Capítulo 16

Ponto de vista de Ítalo

Tenho que admitir que Ambra se esforçou um bocado pra fazer uma festa bonita pra Pietra. Ela gosta mesmo da minha irmã, elas têm uma amizade de verdade. Acho que Ambra valoriza tanto essas relações porque não cresceu cercada por relações verdadeiras, ela é uma pessoa leal que foi criada no meio de víboras.

Estou observando ela de longe por trás das minhas lentes escuras.

- Está interessado na ragazza?

Tomo um gole da minha cerveja antes de responder a Aurélio.

- Que ragazza?

A risada debochada dele me irrita.

- Na que usa um anel caríssimo na mão esquerda, não estranhamente dado por você.

Viro minha cabeça pra olhar pra ele e abaixo meu óculos para a ponta do meu nariz.

- O que te faz pensar que estou interessado em Ambra?

Ele dá de ombros enquanto abre outra long neck.

- Sua postura. Está vigiando cada passo dela e se escondendo atrás das lentes.

Faço uma careta pra ele. Isso é ridículo, completamente nada a ver.

- Vou falar com Anna pra cortar seu álcool.

Nossa conversa é interrompida pela chegada dos amigos de escola das meninas. Vieram umas vinte pessoas e eles chegam feito uma caravana.

💭Meu jardim caro e planejado vai sofrer hoje pelo visto💭

Não demora e eu avisto Tarcio no meio deles. Esse garoto não me desce, definitivamente. Observo Ambra abraçando as garotas e evitando contato mais próximo com os rapazes. Ela não falha no seu papel.

Logo a coisa toda toma cara de festa mesmo e eu interajo com a minha turma, mas sem deixar de prestar atenção no que está acontecendo na minha casa. Percebo os olhos de Tarcio seguindo minha mulher por onde quer que ela vá.

Alguns diriam que é ousado, eu digo que é burro.

Ambra se livra da canga que usa cobrindo os quadris e eu perco o foco por um instante observando o corpo extremamente bem feito que ela tem. É jovem, mas tem os traços de uma mulher de verdade: cintura fina, quadris desenhados e um caminhar bem feminino. Nesses meses de convivência eu pude perceber bem como é mesmo uma mulher de beleza forte e cativante. Eu não sou cego, sou homem, mas graças a Deus eu tenho foco nas minhas coisas e é isso que me diferencia desse imbecil cheio de hormônios explodindo.

Tarcio não consegue disfarçar que tem interesse por Ambra e eu rapidamente concluo que os dois tiveram algo mesmo. Pra ser sincero, eu joguei um verde quando me casei, não conhecia Ambra e nem ao menos sabia das coincidências a envolvendo, ela simplesmente servia ao meu propósito e eu só segui o roteiro que fiz na minha cabeça. Então aquele papo de que eu sabia que ela tinha alguns rolos, e toda nossa conversa naquele primeiro dia, foi baseado puramente nas primeiras impressões que tive dela, em cima do que pude observar na sua postura diante de mim. Apostei e acertei. Simples assim.

Talvez meu problema agora seja perceber que esse garoto miserável não me respeita dentro da minha própria casa.

- Nicolo.

Ele se aproxima de mim pronto pra obedecer qualquer ordem, como um verdadeiro soldado, muito embora já não ocupe mais essa função há um bom tempo.

- Quero que você vá lá e proponha um jogo de homens contra homens. Quero botar um rato na ratoeira.

Ele me obedece e logo meu pequeno plano está concluído. Ambra é esperta, notou que minha intenção nunca foi jogo, e eu acabo deixando escapar um pouco do diabo dentro de mim. É o suficiente pra deixa-la em alerta.

********

- O carregamento chega amanhã. Vamos pesar e embalar tudo até o final da semana.

Filippo encosta na minha mesa e me estende o maço de Black de menta. Retiro um cigarro da embalagem e acendo dando uma tragada funda.

A segunda feira está de doer e eu não consigo parar de pensar em porque eu dei uma bolada na cabeça de um menino. Tá certo que ele estava merecendo por me desrespeitar, mas no fundo da minha mente a minha consciência me grita que não tem nada a ver com ele ou desrespeito, tem a ver com ela...

💭Inferno!💭

Mudo de assunto abruptamente.

- Mande os homem do seu comando procurarem por esse garoto aqui...

Mexo no meu celular e abro as redes sociais de Pietra. Amplio uma foto de ontem e mostro Tarcio, depois tiro um print e mando pra ele.

-... quero a rotina dele.

Filippo não me questiona, apenas obedece. Sabe quando uso o tom de amigo e quando uso o de chefe.

Apago o cigarro em um cinzeiro da mesa e me levanto pra ir embora pensando na maratona de hoje a noite. Sorrisos falsos e falas programadas pra aguentar um bando de puxa saco e conversas em sua maioria maçantes.

Quando eu chego em casa não tenho sinal de Ambra. Espero que ela esteja se lembrando do compromisso que tem comigo pra hoje a noite.

Subo as escadas me livrando do meu terno e na intenção de tomar um banho e descansar antes de sair. A medida que avanço eu posso escutar uma conversa animada no andar de cima, me aproximo e a porta de um dos quartos de visita está aberta. Ambra está rodeada por uma equipe de beleza. Tem uma manicure cuidando dos seus pés e outra cuidando das mãos. Um homem maos feminino que ela passa alguma coisa nos seus cabelos e uma mulher ajeita alguns itens de maquiagem em cima da cama.

Estão rindo depois de um comentário bem ácido que o cabelereiro faz.

- Tudo bem por aqui?

Os pego de surpresa.

Ambra se vira pra mim e faz um gesto de cabeça.

- Está sim. Preferi me arrumar nesse quarto do que no nosso, não quis tirar sua privacidade.

Ah, não quis correr o risco de alguém sair daqui e espalhar por aí que que não dormimos juntos.

- Tudo bem, meu amor. Eu vou me deitar um pouco, depois nos falamos.

Sigo em direção ao meu quarto e depois de me livrar da minha roupa e me enfiar em baixo do chuveiro, eu penso em como as minhas duas vidas estão exigindo muito de mim agora. Talvez seja por causa do fator Ambra, é desgastante fingir que tem uma relação quando não se tem uma relação. Ela me deixa meio frustrado. Eu sou metódico, concentrado e ela foge muito do meu controle, muito embora pense que é prisioneira nessa história e nesse casamento, Ambra não vive nem um terço do que eu pensei que ela viveria.

Aliás, ela nem é quem eu pensei que ela fosse.

É meu oposto completo em vários aspectos, e me deixa cheio de preocupações. Recalculei minha rota inteira por conta dela e talvez vocês devam estar pensando que seria muito mais fácil eu me desvincular dela agora do que ficar nessa. Até seria mesmo. Ambra não é mais tão necessária pra mim quanto eu penei que fosse ser quando entrei nesse casamento, levando em consideração a relação dela com o tio, mas aí é que entra a raiz do meu problema:

EU NÃO CONSIGO ME DESFAZER DELA.

EU NÃO QUERO ME DESFAZER DELA.

Isso pra mim é desesperador. Nesses quase quatro meses de casados ela se transformou em um vírus na minha mente, um vírus que corrói meu bom senso lentamente. O Ítalo focado se f*deu, talvez até o Diavolo tenha se f*dido também nessa história.

E analisando essa pequena confissão minha agora, a voz no fundo da minha mente que grita dizendo que é tudo sobre ela tem absoluta razão.

E isso é ainda mais assustador!

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