Capítulo 15

Estamos dando adeus ao inverno agora.

Dá pra acreditar que vou fazer quatro meses de casada com Ítalo já?

Ele parece bem bipolar. Tem dias que está todo falante e tal, demonstra uns raros momentos de felicidade, mas depois ele se fecha e fica o insuportável de sempre.

Eu tenho mantido contato com Anna, Lavínia, Beatrice e Camilla. Elas são incríveis e gosto de sair às vezes pra tomar um café com elas. Nós sempre vamos até a doceria das meninas pra isso.

Georgiana e Maristela estão de vento em popa e daqui a pouco vão expandir o negócio. Já contrataram gente pra trabalhar com elas e conseguiram duas motos para os namorados entregaram por conta própria além dos parceiros dos apps de delivery.

Pietra também sempre vem com a gente e agora estamos as seis aqui decidindo sobre o cardápio de doces do aniversário dela. Minha amiga quer fazer uma festa na piscina aproveitando que a primavera chegou e o calor do verão está dando as caras antes mesmo da hora. Efeitos da desordem do clima.

- Quero o camafeu de nozes. Os daqui são os melhores do mundo!

São mesmo. Mas tenho que confessar que sou apaixonada por qualquer doce que as meninas façam.

Nós decidimos sobre tudo e no fim da tarde eu volto pra casa já sentindo falta do papo calcinha.

Deixo a minha bolsa em cima da minha cama e me enfio de baixo do chuveiro pra me refrescar. Quando saio, já enrolada em um roupão, ouço um aviso sonoro vindo do meu celular . Levo um susto vendo que é uma notificação de banco e que consta uma transferência de uma quantia exorbitante. Vem de uma imobiliária e eu acredito que seja algum engano.

Entro em contato com o banco e estorno o valor, mas depois de uma hora e quarenta minutos o mesmo montante cai na minha conta de novo.

Decido esperar por Ítalo chegando e vigio a frente da mansão pela janela do meu quarto. Quando motorista dele para em frente a porta de entrada eu desço as escadas de maneira rápida.

- Boa noite, nós dois podemos conversar?

Ele afrouxa a gravata enquanto olha pra mim.

- Pode falar.

Limpo a garganta antes de perguntar de uma vez.

- Por que tem uma imobiliária fazendo uma transferência milionária pra minha conta? Devolvi o valor achando que se tratava de um engano, mas eles repetiram a transação.

Ítalo agora está se livrando do blazer do terno risca de giz que veste hoje.

- É o dinheiro da casa onde Bruno vivia com a Fausta. Eu a vendi e resolvi te dar o dinheiro.

Isso não faz sentido. Ítalo está me dando dinheiro sem medo do que posso fazer com ele, até mesmo fugir, quem sabe.

É convencido. Sabe que pode me rastrear em qualquer lugar do mundo, mesmo sem usar o cartão que me deu.

- Onde eles estão morando agora?

Agora Ítalo está dobrando as mangas da camisa branca que usa enquanto segura o blazer apoiado no braço esquerdo.

- Em um dois quartos alugado próximo ao centro. Não se preocupe, o salário que eu pago a ele é o suficiente pra morar e comer.

**********

Na hora do jantar Ítalo me surpreende.

- Na segunda feira depois do aniversário de Pietra nós temos um jantar de gala pra ir. Se organize. Você sabe, roupa, sapatos, maquiagem, cabelo... essas coisas.

Jantar de gala? Isso significa que não é qualquer cabelo e maquiagem.

O silêncio volta a ser instalar na mesa, até que eu não resisto.

- Por que me deu o dinheiro?

Ítalo encara o frango no prato e espeta uma batata antes de me responder. Estou observando a expressão corporal dele e espero conseguir entender o porquê disso.

- Já está na hora de lidar com algo real. Você não pode andar com a conta vazia pra sempre.

Pra sempre...

Me atenho à essas duas palavras.

Seja lá qual for o plano dele, não envolve o divórcio. Pelo menos não agora.

💭Mas esse dinheiro na conta pode ser bom, Ambra. Você só precisa descobrir como usar sem ser pega💭

Sei que vou dar um jeito de escapar uma hora ou outra.

Tá, a vida aqui nessa casa não é totalmente ruim, mas me diz pra onde essa história toda vai me levar?

Vou envelhecer dividindo teto com Ítalo sem ao menos nós dois termos nada um com o outro?

Ele provavelmente se satisfaz por aí, já eu não tive tanta audácia assim ainda. Vou morrer seca e sozinha desse jeito.

Não que eu fosse uma garota romântica e sonhasse em me casar com um vestido grande feito um bolo, mas pensava que depois de ter voado pelo mundo e tivesse conhecido tudo que tivesse vontade, fosse encontrar um cara legal e que curtisse as mesmas coisas que eu.

Conseguem me entender?

Não vivo o que uma garota de dezoito anos espera o que seja um casamento.

Aceito as informações do dia e me recolho nos meus pensamentos tentando mais uma vez, e em vão, conseguir juntar as peças desse quebra cabeças enorme que Ítalo Rizzo é. Tenho a sensação latente de que esse homem esconde coisas demais. Tantas, mas tantas, que dão até um nó na cabeca.

********

O domingo está lindo! É o aniversário de dezenove anos de Pietra e eu ajudo a montar a mesa do bolo.

- Já pensou no que vai fazer no seu?

Sou pega de surpresa pela pergunta de Antonieta. Faltam dois meses ainda pra isso, mas não pensei em nada pra esse ano. Aconteceram tantas coisas que me vi sem ideia nenhuma.

- Ainda não.

Volto a colocar os doces na mesa, quando ouço a voz da minha amiga.

- E então, como eu estou?

Me viro pra ver Pietra e ela está com uma maquiagem bem feita, com um biquíni de paites que faz um degradê de rosa e roxo. Amarrou uma canga na cintura e fez ondas no cabelo.

- Está linda!

Meu guarda roupa não tem nada tão chamativo assim e nem jovial. Mas até que fico grata por isso, não sei se me sentiria bem usando quatro triângulos de tecido em frente à tanta gente.

Estou usando um maiô assimétrico e preto, com recortes na barriga. Uso um chapéu combinando e coloquei uma canga pra cobrir o meu bumbum que não gosto tanto assim de expor.

A medida que os convidados vão chegando as coisas começam a ficar animadas. É todo mundo do colégio, então estou familiarizada. As pessoas de fora são as meninas da doceria com os namorados, e os homens de confiança de Ítalo com as mulheres.

Meu marido está usando uma bermuda branca com listras grossas em azul e uma camiseta de mangas curtas e botões em branco. Enfiou um óculos aviador no rosto e carrega uma long neck de cerveja pra cima e pra baixo enquanto circula com os amigos pela festa.

Está aqui por Pietra, é inegável isso. Ele não tem paciência pra um bando de gente nova junta.

Uma parte do pessoal resolve brincar com uma bola na piscina.

- Vem Ambra, quero você junto comigo.

Pietra está quase fazendo um beicinho. Decido tirar meu chapéu e a canga e entrar na água depois de fazer um coque alto no cabelo.

Estamos fazendo uma espécie de vôlei sem rede e é bem divertido. Dividimos meninas contra meninos e obviamente tomamos uma surra!

- Finalmente você é ruim em alguma coisa.

Tarcio zomba de mim e eu não fico por baixo.

- Só fui humilde hoje. Isso não significa que joguei mal.

Somos interrompidos.

Nicolo se abaixa na beirada da piscina.

- Que tal homens contra homens? Vocês cinco contra nós cinco.

Apesar dos meninos não serem tão grandes quantos os amigos de Ítalo, eles topam. Mas eu vejo que logo eles se arrpendem.

Filippo, que eu achei que era um nerd magrelo, só me passou essa impressão porque é o mais magro do bando de Ítalo.

Ele é extremamente forte se comparado com os meus amigos de colégio.

Isso vai ser um massacre.

Os homens caem na piscina depois de se livrarem das roupas e o jogo começa.

Observo que eles têm tatuagens, mas o mais tatuado é Ítalo mesmo.

Não demora e o jogo é suspenso.

Rizzo deu uma bolada em Tarcio que o deixou desorientado.

- Foi mal, cara.

Todo mundo sai da piscina e eu observo o jeito como os homens lidam com os garotos. Estão fingindo preocupação pelo ocorrido.

Depois que Tarcio diz estar bem, o pessoal se dispersa e vai fazer outras coisas. Aproveito esse momento pra chegar perto de Ítalo que se seca com uma toalha branca e enorme.

Ignoro os cochichos e comentários sobre a forma física do meu maridinho enquanto passo pelas convidadas da festa.

- Isso foi ridículo.

Disfarço enquanto tomo a toalha da mão dele pra secar suas costas.

- Isso o quê? Foi um acidente...

O deboche dele me irrita!

- Não se faça de desentendido. Você sabe o que fez.

Ele se vira de uma vez e me olha bem no fundo dos meus olhos. De um jeito que me deixa desconsertada.

- Dei uma lição no seu amiguinho pra ele aprender a colocar cercas nos olhos. Não vou permitir que ele, ou qualquer outro, entre na minha casa e me desrespeite do jeito que ele me desrespeitou. E te digo mais, Ambra, ele só vai sair daqui vivo hoje porque não quero estragar o aniversário de Pietra, mas te dou um aviso, da próxima eu o pico inteiro e mando pelo correio para os pais.

Acho que hoje entendi o que ele quis me dizer quando mencionou ter uma versão pelas ruas que não era nada agradável.

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