Reviro meus olhos enquanto entro no banco de trás do carro sedan que veio me buscar. A voz estridente de Fausta, a mulher do meu tio, ressoa nos meus ouvidos me questionando sobre o vestido preto no dia do meu casamento.
Um verdadeiro inferno!
Já não basta ser obrigada a me casar com um fulano que nunca vi na vida, ainda não pude nem escolher a roupa que usaria.
Meu tio Bruno esbravejou e me fez vestir um midi branco com um acessório de cabeça elegante.
Ah, eu nem me apresentei.
Sou Ambra. Ambra Romano. Tenho dezoito anos e estou indo me casar com um cara de vinte e seis que se chama Italo Rizzo.
Pois é, quando se tem uma família adepta dos "sindicatos", se é que me entendem, se tem o destino traçado por preocupações financeiras e status.
Na real é que meu tio não está indo tão bem assim nos negócios. É esse o motivo.
De repente eu me dou conta de que o carro não está andando. Reparo no motorista e não reconheço.
- Tá tudo bem aí, amigo?
Ele não responde com palavras, só faz um gesto de cabeça.
O carro começa a andar e eu vou observando as pessoas pelo caminho durante o percurso, mas estranhamente ele não está indo pelo caminho que deveria ir.
Não demora eu consigo deduzir que estou sendo sequestrada no próprio dia do meu casamento.
A minha sorte é que fui ensinada desde nova a me defender. Eu sempre ando com um estilete na roupa escondido, e é ele que eu enfio na jugular do infeliz atrás do volante. O carro perde o controle e bate em um hidrante, enquanto eu saio apressada de dentro já vejo as pessoas se apinhando em volta de mim.
- Moça, tá tudo bem com você?
Abro um sorriso amarelo pro garçom do restaurante próximo que veio me acudir.
- Mais ou menos, moço. Você tem um telefone pra me emprestar? Estou indo me casar e não posso me atrasar mais do que já estou atrasada.
Ele olha confuso pra mim e depois pra dentro do carro.
- Qual é? Vai me emprestar o telefone ou não?
Meu celular foi confiscado por medo de que eu fosse fugir e tramasse tudo com Pietra, minha melhor amiga.
Por ironia do destino eu quase não vou mesmo, mas por forças externas.
Disco pra meu tio.
📲 - Tio, sou eu, a Ambra.
📲 - ONDE VOCÊ ESTÁ, SUA IRRESPONSAVEL?
Afasto o telefone da orelha enquanto ele berra.
📲 - A sua segurança é uma verdadeira merda! Eu já ia sendo sequestrada...
Dou uma olhada em volta e forço a visão pra ver uma placa com o endereço. Digo a ele e finalizo a ligação esperando por alguém vindo me buscar.
Não demora e uma viatura de Polícia aparece. É lógico que apareceria, tem um cara morto no volante.
Acontece que polícia corrupta tem em todo lugar, e eles me conhecem muito bem. Não vão me levar, vão fingir que nem estão me vendo enquanto providenciam um rabecão.
Depois de um tempo um cara mais velho com olhos azuis brilhantes aparece. Ele tem uma voz forte mas que reconforta ao mesmo tempo.
- Senhorita Romano?
- Sou eu mesma.
Ele abre um sorriso discreto pra mim.
- Eu sou Lupo Guarnieri. Sou um amigo de Ítalo e vim pra te buscar.
Ele abre a porta de um SUV prata pra mim e me acomodo no banco de trás. De repente ele abre a porta e me estende o pequeno buquê simples de rosas brancas que estava carregando.
- Acho que esqueceu isso.
Murmuro um agradecimento e fico em silencio durante toda a viagem.
********
Meu casamento vai acontecer no salão de reuniões do sindicato.
Ajeito a roupa quando desço do carro e ando até a parte da frente do lugar.
- Por que não calçou os sapatos que mandei você calçar?
Reviro meus olhos pela milésima vez nesse dia.
Meu tio está bravo porque vim com um par all'stars surrado e branco que tenho.
- Uma noiva tem direito a ficar confortável.
Ele me dá o braço meio contrariado. Tem pouca gente no salão, só uns velhos babões que são meio que os Matusalens desse negócio todo e algumas pessoas mais jovens que nunca vi na vida.
Sou completamente pega de surpresa por ver Pietra em um canto.
Franzo a testa enquanto ela acena pra mim de maneira contida e me dá um sorriso sem graça.
Ela vai ter que me explicar as coisas. Ah se vai!
Procuro com os olhos pelo tal noivo e não encontro ninguém parado em frente ao juiz de paz.
💭Será que o infeliz desistiu?💭
Não seguro o sorriso diante desse pensamento, mas minha alegria momentânea cai por terra assim que vejo um homem se levantando de uma das cadeiras alcochoadas do salão.
Ele é alto. Tem os cabelos castanhos claros e uma barba cerrada no rosto másculo e bem desenhado. Um par de olhos folha seca profundos e por uma fração de segundos eu tenho a impressão de que conheço esses olhos.
- Achei que minha querida noiva tinha desistido de mim.
A voz é grave. Na real ele parece ser mais velho do que me falaram, não na aparência que é de um cara jovem, mas no jeito de ser. Parece ser muito sisudo.
É debochado também. O tom com que disse essa frase foi nitidamente um tom de deboche.
Resolvo devolver na mesma moeda.
- Ah meu benzinho, não é fácil se casar com uma mulher tão bonita assim como eu. Tem que se esperar.
Sinto um puxão no meu braço.
- Ambra!
Meu tio me repreende, ele adora fazer isso. Sempre foi seco e nunca foi segredo pra mim que fui um fardo pra ele. Só ficou comigo porque seria meu guardião legal. Tá, as vezes ele tem momentos de bondade, mas são raros. Tem também o fato de ter me criado mesmo sem ter necessidade disso. Ele só é amargo. Só isso. Se estou viva hoje é por causa dele.
- Não se preocupe, Bruno. Está tudo certo.
Ítalo abre um sorriso de canto e eu fico meio que surpresa por ver que é até bonito mesmo.
A celebração do casamento ocorre normalmente e assim que assinamos os papéis e fazemos um brinde, meu agora marido me dá o braço.
Ele anda comigo até meu tio e pega a mim e ele de surpresa. Usa um tom de voz baixo, mas mortal.
- Nunca mais corrija Ambra, em situação nenhuma. Você só não levou um murro na cara hoje porque ela ainda não era minha esposa, a partir de agora ela é minha responsabilidade.
Meu Deus...
Ele abre um sorriso largo e muda de postura assim que termina de falar o que queria falar. Aumenta o tom de voz e dá duas batidinhas nas costas do meu tio.
- Vamos beber e comer. É dia de celebrar!
Acho que acabei de entrar em um inferno daqueles que as mocinhas entram nos livros.
*********
A recepção está acontecendo ao meu redor e eu ainda estou tentando entender o que aconteceu.
- Oi amiga.
Olho pra Pietra e a raiva que me inunda é rapidamente dissipada quando presto atenção nos olhos dela.
- Você é parente de Ítalo?
Ela dá de ombros meio sem jeito e segura o braço direito com a mão esquerda.
- Ele é meu irmão.
Tá explicado porque eu tive a impressão de já conhecer esse olhar.
- Por que não me falou que era com seu irmão que eu teria que me casar? Você sabe o quanto eu fiquei revoltada por ter sido jogada no meio das coisas do meu tio assim.
Chorei feito uma louca quando me vi numa sinuca de bico. Era me casar ou ver minha única família se arrastando na sarjeta. Tenho uma dívida de vida com Bruno, e meus planos de ficar maior de idade e sumir no mundo sem deixar rastros não poderia ser feito sendo que eu sabia que ele ia ficar na pior. Meu colégio caro, as roupas, o teto, a alimentação e tudo mais não caíram do céu. Ele fez sem ter obrigação, é o mínimo que eu poderia fazer.
- *Juro por Madonna*, não sabia*!
Os olhos dela estão cheios de água. Não entendo bem o porquê, mas talvez seja por conta de saber que o irmão é doido. A mudança de humor repentina dele me mostrou isso.
Pietra sempre me disse que tinha um irmão que não morava aqui em Roma. Ele vivia em Florença cuidando dos negócios da família, e tudo o que ela me dizia sobre ele é que o amava muito. Sempre o chamava de Lio, então nunca soube o seu verdadeiro nome.
Não consigo ficar com raiva dela. Pietra é muito delicada e romântica. Uma verdadeira menininha. Nos aproximamos porque algumas garotas mais velhas queriam fazer maldades com ela e eu não aceitei. Enfrentei aquelas bruacas todas de treze anos quando tínhamos apenas dez, e desde então ficamos inseparáveis.
- Tudo bem. Acredito em você. Pelo menos nós vamos morar juntas.
Ela contrai os lábios em uma linha fina.
- Nós vamos morar juntas, não vamos?
A voz dela sai um fio.
- Lio me deu um apartamento na piazza del dommo. Me fez me mudar pra lá.
Ah meu Deus...
Tudo bem, tudo bem. Você vai sobreviver, Ambra.
A verdade é que eu já ouvi várias histórias de garotas novas filhas da máfia que são órfãs e viram elos de contrato. O problema é que uma grande parte delas vive uma vida desgraçada. É isso que acontece quando não se tem família pra cobrar que seja tratada com respeito, e levando em conta que meu marido deu um fecho no meu tio, é bem provável que eu tenha entrado em um casamento assim.
💭É, acho que a vida sofrida das mocinhas dos livros de mafia começou pra mim💭
Respiro fundo tenta do reogarnizar as idéias.
- Madonna mia, aiutami per favore.**
Levo um pequeno susto sentindo uma mão nas minhas costas.
- Andiamo, mia cara.***
Bom, é isso. Esse é o primeiro dia do resto da minha vida. O problema talvez seja que eu não sei quantos dias terão nesse meu resto de vida.
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* Nossa Senhora.
** Minha Nossa Senhora, me ajuda, por favor.
*** Vamos, minha querida.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Érica Cristina
kkkkkkkk muito bom
2025-04-06
0
Fatima Gonçalves
sim e já se passaram 18 anos
2024-10-03
1
Gil Vania
começando ler hj 21 /9 então os primeiros capítulos os pais deles foi assinado qdo eles foram pequenos .,
2024-09-23
0