mãos e fazer um aceno de cabeça.
- Vem comigo. Você vai ficar sentada no meu escritório.
Sigo Ítalo pelas escadas enquanto Matteo vem atrás, o lugar dele aqui é parecido com o que tem em casa. Bem masculino e no verde escuro e marrom. Me sento no sofá do canto da sala e eles começam a conversar como se eu não estivesse aqui.
- As garotas, fez o que eu pedi?
Isso aqui é uma boate de pr*stituição?
- Todas as menores estão fora. Não eram muitas mais, a maioria fez maioridade já trabalhando nas boates desse lado. Aquele porco era o único que ainda mantinha garotas novas no ramo.
Isso me embrulha o estômago. Era Bruno que mandava nisso aqui.
- Colocou elas onde eu disse pra colocar?
Matteo acende um cigarro enquanto concorda com a cabeça.
- As menores sim, as maiores que foram exploradas tiveram a oportunidade de escolha, algumas quiseram ficar por vontade própria.
Ítalo serve uma dose de bebida e eu retorço uma careta. Está tomando remédios, não devia beber. Ele me olha e revira os olhos, depois estende o copo pra Matteo que pega sem entender.
- Bom, me mantenha informado quanto a isso. E o carregamento?
Depois que Matteo seca a bebida, ele deixa o copo de lado e responde:
- Chega mais tarde, mas aí nós precisamos de você aqui pra saber o que fazer e como distribuir.
Ítalo olha pra mim e depois para o homem armado.
- Eu fico até mais tarde, não tem problema. Vou te pedir pra providenciar alguma coisa pra Ambra beber e comer e alguém pra cuidar da minha mulher enquanto eu não puder estar por perto.
Eles vão conversando sobre mais algumas coisas, até que Matteo pergunta:
- O que aconteceu que você sumiu ontem?
Presto atenção na postura de Ítalo e ele age naturalmente.
- *Aquele filho da p*ta me levou ao limite. Precisava ir pra casa tomar um banho e deitar*.
Matteo concorda e quando questionado sobre o que fizeram com o corpo, ele diz normalmente, como se estivesse falando de algo banal.
- Aurelio ateou fogo, e nós esperamos até que não restasse quase nada. O que sobrou do crânio, Nicolo impossibilitou a identificação arrancando os dentes.
Puta merda!
- Está bem, pode ir agora.
Assim que Matteo sai do escritório, Ítalo não perde a oportunidade de me cutucar.
- Assustada esposinha? Vou pedir a Amadeo pra te levar embora agora, você já deu uma de adulta por hoje.
Eu me levanto e sirvo uma dose argmanac pra mim. Decido ignorar o comentário infeliz dele.
- Por que você não quer contar que foi baleado?
Ítalo se recosta na cadeira e passa a língua pelos lábios antes de me responder.
- Eu sou o líder deles, Ambra. Meus homens têm que olhar pra mim e enxergar um porto seguro, um referencial. Se eu me abalo por causa de uma simples bala no quadril que tipo de homem eu sou?
Viro a minha dose de bebida de uma vez e seguro a careta pra não dar munição a ele.
- Viver como se fosse intocável não é inteligente, Ítalo.
Ele se levanta e dá a volta na mesa parando de frente pra mim. Tira o copo da minha mão e me olha bem no fundo dos olhos.
- Eu discordo, foi inteligente pra mim e funcionou durante um bom tempo, mas devo confessar que de uns meses pra cá não tem mais funcionado.
A proximidade com ele me faz ficar desinquieta. Sinto meu coração dando uma leve acelerada.
- De uns meses pra cá?
De novo aquele olhar que me enxerga até a alma.
- É, de uns meses pra cá...
Passo a língua pelos meus lábios enquanto percebo ele diminuindo ainda mais a distância entre nós dois. Acho que ele até vai dizer ou fazer alguma coisa, mas somos interrompidos por uma batida na porta.
Aproveito pra me sentar no sofá sentindo um alívio estranho, a tensão estava gritante entre nós dois.
- Pode entrar.
O tom de voz dele é de frustração.
- Senhor, eu trouxe um suco pra vocês dois.
É uma moça jovem e vestida de maneira simples. Ela não olha nos olhos de Ítalo e nem nos meus, fica de cabeça baixa o tempo todo.
Está tremendo feito vara verde.
Ela deixa a bandeja na mesinha de centro moderna que a sala tem e quase desmaia quando me ouve dizer:
- Obrigada querida.
Me olha e solta um "por nada" tão baixo que quase não consigo ouvir.
- Na hora do almoço eu volto trazendo comida.
Depois que ela sai Ítalo se serve de um copo e bebe de uma vez só, pra logo depois me deixar sozinha sem dizer mais nada.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 79
Comments
Fatima Gonçalves
também estou achando do que Ambra ainda não conseguiu assimilar muito bem isso
2024-10-03
0
Adriane Alvarenga
Ambos já estão apaixonados.....
2024-04-29
6
Cléia Maria da Silva d Azevedo
Ela está começando a se apaixonar por ele
2024-04-10
2